Comecei um bate papo com a Renata via e-mail e ela me falou que curte muito mitologia nórdica/escandinava. E como se diz em sueco: Jag bara… (que todo mundo fala jóbó) – e que significa uma reticência, ponto de interrogação ou exclamação enquanto você conta uma historinha – fiquei no vácuo. Se você pensou em Thor, é, você sabe exatamente o que eu sei: para mim mitologia nórdica eram as historinhas do Thor e seu poderoso martelo…
Nada a ver. Quer dizer, claro que Thor faz parte da mitologia nórdica, mas Thor não é o principal personagem dela e nem o único. O tema é muito interessante mesmo – larguei o Simon och ekarna de novo (aliás, escrevi o nome do livro errado no último post, ekarna não é com ä) – e gastei uma boa meia hora lendo e garimpando sites e Wikipédia na internet. Nessa onda descobri que os nomes da semana podem ter origem na mitologia nórdica.
Eu já tinha lido que os dias da semana teriam origem na mitologia grega. Aliás, adoro mitologia grega, a Odisséia, as histórias do Olimpo e todas aquelas picuinhas tão mortais e mesquinhas que só os gregos mesmo poderiam ter emprestado aos deuses. E porque as constelações tem sempre uma historinha dessas por trás, adoro estrelas. Falando nisso, na segunda-feira passada o Joel me fez uma surpresa e me levou ao observatório aqui de Göteborg – que fica no meio do Slottskogen – e eu pude ver Vênus, Marte e Júpiter, além de conhecer as constelações do norte do mundo. Eu já tinha olhado algumas vezes na internet, mas o único dia que saí para uma observação voltei meio que correndo – só é possível ver o céu lindo estrelado por algumas poucas horas nos períodos de luz (primavera e verão). Sendo assim a observação depende da força e sorte do indíviduo: força para aguentar o frio e sorte de não ter muitas nuvens no outono/inverno. Eu tive a sorte de que numa dessas de noite de céu limpo a temperatura estivesse em 18 graus negativos. Bem mais legal ir ao observatório – que tem o mapa estelar que lembra um céu dependurado no teto – e de quebra dar uma espiada em Júpiter e suas luas.
Mas o papo era sobre os dias da semana e é claro que eu não to falando de segunda, terça, quarta etc e tal – que parece ser utilizado apenas na língua portuguesa – mas de måndag, tisdag, onsdag, tursdag, fredag, lördag e söndag (dias da semana em sueco). A semelhança com outras línguas (como inglês e alemão) vai além do modo de escrever, está no significado: tisdag – dia de Tyr; onsdag – dia de Odin; tursdag – dia de Thor; e fredag – dia de Frejya. Todos eles figuras da mitologia nórdica.
A mitologia nórdica não está muito longe da mitologia grega, e há diversas semelhanças. Na mitologia grega existe um conflito entre os deuses do Olimpo e os titãs; na mitologia nórdica o conflito é entre os deuses e os gigantes. Odin é como Zeus – apesar de eu não ter lido em lugar algum que ele seja o deus dos deuses, o chefão, como Zeus – Odin tem ao seu lado a sabedoria, mensageiros em forma de corvos (chamados de Huggin e Muninn, entendimento e memória) e é o ponto de referência dentro do mundo de Asgard, que pode ser mais ou menos comparado ao Olimpo.
Thor é o deus do trovão, dos céus e da fertilidade, e os vikings gostavam de se auto intitular povo de Thor. Thor é filho de Odin com a terra (Fjorgin), tem aquele poderoso martelo chamado Mjollnir e é também conhecido como deus da lei e da ordem. Tyr, o deus da guerra e das batalhas, é o seu filho.
A deusa nórdica da beleza é Frejya, mas ela não parece tão arrogante como a Afrodite da mitologia grega. Entretanto, Frejya adora jóias. Ela é a deusa da fertilidade e pode visualizar o futuro depois de dar uma voltinha pelo mundo dos mortos. Em algumas sagas Frejya é um motivo de disputa acirrada: se alguém rouba o martelo de Thor, exige Frejya para devolver; se alguém constrói uma fortaleza para Asgard, exige Freyja como pagamento… e por aí vai.
A história de Balder, é, por exemplo, bem semelhante a de Aquiles. Balder era filho de Odin e começou a ter presságios de morte. Então sua mãe, Frigg, resolve pedir a todas as coisas e criaturas da terra que jurem nunca ferir Balder. Para testar essa imunidade os deuses resolvem atirar “paus e pedras” contra Balder, mas nada chega a atingi-lo; tudo vai ao chão. Irritado com isso, Loki se transforma em uma velha e pergunta a Frigg se alguém ou alguma coisa não concordou com o juramento. O resto da história vocês podem imaginar.
Loki – que aparece no filme da Marwel como um irmão mal agredecido de Thor – é bem mais complexo na mitologia nórdica. Ele não é mau, mas é mentiroso e quando alguém pisou na merda… é ele: é ele o responsável pela morte de Balder, é ele que será responsável pelo fim do mundo, é ele quem confronta os deuses… mas ele pode ser um conselheiro em algumas sagas.
Há muito mais figuras interessantes dentro da mitologia nórdica, mas eu comecei a ler sobre isso “ontem”, então não vou ficar inventando causos e coisas em cima do que não sei. Uma das coisinhas que me chamou atenção foi que o mundo da mitologia nórdica é cheio de mundos e bastante complexo, mas os três principais são Asgard (o mundo dos deuses), Migard (dos homens) e Jötunheim. Entre Migard e Jötunheim há o mar, onde mora uma enorme serpente que dá a volta ao mundo e morde o próprio rabo.
A maior fonte de dados da mitologia nórdica foi encontrada na Islândia (wikipédia) sendo que infelizmente grande parte das sagas foi perpetuada apenas oralmente e assim se perdeu após a chegada do cristianismo a Escandinávia. Lendo aqui e ali descobri que Freyr, irmão de Frejya, é considerado o patrono da Suécia mas não sei dizer se existe ainda ou não alguma espécie de culto aos deuses nórdicos. Os nomes dos principais deles estão em ruas, praças, e há estátuas aqui e ali, mas fora o Midsommar não há nenhuma outra festa nacional sueca que festeje a fertilidade da terra ou que lembre as “tradições antigas”.
Se bem que eu sei lá o que possam ser “tradições antigas” na Suécia…
Que legal Maria! É fascinante, ne? Eu adoro as histórias, são muito ricas simbolicamente. Eu tava aqui pensando, ai deve ter coisas interessantes em museus também. E por falar em Freyr, existem sim movimentos religiosos que cultuam os deuses nórdicos, como o Ásatrú e Odinismo (http://bit.ly/3DH59F).
Bjs!
CurtirCurtir
Já tinha escutado essa história dos dias da semana de uma professora :) Sinceramente prefiro a Mitologia grega, acho que até por ter tido mais contato durante a minha infância. Mas cultura e história é sempre muito muito bom saber um pouco mais né. Bjos
CurtirCurtir