O frio sueco

Uma das coisas que vai demorar deveras para me acostumar é a questão da distância. Não, não é a distância que estou do Brasil – isso não vou acostumar mesmo, e eu falo é da distância que as pessoas tomam uma das outras por aqui.

A Suécia é definitivamente um país difícil para se fazer amigos. Cinco meses e meio é pouco para tamanha pretensão, mas eu me sinto verdadeiramente longe de conquistar a amizade de algum deles. Não me refiro a amabilidade e gentileza, quem conhece o povo sueco sabe que são na maioria amáveis e gentis, me refiro a amizade mesmo, essa coisa de chegar e falar de um tudo e nada e ainda ser extremamente divertido só porque essa/aquela pessoa é especial, é um amigo.

Um, que eu não falo sueco. Não para falar de sonhos, esperança, amor, fé, raiva, frustração… dos desejos que posso melhor comunicar estão os do tipo “eu quero água, eu não quero chá, café? sim, obrigada” só. Sinto imensa vontade de conversar alguma coisa inteligente para variar, e às vezes eu nem tento ficar enchendo a cabeça do Joel porque até a mim me cansa meu monólogo com ele. Sorte que a paciência dos suecos é grande.

Dois; que as pessoas são mais reservadas. O comum aqui é que você tem um grande amigo que foi o cara/a mina que começou com você no mesmo jardim de infância – ou seja, pessoas que aprenderam a usar calças sem fraldas juntas. Sabem tudo um do outro. Tem quase um casamento, tão grande é a história de… tudo. Sim, apesar do que dizem as más línguas, os europeus tem mais de um amigo, o que não significa que eles se comportem de forma parecida com a nossa. E, uma vez que estamos na Suécia… quando se encontram não tem gritaria e xingamento, não tem abraço e retetê porque, afinal, amizade verdadeira também é uma coisa lagom.

Três; que as pessoas são muito reservadas. Gostam de falar, mas tem hora para isso. Gostam de dançar e ouvir música, mas tem hora para isso. Gostam de ter tempo para si mesmas, e se isso significa ficar longe dos outros não tem problema.

Não penso que eu seja uma pessoa difícil de se relacionar e tenho tentado, mesmo com meu sueco ruim, mas é de desanimar. Eu já sei de cor todas as perguntas que cada pessoa com quem eu vou conversar pela primeira vez vai fazer, e sempre fico imaginando uma forma de continuar a conversa, mas até agora… fica cada vez mais claro o quanto as pessoas são gentis, e que gentileza é uma forma bem bonita de ser distante.

Sinto falta de calor. Calor humano…

O que levar quando mudar de país?

A Mari – do Mundo da Mari – pediu para que todos os exportados – como diria a Gy – tentassem fazer uma lista com dicas do que levar quando mudar de país. Difícil pacas responder, porque cada caso é um caso, mas dá para ajudar com algumas questões gerais, afinal eu sei bem como é isso dado que parti a pouco e também tive muitas dúvidas [aqui].

1. Casacos não, dinheiro sim. Se você vai mudar para uma cidade que faz frio é uma coisa, mas se você vai mudar para uma cidade em que neva… esqueça seus casacos. Sim, talvez em partes do outono e primavera você possa aproveitar alguma coisa, mas… se vai mudar para a Suécia por exemplo, que é um país de águas – muitos lagos e muiiiiiiita chuva – ou você traz um guarda chuva gigante, ou vai precisar de um excelente casaco para chuva. Agora que é outono em Göteborg, por exemplo, chove todo dia; ou durante o dia ou à noite. É certo que você não vai querer e/ou poder ficar em casa o inverno todo – mesmo que dê vontade – assim como é certo que também chove no Brasil, mas não temos chuva fria e com vento (a exceção de algumas cidades no sul, como Cascavel): em 2 minutos adeus guarda chuva e eis uma pessoa molhada e gelada. Se morar em uma cidade grande no Brasil talvez encontre casacos bons a prova de água e de vento mas vai custar caro. Então, que tal trazer o dinheiro do casaco e economizar espaço na mala?

