Agora até a Suécia tem baratas

Sempre li nos blogs das pessoas que moram na Suécia (especialmente em um blog muito interessante que já não tem mais postagens recentes, infelizmente) que a Suécia não tem baratas. Ou não tinha, porque ontem escutei de uma sueca que o apê dela tem baratas, e que são dois bairros em Göteborg em que elas apareceram; inclusive em um bairro bem próximo ao meu. Putzz, agora definitivamente volto para o Brasil!

Não há nada mais nojento do que baratas. E eu não consigo matá-las. Não é dó, é nojo. Algumas pessoas podem pensar que Freud explica, mas a questão não é – definitivamente – sexual. (Há. Porque você pensa que eles cantam “que a barata da vizinha tá na minha cama?”) É que quando você esmaga a barata sai uma coisa verde ou amarela ou… argh! Que nojo! Nem posso pensar. Definitivamente, matar barata só com inseticida.

Ok, tudo está bem por enquanto porque elas não estão no meu apartamento. O detalhe é que as baratas apareceram justamente em bairros com grande concentração de estrangeiros, e infelizmente, os bairros de “estrangeiros” em Göteborg é onde você pode ver o lixo nas ruas e/ou fora dos contêiners para lixo. Dizem que há multa para quem não separa o lixo, mas eu não entendo porquê, então, as pessoas continuam a jogar o lixo de qualquer forma. Exatamente em frente ao prédio em que eu morava antes havia uma pequena praça com um campinho de futebol, e justo ali as pessoas costumam deixar camas, sofás, móveis e eletrodomésticos velhos. Há um contêiner uma vez por semana para que a população deposite esse tipo de lixo nesse lugar, e ele é deixado ali por dois dias – mas ninguém espera pelo contêiner – que vem na segunda cedo e vai na quarta cedo. Na quarta à tarde já há mais lixo ali – que fica acumulado até a segunda, quando o contêiner chega e então um funcionário coloca tudo lá dentro.

Por essas e outras há uma grande dificuldade de integração entre os suecos e estrangeiros. Eu também sentiria o mesmo, porque eu lembro que na minha cidade tínhamos problemas grandes de higiene justamente com famílias vindas do Paraguai. Por mais que se trabalhasse a questão, a coisa ficava como eles são assim, o que se pode fazer?

Aqui não é diferente: o lixo está nos bairros onde os estrangeiros moram, assim como as altas taxas de criminalidade e repetência escolar, os droga adictos, alcoolistas e agora, as baratas. Mesmo que a Suécia seja um dos países europeus com a política de imigração mais aberta da Europa, o problema está gritando nas entrelinhas: até refugiados estão sendo enviados de volta para o Irã/Iraque – mesmo que não sem protestos.

A dificuldade de integração não escapa a ninguém, e sinto que a questão é ligeiramente menos ruim para pessoas com um namorado-a/marido-esposa/sambo sueco. Mesmo as pessoas nascidas na Suécia de pais não suecos não são consideradas suecas, como explica o site da embaixada sueca do Brasil: “A cidadania sueca está ligada aos jus sanguini, ou seja está ligada aos pais e não ao local de nascimento. Portanto, indivíduos nascidos na Suécia, filhos de mãe e pai não suecos não podem obter cidadania sueca. Segundo a lei sueca, apenas filhos de pais suecos ou de pai ou mãe com cidadania sueca tem o direito a cidadania.”. E é assim que as pessoas se sentem realmente: pergunte a um rapaz/moça filho/a de refugiados se ele é sueco e ele irá responder sou chileno, ou somali, ou romeno, etc;  apesar de nascido na Suécia; eles falam sueco+o idioma da terra natal e enlouquecem os professores com as conversas paralelas; suas festas tem a música do lado de lá e, muitas vezes, eles odeiam os suecos.

Infelizmente, não há como fazer com que os suecos amem os estrangeiros e vice-versa. Felizmente, mais e mais pessoas estão apontando para a necessidade da implantação de uma real política de integração, e isso significa SFI que funcione, maior agilidade na validação de diplomas estrangeiros – além da aplicação da validação total ao invés validação parcial, que resultaria numa imediata inserção ao mercado de trabalho; enfim, maior apoio a inserção do imigrante ao mercado de trabalho. A Suécia tem uma excelente política de apoio social, o que no caso dos imigrantes aumenta consideravelmente a marginalização – até eu fico puta da cara com o pessoal que tem o bidrag e recebe o “bolsa família sueco”, porque a versão sueca é por tempo indeterminado e resulta em pessoas que nunca aprendem sueco e nunca saem do SFI – mesmo depois de anos.

Cada barata pode conter de 04 a 50 ovos que se desenvolverão em um período de até 5 semanas (dependendo da espécie), levando em média 8 meses para chegar a fase adulta (wikipédia). Não há dúvida que algumas espécies são consideradas uma praga urbana, mas o uso de inseticidas, além de não atingir os objetivos, acaba por tornar a barata muito mais resistente (e eu penso como assim?? se dizem que somente elas sobreviveriam a uma guerra nuclear??). Eu penso que há poucas chances que elas – as baratas – não tenham vindo para ficar… Infelizmente, o preconceito e marginalização – uma praga social bem mais simples de ser combatida – também. E não só na sociedade sueca…

Será que todo mundo se acostuma?