Nunca se é velho demais!

Eu fui limpar a casa de uma senhora sueca bem idosa que sempre cria certa polêmica com a agenda de trabalho, devido ao fato de que ela cursa a universidade. Ela estudou economia o ano letivo anterior, e agora está estudando a história da língua inglesa – ou a história da arte inglesa, não entendi  muito bem.

Detalhe: ela tem 93 anos. E parece ter 60.

Aposto que muitas pessoas nem se impressionariam: ahhh puxa… ela tem 90 e parece com 60? Grraaaande coisa… Grande coisa mesmo! Quantas pessoas de 60 anos você conhece que frequentam a universidade? Ou de 50 anos então? Ok, pense em alguém que ainda estuda alguma coisa com 50, 60, ou…?

Eu fico imensamente impressionada. Eu gostaria de sentar com ela e ouvir histórias, afinal quem vai para a universidade aos 93 não deve ter tido uma vida do tipo pacata. Eu fiquei procurando por fotos ou sei lá, esperava ver muitos livros ou filmes ou alguma coisa que indicasse viagens ou o quê, mas eu não posso ficar fuçando nas coisas dos clientes! Ah, nessas horas eu fico tão frustrada com o meu sueco, eu queria falar mais, entender mais, perguntar um milhão de coisas!

Sei lá se ela responderia. Sei lá se eu teria tempo, ou coragem. Mas o quê é que é tão absolutamente fantástico encontrar pessoas com energia para lutar contra… não sei explicar ao certo, mas é nadar contra maré e nem ficar cansado! E daí se a vida inteira dela ela não fez nada de extraordinário [como eu imagino agora]: o fato de que ela estuda aos 93 é extraordinário.

Acho que muita gente entra em uma espécie de crise existencial porque não realizou o esperado pelo sistema: nasça, cresça, estude, apareça, tenha um bom emprego, conquiste a garota ou o cara, faça pós, compre uma casa, crie estabilidade financeira, tenha filhos, trabalhe mais, compre coisas importantes, se aposente e… aproveite a vida. Hã? Não há nada de errado em aproveitar a vida depois de aposentar, mas porque não aproveitar antes?

Quem foi mesmo que falou que devia ser assim? Dias atrás eu li um post da Fernanda do blog Aprendendo a Viver na Suécia em que ela conta que voltou para a escola e se sentiu esquisita porque sempre quis fazer tudo “certo” e de repente quando ela muda de país tudo está as avessas! Ela teve que recomeçar, mas e daí? Nunca se é velho demais!

Ter filhos antes de conquistar a estabilidade financeira não é o desejo de ninguém, descobrir que a faculdade dos sonhos não vai te conduzir ao emprego dos sonhos tampouco, assim como perceber que não foi dessa vez que você encontrou o “cara” é depressivo. Tomar revezes da vida não é fácil. Mas parar… porque não se chegou lá (onde mesmo?) é pior.

E depois, dá aquela sensação de que toda a vida tem que ser vivida antes dos 30. Tudo: escola, trabalho, marido, crianças! antes dos trinta. Definitivamente não se é uma pessoa de sucesso se não se chegou  até a data limite. Porque depois… Depois é cuidar do tudo até aposentar, aos 60. Trinta anos sem fazer nada de novo, só cultivando – e muitas vezes mal e porcamente – aquilo que se conquistou até os 30. Céus! Pensando assim, só tenho mais 1 ano e meio para ter formação, trabalho, casa e filhos. Hahahaha louco não?

Não quero isso para mim. Tem muito tempo até os 93.

4 comentários sobre “Nunca se é velho demais!

  1. Muito bom o post!! nossa e que impressionante: 93 anos na faculdade!! acho muito legal q os idosos aqui na Suécia trabalhem, estudem…andem de bicicleta..!! parabéns pela forca dessa senhora!!

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  2. Oi Maria, muito bom seu blog. Tenho 35 anos e na maioria das vezes me acho velha, grande lição vc ta tendo e passando p gente. Uma pergunta que ainda não vi aqui ou talvez não tenha encontrado, como os suecos vê o brasileiro. Obrigada, grande abraço!

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  3. Eu também, em muitos momentos já me senti um velho fazendo autoescola. Nos meus 18 anos, não tinha condições, nem financeiras e nem psicológicas de encarar as aulas de direção, pois eu tinha muito medo de causar acidentes e não saber lidar com os problemas do veículo. Em breve vou fazer 32 anos e ainda não tenho CNH. Além disso, ainda não tenho curso superior completo. A maioria dos meus colegas são mais jovens.

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  4. Pois é, aqui na Suécia eu tive que aprender que enquanto o coração bate eu tenho tempo. Só não há mais tempo quando o coração parar…
    Acho que às vezes a gente se deixa levar pelos modelos existentes, e pensa que é apenas quando se é jovem que é possível estudar, encontrar a pessoa dos nossos sonhos ou ser feliz.
    Mas o tempo de mudança não é determinado pela idade e sim pela ousadia!

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Agora vamos prosear!

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