2. Dicionário da língua. A maioria dos habitantes dos países europeus é apta para falar inglês, então se você fala inglês fica um pouco mais fácil. A questão é que os produtos de prateleiras dos mercados, por exemplo, não vão estar em inglês. Como é queijo em holandês? E leite em alemão? Isso é fácil… Nem sempre. Na prateleira do mercado sueco por exemplo, tem inúmeras embalagens de tetra park que parecem leite, mas não são – quem já comprou filmjölk acreditando ser mjölk? E na França não adianta falar inglês, são poucos os franceses que responderão (a menos que você tente imitar o sotaque e comece com excusez-moi? ou pardon?). Já li micos de gente que foi para um país de língua inglesa sabendo muito inglês e derepente se deu conta de que não sabia exatamente aquela palavra – como se fala absorvente em inglês? Eu tive um dicionário aqui desde o início e ajudou bastante.

3. Documentos traduzidos para o inglês. Para o caso de quem não vai chegar com contrato de trabalho acho que vale a pena trazer o diploma e histórico da graduação/pós traduzidos para o inglês. O Serviço Social não é regulamentado na Suécia e por isso não é tão complicado solicitar a validação ou o exame de equivalência referente ao curso, e a regra é a mesma para todas as profissões não regulamentadas. Quando eu estive no Arbetsfömedligen também solicitaram uma carta de referência do meu último trabalho – coisa que eu não tinha pensado – e essa pode ser até mesmo em português, porque o Arbetsförmedligen mesmo faz a tradução. Assim, depois que se rompe a barreira da língua dá para cursar uma complementação e procurar emprego na área de formação. Quem é pró em inglês – que pode encarar livros didáticos – pode fazer mesmo antes de aprender a língua sueca pois as universidades suecas oferecem cursos totalmente em inglês, também.

4. Permissão Internacional para Dirigir – PID. Essa eu esqueci completamente antes de sair do Brasil, e agora eu penso que poderia me ser imensamente útil. É claro que é preciso ter a carteira de habilitação nacional primeiro, mas se é esse o caso, a emissão da PID custa R$46,48 no Paraná, e com ela você pode dirigir por um ano na Suécia. Não estou absolutamente certa disso, mas quem me disse tem a carteira. Também não sei como funciona em outros países, mas pelo que entendi ao buscar informações a PID é válida pelo mesmo período da habilitação.

Bem, mas essas são apenas as minhas dicas. Para conferir a lista completa de todas as contribuições clique aqui. E boa mudança!!

Nunca se é velho demais!

Eu fui limpar a casa de uma senhora sueca bem idosa que sempre cria certa polêmica com a agenda de trabalho, devido ao fato de que ela cursa a universidade. Ela estudou economia o ano letivo anterior, e agora está estudando a história da língua inglesa – ou a história da arte inglesa, não entendi  muito bem.

Detalhe: ela tem 93 anos. E parece ter 60.

Aposto que muitas pessoas nem se impressionariam: ahhh puxa… ela tem 90 e parece com 60? Grraaaande coisa… Grande coisa mesmo! Quantas pessoas de 60 anos você conhece que frequentam a universidade? Ou de 50 anos então? Ok, pense em alguém que ainda estuda alguma coisa com 50, 60, ou…?

Eu fico imensamente impressionada. Eu gostaria de sentar com ela e ouvir histórias, afinal quem vai para a universidade aos 93 não deve ter tido uma vida do tipo pacata. Eu fiquei procurando por fotos ou sei lá, esperava ver muitos livros ou filmes ou alguma coisa que indicasse viagens ou o quê, mas eu não posso ficar fuçando nas coisas dos clientes! Ah, nessas horas eu fico tão frustrada com o meu sueco, eu queria falar mais, entender mais, perguntar um milhão de coisas!

Sei lá se ela responderia. Sei lá se eu teria tempo, ou coragem. Mas o quê é que é tão absolutamente fantástico encontrar pessoas com energia para lutar contra… não sei explicar ao certo, mas é nadar contra maré e nem ficar cansado! E daí se a vida inteira dela ela não fez nada de extraordinário [como eu imagino agora]: o fato de que ela estuda aos 93 é extraordinário.

Acho que muita gente entra em uma espécie de crise existencial porque não realizou o esperado pelo sistema: nasça, cresça, estude, apareça, tenha um bom emprego, conquiste a garota ou o cara, faça pós, compre uma casa, crie estabilidade financeira, tenha filhos, trabalhe mais, compre coisas importantes, se aposente e… aproveite a vida. Hã? Não há nada de errado em aproveitar a vida depois de aposentar, mas porque não aproveitar antes?

Quem foi mesmo que falou que devia ser assim? Dias atrás eu li um post da Fernanda do blog Aprendendo a Viver na Suécia em que ela conta que voltou para a escola e se sentiu esquisita porque sempre quis fazer tudo “certo” e de repente quando ela muda de país tudo está as avessas! Ela teve que recomeçar, mas e daí? Nunca se é velho demais!

