É muito engraçado como algumas mulheres suspiram quando eu ou Joel contamos a nossa história. Eu não posso contestar que ele vir para o Brasil e ficar justo na minha cidade que não tem nada de turística (agrícola, 5 mil habitantes) e eu me me despachar para a Suécia tem seu quê de charme e uma dose cavalar de romantismo mas, apesar da gente viver – ainda – uma fase carregada de paixão no relacionamento, não foi este o fator determinante para que eu mudasse.
Que me desculpem os crentes do amor romântico, mas é fato. Óbvio que não posso descartar a valiosa contribuição da paixonite, afinal esse estranho sentimento sempre nos dá uma dose extra de coragem; mas namorar a distância não tem nada de transcendental, e nós passamos praticamente um ano fazendo disso uma rotina. Eu sempre repeti a minha mãe que ela tinha a filha dos sonhos já que eu namorava a moda antiga: sentava para falar com o namorado pelo Skype por uma ou duas horas, de 2 a 4 vezes por semana. Nem pegava na mão. Tudo absolutamente respeitável. E chato.
Pensando bem, isso foi injusto: era e é – ainda uso o serviço para falar com a família e amigos – emocionante! Você nunca sabe se conseguirá ser ouvido ou ouvir, se vai ter sorte de a conexão ser estável o suficiente para ter vídeo, se de repente choveu uma nuvem perto de Itaipu e a transmissão de energia será cortada por tempo indeterminado… é preciso uma santa paciência! E teimosia.
teimosia (tei-mo-si-a)
s. f. Apego obstinado às próprias idéias, gostos etc.; obstinação, persistência. Sinônimos: birra, capricho, turra, obcecação, perrice.
Verdade, pô! As suecas são consideradas as mulheres mais bonitas da Europa, porque o Joel sentaria para conversar com uma caipira? Somos o país da festa e pegação, qual a graça de ficar blá-blá-blando na frente de uma máquina? Simplesmente porque ficar junto com alguém requer decisão, precisa de querer obstinadamente seguir um capricho.
Mas que vidinha mais sem graça, né mesmo? Tudo tem que ser planejado agora, nada é espontâneo, surpreendente, avassalador… tudo tem que ser quisto! Pois é, amor romântico só existe na tela do cinema e em livros. Na vida real a paixão não dura para sempre, simplesmente porque de repente saltam aos olhos todos os defeitos inimagináveis que a pessoa mais maravilhosa do mundo tem como um jato certeiro de água fria! …e se você não decidiu gostar dele/a mesmo com tudo isso, adeus fogo da paixão.
Uma das minhas frases favoritas é de André Comte Sponville citando Denis de Rougemont:
“Estar apaixonado é um estado; amar, um ato.” Ora, um ato depende de nós, pelo menos em parte, podemos quere-lo, empenhar-nos nele, prolonga-lo, mantê-lo, assumi-lo… Mas e um estado? Prometer continuar apaixonado é se contradizer nos termos. Seria como prometer que teremos sempre febre, ou que seremos sempre loucos. Todo amor que se compromete, no que quer que seja, deve empenhar outra coisa que não a paixão.
Eu e o Joel fomos amigos mas do que tudo por todo o tempo em que estivemos longe um do outro, falando de todas as coisas e nada, de sofrer a distância, o que fazer com a saudade. Mas do que a paixão, nos uniu o respeito, carinho, fé e teimosia. Sim, por que não? Não adianta só sonhar, é preciso correr atrás do sonho e para isso você precisa acreditar nele, acreditar que é possível e tentar e tentar.
Todos temos monstrinhos ou somos monstrinhos em alguns momentos da vida e quando você tem um relacionamento verdadeiro com alguém, aquele que é bem perto, não adianta tentar esconder; uma hora aparece um rabo aqui, ou sente-se um cheiro estranho. A paixão não serve para aceitar monstrinhos, nem tampouco nos dá a coragem de apresentar ao outro os nossos. Simplesmente porque na paixão existe a ilusão do perfeccionismo, da beleza, da plenitude… como encaixar uma coisa estranha no meio disso tudo?
Por meio do amor. Uma vez que amor é decisão e você não se encontra em um mundo perfeito pode aceitar a imperfeição e apresentar a sua também, pode se decepcionar com o outro e aprender a olhar para aquilo que o outro é e não aquilo que você imaginou que fosse, pode aprender a perdoar e recomeçar, pode se descobrir e descobrir novas faces do ser amado. Dessa forma eu me apaixonei de novo pelo Joel pelo menos duas vezes depois que nos conhecemos, apesar de descobrir que ele não toma banho todos os dias (ele jura que é só no inverno) – brincadeira. O Joel é uma daquelas pessoas que morrem de nojo quando encontram cabelos que não estão mais na cabeça de alguém… advinha só? Eu sou uma daquelas pessoas que perdem 100 fios de cabelos por dia. Mentira, não perco porque o Joel encontra quase todos.
Eu tenho um monstrinho peludo, o Joel um monstrinho fedido. Eu posso decidir se quero ou não aceitar isso, eu posso lutar ou desistir; assim como ele também. Todos podem viver uma maravilhosa história de amor. Mas para isso mais do que paixão é preciso querer… querer se envolver, querer se doar, querer crescer, querer se machucar, querer perdoar, querer mais fé, querer dividir e conquistar! Eu encontrei alguém fantástico com quem quero tudo isso…
Joel, eu amo você!
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes
Eu a-do-rei esse texto e me reconheci em (quase) todas as frases. Um ano e três meses longe do meu namorado, eu aqui e ele na Irlanda. Casos como o seu me fazem ver que não sou tão louca quanto penso e que tudo pode, sim, dar certo.
CurtirCurtir