O Tempo e o Vento… em sueco!

Depois que comprei um celular com internet e tenho o skype nele me sinto bem mais perto do Brasil. Eu to no trem, no trabalho, num restaurante com o Joel ou no cinema e meus pais me ligam só para dizer oi e fazer aquele papo furado que a gente faz quando liga para alguém. Muitooo bom! Ontem a Angela também me ligou. Com internet (e-mail, skype, facebook) fica tudo mais simples, mais fácil, muito mais perto. Há uns 10 anos atrás alguém que mudasse de país teria de se conformar com enviar e receber cartas. E só. Talvez ligar de vez em quando, gastando uma fortuna. E esperar… semanas, pelos correios.

Além disso, podemos ter acesso a uma gama de informações por meio dos blogs. Algumas coisas úteis e outras baboseiras, mas tudo com sua importância para conhecermos outros lugares no mundo, sonharmos ou simplesmente nos divertir algumas horas. Pensando nisso, resolvi escrever sobre como eu vejo as unidades de medida suecas, do tempo e outras. No post passado eu falei o nome dos dias da semana em sueco (måndag, tisdag, onsdag, torsdag, lördag, söndag) e penso que seria interessante explicar um pouquinho como é que os suecos contam o tempo afinal, se há uma coisa que não falta a nenhum lar sueco é um calendário: por vezes ele está em algum lugar estratégico da casa como a cozinha, e nele estão listadas todas as atividades agendadas dos moradores da casa – até mesmo das crianças.

Suecos levam os compromissos muitíssimo a sério e se alguém fala da pontualidade inglesa é porque nunca estudou SFI na Suécia. Atire a primeira pedra quem nunca viu a professora do SFI carrancuda porque os alunos chegaram atrasados. Minha primeira professora no SFI chamava Maria, ela sempre chamava a atenção de quem houvesse chegado atrasado (não importando se fosse 1 minuto, 2 ou 10). Ela entrava na sala pouco antes do relógio marcar 9h, fixava o olhar no bichinho e exatamente as 9h00min00s dava o “Godmorgon!'” para a classe e iniciava a lição. Com a professora do SAS tem sido muito mais flexível, mas eu cheguei atrasada justamente no dia em que a Linda havia sido substituída por uma super professora chamada Sandra (pense numa mulher inteligente, mas quase cruel): ela trancou a porta da sala e eu tive que esperar o pessoal da secretaria chegar com uma chave extra para ter acesso a classe. Além de tudo, quando o pessoal da secretaria perguntou se havia algum problema com a porta ou se ninguém havia ouvido “bater” ela respondeu: “Com a porta? Espero que não. Já com o relógio…”. E ainda, chegar muito adiantado também não é legal – principalmente se você vai visitar alguém, não é lagom. Seja pontual, como a Maria: toque a campainha ou se anuncie no exato minuto marcado. Ai, às vezes a vida é dura né?

Não sei se ficou claro ou subentendido, mas o primeiro dia da semana na Suécia não é o domingo, é a segunda feira. Além disso, os suecos gostam de ser extremamente específicos com o dia do compromisso, para tanto usam muito o número da semana do ano. Agora estamos na semana 13. Vou para uma entrevista de emprego na sexta, e quando marquei essa entrevista a tal da Sra. Contratante me disse no telefone: na semana 13, dia 30 de março, 13h e 00minutos. Por causa dessa obsessão louca responsabilidade com seus compromissos, todo mundo tem um almanacken, que é uma agenda pequeninha que o pessoal tem na bolsa e saca a toda hora para dar uma verificada. Tem como app também, claro.

Uma das coisas que achei mais estranhas logo que mudei é que quando você vai preencher algum papel e assinar (assim que se muda você faz isso a exaustão), naquele espaço para data que aparece assim __/__/__/ você deve escrever primeiro o ano, depois o mês e por último o dia. Brincadeira? Não. Até o personnummer de todo o mundo (que é o número de identificação que você precisa para existir na Suécia) tem esse padrão: todos eles são formados com ano de nascimento, mês de nascimento e dia de nascimento do indivíduo mais 4 outros dígitos que o sistema te dá. Se a pessoa é nascida em 29 de novembro de 71, por exemplo, o personnummer dela seria 711129 mais os outros 4 números que se recebe do governo. Apesar disso, os suecos acham muito mais bonito escrever a data no modelo 01 jan 2012 (por exemplo).

Os meses em sueco não são uma coisa complicada de se aprender (januari, februari, mars, april, maj, juni, juli, augusti, september, oktober, november, december), e as estações do ano são vinter, vår, sommar e höst (inverno, primavera, verão, outono). As estações do ano no hemisfério norte ocorrem na época diferentes das estações do ano no hemisfério sul; por isso verão no Brasil significa inverno na Suécia, outono no Brasil é primavera na Suécia e etc e tal. Apesar de ser uma coisa simples e que todo mundo aprende no colégio essa é uma pergunta que sempre me fazem: que época do ano é aí?

A Suécia também utiliza o horário de verão e ele começou no último domingo as 2h da manhã (porque não 00h??? Não sei.). O fuso horário brasileiro (de Brasília) é o GMT-2 e o fuso horário sueco é o GMT+2. Assim, o normal seria que a diferença do fuso horário entre Brasil e Suécia seria de 4h (quatro horas a mais na Suécia), mas por causa do horário de verão temos 3h de diferença  enquanto da vigência do horário de verão brasileiro e 5h de diferença enquanto da vigência do horário de verão sueco. O horário de verão sueco começa na última semana de março e vai até a última semana de outubro.

Com relação a outras unidades de medida os suecos também apresentam suas peculiaridades. A primeira coisa que aprendi aqui foi cozinhar medindo  em decilitros: os pacotes de alimentos apresentam informações para o preparo da comida em decilitros, as receitas de bolo e massas são em decilitros. Nada de xícaras, nada de 250gr, nada de mais ou menos, nada de eu sei a quantidade dos ingredientes de “olho”; o decilitro é o rei da cozinha sueca. Claro que as receitas apresentam também as medidas em colheres para os ingredientes que darão o tempero ou um toque especial ao prato, e para isso existe um “jogo de colheres” específico.

Já as bebidas são medidas em centilitros – cl: nas garrafas de cerveja, vinho, destilados; ou quando você compra em bares e restaurantes a especificação está sempre em centilitros. Isso aparece em algumas embalagens de sucos também, mas o leite em geral aparece em litros. Penso que tudo que tem uma porção menor a um litro seja especificada em centilitros (e não em mililitros – ml – como no caso do Brasil).

As temperaturas aqui são medidas em Celcius mesmo, mas acho que os termômetros tem uma espécie de defeito ou outra calibragem porque as temperaturas estão constantemente próximas a zero (em algum momento do dia) e nunca ultrapassam os 25 graus. =P. Brincadeira, claro que isso é por causa do clima.