Ter filhos antes de conquistar a estabilidade financeira não é o desejo de ninguém, descobrir que a faculdade dos sonhos não vai te conduzir ao emprego dos sonhos tampouco, assim como perceber que não foi dessa vez que você encontrou o “cara” é depressivo. Tomar revezes da vida não é fácil. Mas parar… porque não se chegou lá (onde mesmo?) é pior.

E depois, dá aquela sensação de que toda a vida tem que ser vivida antes dos 30. Tudo: escola, trabalho, marido, crianças! antes dos trinta. Definitivamente não se é uma pessoa de sucesso se não se chegou  até a data limite. Porque depois… Depois é cuidar do tudo até aposentar, aos 60. Trinta anos sem fazer nada de novo, só cultivando – e muitas vezes mal e porcamente – aquilo que se conquistou até os 30. Céus! Pensando assim, só tenho mais 1 ano e meio para ter formação, trabalho, casa e filhos. Hahahaha louco não?

Não quero isso para mim. Tem muito tempo até os 93.

Pequenas Grandes Coisas da Minha Vida Sueca #01

Não está sendo fácil atualizar o blog essas duas últimas semanas. Isso pode soar como desculpa, e é em certa medida, mas a questão é minha desorganização… já que idéias não faltam e tenho vivido uma série de coisas “novas” que eu quero compartilhar com os meus queridos leitores – hahahaha que esquisito escrever isso! Não parece aquelas coisas de programas antigos de rádio e Tv? Pensando em todas as coisas inéditas que tenho experimentado – e não – decidi inaugurar uma nova categoria com o nome de “Pequenas Grandes Coisas da Minha Vida Sueca”. Porque simplesmente toda a experiência é subjetiva e alguma coisa que eu sinto como super pode parecer imensamente aborrecida a outrem…

Eis uma caipira em frente ao Posseidon, estátua famosa situada no fim da Aveny.

Deixando o blá blá, e como esse é um post de introdução, vou contar um pouquinho da minha cidade: Göteborg em sueco (fala mais ou menos como Iótebóri – engraçado não?), Gothemburg em inglês, alemão e neerlandês – que língua é essa? – e Gotemburgo para nós brazucas. Göteborg é a segunda maior cidade sueca, com o maior porto marítimo do país, cerca de meio milhão de habitantes ou 900 mil, se contar toda a área metropolitana. A Suécia tem cerca de 9 milhões de habitantes, o que significa que praticamente 10% da população sueca vive aqui.

Eu fico pasma quando eu penso que saí de uma cidade de 3 mil habitantes para uma cidade 300 vezes maior. Mas Göteborg é uma cidade linda, muito limpa na maioria dos bairros que eu visitei e extremamente tranquila para o porte. Tem congestionamento, mas eu não tenho carro e não sofro com isso – gente é fantástico andar de spårvagn (=trem elétrico ou bonde) lá pelas 4 horas da tarde, e ver todo o povo dentro dos carros andando a menos de 10km por hora enquanto a gente só passa… A criminalidade é baixa, a cidade não parece um amontoado de arranha céus, o comércio não funciona 24horas por dia, tem um céu azul lindo – quando temos sol, tem muitos parques e áreas arborizadas, tem um canal e rio no meio da cidade que fica à beira do mar (é né, tem o porto!), os bairros são distantes e espalhados…

Eu amo a cidade.

Järntorget

Uma vista do lado de lá da Aveny!

Mas eu moro em um bairro que fica “fora de Göteborg” – 14 minutos de spårvagn, chamado Angered. Esse bairro foi construído pelo “governo” na década 60 ou 70 (fonte Joel Abrahamsson) e como era barato morar aqui o governo mesmo foi depositando os estrangeiros que chegavam na cidade (porque principalmente refugiados tem ajuda do governo, uma espécie de bolsa família, que paga o apartamento também). Angered tem uma série de sub-bairros, e eu moro em um com cerca de 7500 pessoas – mais do que na minha antiga cidade!! Hahahaha…

Hammarkullen – morro do martelo – é extremamente diferente do resto de Göteborg: o estilo das casas, a “cor” das pessoas, o movimento, a limpeza das ruas, o estilo das lojas… como aqui vive uma grande concentração de somális, existe barbearia que apenas “homens” podem frequentar e  salão de beleza para as mulheres, por exemplo. Eu vejo muçulmanos todos os dias. E tem lojinhas árabes. E o melhor kebab – mais barato também – de Göteborg.

