Eu moro num coletivo – o que na minha região a gente chama de república – e isso é uma coisa mais ou menos estranha por aqui. Tanto, que vi um artigo no jornal sobre coletivos na Suécia ressaltando a questão como um contra-movimento importante na vida dos cidadãos suecos. A Suécia tem um grande contingente de “pessoas adultas” e idosas morando sozinhas e uma taxa de suicídio em torno de 3 pessoas ao dia. Praticamente, morrem mais pessoas no auto-assassinato do que por causa de violência ou acidentes de trânsito.
São cinco pessoas que moram no coletivo – Joel e eu mais Liv, Carolina e Joseph. Todos suecos. Já falei um pouco sobre eles no blog, e agora que a Carolina está fora por três meses temos a Frida para completar o time. Para mim isso é/foi especialmente bom e importante, por dois grandes motivos: quase não estou sozinha e posso ouvir/treinar/aprender sueco todos os dias.

Um jantar com todo mundo: eu (de amarelo), Carolina, Joseph, Joel, Frida e Liv (e o chocolate meio amargo que eu adoro!).
Sendo que Joel e eu somos um casal morar em um coletivo pode parecer um tanto estranho. Mas não quando se conhece o sistema habitacional sueco – que eu ainda não entendi direito. Primeiro, morar na Suécia é caro – aluguel aqui é coisa de outro mundo em cidades como Göteborg e Stockholm – e segundo, as regras de compra, venda, aluguel e etc são tão complexas que nem vale a pena eu querer entrar no mérito da questão. Já a questão da privacidade é tranquila porque suecos sabem como manter seu espaço – mesmo que a casa esteja cheia, assim sempre tem tempo para nós dois.
No sueco se utiliza a palavra mysigt para expressar que uma coisa que acontece entre pessoas é gostosa, como por exemplo passar momentos em família, passear de mãos dadas, fazer comida juntos, assistir a um filme ou conversar com amigos. Eu acredito que isso define bem o que a gente tem aqui no coletivo: todo mundo se ajuda. Não rola stresse por causa de comida já que o “mercado” é dividido em partes iguais; todo mundo é responsável por manter o ambiente limpo – em especial a cozinha – mas existe um cronograma de limpeza geral da casa; não há briga pelo controle remoto porque não tem televisão, e; todo mundo ajuda no dia de lavar roupa – e isso é uma daquelas coisas que o dinheiro não compra.
Eu já vi em muitos blogs a questão da tvättstuga (lavenderia) como um caso de stress constante. Concordo, a minha mãe tem uma daquelas máquinas de lavar automáticas e isso é formidável – em termos de Brasil – porque você pode lavar roupa a hora que quiser e estender, como é quente sempre seca. Mas aqui, além do frio tem a questão da chuva (chove muito), e o sol… então, dizer que o sol é fraco não seria a forma adequada de descrever – porque não é o sol, é a inclinação da terra e a posição da Suécia em relação a linha do equador – mas é o adjetivo mais fácil para emitir a compreensão; enfim, todo mundo precisa secadoras. Não há lavanderias nos apartamentos suecos – em alguns tem uma maquininha de lavar dentro do banheiro – e por isso há grandes lavanderias no subsolo dos prédios ou em uma casinha próxima ao conjunto de apartamentos. A lavanderia sueca tem máquinas automáticas e secadoras, o foda é o tempo: você tem 3 horas para lavar roupas. Depois disso a porta tranca e só pode entrar quem tem a chave do próximo tempo, que vai ser uma pessoa extremamente brava e nervosa se você precisar “roubar” alguns minutos do tempo dela por causa da sua “irresponsabilidade”.
Bi bi bi, bó bó bó, eu moro com pessoas legais. Bom para economizar, para aprender sueco mais rápido e para enfrentar o longo inverno que vem chegando…