A Suécia, os Suecos e a Língua

A Suécia não fica na Suíça e aqui não se fala alemão… mas eu já escrevi um post sobre isso, aliás foi logo que comecei o blog. Apesar disso muitas pessoas perguntaram no Brasil como estava o meu alemão, se eu queria praticar para não esquecer e se era mesmo inverno na Suíça agora, é assim como aparece na tv? Tem montanhas bem altas né? O chocolate é bom? Sabia que tem um casal que também veio da Suíça na casa do fulano?

Algumas vezes eu expliquei com um belo sorriso não, eu não moro na Suíça e não falo alemão. Outras vezes só respondi que uau! É mesmo difícil aprender um novo idioma; que muito obrigada mas eu queria falar português por um tempo (aquela coisa do “tô de férias”), e que sim, o chocolate é delicioso lá. Nem menti, só falei a verdade. Morro de curiosidade para saber se o casal que estava de férias na casa do fulano era mesmo de suíços…

Apesar do Reino da Suécia ser bastante confundido com a Confederação Suíça no Brasil, não creio que o tal pensamento tenha algum outro fundamento que não a semelhança dos caracteres existentes na nomeação comum. E como eu não to a fim de estabelecer parâmetros comparativos entre esses dois países, a coisa para por aqui.

Outra frase que escutei muitas vezes no Brasil foi: você deve viver um sonho! Ou: ai que sonho! Muitas vezes quando eu to no trem, no ônibus ou mesmo olhando da janela de casa, sinto um quê de irrealidade; agora ainda mais, quando tudo – o chão, o telhado das casas e por vezes até as árvores – está branco. Olhar para as gurias de All Star e meia fio 20 quando está -5 graus C, ou escutar as pessoas falando sueco (e algumas vezes entender), também. Então eu poderia dizer que sim, certos momentos eu me sinto como se estivesse sonhando, como se estivesse tão longe do real quanto estamos em um sonho. Esses momentos “peixe fora d’água” ficam bem claros no trabalho, entre um grupo de pessoas – tipo num bar – ou se todo mundo está ouvindo Spotify: não conheço essas músicas, elas não me trazem nenhuma sensação de reconhecimento. Já aconteceu de eu colocar uma música qualquer para tocar, daquelas que me tocam também, e alguém trocar antes dela acabar ou todo mundo olhar impaciente para cima, lado e outro lado esperando o alívio do fim.

Eu não sei quanto tempo de uma vida inteira é preciso para se habituar com isso, furar a bolha de sabão e sentir-se parte do meio. Com certeza a brasileirice ajuda e muito na hora de tentar se enturmar. O povo sueco é fechado pacas – adicionei o pacas só para fugir do clichê – e é bem difícil entrar no meio se você não mostra, no mínimo, respeito pela língua – e ô linguinha difícil, meu Pai! Uma boa pedida seria então, “brasileirizar” o povo sueco.

E porque? Há uma série de fatores nem tão especiais que acompanham o perfil brasileiro de ser, como a questão do desrespeito para com a mulher, coisa que na Suécia está bem resolvida há algum tempo (o que não livra o país de crimes contra as mulheres). O que quero dizer é que o título do post poderia ser: O Brasil, os Brasileiros e a Língua; e algum gringo escreveria como é difícil levar algo a sério com os brasileiros, ou uma européia reclamaria do quanto é complicado impor limites ao avanço dos homens, ou o quê. Somos e temos culturas diferentes! E como o mesmo espanto que eu me percebo aqui, outros fariam o mesmo no Brasil.

Ano passado quando comecei o SFI havia um seminarista italiano na minha turma. Lembro que fiquei chocada e com vergonha quando ele me disse que o povo sueco seria extinto em alguns anos por causa da sua moral (eles permitem que gays casem!) e por causa do feminismo; pois enquanto as mulheres comandavam, não havia quem bem educasse as crianças assim como não havia tempo para “reprodução”. Além disso eles são muito moles com imigrantes. Logo, os somalis seriam mais numerosos na Suécia do que os suecos e então o povo sueco seria extinto… Só faltou incluir alguma coisa com o fogo do inferno no meio para ser um sermão completo!

Não faltam textos e críticas na internet conclamando todos os povos a terem um pouco mais de orgulho de raça. E pra quê? Os brasileiros são frequentemente acusados dessa falta grave, como se o Brasil fosse um produto a ser preservado, quase que uma marca. É isso que rola? Não sei se posso mensurar o quanto os suecos estão nessa de “orgulho de raça”, mas fora a questão da língua e do Midsommar, não sinto muita movimentação. E sinceramente, isso é muito bom porque essa coisa de orgulho de raça me lembra o nazismo/facismo e o holocausto, assim como o terrorismo muçulmano e as cruzadas na idade média.