Hammarkullen - meu bairro...

Carolina e eu!

Apesar de Hammarkullen estar há cerca de 20km do centro de Göteborg é muito prático ir para lá. Eu sempre gostei de tomar o spårvagn para dar uma volta por lá, só para caminhar e olhar o movimeto – gente de cidade pequena, sabe como é, adora um movimento! A impressão mais forte que tenho é que vim parar no meio de uma aldeia global: tem gente de todas as tribos, raças, credos, religiões… eu encontro angolanos e portugueses no trem, já topei com brasileiros no mercado – aquela coisa do oi! eu ouvi você falar português… você é brasileiro? – ouço espanhol todo os dias, ou árabe; eu vejo uma jovem mãe com milhares de tatuagens e piercings pelo corpo passeando com a criança pelo parque; eu vejo punks ou aquele tipo que parece rock’n’roll ao extremo – todo de preto, com botas estilo militar e acessórios de correntes do tipo que você usaria  para prender um pitbull; pessoas tocando violão ou algo do gênero por alguns trocados; idosos andando de mãos dadas; idosos sozinhos; um carinha com cabelo black power ou uma mocinha careca ou de moicano…

No começo eu fique um tanto quanto assustada e/ou mais ou menos assim como criança, apontando o dedo para tudo e enlouquecendo o Joel com perguntas e com olha! Você viu o povo que saiu do Matrix entrar no spårvagn? Pode cachorro no trem? Como funciona? Blá blá blá… eu gostaria de dizer que já acostumei, que é lugar comum, mas felizmente eu acho que não…

A única coisa que não vi por aqui é outro caipira. Aliás, dessa leva de gente só vejo eu mesma todo dia no espelho, ou no vidro do trem quando me sinto maravilhada por qualquer coisa mais ou menos normal que me é tão singular por causa de onde cresci…

E… essa é a rotina sueca (?)

Sabe aquela música: todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às seis horas da manhã me sorri um sorriso sensual e me beija com boca de maçã? Não é assim que funciona comigo! Como meu trabalho é extra – digamos assim – eu nunca sei a que horas eu  vou começar meu dia: posso acordar 6, 7  ou 8 horas… …porque eu sou extremamente preguiçosa para estabelecer um horário que funcione para todos os dias [acordar todos os dias 7 horas, por exemplo] e organizar um pouco a minha vida antes do trabalho.

O resultado disso é que quando chego em casa eu quero escrever no blog, escrever para os meus amigos, escrever sueco, escutar sueco, escutar alguma música legal para relaxar, comer – e isso significa fazer comida, tomar banho, organizar meu mundo; enfim. E?

Não funciona. Um, que eu sou indisciplinada. Dois, que eu acho muito chato passar o dia inteiro longe de casa e assim que chegar se enfiar no computador e ficar na internet, sem conversar com o Joel ou o pessoal do coletivo. Eu preciso do meu mundo virtual só para dizer olá para meus amigos, e quando eu vejo no meu e-mail que não tem nenhum com o assunto Oi! [qualquer título que não seja de piadas ou correntes] eu logo desligo o computador.

Então a coisa está assim: acordar, tomar café, tomar o trem, trabalhar, tomar o trem de volta, fazer o que dá tempo e coragem, dormir. Eu já comentei no blog que o almoço aqui é depois do  dia de trabalho, chama middag e acontece entre às 16h e 20h – mais ou menos. Tem lava-louça e isso é fabuloso!, mas não dispensa do serviço de organizar a cozinha… Mas enfim, o chato disso tudo é que às vezes quando eu vou dormir eu penso que não fiz nada.

Claro que fiz. Estudo no trem quando eu vou para o trabalho, e às vezes quando volto também. Consigo escrever ao menos 3 vezes por semana no blog. Respondo todos os e-mails de amigos. E principalmente, cultivo com muito afinco minha relação com meu amoreco e todos os novos amigos. Mas a sensação ainda persiste, e eu fico pensando que merda que é essa que incutem na nossa cabeça que a gente realmente acredita que deve ser quase que uma máquina na vida pública, profissional e privada!