Por fim, as distâncias são medidas em quilômetros, não em milhas, e a mão é a direita. Acho que na Europa é só a Inglaterra mesmo que utiliza a mão esquerda. Também, isso seria uma confusão né? Já pensou trocar de mão da direita para a esquerda a cada fronteira? Os países europeus não são muito grandes e são todos coladinhos… “Bem vindo a Inglaterra, a partir de agora mantenha-se na faixa da esquerda. Obrigado”. Mas os suecos gostam de contar os quilômetros de dez em dez, e para isso utilizam o mil. Claro que eu fiz confusão com isso. Entre Göteborg e Stockholm por exemplo, são 500km, mas os suecos dizem 50 mil (quem é bom de conta de cabeça aí? Vou dar uma colher de chá: 50×10=500). Além disso, eles não contam quantos quilômetros o carro roda com um litro de combustível, mas sim quantos litros de combustível o carro utiliza a cada mil. Quando fomos a Borlänge emprestamos o carro do tio do Joel, e eu peguntei quantos quilômtros o carro faz com um litro. E o Joel só: “Sei não. Mas ele faz entre 0,7 e 0,8 litros a cada mil.”.

Tem gente que pensa que é fácil…

Mitos e mitologias

Odin: ele "vendeu um olho" em troca de obter sabedoria.

Comecei um bate papo com a Renata via e-mail e ela me falou que curte muito mitologia nórdica/escandinava. E como se diz em sueco: Jag bara… (que todo mundo fala jóbó) – e que significa uma reticência, ponto de interrogação ou exclamação enquanto você conta uma historinha – fiquei no vácuo. Se você pensou em Thor, é, você sabe exatamente o que eu sei: para mim mitologia nórdica eram as historinhas do Thor e seu poderoso martelo…

Nada a ver. Quer dizer, claro que Thor faz parte da mitologia nórdica, mas Thor não é o principal personagem dela e nem o único. O tema é muito interessante mesmo – larguei o Simon och ekarna de novo (aliás, escrevi o nome do livro errado no último post, ekarna não é com ä) – e gastei uma boa meia hora lendo e garimpando sites e Wikipédia na internet. Nessa onda descobri que os nomes da semana podem ter origem na mitologia nórdica.

Eu já tinha lido que os dias da semana teriam origem na mitologia grega. Aliás, adoro mitologia grega, a Odisséia, as histórias do Olimpo e todas aquelas picuinhas tão mortais e mesquinhas que só os gregos mesmo poderiam ter emprestado aos deuses. E porque as constelações tem sempre uma historinha dessas por trás, adoro estrelas. Falando nisso, na segunda-feira passada o Joel me fez uma surpresa e me levou ao observatório aqui de Göteborg – que fica no meio do Slottskogen – e eu pude ver Vênus, Marte e Júpiter, além de conhecer as constelações do norte do mundo. Eu já tinha olhado algumas vezes na internet, mas o único dia que saí para uma observação voltei meio que correndo – só é possível ver o céu lindo estrelado por algumas poucas horas nos períodos de luz (primavera e verão). Sendo assim a observação depende da força e sorte do indíviduo: força para aguentar o frio e sorte de não ter muitas nuvens no outono/inverno. Eu tive a sorte de que numa dessas de noite de céu limpo a temperatura estivesse em 18 graus negativos. Bem mais legal ir ao observatório – que tem o mapa estelar que lembra um céu dependurado no teto – e de quebra dar uma espiada em Júpiter e suas luas.

Mas o papo era sobre os dias da semana e é claro que eu não to falando de segunda, terça, quarta etc e tal – que parece ser utilizado apenas na língua portuguesa – mas de måndag, tisdag, onsdag, tursdag, fredag, lördag e söndag (dias da semana em sueco). A semelhança com outras línguas (como inglês e alemão) vai além do modo de escrever, está no significado: tisdag – dia de Tyr; onsdag – dia de Odin; tursdag – dia de Thor; e  fredag – dia de Frejya. Todos eles figuras da mitologia nórdica.

A mitologia nórdica não está muito longe da mitologia grega, e há diversas semelhanças. Na mitologia grega existe um conflito entre os deuses do Olimpo e os titãs; na mitologia nórdica o conflito é entre os deuses e os gigantes. Odin é como Zeus – apesar de eu não ter lido em lugar algum que ele seja o deus dos deuses, o chefão, como Zeus – Odin tem ao seu lado a sabedoria, mensageiros em forma de corvos (chamados de Huggin e Muninn, entendimento e memória) e é o ponto de referência dentro do mundo de Asgard, que pode ser mais ou menos comparado ao Olimpo.

Thor é  o deus do trovão, dos céus e da fertilidade, e os vikings gostavam de se auto intitular povo de Thor. Thor é filho de Odin com a terra (Fjorgin), tem aquele poderoso martelo chamado Mjollnir e é também conhecido como deus da lei e da ordem. Tyr, o deus da guerra e das batalhas, é o seu filho.

A deusa nórdica da beleza é Frejya, mas ela não parece tão arrogante como a Afrodite da mitologia grega. Entretanto, Frejya adora jóias. Ela é a deusa da fertilidade e pode visualizar o futuro depois de dar uma voltinha pelo mundo dos mortos. Em algumas sagas Frejya é um motivo de disputa acirrada: se alguém rouba o martelo de Thor, exige Frejya para devolver; se alguém constrói uma fortaleza para Asgard, exige Freyja como pagamento… e por aí vai.

A história de Balder, é, por exemplo, bem semelhante a de Aquiles. Balder era filho de Odin e começou a ter presságios de morte. Então sua mãe, Frigg, resolve pedir a todas as coisas e criaturas da terra que jurem nunca ferir Balder. Para testar essa imunidade os deuses resolvem atirar “paus e pedras” contra Balder, mas nada chega a atingi-lo; tudo vai ao chão. Irritado com isso, Loki se transforma em uma velha e pergunta a Frigg se alguém ou alguma coisa não concordou com o juramento. O resto da história vocês podem imaginar.

Loki – que aparece no filme da Marwel como um irmão mal agredecido de Thor – é bem mais complexo na mitologia nórdica. Ele não é mau, mas é mentiroso e quando alguém pisou na merda… é ele: é ele o responsável pela morte de Balder, é ele que será responsável pelo fim do mundo, é ele quem confronta os deuses… mas ele pode ser um conselheiro em algumas sagas.

Há muito mais figuras interessantes dentro da mitologia nórdica, mas eu comecei a ler sobre  isso “ontem”, então não vou ficar inventando causos e coisas em cima do que não sei. Uma das coisinhas que me chamou atenção foi que o mundo da mitologia nórdica é cheio de mundos e bastante complexo,  mas os três principais são Asgard (o mundo dos deuses), Migard (dos homens) e Jötunheim. Entre Migard e Jötunheim há o mar, onde mora uma enorme serpente que dá a volta ao mundo e morde o próprio rabo.

