Na Suécia também tem gente “sem noção”

Eu tenho uma birra contra transporte coletivo, provavelmente porque essa é a primeira vez na vida que tenho que me stressar com isso. Apesar de eu adorar tomar o spårvagn, tem dias que dá vontade de gritar com uns passageiros sem noção, que na maioria das vezes são os suecos. Não importa se você é idoso, criança, está grávida, é deficiente ou o quê, entrar e sair dos ônibus e spårvagn muitas vezes é uma luta.

Quando eu to trabalhando com o Zé sempre acontece. A gente vai tomar o ônibus ou o spårvagn e eu tenho que ficar falando todo o tempo: “Com licença, por favor, com licença, desculpe, opa! com licença… posso passar?” para que as pessoas permitam que a gente use o coletivo. Todo o ônibus ou spårvagn tem um lugar específico para o cadeirante, e é ali e SÓ ali que o cadeirante pode viajar. Tanto, que eu já vivi situações que já há um cadeirante no transporte e o motorista/condutor diz nos auto falantes: por favor, espere o próximo veículo. Entramos por uma porta que fica bem no meio do ônibus ou spårvagn – normalmente marcada em laranja – e lá tem todo o aparato para subir e descer, inclusive rampa e uns botões que avisam o motorista que tem um cadeirante subindo ou descendo.

Primeiro, que o povo é totalmente sem noção. Ao invés de tentar entrar por outra porta – o spårvagn tem no minímo 4, e o ônibus 2; todo mundo quer entrar por aquela porta em que entra o cadeirante. Só tem uma porta para cadeirante, e é por ali que todo mundo quer entrar. Ou é todo mundo meio debilóide, ou é a coisa com a igualdade que aqui é tomada ao pé da letra. O resultado é um tumulto, pessoas se acotovelando para entrar primeiro no transporte enquanto eu e o Zé assistimos. Eu não ia me stressar nem um pouco com isso se o motorista/condutor esperasse, mas a coisa é que além de ter pouco espaço para manobrar a cadeira, sempre preciso pedir para algum outro deficiente – no caso mental ou visual, que não viu ou não entendeu a placa – sair do lugar específico do cadeirante. Antes de eu travar as rodas da cadeira o transporte já tá em movimento em 50% dos casos e a cadeira vem literalmente para cima de mim, e ai das minhas canelas e dos meus pés.

As únicas pessoas que são tranquilas com essa questão são as mulheres com criança pequena (tem lugar para o carrinho de bebê também dentro dos ônibus e spårvagn). Elas sofrem do mesmo mal e, enfim, sempre me dão a preferência para entrar quando eu to com o Zé. Hoje, por exemplo, eu estava esperando o spårvagn na Brunsparken, e como sempre na hora de entrar foi aquele tumulto. Quando foi a minha vez de embarcar percebi assustada que tinha um pai tentando sair com o carinho de bebê depois que todas as pessoas já haviam desembarcado e quase todas haviam embarcado.

Os motoristas de ônibus e condutores de spårvagn em geral parecem mau humorados e sádicos. As vezes eu tenho a impressão de que eles esperam até que a pessoa que estava correndo loucamente para alcançar o transporte chegue bem perto, às vezes até na frente da porta, para então dar a partida e sair.

Não tenho certeza se eu sou campeã em presenciar momentos bizarros do transporte coletivo sueco – como o dia em que uma mãe esqueceu o bebê dentro do spårvagn – mas na semans passada eu vi uma senhora ser quase arrastada pelo ônibus: (não há respeito com ninguém, imagine para com as pessoas idosas) quando fui descer havia também duas senhoras idosas. A primeira desceu com um andador e já estava voltando para amparar a segunda quando a porta do ônibus fechou. Para se ter uma idéia, foi tão rápido que eu ainda não havia descido do ônibus – e aquele era meu ponto. Eu tentei segurar a porta, o que muitas vezes dá certo, mas não tive êxito e soltei a porta, o que a senhora do lado de fora não fez. Quando a porta fechou, a mão dela estava presa na porta mas o motorista nem; deu a partida com a mulher dependurada do lado de fora. Foi uma gritaria, porque todo mundo viu menos o motorista – apesar de eles terem câmeras em todos os veículos. Ele parou de soco e a senhora que estava do meu lado caiu, batendo a cabeça no chão. Um caos.

O país pode ser de primeiro mundo, mas a educação…

4 comentários sobre “Na Suécia também tem gente “sem noção”

  1. Pois é, pena que seja assim.

    Deveria haver uma forma de
    chamar a atenção para o problema
    e buscar uma solução/conscientizadora.

    Que tal começar uma campanha
    daquelas que se fazem aqui no
    Brasil – embora sem êxito – só
    prá ver se na Suécia será diferente?

    Fica a idéia.

    Saudações.

    Curtir

  2. É, Maria, infelizmente, isso é ser humano. Em todo lugar há pessoas más. E é muito bom você escrever sobre isso, pois o brasileiro, em geral, tende a super valorizar países de primeiro mundo. Tenho um irmão assim. Veja só, eu que condeno tais preconceito, vejo isso em minha família. Ele casou com uma portuguesa super arrogante, classista e racista, e se mandou para Lisboa aos 23 anos. Pouco tempo depois, mudou-se para Londres e vive exaltando a cultura europeia. Vem pouco ao Brasil ( não é por falta de grana, pois tira férias em muitos outros países), vive criticando nosso país e nosso povo, como se ele fosse algum europeu. Ele vive há mais de 20 anos na Europa e só aumenta a arrogância dele. Por isso eu gosto de te ler, pois você é sincera e nada deslumbrada. Virei fã de tu! Rsrsr..
    Agora, sobre cadeirante, eu entendo e muito, pois meu irmão mais velho é cadeirante e passou por situações semelhantes do Zé. E ele, inclusive, foi na tevê falar da grosseria dos motoristas. Hoje ele dirige um carro adaptado, mas meu maninho sofreu absurdos. Sei bem como a natureza humana funciona. E, te falo, educação, Maria, só com lei mesmo! Essa de nossos semelhantes do “primeiro mundo” ser tudo de bem, balela, foi lei mesmo. Muito investimento na educação e nas mudanças das leis. #prontofalei#

    Super abraço e força porque você é brasileira e não desiste nunca! Rsrs…
    Com carinho, A.

    Curtir

  3. Oi Helena!

    Sua ideia é mesmo muito boa, o problema é que essa é a visão que eu tenho da questão. Como eu falei, nunca precisei pegar ônibus, trem ou o quê, morei em uma cidade de 5 minutos a vida inteira: 5 minutos para o trabalho, 5 minutos para o mercado, 5 minutos para os amigos… talvez alguém que veio de São Paulo acharia tudo aqui maravilhosamente maravilhoso, entende? O transporte é razoavelmente limpo, veículos novos ou semi novos, pontuais, um leque bem grande de linhas disponíveis e etc. Só penso que o que falta, sempre, é o calor humano.

    Beijos!

    Curtir

  4. Olha, gente mal educada é o cúmulo.
    Eu concordo com voce “freitasmh” , mas mesmo você sendo do interior e nunca ter precisado pegar ônibus (eu sou de São Paulo – capital) eu detesto gente mal educada..
    Acho que educação é o mínimo!
    ônibus fedido, mal cuidado, a gente aguenta…mas gente mal educada….
    Me sobe nos nervos!!! heheheheeh
    adoro suas crônicas!

    Curtir

Agora vamos prosear!

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s