Em todos os seminários de assistência social que eu fui lembro que quando se falava de família o palestrante insistia na questão de desmitificação do conceito de “família margarina” – na qual a mulher, principalmente, está sempre linda e maravilhosa mesmo cumprindo dupla jornada de trabalho e cuidando dos filhos. Penso que a gente deve ir ainda mais longe, lembrar que o dia só tem 24 horas e que nesse período a gente precisa, principalmente, alimentar a alma e o corpo: comer coisas gostosas, fazer algum exercício, namorar, gastar tempo com gente feliz e com coisas para encher a mente de coisa boa – livros, música, filmes…

Trabalhar faz parte, porque afinal todo mundo precisa de dinheiro. Mas o tempo que você despende dormindo é quase tão ou mais importante do que o tempo que você está acordado – ou zumbizando! Será que a gente vive de verdade quando acorda direto no modo operando, toma café, sai para o trabalho, trabalha, volta do trabalho, faz coisinhas, dorme, acorda, sai para o trabalho…? E porque enfim eu to pensando em acordar mais cedo todo o dia?

Passei quase três meses na casa me sentindo deslocada porque não trabalhava, e agora não sei se saí do ritmo ou o quê, mas me parece tão sem noção às vezes [sempre] todo esse esforço. Ok, não era meu sonho ser diarista, mas é o que está para mim no momento e me ajuda a ter meu dindim. E na bem da verdade, eu não sei se quero voltar a ser assistente social.

De repente, eu to crescida e não sei o que eu quero ser quando crescer. Mas será que alguma vez eu soube?

Domingo é dia de saudade!

O engraçado é que quando eu morava no Brasil – não lembro direito mas acho que foi a Lu – quem cunhou a frase depressão do “Fantástico” [aquele programa global que uma vez já teve muito mais haver com o próprio nome] porque quando começa o Fantástico se tem a certeza de que o fim de semana acabou.

Eu tenho um tipo de depressão de domingo à noite – mas não é porque o fim de semana acabou, nem é saudade de assistir ao Fantástico, é que eu fico imaginando o que todo mundo está fazendo. Está, porque com 5 horas de diferença, e agora com o verão chegando, quando eu to me preparando para dormir [eu durmo cedo] o meu povo querido láááááá no Brasil ainda está aproveitando – ou não – a tarde… e me bate aquela saudade.

O que eu estaria fazendo no Brasil? Vendo futebol na tv com meu pai e comendo pipoca. Ou talvez assistindo um filme com pai e mãe – assisti o Fabuloso Destino de Amélie Poulain e fiquei pensando que minha mãe adoraria vê-lo. Correndo para o ponto de ônibus com a Ana porque ela deixa para escovar o cabelo 20 minutos antes do horário do ônibus, e daí que a cada domingo precisávamos correr as seis horas atrás do buss com as 50 malas com sapatos e produtos de maquiagem e roupas que ela levava para passar dois dias na casa da mãe. Conversando com a Gio em outro ponto de ônibus esperando o metropolitano que chega sempre atrasado e lotado em Entre Rios. Escutando alguma música que meu irmão aprendeu no violão. Ou eu estaria sentada na varanda da casa da Angela para tagarelar. Ou na varanda da Maira para o mesmo. Caminhar um pouquinho com a Lu e a Alana antes de tomar o busão para casa.

Eu tenho saudade, mas minha vida não ficou no passado. Do contrário: hoje sentamos eu e Joel numa praia sueca – um pouco de areia, mar bem escuro, a praia cheia de algas, um vento friooooo!!! – para sonhar e tagarelar. Falar do futuro, falar de trabalho, estudo, falar de felicidade! E pensar que tantos domingos a tarde eu sentei diante desse mesmo computador para falar com o Joel pelo skype, querendo tanto fazer o que eu fiz hoje!

Acho surpreendente simplesmente isso: que eu sentei numa praia sueca para falar da vida… com um rapaz sueco fantástico que mudou meu mundo. A vida é cheia de surpresas, quem sabe quando eu vou sentar de novo com todas as pessoas queridas de quem eu tenho saudade agora?

Eu penso que será logo…

20 e tantas coisas interessantes de saber antes de mudar para a Suécia

Este post é quase um plágio do Mundo da Mari. Quase. A Mari publicou ontem um post sobre 20 coisas que você deve saber antes de mudar para a Suécia. Ela retirou uma lista do Sweden.se que traz uma série de curiosidades e detalhes da cultura sueca que eu não vou reproduzir aqui, primeiro porque já está lá, e segundo porque a ideia é acrescentar coisas que eu penso que ficaram fora da lista.

Então, aqui vão algumas coisas que são interessantes de saber e pensar antes de mudar para a Suécia, além das 20 que a Mari citou. Quem quiser conferir todas as curiosidades dá uma passadinha no Mundo da Mari clicando no link do parágrafo acima.