Será que isso vai importar em algumas décadas? Rola uma preocupação de que os muçulmanos vão dominar o mundo, e que isso não seria nada bom. Tenho de confessar que já pensei sobre isso, mas… a igreja católica já dominou o mundo, e foi bom? Portugueses e espanhóis dominaram o mundo, e? Estados Unidos e Rússia dividiram o mundo, foi melhor?

Espero que os próximos donos do título sejam apenas seres humanos…

11 comentários sobre “A Suécia, os Suecos e a Língua

  1. os estrangeiros se esforçam para se intregarem ai na Suécia? e vc acha que a Europa se tornara islamica ou atéia?

    belo blog

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  2. Adorei seu post… e acho que nem respirei ao ler o que você contou sobre o italiano e o seminário em que você foi. Eu não consigo entender esta mentalidade, que é avessa à felicidade alheia e que acha que só existe uma verdade para a vida de todos…
    Beijos. Já virei sua fã e do blog!!

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  3. Oi Julio! (ou Júlio?)

    Obrigada e bem vindo ao blog. Não sei se posso te responder a primeira pergunta porque, do meu ponto de vista como imigrante não há muita abertura para a integração. Penso que uma das coisas mais importantes para que essa seja efetiva seja a possibilidade de ter um emprego (um papel social) e se autosustentar. Eu corri muito atrás e demorou 4 meses para mim conseguir a primeira coisa, mesmo assim com uma empresa chefiada por uma brazuca. Somando-se o fato de que meu noivo em ajudou em muito a conquistar o emprego sueco – 6 meses depois de eu desembarcar – e que eu tenho um noivo sueco, ou seja, uma conexão dentro da sociedade, posso dizer que é bem difícil. Se você não tem essa conexão, não tem auxílio com relação a língua (uma coisa de verdade e não SFI – o curso de sueco para estrangeiros) demora em média 7 anos para conseguir um emprego. É mais ou menos fácil validar a educação, mas o tanto de disciplinas complementares que o pessoal tem que encarar é quase que uma segunda graduação – e e regra é a mesmo para quem tem diploma europeu. Não quero passar a mão na cabeça de ninguém – porque acho que quem quer mesmo, corre atrás – mas se você é um asilado, proveniente de uma cultura onde o trabalho não é a coisa mais importante na vida, não tem educação e recebe ajuda do governo para simplesmente ficar, porque teria de se esforçar para se integrar? O que quero dizer é, eu vim para aqui porque quero construir uma vida, então tenho a ideia de que preciso trabalhar para isso. Mas nem todo mundo muda de país com essa intenção, alguns querem apenas deixar para trás um passado de pobreza não importando de que forma. Nesse caso um bidrag de mil e quinhentos contos (reais, e eu não tenho certeza de que o valor é igual para todos) soa como que um sonho não?
    A Europa é ateia, e a menos que a profecia do meu conhecido italiano se concretize, sem chance de se tornar islâmica.
    Abraços,

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  4. @freitasmh
    A população de imigrantes ainda não supera a de Europeus nativos, mas com as políticas sociais adotadas por lá(principalmente na França que foi quem começou tudo isso) é só questão de tempo.

    Tivemos uma revolta em londres liderada por mulçumanos, LONDRES!!! alguém imagina o povo Inglês fazendo depredação de patrimônio público? Logo o povo mais ordeiro que se tem notícia na Europa. Aliás, uma breve caminhada por Londres e já se ve a extensão do problema, pra cada Inglês na rua você ve 3 imigrantes, e para cada criança Inglesa na rua você ve 5 ou 6 crianças imigrantes.

    Mas estou curioso, porque um país pacífico quase sem crime como a Suiça começou a ver do nada um aumento absurdo na criminalidade? Vai saber, né

    O fato é que muitos desses países (europeus) alcançaram estruturas sociais e políticas invejáveis, principalmente no século XX. Eles estavam se desenvolvendo, ao passo que esses bandos de imigrantes chegam com sua ignorância e querem impor tudo a força. Não digo que são assim por questão de cor ou raça ou gene – QUE FIQUE CLARO -, mas por uma questão cultural. Não pode ser assim. Não podemos deixar que esse tipo de visão se expanda pelo mundo.

    O problema não são os imigrantes em sí, na maioria são trabalhadores esforçados e sérios, o problema fica na 2a e principalmente a 3a geração a partir deles, isso já foi provado várias vezes em vários países, tivemos eventos agora no Reino Unido e a um tempo atrás na França que demonstram exatamente isso.

    Muitas vezes essas gerações já nascem com tudo no bem bom e não estão afim de fazer nada sério, porém a cultura ainda é fortemente ligada a do país de origem, o que acaba causando choque, como está ocorrendo na europa e seus zilhões de imigrantes árabes/africanos/turcos/Brasileiros etc etc.

