Alô! Alô! Terezinha! Quem não se comunica…

… se estrumbica!

Disse Chacrinha na década de 80 e um milhão de filósofos antes dele. Infelizmente, apesar de tanta gente dizer e repetir mais do mesmo, o ser humano é apegado em adivinhação, sobretudo quando tem uma relação especial com alguém – melhor amigo, namorado/marido sofre! – porque esse alguém TEM O DEVER de saber o que você quer. E o que você gosta. Ou ainda, como você se sente. Eu mesmo vivo tropeçando nessa triste mania de pensar que os outros sabem o que eu quero e como, e por causa disso e de coisas que li aqui, aqui e aqui resolvi escrever o post.

Tem um mês que eu to no trabalho e quase que ao mesmo tempo começou também no serviço de limpeza uma moça sueca. Eu tava muito animada com isso, afinal de contas o português rola solto o dia inteiro no trampo e a presença dela obriga todo mundo a arranhar um “suequês”… até que a gente limpou a primeira casa juntas. Caos total! Ela não fazia as coisas certas e a gente tinha que refazer tudo, e no fim quando ela terminava o trabalho “dela” ficava olhando a gente trabalhar.

Primeiro que o povo sueco não tem uma cultura de limpeza, não como no Brasil. Seja por causa do feminismo, ou por causa da escuridão, ou porque os bárbaros não tem medo de bactérias e viking que é viking dormiria no chão, ou porque a terra não é vermelha, ou porque nem tomar banho direito eles tomam, ou porque ninguém quer perder tempo com limpeza, ou… As casas normalmente estão desorganizadas num estilo lagom e tudo o que já foi branco é bege, tem umas poeirinhas pelos cantos e muita sujeira embaixo do tapete. Ninguém dá muita pelota pra isso porque eles priorizam o tempo com lazeres como leitura, música, comer, ou ficar olhando para o próprio umbigo. No verão eu entendo, todo mundo quer um lugar ao sol (quando ele dá os ares da graça). Mas no inverno quando as pessoas estão em casa também não tem dessas de ficar esfregando chão, parede, sei lá. Pensando bem, no inverno eu também não gostaria de fazer limpeza.

Segundo: a gente trabalha normalmente em duas ou três pessoas por casa. Ninguém tem um trabalho específico, mas as tarefas são divididas porque dessa forma ninguém tropeça em ninguém. Então normalmente alguém fica com a cozinha, o segundo com o banheiro e se há um terceiro ele vai com o aspirador de pó pela casa toda, tendo que limpar o chão (att mopa, ou mopar) com aquela vassoura mole e água e sabão com cheiro de nada e que não faz espuma. Mas quem termina vai ajudar os outros, porque cada casa deve estar limpa em um determinado tempo que varia entre 1 e 2 horas.

Eu não sou a rainha da limpeza e já comentei no post passado que sou lenta. Mas eu não fico parada olhando os outros trabalhar e por isso me irritava sobremaneira a guria ficar ali, pensando na morte da bezerra enquanto a gente corria contra o tempo. Que cara de pau!

Mas hoje eu entendi o que acontecia: choque cultural. Desde o primeiro dia que eu comecei, assim que eu terminava a minha tarefa eu ia procurar outra coisa o que fazer – quando eu terminava primeiro, o que demorou bastante e não aconteceu no primeiro dia – e isso significa muitas vezes fazer a mesma coisa que um outro está fazendo. Por exemplo: todas as portas devem ser limpas, todos os móveis e quadros recebem uma visitinha do senhor espanador, e isso duas pessoas podem fazer ao mesmo tempo porque há muitas portas em uma casa, muitos quadros, muitos móveis, muitos… tem o que fazer; enfim. Foi justamente enquanto eu limpava um sofá hoje que ela olhou para mim espantada e disse: você não precisa fazer isso porque outra pessoa está fazendo. Esse foi o momento do insight: ela não faz porque não sabe que deve fazer. Expliquei para ela que todo mundo ajuda, e que assim a gente trabalha melhor, e adivinha? Ela entrou no clima e agora trabalha como nós.