21. A refeição mais importante do dia é o middag. Apesar de o middag já ter sido o equivalente ao almoço no Brasil, atualmente ele é a ceia. Todo mundo toma um café da manhã reforçado e realmente leva um lanche consigo para o trabalho/escola/universidade, mas a hora das batatas com almôndegas (o feijão e arroz sueco) é depois das 16h30.

22. Muito açúcar faz mal a saúde. Café sem açucar, sucos sem açucar, e os bolos e guloseimas também. Eu já comentei em outro post que aqui ninguém conhece brigadeiro, e quando eu fiz o povo ficou louco! Mas o comentário foi que isso não se deve comer sempre porque tem açúcar demais. Suecos pensam muito em saúde e açúcar aqui é igual a veneno, eles costumam ler o rótulo dos produtos para saber se tem pouco ou muito açúcar. Claro que eu exagerei um pouco, afinal quem mora aqui sabe que eles adoram se empaturrar de godis.

23. Falando em godis, o mais famoso é o lakrits. Tanto é que tem até reportagem no jornal avaliando cada tipo de lakrits disponível no “mercado” e qual é o favorito da galera. Eu ainda não conheci um sueco que diga que não gosta de lakrits, mas todos eles repetem que é muito difícil que estrangeiros gostem. Eu gosto de lakrits – eles sempre são pretos e tem gosto de anis com sal. Só não gosto daqueles recheados com caramelo. E na verdade, meu godis favorito é sur.

24. Não faça tipo! Brasileiro tem costume de se fazer de rogado – e isso eu chamo de fazer tipo – o que não funciona por aqui. Quando for visitar alguém em casa a pessoa vai te oferecer algo, e se você quer diga sim. Não pense que dizer não a pessoa vai ficar insistindo. Se ela for gentil vai perguntar tem certeza? e depois não oferece mais. Seja claro, por exemplo, se te oferecerem café, e você não quer, diga não obrigado. Quer outra coisa? Diga o que quer.

25. Diga sempre obrigado. Suecos amam essa palavra, então use e abuse. Quer elogiar pelo jantar? Obrigada pela comida, foi maravilhosa. Vai recusar alguma coisa? Diga não, obrigado. Está passeando na cidade e pediu ajuda? Obrigada. Até para comprar café ou comida [em sueco] se diz: eu quero um copo de café, obrigada. Enfim, use sempre.

26. Aprenda a fazer sozinho. Não tem empacotador no mercado, nem frentista no posto de gasolina, ou lava carros… Após as compras, você mesmo coloca os produtos dentro da sacola e no posto de gasolina você deve sair do carro e abastecer o auto sozinho – inlcusive muitas vezes não tem nem loja de conviniência, só a máquina em que você insere o cartão para pagar pelo combustível e que vai liberar a bomba. Se quiser dar uma lavadinha, você pode comprar um tempo e lavar por si mesmo o carro. Na biblioteca você faz o empréstimo sozinho, e há bancos quase que totalmente virtuais – que não tem uma sede, apenas páginas na internet e teleatendimento.

27. Você é responsável pela sua comida. Se te convidarem para um piquenique ou festinha, procure saber que tipo de confraternização é pois muitas vezes o anfitrião não vai oferecer comida para todo mundo. As pessoas costumam fazer reuniões em cada qual é responsável por levar sua bebida e sua comida, então é bom saber que tipo de reunião vai acontecer.

28. A lixeira do banheiro não é para o papel higiênico. Papel higiênico usado é descartado junto com a descarga do vaso. No lixinho do banheiro vão absorventes e aparelhos de barbear velhos, assim como outras coisas que não podem ser recicladas. Pense verde e separe o lixo, inclusive porque há multa para quem joga coisas recicláveis junto com o “lixo” no lixeiro. Sempre há lixeiros grandes perto dos conjuntos habitacionais com a denominação do que vai lá: um contêiner para plástico, um para papel, outro para papel tipo cartão, vidros coloridos, vidros incolores, metais, e por fim jornais. O lixo “lixo” normalmente é descartado em um lixeiro dentro dos prédios que parece um grande tubo de aspirador de pó – e que faz  um barulho pra lá de esquisito.