    é só perguntar pra alguem que mora na suécia, sobre os ”novos bandidos”.

    Não tenho estudo não, falei por experiência do que já vi acontecendo mundo a fora

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  5. Oi Tiago!

    Bem vindo ao blog!

    Esse sentimento do qual você fala reina absoluto, não tenho dúvidas, entre os suecos também. Problemas como vandalismo, novos crimes e estupros são cometidos por “nós” e não por “eles”. Não posso concordar, nem discordar; já afirmei muitas vezes no blog que eu sofri um sentimento muito parecido na minha cidade por causa dos paraguaios/brasiguaios que se mudavam para lá. Famílias com problemas=famílias paraguaias. Infelizmente, não é tão simples, óbvio e fácil, e como você mesmo disse, não há algum estudo que aponte definitivamente que o quadro de violência e vandalismo existente na sociedade européia é resultado da imigração – a não ser no caso da prostituição. Vale lembrar também que o louco que assassinou quase 70 jovens numa ilha norueguesa ano passado e que plantou uma bomba no centro de Oslo não tem nenhum pingo de sangue estrangeiro, e apesar de atirar contra os seus iguais pediu uma medalha por seus feitos.
    Estabelecer as causas da violência social não é uma tarefa fácil, e penso que se a resposta para tanto fosse tão simples como “estrangeiros”, “pobreza” ou “educação”, poucas e simples medidas varreriam, definitivamente, esse mal de todas os tipos de sociedades. (caraca! que frase esquisita, parece discurso político não? mas a ideia ficou clara, acho…)

    Abraços.

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  6. Oie Tudo bom, que delicia achar o seu blog.

    Eu moro na Holanda a quase 3 anos, ontem me deparei com uma noticia sobre um partido politico (ja figurinha conhecida por aqui) que criou um website onde locais podem reclamar sobre estrangeiros, dizer se nao estamos nos comportando direito… enfim, integracao é necessaria, a ordem precisa ser mantida, mas a que custo?

    Beijao

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  7. HEJ HEJ , nossa estou meeega feliz de encontrar o seu blog, eu espero muito que voce me responda.. Eu gostaria muuuito de saber se voce consegue entender pelo menos o suficiente para conseguir conversar normalmente com os Suecos. Eu consegui o visto para 2 anos, mas estou no Brasil no momento. Estudei no SFI durante 3 meses . Devo retornar ao curso mês que vem ( eu espero demais estar aí ). Eu consigo ler, escrever e falar ( dá pra eu me virar ), mas eu não consigo entender os Suecos , cada um tem um modo diferente de falar, gírias, sutaques, sei la o que é , mas já ´percebi isso. Voce entende normal? eu sei que não entende tudo ( li algo sobre isso em seu blog), mas eu quero saber o que fazer para conseguir entender. Estou no Brasil, mas estou estudando muito, livros, exercicios , cds e pela internet. Mas preciso focar em ouvir, já que reconheço ser a minha maior dificuldade. :( tenso isso.

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  8. Oi Rubinha!
    Legal ter você aqui no blog.
    Onde você mora aqui na Suécia?
    Eu consigo entender os suecos, uns mais do que outros e tudo depende do dia e de quão cansada eu esteja. Mas é assim assim. Você tem amigos suecos? Se não tem arranje ao menos um. Visite a mormor do seu namorado (os pais dele se moram perto e se a relação entre vocês é tranquila), aproveite todas as chances e oportunidades de praticar. Perca o medo de falar e chute uma resposta quando não entender 100% da frase. Aprenda a focar nas palavras chave. Em Göteborg o pessoal corta as palavras no meio praticamente e fala super rápido. Escute rádio, isso me ajudou muito…
    Kram

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  9. Querida ,mudei me para á Suécia,pois estudo Medicina no Instituto Karolinska

    ao ler o seu Blog me identifiquei com alguns dos seu questionamentos , por isso
    gostaria de esclarece algumas dúvidas com vc .
    Saberia me dizer uma escola de idioma em que possa aprende a Falar Sueco de forma Fluente.

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  10. Oi Dani!
    Bem vinda ao blog!
    Você pode procurar a Vuxenutbildning aí em Uppsala (? eu acho que fica em Uppsala o IK, mas eu posso ter me enganado) e entrar para o SFI, que é um curso nacional e gratuito de sueco para estrangeiros. O curso não é o ó do borogodó, mas é uma opção. Eu não imagino como seja sua grade, mas se você tem um tempo pode estudar sueco na universidade mesmo, eles sempre tem curso de sueco na universidade, tenho alguns conhecidos que fizeram. Ou apenas procure a Folkuniversitetet, eles também tem cursos de sueco muito bons e com eles você pode estudar a distância – mesmo aqui na Suécia.
    Beijos!

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