Quem me vê sempre parado,
Distante garante que eu não sei sambar…
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Essa é uma música de Chico Buarque que eu curto muito na versão do Engenheiros do Hawaii em que ele (Humberto Gessinger) canta essas palavras: to me guardando para quando o Carnaval chegar. Eu acho que eu to vivendo um tempo semelhante a isso que ele descreve, como se eu estivesse esperando uma coisa grande que vai acontecer e dai…
E daí o que? Não sei. Não tenho a mínima ideia do dai que vai ser. Não sei se isso começa com o processo do visto (quem passa por isso sabe que a vida fica meio que em suspenso) ou se é simplesmente a minha impaciência com relação a língua. Afinal, eu vivo uma coisa meio louca agora em que eu entendo mais ou menos o contexto das conversas, mas ainda não estou preparada para falar porque quando eu consigo juntar as palavrinhas para um comentário, o assunto já passou.
Eu tô só vendo, sabendo,
Sentindo, escutando e não posso falar…
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Meu trampo com faxina é com uma equipe de latinos: somos brasileiros e uma dominicana. Mesmo assim eu passo mais tempo do que o meu normal quieta. Eu sempre fui uma tagarela, nunca tive problemas para emendar conversas ou inventar conversas, falar em público ou o que, sempre falei, falei, falei e falei. E nessa nova fase da minha vida eu calei. Não penso que isso seja um exercício ruim porque aprender a escutar é um dos melhores e mais importantes exercícios a que uma pessoa pode se dedicar.
Mas mesmo que eu tenha essa pretensão tão comummente humana de “crescer e aparecer”, eu fiquei um pouco preocupada ao perceber que eu to mudando, uma vez que me sinto mais reflexiva, mais introspectiva e madura. Sei lá se isso é realmente do tamanho que eu imagino ou se é uma impressão, mas a coisa é que passei a questionar a minha identidade.
É fato que a gente sempre guarda uma auto imagem que pode estar a quilômetros do eu real, mas será que eu não sou mesmo aquela guria tão animada e barulhenta que eu sempre pensei que fosse? Será que eu sou mais responsável e do tipo “mãe” do que eu jamais soube?
E no fim, como sempre, isso me dá saudades enormes do Brasil. Do Brasil ou de saber quem eu sou e o que devo fazer? Não sei. É fato que eu sabia o que ser e o que fazer no Brasil e isso me faz uma falta danada agora – saber o que ser e o que fazer na Suécia – mas eu penso mesmo que eu gostaria de viver um pouco da leveza e simplicidade da minha vidinha caipira do Brasil.
Saudades de colo de mãe, de pão de mãe e de ver futebol com meu pai. De brigar com a Ana porque ela me faz esperar 30 minutos para ir ao mercado porque ela precisava arrumar o cabelo. Segurar o bebê do meu irmão. Olhar para meus sobrinhos mais velhos e pensar que engraçado é ser uma tia pequena! Comer um churrasquinho feito com sobra de fogo de melado com meu cunhado e irmã mais velha. Ver a Bah rindo das idéias malucas do meu irmão – e eu também das tentativas de ele ouvir musica alta na casa da minha mãe… tomar cerveja com Angela e Lu. Vixe! Quanta coisa né?
Eu penso que eu tenho um bocado de medo de virar uma daquelas pessoas que tem estranheza do Brasil quando voltam para lá. Será que eu consigo ser caipira ainda numa cidade grande européia?
Será que voltar para o Brasil é o Carnaval que eu to esperando?
Eu vejo a barra do dia surgindo,
Pedindo pra gente cantar…
Tô me guardando pra quando o carnaval chegarEu tenho tanta alegria, adiada,
Abafada, quem dera gritar…
Tô me guardando pra quando o carnaval chegarTô me guardando pra quando o carnaval chegar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar…
Oi td bem? gostei muito do seu texto, e me vi em alguns momentos em sua narrativa.
Depois de uns três meses de Suécia, também me fiz vários desses questionamentos que vc expos tão bem em seu texto. Por vezes, não me reconhecia nesse mundo sueco e me perguntava se eu era a mesma pessoa.
Uma coisa é certa: não seremos mais as mesmas pessoas, claro que nossa essência não mudará radicalmente, mas devo dizer que as experiências que está tendo já estão te modificando; e tenho certeza de que serão para melhor.
Sobre estranhar o Brasil também tinha esse receio, mas das duas vezes que voltei ao Brasil, não senti estranheza não. Tinha muito receio de como seria voltar para casa depois de um ano seguido por aqui…sem grandes emocões, rs…O bairro continua a mesma coisa, meu prédio também. Sabe o que senti? como se eu tivesse feito uma viagem de 1 mês e voltasse pra casa.
Eu continuo com os questionamentos, mas agora, meus questionamentos são com relacão a volta ao Brasil (talvez em dezembro). Tenho receios de como será a volta, de ficar achando que a vida aqui era melhor, de como será voltar a trabalhar… Fica aquela ponta de dúvida se quero ou não voltar…
Bom, deixa eu parar esse comentário, pois já está enorme e você pode me achar a louca, rs.
Desejo muita sorte pra vc!! parabéns pelo blog!!
beijos
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Oi!!
Obrigada pelo coments, e seja bem vinda ao blog! Pois é, acho que a gente tem muito tempo para pensar aqui nesse país, ainda mais eu que to aqui fresca então é normal questionar.
Eu acredito que tudo passa, e todas as coisas mudam, mas muito obrigada por partilhar que você também passou essa experiência, é definitivamente confortador perceber que outras pessoas viram, vieram e venceram!
Beijos!
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Pois é tbm penso como vc…pra mim tbm é confortador saber que outras pessoas tbm vivenciaram as mesmas experiências!! beijos e to adorando o blog!
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