29. Midsommar. É a maior festa folclórica sueca. Para comemorar o verão, o calor, dançar ao redor de uma coisa esquisita, recolher flores e fazer uma coroa, tomar muitos shots, cantar canções suecas e fazer outras muitas coisas suecas…

No fim de tudo, uma dica: verão sueco é quando as temperaturas estão acima de 10 graus C. Então aproveite: vá passear, vá para um parque, fique no sol, fique chocado com a mulherada de shorts quando está 12 graus C, os homens sem camisa aos 18 graus C e todo mundo reclamando do calor quando, eventualmente, está mais de 25 graus C…

Afinal, você terá muitos meses de chuva, vento e frio!

Problema cabeludo

Sabe aquela história de que tudo que você come influencia a aparência da pele e dos cabelos? Acredito piamente. Depois que eu mudei meus cabelos não são mais os mesmos e infelizmente eu percebo que isso não é somente por causa da falta dos meus velhos e conhecidos produtos para os cabelos.

Um, que eu sou preguiçosa ao extremo com questões de beleza e gosto de tudo que possa ser muito prático. Meus cabelos são compridos e ondulados [ao natural], mas eu fiz uma progressiva há algum tempo – muito tempo, diga-se de passagem – e por isso eles estão mais ou menos lisos ainda. O bom da escova progressiva que eu fiz – Isaaaaa que falta você me faz!!! – é que além de alisar o cabelo fazia uma hidratação profunda. Resultado: cabelos lisos, brilhantes, maleáveis, fáceis de arrumar e sem nós. Eu podia ir para um show de rock [se eu gostasse] e tocar o terror a noite inteira. No fim só precisaria pentear com os dedos e voilá! Linda em 30 segundos. Dois, eu não como mais do mesmo. Não que eu coma porcarias porque eu como muita fruta por exemplo, mas sei lá, nada é igual antes.

Atualmente estou numa transição para o black power. Porque se eu durmo ou vou para o vento o cabelo fica em pé. E com relação ao vento, Göteborg é como Cascavel, então quem conhece pode imaginar o resultado. Nada mal para uma cultura em que a maioria esmagadora das mulheres tem um cabelo liso – lisíssimo, daqueles que não se revoltam por nada – e que, por esse exato motivo, sonham com uma cabeleira um tantinho que seja revoltada e volumosa. Tanto que, para meu horror e desespero, a primeira vez que eu [quase] comprei um produto para cabelos no mercado eu simplesmente peguei a primeira coisa em que eu vi a palavra volume – nada mais natural, uma vez que todos os produtos que eu conhecia até então eram para o controle ou redução do volume. No caminho para o caixa eu percebi que o produto não era redutor de volume, e sim maximizador de volume. Voltei correndo para a prateleira e me vi em um thriller medonho onde de todos os produtos saltavam as letras como que gigantes diante do meus olhos: max volume! Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

Comprei uma máscara com queratina, a única que encontrei com a embalagem em inglês, para reestruturação capilar. Nota: uma série de produtos apresentam as instruções da embalagem apenas em sueco, norueguês, dinamarquês e finlandês; é mole? Usei e abusei, mas a minha disciplina é tanta que o resultado não é muito positivo. Ao final, nem posso dizer se o produto é bom ou não é, porque eu não tenho paciência para ficar com ele na cabeça durante os 7 minutos recomendados pela embalagem.

To me coçando para ir para um salão, oscilando entre o sentimento de pânico e desespero. Pânico, porque eu amo meu cabelo comprido, e ia ter um piti se alguma cabeleireira “criativa” resolvesse picotar ele para dar volume, por exemplo. Oj! Nem posso imaginar. Desespero porque a cada dia eu vejo meu cabelo com mais e mais nós, e nó no cabelo é sinal de alerta: cabelo com nós=cabelo gritando por hidratação.

Eu sei que preciso cortar alguns centímetros do meu cabelo para melhorar o aspecto. Mas alguns centímetros para mim significam um dedo ou dois, aquele tipo de corte que é o desespero dos homens (amor… reparou que eu to diferente? Cortei 0,5 cm do cabelo hoje!), e não 10 cm. Cabelo curto é lindo, e principalmente lindo para quem gosta de ter cabelo curto. Eu quero minha longas madeixas!! E quem tem longas madeixas sabe o quanto é preciso esperar até poder usar o adjetivo “longas”.

Hoje, me enchi de coragem e enchi o saco do Joel para ir comigo à um salão. Eu já tinha entrado lá e visto alguns produtos da Matrix, então achei legal. Foi muito engraçado porque na hora que o Joel terminou de fazer a pergunta a mocinha que nos atendeu perguntou se eu buscava produtos, e eu disse que ‘não, quero fazer um tratamento aqui’, e quando o Joel terminou de traduzir ela disparou maravilhas a respeito de um tratamento brasileiro fantástico que…

Custaria entre 2500kr e 3000kr, por causa do tamanho do meu cabelo.