A maior fonte de dados da mitologia nórdica foi encontrada na Islândia (wikipédia) sendo que infelizmente grande parte das sagas foi perpetuada apenas oralmente e assim se perdeu após a chegada do cristianismo a Escandinávia. Lendo aqui e ali descobri que Freyr, irmão de Frejya, é considerado o patrono da Suécia mas não sei dizer se existe ainda ou não alguma espécie de culto aos deuses nórdicos. Os nomes dos principais deles estão em ruas, praças, e há estátuas aqui e ali, mas fora o Midsommar não há nenhuma outra festa nacional sueca que festeje a fertilidade da terra ou que lembre as “tradições antigas”.

Se bem que eu sei lá o que possam ser “tradições antigas” na Suécia…

O Tempo e o Vento… na Suécia!

Feliz aniversário, pra mim! Pra mim!

Ontem completei 29 anos… felicidades mil, mas de coração super apertado! Recebi muitos parabéns, daqui e de lá, mas pensei tanto e tanto e tanto numa festinha com o povo de lá que chega a ser ridículo. Meu plano era passar o mês de março no Brasil (e não janeiro) mas, ao fim, o saldo foi positivo: ganhei um lindo dia de primavera, muitos beijos e amassos do Joel e dos amigos três litros de cerveja – acabou meu jejum alcoólico!!! (Serviu como penitência de quaresma viu, mãe?). Claro que não bebi os três litros sozinha…

Olha o sorriso exagerado da pessoa... que vergonha não? Pareceu que nunca viu cerveja na vida...

Como presente para mim mesma tirei essa semana para relaxar um pouco, e na verdade, to bem relaxada . Mesmo: a pia tá cheia de louça… meu etta não tem aquele maravilhoso aparato chamado máquina de lavar louça. Mas lavei roupas agorinha e faxinei a casa (em 30 minutos) ontem, ouvindo muita música. Não tive aula, tô de folga do trampo hoje, daqui a pouco encontro uma amiga na cidade e nem passei perto do Simon och ekärna – o livro da lição do SAS s.o.s. que eu tenho de terminar de ler até meados de abril. Mas sem stresse… depois de duas semanas de leitura JÁ cheguei na página 25, só faltam quase 300 páginas mais. =]

Como escolhi apenas fazer coisas leves to jogando conversa fora na internet, lendo blogs e jogando Jewels (adoro Sudoku e esses jogos de quebra cuca… falando nisso, meus sobrinhos mais velhos mais lindos me prometeram Luxor e eu to sentada esperando…=). Escrevi bastante no blog também, mas tudo foi para o forno, para publicar qualquer dia desses. Fui para a academia terça e participei de uma aula destruidora de step tendo como resultado limitação temporária imediata de movimentos e muita dor. Gente, fiz um exercício super f*** para as pernas e durante tive a insanidade de ficar na posição do tal exercício ao mesmo tempo em que fixei o olhar no instrutor para aprender o treco… resultado: uma super dor no pescoço.

Me dá quase uma vergonha escrever isso, eu sempre fui descoordenada para esportes, e na aula de dança ou aeróbica/de coreografia sou sempre aquela que vai para o lado errado ou executa o passo da dança com o pé esquerdo quando devia ser o direito e vice-versa. Meu pai com seus 61 anos é muito mais ativo e esperto que eu! Em todo o caso, sou uma preguiçosa feliz.

E que toca violão. Ganhei um violão do tio do Joel e esses dias atrás me dignei a comprar corda novas (de nylon… ainda acho estranho) e depois de passar umas boas semanas tentando afinar o dito cujo consegui chegar num modo de operação básico; ou seja, posso executar umas duas peças antes de ele voltar a desafinar. Fazia uma cara que não tocava violão – desde… sei lá –  mas ainda não esqueci as notas. Dá para tocar o “Ai Se eu te Pego” numa boa. Taí, quem critica o Michel Teló, saibam que é extremamente importante que existam músicas de complexidade musical quase nula porque dessa forma os destreinados e iniciantes podem dizer que conseguem tirar ao menos um som famoso da viola. Pena que as unhas daí…

Falando em beleza, comprei um creme pró para o meu cabelo. Eu to indo na academia sempre que posso e porque o Zé fuma tenho que lavar o cabelo quase que todo dia. Meu cabelo é normal e às vezes misto, por causa dessa rotina ficou super misto: as pontas super secas e aparência de vassoura. Bah, deixa eu abrir um espaço tipo propaganda de shampoo: para dar vida e suavidade as suas madeixas e ao mesmo tempo obter um efeito de leveza e movimento livre de frizz, experimente o Aussie “3 minute miracle reconstructor”… Hahahaha! Ficou bom? Mas sério, curti muito o produto e o preço é pagável, compensa o investimento.

E a primavera começou, de verdade, ontem! No mais, sem novidades.

Uma Caipira em Dalarna

Falei, Dalarna fica no meio da Suécia!Fim de semana fui para Borlänge, que fica em Dalarna, mais ou menos no meio da Suécia. O Joel participou de um projeto com jovens de uma igreja e por isso tem bastante conhecidos por lá. Dalarna é uma região muito bonita (pelo menos o que eu vi), e é bastante conhecida por causa do “artesanato” – os cavalos de Dalarna, um símbolo bem sueco, e da mina da cobre de Falun. A Mari morou em Ludvika, que fica em Dalarna, e tem uma série de posts e fotos lindas sobre a região (por isso não vou entrar em muitos detalhes, quem tem curiosidade pode entrar no Mundo da Mari e se esbaldar!)

Eu me senti no meio de um filme. Num daqueles em que tem um cara muito magoado e durão que mora no meio das montanhas, tem uma picape grandona e armas de caça. Ta faltando alguma coisa… ah, sim, claro, no meio das montanhas tem um lago, ou um rio. A Suécia tem mais lagos por metro quadrado do que habitantes, e isso faz qualquer paisagem ser digna de cartão postal.

Achei o pessoal de Borlänge mais caipira – como eu! Eles falam mais lento, então pude conversar muito sem ter de pedir muitas vezes para repetir a frase (jag kunde hänga med!). Eles tem um sotaque diferente do de Göteborg, e eu quase tive um treco assim que cheguei porque fui só e completamente ignorada. Entramos num determinado local e o Joel foi conversar com umas pessoas: elas não se levantaram, não estenderam a mão para cumprimentar, não fizeram nada. Responderam todas as perguntas que o Joel fez educadamente, mas não devolveram nenhuma. E daí silêncio… Fiz meia volta e ia sair correndo, mas segurei a educação e só caminhei até a porta, o Joel logo atrás. Chegamos numa casa de um “amigo” do Joel e a situação se repetiu. Entrei em pânico. Fiquei pensando o que eu vim fazer nesse fim de mudo? Caraca ninguém se mexe!