Eu poderia ter criado caso com ela, afinal tudo apontava para a postura típica do ‘eu vou fazer o que me cabe e vocês que se lasquem’. Enfim, nem foi nada disso, foi apenas falha de comunicação: ela já vem de uma cultura em que ninguém se importa com pó, em que todo mundo é muito consciente do “seu papel” e da “sua responsabilidade” – não tem dessa de ficar esperando por outros; e se cada um faz o seu bem feito o resultado final é pró – e a equipe inteira fala português quase que todo o tempo. E eu já tinha apelidado de dois de paus! Aqui no blog mesmo to sempre repetindo que é difícil de ler o que está nas entrelinhas do sueco mas não tinha me dado conta que para ela poderia acontecer o mesmo, porque como todo mundo fala português na equipe tudo estava absolutamente claro para mim. Para mim.

Esse tipo de situação é tão comum: fulano pensa um “isso” e ciclano pensa que sabe o que “isso” é, mas ninguém fala nada e todo mundo fica aguardando a osmose de pensamentos, que na real só acontece em filme. Pois é, filmes nem são reais. O resultado disso é: conflito.

Eu tenho paúra daquele tipo de pessoa que se acha o tal e fica dando “dicas”: quer uma coisa específica, mas nunca fala, e fica na expectativa de que você adivinhe. Sabe o que acontece? Primeiro, nada; depois, briga. E a acusação típica: você não se importa comigo! Não pensa no que é importante para mim! Só que isso não rola! Não entre pessoas saudáveis: de que forma vou viver a minha vida se preciso me colocar o tempo inteiro no lugar de outra pessoa? Eu já tenho bastante o que avaliar – minhas escolhas, sonhos, se vale a pena isso ou aquilo – vou ficar obstruindo a minha mente pensando e planejando a felicidade alheia?! Não.

Eu sei que é fácil cair nessa e to fazendo um exercício de falar o que eu quero. Não fico fazendo suspense dos meus desejos, nem antes do meu aniversário. Sabe aquele tipo: ahh, ninguém lembrou meu aniversário… Eu gosto de encher o saco de todo mundo e já falo bem antes o que eu quero de presente. Falando nisso, ano que vem quero uma semana na praia. No nordeste. Do Brasil. Podem começar a vaquinha – =P.

Acho que o principal responsável por essa mudança positiva na minha vida é/foi o Joel, só e simplesmente porque eu sempre tive que falar muito claro com ele sobre as minhas expectativas, meus desejos, meus sonhos. Ele fala português fluente, mas não é por isso que ele vai entender minha alma. Eu precisei mostrar. E valeu a pena.

Ah mas não tem surpresa assim. Se eu tenho que falar sempre o que quero, pedir tudo… Quem não chora não mama. Eu prefiro ter surpresas boas, e do tipo tranquilas quando eu recebo exatamente aquilo que eu imaginava e falei, do que receber alguma coisa do tipo: putz, não era isso que eu queria… Faça a experiência: fale na lata o que você quer. O resultado pode ser conseguir ou não, mas aposto que é bem mais provável a primeira alternativa. Do contrário… espere até alguém adivinhar. Mas sente confortavelmente. E não adianta ficar bravo.

Alô! Alô! Terezinha! Quem não se comunica…

2 comentários sobre “Alô! Alô! Terezinha! Quem não se comunica…

  1. Olá tudo bem? Estava eu aqui a procura de informações sobre como se faz a limpeza ai na Suécia e encontrei você abordando o assunto. Vou explicar, meu marido tem uma entrevista amanhã em uma empresa de limpeza em Estocolmo e vai fazer um teste, eu vivo em Lisboa e pensei que pudesse ser parecido a forma de limpar dai com a nossa em Portugal. Por isso quero te perguntar umas dicas de como se deve portar em um teste para limpeza por ai? Pode me ajudar? Obrigada e beijinhos..

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  2. Olá Iara!
    Bem vinda ao blog!
    Espero que a entrevista do seu marido tenha sido de sucesso, infelizmente eu vi seu coments apenas mais tarde ontem! Se precisarem de outra coisa me mande um e-mail!

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Agora vamos prosear!

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