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O problema não é [apenas] o fato de o tratamento custar entre R$600 e R$750 reais, porque aqui tudo com relação a cabelo e beleza é muito caro. Ninguém faz unha por menos de 150kr (quase R$40). Só a mão, pé é mais o mesmo valor – e elas não tiram a cutícula, apenas empurram. O problema é que eu não conheço o Brazilian Blow Out [na internet todas as pesquisas relacionadas dão resultados como: mulheres loucas pelo Brazilian Blow Out! Sucesso! Lindo!!! mas é internet né?], alguém que tenha feito o tal tratamento, e muito menos a mocinha que estava tão entusiasmada explicando a coisa toda – que enfim é uma escova progressiva ou inteligente. E quando ela arrematou com “eu uso no meu cabelo”… bem, basta dizer que não me entusiasmou.

Resultado: nem tive coragem de entrar em outro salão pra continuar a pesquisa. O Joel apenas sorriu… e eu continuo com meu dilema cabeludo: ir ou não ir [ao salão], eis a questão! Gastar tudo isso sem saber se eu ainda vou ter cabelos 15 dias depois do tratamento? Comprar mais algum outro creme que eu consiga ler o rótulo e me amarrar para esperar os 7 minutos? Recorrer a tratamentos caseiros? Aproveitar os nós do cabelos e fazer dreadloks?

Alguém com uma dica?

I love cats!

Dizem que eles se apegam à casa e não ao dono. Que não são divertidos. Que são egoístas. Nojentos, porque soltam pelos. Que são mais sujos do que cachorros. Que são uma conexão com mundos espirituais. Que são do mal. Que podem sentir os espíritos, por isso ficam ouriçados. Que trazem azar. Que trazem doenças. Que sua urina brilha na luz negra. Que se cortar o bigode o bicho morre ou nunca mais consegue achar o caminho de volta para casa… mas eu digo simplesmente que eles são maravilhosos!

Eu tava falando com a Maíra hoje e a gente começou a falar de bichos de estimação e então lembrei da minha gata [que era minha e da minha irmã Ana – não precisa dar piti Whermeya], que gostava de ler comigo, ou eu gostava de ler com ela. Ela era muito tagarela e sempre começava a miar como se estivesse reclamando comigo, dai eu pegava ela e antes mesmo de começar a fazer carinho ela mudava o status ronronar para on. Isso era tão fantástico! Ela fazia um barulho tão alto, e todo o corpo dela vibrava. Ela era meio pequena, mas era tão esperta!

Olha ela!

Eu adorava deitar com ela no meu regaço e ficar lendo e fazendo carinho, e então ela se aninhava e ronronava, dormia, acordava, ronronava… e se eu parava ela levantava e passava a pata no meu nariz como quem diz: “Ei! Como é? Eu ainda tô aqui e to fazendo a minha parte, então faça a sua!” Ela morreu um pouco antes de eu sair para a Suécia, e foi bem triste, mas também teria sido triste deixar ela de qualquer forma.

Eu gostaria muito de ter um gato aqui, mas eu ainda não pesquisei sobre como. Isso porque na Suécia existem uma série de regras um tanto quanto rígidas a respeito de animais de estimação. É muito interessante que, por exemplo, cachorros são permitidos nos ônibus e spårvagn, e é muitíssimo comum ver as pessoas passeando com seus cães em praças ou parques. Suecos gostam de caminhar, e penso que gostam ainda mais de caminhar com cachorros.

Mas essa não é a minha praia: cachorros são fantásticos quando você tem casa e crianças. Em todo o caso, não sei se eu teria um gato se eu morar em um apartamento, principalmente se ele for pequeno, afinal, eu preciso de espaço, o Joel precisa de espaço e um bichano precisa de espaço também. Ademais, tem a questão da areia… eu amo gatos, mas o xixi deles é fedido pacas!

Enquanto não resolvo o impasse, eu mato a minha vontade com 30 segundos de ronrom na semana. Eu não vou contar como, mas é com um gato lindo, peludo, cinza, que é enorme e quase não cabe no meu colo! Ele é pacífico e acho que me adora, porque quando eu chego ele me dá moral e eu sempre abraço ele!

Infelizmente, nem todo mundo pensa o mesmo… não é Moisés?