Falei com o Joel, tentando fazer uma observação educada, que amigos que não se veem de longa data poderiam ser mais calorosos. Ele só riu e disse: “Eles são muito reservados, você tem que ‘partir’ para cima”. É uma coisa meio difícil para mim: no Brasil eu podia chegar chegando e fazendo barulho – se bem que não fazia isso no meio de desconhecidos, mas eu tenho realmente medo de ofender os suecos. O lagom deles é tão lagom com relação aos cumprimentos que fica difícil… ou eu dificulto! Enfim, quando encontrei a Joize, só e simplesmente agarrei ela num abraço. Deu certo! Depois disso, ela avisava todo mundo: a Maria gosta de abraçar!

Em Borlänge ninguém me perguntou se falamos espanhol no Brasil, de alguma forma eles aprenderam que brasileiros falam português (será que foi a música do Michel Teló?); mas ainda ouvi o: tem muitos bichos no Brasil né? Muitas florestas! Que tipo de bichos tem onde você morava? E tals. Participamos do grupo de jovens no sábado a noite e do culto no domingo e uma série de pessoas veio conversar comigo – alguns curiosos, muito curiosos, como se eu fosse a primeira brasileira que eles viram; outros um tanto desapontados. Tinha uma moça que ficava me olhando e olhando, mas não falou um ai. Penso que ela estava meio desapontada por conhecer uma brasileira tão branca e tão… normal. Não tenho problemas com minha auto estima, mas não sou exótica. Talvez ela esperava alguma mulher super poderosa exalando sensualidade e um perfume afrodisíaco que faria todos os homens ficarem ao seu redor. Sei lá.

Vai ver foi a minha caipirice…

Em Dalarna, todas as cidades tem um desses ou vários nas ruas, lojas, praças... a foto é meio estranha porque eu to olhando para o lado, mas serve bem para sentir o tamanho do bichinho!

Verbos pra que te quero – Parte III

To lendo muito sueco, e isso significa muito tempo para poucas páginas. Daqui a pouco rola prova sobre um livro (Manniskosaker) e a minha impressão é que o sueco piora quando começamos a ler. Seja porque gastamos um tempão caçando palavras no dicionário ou seja porque precisamos de concentração e silêncio, recebi a nota mais baixa no sueco desde que comecei a estudar – numa prova de listening (ouvir e entender); o resultado é que seria reprovada se a provinha não fosse apenas para obter uma média da capacidade de compreensão da turma. Hahá, ajudei a lascar todo mundo.

Resgatei o ‘Verbos pra que te quero’ do fundo do baú porque lembrei que esqueci de postar sobre os verbos suecos no passado. Na verdade, falta o imperativo também, mas isso fica para outro post. Voltando ao que interessa, os verbos suecos no passado não são muito difíceis e a boa notícia é que há verbos “regulares”; assim nomeados só para facilitar a explicação porque a unica coisa que diz meu livro de gramática é que os verbos em sueco são divididos em quatro grupos distintos. Por que? Porque um dia os vikings, sentados ao redor de uma fogueira, decidiram assim. Sério, tá no livro. Hahaha… claro que não, mas como o livro não explica o porquê dos grupos, também não posso explicar.

O sueco conjuga os verbos no pretérito e pretérito perfeito. O pretérito é o passado simples, aquele que mais usamos no dia-a-dia: eu comi, eu bebi, eu saí, eu trabalhei, eu estudei, eu li, blá blá blá. Para o preteritum sueco, os verbos se apresentam de três formas “regulares” distintas e uma forma irregular. Simplificando, podemos dizer que os verbos regulares em sueco terminam em de, te ou dde. Vamos de exemplo:

Os exemplos da linha verde correspondem aos verbos do grupo 1. Os verbos que fazem parte desse grupo tem acrescentado a forma do infinitivo apenas a complementação “de” na forma do preteritum: titta – tittade; arbeta – arbetade; sluta – slutade; diska – diskade (olhar/olhou; trabalhar/trabalhou; acabar/acabou; lavar a louça/lavou a louça). É importante lembrar que os verbos no infinitivo são os verbos base (acrescentando “att” antes da forma do infinitivo), que na grande maioria são terminados em a.

Os exemplos da linhas azuis correspondem aos verbos do grupo 2, subdivido em 2a e 2b. Nesse grupo, os verbos tem a terminação “de” ou “te” no preteritum, sendo que a terminação é acrescentada depois de se ‘comer’ a letra final da forma do infinitivo (ou seja, um ‘a’): lära – lärde; köra – körde; ringa – ringde; resa – reste; hjälpa – hjälpte; köpa – köpte (aprender/aprendeu; dirigir/dirigiu; ligar/ligou; viajar/viajou; ajudar/ajudou; comprar/comprou).

Os verbos do terceiro grupo no preteritum sueco tem como terminação “dde”; esse grupo de verbos tem a particularidade de que no infinitivo não são terminados em a, como: må – mådde; tro – trodde; bo – bodde; spy – spydde (sentir-se bem/sentiu-se bem; acreditar/acreditou; morar/morou; vomitar/vomitou). Eu realmente não sei porque a regra se aplica a um grupo e outro, mas na prática – na hora de falar – dentro desses três grupos “regulares” é só chutar a terminação “de” ou “te” (sempre lembrando de ‘comer’ uma letrinha quando falar “te”)’; se não for nenhum dos dois o verbo é irregular.

Denominei os verbos pertencentes ao grupo 4 como verbos com preteritum “irregular” porque a sua terminação não segue nenhum padrão. Alguns exemplos de verbos com preteritum “irregular”: att se – sag; att dö – dog; att äta – åt; att sjunga – sjöng; att springa – sprang; att dricka – drack; att gå – gick (ver/viu; morrer/morreu; comer/comeu; cantar/cantou; correr/correu; beber/bebeu; ir/foi).

O pretérito perfeito ou perfekt do sueco tem a seguinte forma: har+supinum; e é utilizado para falar de situações do passado que podem e não ter sido concluídas. Por exemplo: Jag har bott i Sverige i elva månader (eu tenho morado na Suécia onze meses) está explicando uma coisa que já fiz – morar na Suécia por 11 meses – mas que ainda não acabou; mas eu também posso dizer: Jag har smakat lax och tycker att det är gott (eu já comi salmão e acho que é gostoso) indicando uma ação que está no passado e que já foi completada.

O perfekt  apresenta a mesma terminação dentro dos quatro grupos de verbos –“t” ou “tt” – sendo que entre os “irregulares” há mudança apenas nas vogais que compõe o verbo, o que facilita na hora de falar – não de escrever. Para mim a utilização do verbo “har” causou certa confusão na hora da leitura, uma vez que no português ‘tem morado, tem amado, tem lido, tem…’ dá uma impressão de continuidade. A dica é observar se a frase contém um indicativo de tempo (hoje, esse mês, a semana passada, algumas horas, etc) e na falta desse traduzir o verbo “har” como : já vi, já amei, já provei, já bebi, blá blá blá … Entretanto, é muito importante lembrar que sett, älskat, smakat*, drukit… são traduzidos como visto, amado, provado, bebido… alguns exemplos:

O perfekt no sueco pode aparecer com a variação att ha+supinum ou hade+supinum, sendo esta última variação a forma do pretérito mais que perfeito (digamos assim) em que “hade” pode ser traduzido como ‘tinha, tive’, então: Jag hade dansat salsa för första gång i mitt liv = “Eu tinha dansado salsa a primeira vez na minha vida“.

