Pequenas Grandes Coisas da Minha Vida Sueca #03

Eu quase morri de rir quando descobri que a palavra sueca para estar arrepiado é gåshud [e você pronuncia gozruid] que remete à pele do ganso depenado. Ou à pele de uma ave depenada – porque enfim, a pele da galinha, do ganso, do pato, do marreco, enfim, das aves todas devem ser daquele jeito sem penas… ou não? Posso dizer que tenho certeza que é assim com frangos, porque quando a gente mora em cidade pequena sempre tem frango da colônia (=sítio= chácara= pequena fazenda) para vender no mercado, e a minha mãe mesmo matou frango em casa.

Em todo caso eu penso que isso não seria engraçado para pessoas que nunca viram uma ave depenada. Não sei se o povo sueco chega a ver isso de fato [aves depenadas] mas quem mora por aqui sabe que bicho é o que não falta: a cidade é cheia de gaivotas prontas para roubar seu Mac Lanche Feliz, e porque tem “mato” para todo lado é extremamente fácil ver veadinhos ou esquilos atravessando a estrada. Na casa dos pais do Joel – que moram 50km de Göteborg – às vezes os veados estão no quintal!

Que lindo né?

Nem tanto. No verão, quando tem luz praticamente 24h por dia, ninguém vai ser surpreendido por um veadinho despreocupado atravessando a estrada. Ok, pode ser mas se vocês bem lembram eu disse no blog que suecos são ultra preocupados com segurança e dirigem sempre dentro do limite de velocidade – que nas estradas secundárias é de, no máximo, 90km/h – e nesse jeito lagom de ser dá para evitar o acidente. Já no inverno…

Hoje a gente estava na casa do avô do Joel de carro e quando voltamos – cerca de 19h – já estava bem escurinho e chovendo, e a gente viu muito rápido dois veados atravessando a estrada cerca de 100m talvez à nossa frente! Já imaginou o estrago que causa um bichinho desses no carro? E no caso de um alce então?

O alce é o animal símbolo da Suécia e puxa, eu acho que é maior do que um cavalo. Não é tão comum aparecer em qualquer lugar como os veados e esquilos, mas sim, em alguns casos eles aparecem do nada cruzando as estradas. Porque os suecos gostam de mato, tem muito mato ao redor dos lagos, tem muitos lagos grandes e pequenos – o que facilita com que os alces acabem se perdendo das reservas – afinal animais não lêem aquelas placas territoriais. Já houve até o caso de aparecer um casal deles no Posseidon – no centro centro de Göteborg.

A caça é permitida em algumas regiões e o Joel disse que a carne – de alce – é muito saborosa. Mas ninguém pode sair dando tiro nos bichos fora das zonas de caça, e isso significa que simplesmente não rola um tipo de controle populacional desses [veados e alces] próximo aos centros urbanos. Durante o inverno passado o governo permitiu a caça de lobos porque eles estavam literalmente invadindo as cidades, o que causou a maior polêmica.

Também não acho legal essa coisa de ficar atirando contra os animais, mas o que fazer então? Se alguém fecha os animais em cercados, está colocando os bichos na prisão. Se atirar contra é assassinato. Mas e quem mora no norte, não tem luz praticamente durante um mês, vai viver com os lobos uivando na porta de casa? Com chuva e escuridão, é quase impossível ver os animais próximos das estradas, e no caso de atropelar um alce, o motorista e passageiro da frente também correm risco de vida.

Problemas a parte, dizem a boca pequena que a questão não é de toda má e que também rola a solução: se você bater o carro mas de alguma forma provar que foi por causa de um alce, o seguro cobre completamente.

Quem disse que é só no Brasil que se dá um jeitinho?

PS.: O Joel comentou que a Volvo é uma de duas empresas que fazem testes de colisão contra alces! HahahAHHaahahA!

Agora vamos prosear!

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