E agora, prova!

*Att smaka é o verbo para experimentar comidas e bebidas; em outros casos é melhor utilizar att testa ou att försoka (testar e tentar).

** Eu to com pressa e não pedi para o Joel corrigir, se houver alguma coisa errada (vai ter) posto a correção nos coments!

Visto para a Suécia

Passei uns meses de cão e muito nervosismo por causa dessa história de visto. E nem precisava. Sério. Visto para a Suécia nem de longe lembra aquela burocracia toda que é o pedido para entrar nos EUA.

O Brasil tem parte no tratado de Schengen e por isto cidadãos brasileiros que tem a intenção de fazer turismo pela Europa (para os países que fazem parte da zona de Schengen, que são: Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia, Islândia, França, Alemanha, Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo, Espanha, Portugal, Grécia, Itália e Áustria) por um período menor de 90 dias não precisam solicitar visto nas respectivas embaixadas/consulados. Quando você chega ao país de destino e/ou conexão a imigração vai fazer algumas perguntas (especialmente se é a primeira vez que você viaja para a Europa) como quanto tempo você vai ficar, quem vai visitar, qual é o objetivo da viagem. A imigração também pode solicitar algum documento que prove que você é turista, como reserva em hotel ou telefone de contato da pessoa que vai encontrar, passagem de volta (para o Brasil), extrato bancário. Estando em algum desses países também pode-se requerer uma extensão de permanência de mais 90 dias. Depois disso, o cidadão tem de deixar a zona de Schengen.

Para morar na Suécia o cidadão pode requerer visto de trabalho ou estudo – na qual a permanência está vinculada ao prazo do contrato de trabalho ou do período para a conclusão do curso/estágio que o cidadão está participando; visto por residência por laço familiar ou asilo. Todas as informações a respeito da solicitação de visto para a Suécia estão no site da Embaixada da Suécia no Brasil, mas vou deixar aqui algumas informações básicas.

Desde maio de 2011 o selo de permissão de moradia na Suécia foi substituído por uma Cédula de Registro para Estrangeiro ( que é disponibilizada apenas na Embaixada da Suécia em Brasília). Quando eu solicitei minha permissão de residência o processo todo era feito no consulado sueco mais perto da residência do solicitante – São Paulo no meu caso, porém agora o solicitante tem de viajar para Brasília para a confecção da cédula. Felizmente, o cidadão que não mora em Brasília pode viajar para a Suécia sem a cédula (antes  não podia viajar sem o selo), mas com o cuidado de faze-lo apenas após a promulgação do visto com a “carta decisão” (no original e em inglês) em mãos que então poderá ser apresentada ao escritório da Migrotionsverket na Suécia para a confecção da cédula. Para a solicitação do visto o cidadão precisa:

Visto de Estudante – O site Study in Sweden contém as informações a respeito de bolsas, cursos, estágios e etc com vagas para estudantes estrangeiros, assim como a respeito do processo de candidatura para as vagas. Quando da candidatura é necessário pensar que para a obtenção do visto de estudo na Suécia o requerente precisa dispor de uma quantia em dinheiro (de 73mil Coroas Suecas por ano – cerca de R$18mil) que deverão estar disponíveis em uma conta no nome do solicitante na data da solicitação do visto. O visto de estudante é válido para um ano e para ser renovado depende diretamente dos resultados alcançados durante o ano letivo no curso/estágio/etc. Documentos necessários e formulário de pedido aqui e aqui.

Visto de Trabalho – Para obter um visto de moradia na Suécia por questão de trabalho o cidadão precisa apresentar um Contrato de Trabalho com uma empresa sueca quando da solicitação do visto. Existem exceções, como para o caso de diplomatas e artistas, mas a regra principal é que sem contrato de trabalho com uma empresa sueca (com sede na Suécia, obviamente) não há liberação do visto. No caso de solicitação do visto de trabalho a empresa contratante tem de enviar uma série de documentos e também um formulário preenchido com todos os detalhes do emprego que está sendo oferecido. Se o solicitante tem família e vai ficar por um período maior do que 6 meses (o contrato deve especificar o tempo de trabalho) tem o direito de incluir no pedido a esposa/marido e filhos menores de 21 anos. O visto por tempo de trabalho tem a mesma duração do contrato de trabalho do requerente, sendo que se esse for superior a dois anos o mesmo terá de ser renovado na Suécia. Documentos necessários e formulário de pedido aqui e aqui, lembrando que no caso de levar a família junto é necessário anexar a documentação de quem vai de arrastro também (aqui). Para outras informações de como trabalhar na Suécia, visite o site Working in Sweden.

Visto por Vínculo Familiar – Por vínculo familiar entende-se filhos menores de idade, marido/esposa, noivo/noiva ou namorado/namorada residente na Suécia. Ao contrário do Brasil, para obter residência na Suécia o cidadão brasileiro não precisa ser casado oficialmente com um cidadão sueco. Esse é, por exemplo, o visto que tenho e que me permite estudar e trabalhar na Suécia por que eu ter um compromisso sério com o Joel. Fácil assim, é só ter um partner e/ou filhos na Suécia, certo? Mais ou menos. Quando da solicitação do visto o requerente tem de provar que existe mesmo um compromisso (por meio de fotos, vídeos, cópias das passagens de avião, etc) e então rola uma entrevista para que o requerente possa contar como tudo aconteceu e falar um pouco dos planos para o futuro (no meu caso foi assim). Documentos necessários e formulário, aqui e aqui – eu não coloquei o link de documentos necessários para menores de 18 anos.

Deixei de fora duas coisas: visto de trabalho como au pair e solicitação de asilo. O visto de trabalho como au pair é para participar daquele tipo de programa que o cidadão muda para a casa de uma família, cuida das crianças, faz alguns afazeres domésticos e aprende a língua. É extremamente popular para países como EUA, Inglaterra, Austrália e etc; mas acho que não é o caso da Suécia (maiores informações aqui), apesar de o programa existir e de existirem vagas. A solicitação de asilo é para famílias em fuga de ditaduras ou zonas de guerra, e agora que não há mais ditadura no Brasil e as favelas estão pacificadas (hahá… ), não se aplica aos brasileiros.

Não encontrei nenhum informação no site da Embaixada com relação as entrevistas para o processo de visto. Sei com certeza que o requerente de visto por vínculo familiar tem de fazer uma entrevista (essa sim é no consulado mais perto de você); mas não sei se os requerentes por questão de trabalho e estudo tem de fazer a entrevista também. Em todo o caso, há algumas brasileiras blogueiras que estão aqui por causa de vínculo de trabalho com a Suécia: a Fernanda (Aprendendo a viver na Suécia) que vive em Helsinborg; a Vânia (Diário de uma Teimosa) que mora em Stockholm e; a Cíntia (Minha Aquarela 2), também de Stockholm. Aposto que elas não se pesarão em dividir experiências (como foi o processo de visto e etc).

As taxas consulares variam entre R$270 (visto de trabalho) e R$400 (vínculo familiar). O requerimento de pedido de visto de estudante é isento de taxa. As taxas estão mais salgadas do que quando eu fiz a solicitação (outubro de 2010) mas em compensação o processo está mais descomplicado pois todos os documentos podem ser anexados online no site da Migrationsverket (maiores informações aqui). Lembro que quando da minha solicitação levei uma super mala com todos os documentos (em 3 vias, todas cópias autenticadas), mais fotografias e xerox de tudo que comprovasse que eu e o Joel tínhamos um compromisso (até cópia de e-mails levei…). A entrevista foi super tranquila e ao final o representante consular (Lars é o nome dele, não sei se ele ainda trabalha no Consulado em São Paulo) me devolveu gentilmente a maior parte da papelada dizendo que ninguém ia ler a minha correspondência com o Joel e que o malote para a Suécia só podia levar os documentos necessários (nem ia ser constrangedor se lessem, eu havia separado apenas os e-mails que diziam dos nossos planos de dominar o mundo juntos, nada quente ou melecadamente romântico). Fiquei sem entender bulhufas porque na internet dizia que o solicitante poderia e deveria anexar ao formulário e documentação tudo que comprovasse o “vínculo familiar” em questão. Daí… levar ou não levar, eis a questão. Dá uma ligada no consulado e pergunta, ou envia um e-mail, eu fui prontamente atendida todas as vezes que liguei/mandei e-mail.

Os prazos para a liberação do visto dependem do tipo de pedido. O meu demorou 3 meses para sair. Foi um tempo longo demais, e curto demais para organizar tudo e gastar o tempo com quem é importante. Acredite ou não, para quem está esperando uma decisão como essa os meses são o equivalente a dois mil e quinhentos anos: a vida fica em suspenso, tudo depende daquela cartinha em sueco que você não entende.

Depois, o tempo voa: mês que vem vou fazer um ano de Suécia.

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Atualização (nov de 2013): se você quer maiores informações sobre a demora do visto sair e etc eu recomendo entrar em contato com a Rafaela, do blog Suécia Queridos. Ela fez tudo certinho e esperou 10 meses para o resultado do processo sair. Outra coisa, como ela passou pelo processo mais recentemente do que eu fica mais fácil para quem quer apenas trocar experiências, falar dos medos e tals durante o processo de espera.

Pequenas Grandes Coisas da Minha Vida Sueca #12

Esse vai ser rápido e rasteiro apenas para comentar a respeito da validação do meu diploma: há uma semana eu fui para o Vuxutbildning (o mesmo espaço público no qual você faz a inscrição para o SFI) pedir informações sobre o processo de validação, se eles ofereciam algum apoio, qual apoio e como fazer. A atendente foi muito clara e objetiva, explicou que você pode solicitar a validação via Vuxutbildning, mas que para isso a mesma deve estar traduzida do idioma original para inglês ou sueco por um tradutor oficial – e que esta tradução não é feita pela Vux.

Os documentos a serem traduzidos são o diploma e histórico escolar do curso, onde constam as notas e todos os cursos complementares e etc que você fez durante a formação. No meu caso são um total de 6 páginas, e eu fiz um orçamento no Brasil e custariam R$ 482,00. Conseguimos um tradutor juramentado aqui mais barato (1500kr, cerca de R$375). A Maíra do blog Sonhos Escandinavos disse para mim que ela iria traduzir (ou tentar a tradução) via Arbetsförmedlingen. Eu fui ate o A pedir informações e eles me disseram que isso não existe aqui em Göteborg. Nao sei se realmente não existe, se sou eu ou eles que tem um pé comigo, porque só consigo nada vezes nada do A.

Depois disso, resta apenas preencher um formulario, anexar os documentos traduzidos, deixar no Vuxutbildning e esperar cerca de 6 meses. E torcer. Eu não vou ter acabado o sueco ainda dentro de 6 meses, mas acho que vai elevar em alguns graus a minha auto-estima essa validação. Mas não significa que poderei procurar emprego como assistente social tao logo receba os resultados, provavelmente terei de estudar disciplinas complementares – talvez um ano ou até dois de universidade.

Mesmo assim, to ansiosa…

PS.: Para os orçamento basta enviar para o tradutor os documentos escaneados, dai que você pode fazer isso do Brasil mesmo – se estiver com pressa – com a ajuda do partner. Mais informações sobre a validação de diplomas na Suécia aqui.

Sobre a tristeza e o suicídio

Decidi filosofar um pouco, afinal é domingo e então, nada melhor para se fazer – na Suécia não tem futebol na tv no domingo a tarde, nem Faustão… hahaha! Além do que eu não tenho tv! Num dos coments de um post que escrevi semana passada as meninas R e A disseram que no blog Escreva Lola Escreva havia um guest post sobre a Suécia (datado de primeiro de março) que tratava sobre a questão das relações entre homens e mulheres.

O autor do post é o José Tarcísio que vive em Stockholm, estuda física mas se interessou também por estudar a sociedade sueca. E como não poderia deixar de ser, uma das coisas mais impactantes dessa sociedade é a igualdade entre homens e mulheres. Além da questão da licença parental, ele aborda o fato de que meninos e meninas vestem qualquer cor e brincam com qualquer brinquedo (fato: eu vi uma foto da princesa Victoria exibindo um macacão azul sobre a barriga, deduzi que o herdeiro do trono sueco seria menino… e A recém nascidA chama Estelle! Esqueci completamente de onde estava); e que as mulheres tomam iniciativa na paquera sem serem tachadas de oferecidas e etc..

O post é realmente interessante (leia aqui), mas o que me chamou a atenção foram os coments: lá pelas tantas um anônimo escreveu que “Só para lembrar, essa terra ‘perfeita’ é a 28a no ranking dos suicídios“. oO. Primeiro, o post não é sobre suicídio, é sobre relações de gênero. Segundo, nós brasileiros temos um orgulho meio bobo não é? Se algum país é melhor do que o nosso em alguma questão social, temos sempre de lembrar que o “nosso” povo é considerado, visto e aclamado como o mais feliz e simpático do planeta.

Sério?! Brasileiro é feliz (mesmo) ou eufórico? Não, eu não quero nem posso afirmar que brasileiro seja infeliz e tenho mesmo muito orgulho de pensar que se o brasileiro não é realmente o povo mais feliz e simpático do planeta é, no mínimo, o mais otimista. Mas posso usar isso como justificativa? Brasileiro vive na violência, mas no mais… sem problemas, porque somos felizes. Brasileiro vive na miséria, mas no mais… sem problemas, somos felizes. Brasileiro é machista e corrupto, mas no mais… você sabe, somos felizes. Não parece demais esse tipo de comparação? Sueco é seco e individualista, por isso é triste. Sueco é feminista, por isso é triste. Sueco é materialista, por isso, triste.

Seria perfeito apenas colocar tudo num saco subjetivo de “felicidade” e “tristeza”. Eu chuto que seria mais acertado dizer que brasileiros tem um traço cultural muito mais quente do que suecos. Gritamos, choramos de soluçar, rimos às gargalhadas, dançamos mexendo todo o corpo. Até aí, sem novidades. Mas isso não é o “natural” em todo o planeta: nossos amigos vinkings tem de estar um tanto quanto embriagados para soltar a franga porque culturalmente é inadequado rir alto, gritar, chorar ao soluços, dançar como loucos… Não é lagom.

Dai o anônimo continua: “Se a coisa lá é tão boa e funciona tanto assim, pq se matam tanto?“. Seria interessante perguntar então: porque os brasileiros não enlouquecem ou cometem suicídio diante de tanta merda que acontece no Brasil? Eu amo o Brasil de paixão, mas ninguém pode negar que temos problemas seríssimos estruturais, políticos administrativos e sociais que afetam toda a população brasileira. Graças a Deus que brasileiro é otimista!!… Brasileiro tem “jeitinho” pra tudo, e tudo vai ser resolvido de uma forma ou de outra. Brasileiro tem fé. Brasileiro joga junto e tem força na peruca!

Pra mim essa palavrinha significa um tudo: “junto” (ou equipe, ou time, se preferir) é um indicativo de proximidade. Há uma série de estudos que mostram que povos do norte do mundo tem uma noção diferente de espaço pessoal (leia o livro “Como conquistar as pessoas”, de Allan e Barbara Piece), sendo que essa diferença se acentua ainda mais em países chamados orientais: não é adequado tocar, nem mesmo apertar as mãos de pessoas com as quais você não seja íntimo; que dirá abraçar, beijar, fazer um carinho ou um cafuné. Brasileiro ri junto, grita junto, chora junto, dança junto. É só pensar em estádio de futebol e carnaval: uma multidão pulando e se amassando, transpirando e se atropelando… achando tudo fantástico. Sueco sorri sozinho, nunca grita, chora sozinho, dança sozinho. Aqui ninguém tem o direito de se meter na vida dos outros. Isso mesmo, cansado das vizinhas fofoqueiras, tia, primas, irmãs e todo mundo que se mete na sua vida? Mude para a Suécia e comece imediatamente a sentir falta disso. Aqui, se você está triste ninguém não vai fazer coisa alguma a respeito a menos que você demonstre que “alguém” pode. “Ninguém” vai abraçar uma pessoa melancólica e dizer um: você não está sozinho… Uma das piores sensações do mundo é quando imaginamos que ninguém se importa conosco, que ninguém vê nossas lágrimas, que ninguém vai sentir nossa falta. É certo que um depressivo pode e vai perseverar na angústia e sofrimento até decidir por si mesmo ser feliz, mas será que apoio não vale realmente nada?

Penso que a questão do frio e do sol influenciam também, mas pouco. Ou será que o frio e escuro ajudaram a moldar a cultura desses povos? Foi difícil para mim me habituar a falta de sol, sobrevivi ao inverno a basa de vitamina D. Além disso, é certo que o corpo produz uma série de substâncias que induzem ao sono e ao despertar que são acionadas de acordo com a luz solar. Se o sol aparece as 9h e some as 15h… Ok, “baiano passa o dia todo na rede”, e na Bahia é quente pacas, tem luz a beça… O calor também induz a preguiça, mas não é de preguiça que eu to falando: to falando de sentir sono e cansaço.

O frio mais intenso que existe nos países europeus é a falta de calor humano. Que esse é um fator existente de sobra no Brasil e em falta por aqui, não há como contestar. Duvido, no entanto, que a questão do calor humano tenha alguma relação com as questões de gênero: um povo não é mais ou menos caloroso de acordo com seu grau de feminismo ou machismo; o Brasil poderia ter relações de gênero mais equilibradas e ainda ser o campeão de felicidade e otimismo.

Há um órgão internacional que trata da prevenção ao suicídio, e de acordo com o site deles a incidência do ato tem diminuído gradualmente na Suécia, passando a ser mais frequente entre jovens do que entre idosos, não sendo maior do que a média mundial. Segundo a OMS, na Suécia a estimativa de suicídios é de cerca de 18.1 entre os homens e 8.3 entre mulheres (dados referentes ao ano de 2006, relativo a grupo de 100 mil pessoas), sendo que no Brasil a taxa é de 7.3 e 1.9, respectivamente (ano de 2005 – grupo de 100 mil pessoas). Apesar de a taxa sueca ser quase 3 vezes maior entre homens e quase 4 vezes maior entre mulheres do que no Brasil, não há muito o que comemorar pois os dados recebidos pela OMS dependem diretamente dos sistemas de dados de cada país. O que quero dizer é que países como o Irã, por exemplo, apresentam uma taxa de suicídio de 0% – afinal, as tentativas de suicídio no Irã não podem ser só tentativas, ou você consegue ou será condenado a morte.

Por fim, tristeza no Brasil vira música sertaneja, pagode ou cervejada; e há quem goste e aprove todos os três…

“Sem nome”

Um dia li não sei aonde que vaga-lumes piscam porque tem uma substância química no abdômen que produz luz (chamada luceferina) e que as cigarras cantam também porque tem uma membrana no abdômen que vibra. Nesses casos, a luz do vaga-lume e o canto da cigarra são utilizados para chamar a atenção da fêmea. Também li certa vez na revista Super Interessante que a memória humana pode ser dividida em 5 grupos diferentes; que os olhos nunca crescem (nascemos com os olhos desse tamanho mesmo); e que as orelhas e o nariz nunca param de crescer.

Não tenho certeza de que as informações estão corretas (não to a fim de pesquisar também), afinal faz tempo que li e algumas nem lembro onde! Isso é apenas para mostrar que eu sou ótima para guardar informações, ainda mais daquile tipo que ninguém usa (como a protagonista de a Hora da Estrela – Clarice Lispector), que sou curiosa e que por isso mesmo me frusta muito quando quero saber de uma coisa e não posso.

Faz um ano que tenho uma mancha estranha no rosto. Definitivamente não parece câncer, às vezes parece uma micose (acreditei nisso bastante tempo), coça se me exponho ao sol e fica vermelha. O problema é que cresce, e se multiplica, e até agora, não tem nome nenhum.

Já consultei médico no Brasil, dois médicos “gerais” diferentes aqui na Suécia, e agora um especialista. O primeiro disse que eu havia irritado a pele, possivelmente com as unhas (poderia ser mesmo, na época parecia apenas uma espinha inflamada, eu tinha muitas espinhas “internas” e tenho o terrível hábito de arranhar o rosto enquanto leio…). O primeiro médico aqui na Suécia disse definitivamente que era micose. O segundo que não sabia ao certo. O especialista que é uma inflamação ou outra coisa que… nem eu nem o Joel entendemos direito, um pré câncer… sei lá. Não tem nome.

Estive quarta mais uma vez com o médico, ele acha que não é necessário fazer um exame, que não é grave; mas eu estou frustrada e insatisfeita: não vejo melhoras, e a coisa que começou como uma “espinha inflamada” se transformou em três pontos estranhos na pele, um com quase 2 cm de altura. Não sei se são meus olhos, minha frustração, o medo de que isso não suma e cresça e cresça, ou se é porque eu sei de tantas coisas que não fazem diferença nenhuma e justamente disso que é importante não sei nada! Não tenho um diagnóstico, ninguém me diz o nome disso é “mancha de pele”, é natural e você não precisa se preocupar, ninguém diz isso é micose, vai desaparecer em 2 anos porque o tratamento é demorado… Então eu dei o nome de “sem nome” para deixar meu lamento e algumas fotos aqui. Quem sabe alguém que lê sabe do caso de algum primo de uma amiga do sobrinho da tia-avó que teve um caso semelhante…

A “coisa” apareceu depois que passei uma semana na praia de Balneário Camboriú ano passado. Pareceu uma espinha inflamada, em seguida queimadura de cigarro, apareceram mais duas pequenas manchas, a cor varia entre o rosa claro e salmão (quase vermelho); nunca machucou ou ficou em carne viva mas às vezes a pele parece cheia de bolinhas e irregular, coça após exposição solar. Depois que comecei a usar o antibióco percebo que a pele entre as manchas e ao redor está escurecendo. Já usei cinco tipos de pomadas diferentes, 3 delas para micose, a última contendo “klobetasonburyrat” (butirato de clobetasona?) e agora vou iniciar com uma “sexta” tentativa que contém cortisona (não peguei a pomada ainda, deixo o princípio ativo nos coments). Estou tomando um antibiótico com “lymecycline” e “tetracycline”.

As duas manchas menores também começaram bem pequenas, como uma espinha. Mas sem inflamação.

Como parece minha "amiga" de perto.

Quem souber de algo, abrigada.

Cinema Sueco

Ingmar Bergman (Fonte: Blog do Alfredo)

Já que essa foi a semana do Oscar decidi me aventurar no tema. Gosto muito de cinema, não só de assistir os lançamentos, mas de ver e rever filmes que marcaram tanto a minha história como a história da sétima arte. Semana passada assisti, por exemplo, Modern Times (Tempos Modernos de Charles Chaplin) e essa semana rolou 12 Angry Men (12 Homens e uma Sentença). Meus filmes prediletos dos últimos tempos são com certeza Changeling (A Troca), Inception (A Origem)  e The Hangover (Se beber não case).

Desde que me mudei assisti a uma série de filmes suecos, desde aventuras  infantis como Emil e Bröderna Lejonhjärta (“Os irmãos coração de leão” de Astrid Lindgren – ela é o Monteiro Lobato da Suécia) até a trilogia Millenium de Stieg Larsson. Não sou crítica de cinema e não posso avaliar atuação, direção, luz, fotografia, e os ects de todos os aspectos de um filme: para mim filme bom é aquele que me emociona ou faz pensar – a não ser no caso de comédias, obviamente, que são boas se fazem rir. O que mais gosto nos filmes suecos é que as pessoas parecem de verdade.

Quando comecei a estudar sueco há um ano atrás baixei “Man som hatar kvinnor” (Os homens que não amavam as mulheres) que agora está nas telas com a versão americanizada “The Girl With Dragon Tatoo” (A garota com tatuagem de dragão). Eu li Stieg Larsson meio sem querer, foi a Angela que comprou exatamente na época que eu viajei para a Suécia a primeira vez, peguei o livro emprestado e demorei uma cara para terminar. Li primeiro o segundo, depois li o primeiro e nunca li o terceiro. Deu preguiça.

Em todo caso, assisti a versão sueca no mínimo 10 vezes – eu queria aprender sueco e apesar do filme ser longo, é legal. Eu tava me coçando para ver a versão hollywoodiana e fui logo depois de ser lançado (aqui, em dezembro passado). Decepcionei, justamente porque as produções holywoodianas são demais: a Lisbeth é uma guria que teve a economia controlada toda a vida e tem uma moto super cara, por exemplo. Sei lá, acho que me acostumei tanto com a versão sueca que a americana para mim é simplesmente… fora da realidade. Também não curti a Roney Mara no papel principal, nem entendi porque ela foi indicada ao Oscar, mas… vá lá, não sou expert e ponto.

Em fevereiro saí mais de Stieg Larsson e de Astrid Lindgren e assisti “Simon och Ekarna” (Simon e a… árvore); “En enkel till Antibes” (difícil traduzir, uma coisa como Sozinho para Antibes) e “Katinkas Kallas” (O Aniversário de Katinka). Todos dramáticos. Acho que cinema europeu é mais adepto dessa versão, além do que as “comédias” que assisti dificilmente arrancariam risadas de onde eu vim. Talvez alguns suspiros, ou um sorriso amarelo.

O maior nome do cinema sueco é Ingmar Bergman, diretor que morreu aos 89 anos depois de fazer mais de 50 filmes, ganhar 3 Oscars na categoria de melhor filme estrangeiro e receber muitas críticas. Foi de Bergaman o primeiro filme em que uma mulher mostrava os seios enquanto se banhava numa praia (Sommaren med Monika – Monica e o desejo – de 1952); uma coisa que é bastante natural dentro da cultura sueca mas que foi vista com erotismo e censurada em muitos países na época.

Além de Bergman, pode-se citar Greta Garbo, artista nascida em Estocolmo que participou de mais de 40 filmes e fez grande sucesso em Hollywood na era do cinema mudo e na década de 30. Atualmente, trabalham em produções fora da Suécia Max von Sydow (O Exorcista), Naomi Rapace (Sherlok Holmes – O Jogo de Sombras) e Stellan Skarsgard (Thor), entre outros. Na Suécia, entre os atores mais populares pode-se citar Sven-Bertil Taube, Malin Morgan, Michael Nyqvist, Peter Haber (que está na versão americana de “Os homens que não amavam as mulheres”), Helen Sjöholm e Frida Hållgren – sem citar nenhum dos atores que participaram dos filmes de Bergman, como Harriet Andersson.

E por hoje é só pessoal!

PS.: Quem está no Brasil e quer assistir algum filme em sueco pode encontrar a Trilogia Millenium no Filmes Hunter (filme com legendas em português).