Porquê não mudar para a Suécia

Final de semana estive conversando com novos amigos brasileiros. Pra minha felicidade a Mari (do blog Mundo da Mari) veio conhecer Göteborg com o marido e mais uma família muito supimpa. O resultado foi para lá de positivo: demos um pulinho no castelinho de Haga e como estava chovendo – essa foi a desculpa – e nevando nos escondemos em um pub e demos altas gargalhadas. Sim, exatamente aquele tipo de gargalhada que atrai o olhar de todos os suecos sentados ao redor – rir alto não é lagom.

Conversa vai e vem, comentamos um pouquinho sobre a fantasia que muita gente tem que quem muda para a Europa muda para um reino de conto de fadas. Eu acho que mudamos mais para um tipo de Duloc – lembra do Shrek? Aquela musiquinha: “aqui em Duloc é tão bom viver, nossas regras já vamos lhes dizer: no jardim não pisar, todos cumprimentar, Duloc é especial. Na cabeça shampoo, lave bem o seu… pé! Duloc é, Duloc é, Duloc é especial!”

Funciona exatamente igual quando mudamos para um país perfeito. Esses países europeus onde a democracia impera, o machismo já morreu e todo mundo sabe na ponta da língua os seus direitos. Onde os políticos corruptos são presos. Mas também onde não é legal rir alto, dançar solto e nem chorar demais – isso é sinônimo de selvageria. Não é lagom. E é claro que você também vai querer fazer o que é lagom, todo mundo sabe o seu lugar na sociedade, todo mundo sabe que tem que contribuir. Um reino quase perfeito. Quase. Mas não porque o dono de Duloc ainda não é rei, e sim porque falta muita coisa que é comum aos nossos olhos.

Depois que passei esse dia especial com eles, fiquei quase deprimida. A última vez que ri tanto foi quando estive no Brasil. Me dá uma sensação de vazio enorme. Uma solidão. E eu nem posso pegar um ônibus e dar uma chegada na casa da Angela, tomar uma breja na varanda da casa e falar do infinito. Nem tomar um teres com a Lu enquanto a gente comenta as travessuras da Alana. Ou fazer um papo furado com a Maira por causa da falta de homem bonito e solteiro no mercado. Viver aquela montanha russa louca com os cabo de guerra familiares, que bem ou não resolvidos são esquecidos no minuto seguinte a base de um bom churrasco…

Aqui eu tenho internet melhor, transporte melhor, acesso melhor a cultura entretenimento e etc e tal. To conectada, como diriam muitos, com o melhor que a tecnologia tem para oferecer. Plugada no mundo e… sozinha. Conexões humanas zero. Eu e Joel contra o mundo. Que saco isso. Não tenho amigos suecos, todo mundo tem agendas cheias de compromissos consigo mesmos. Tenho “uns par” de colegas de trabalho, pessoal com quem é legal pacas confraternizar uns minutinhos, mas se for para botar as fofocas em dia ou chorar algum leite derramado, ainda ligo para o Brasil.

Talvez seja cedo para reclamar, talvez seja eu que não dou cola e bola para minhas relações suecas. Mas elas estão pobres, pobrérrimas (se essa palavra existe): fora Joel e família, não teria ninguém com quem eu posso contar. Volta e meia rola um dia desses no qual eu falaria para alguém mudando: fique lá, pense mais um pouco. Aqui chove demais (ainda mais quando a gente tá cansado e chateado), neva na primavera e o verão faz 15 graus C… E o pior: vai demorar mais de um ano para você ter amigos, se você não misturar com brasileiros e formar uma panelinha feliz.

Tem dias que a Suécia parece mais um sonho estranho, daqueles que a gente nunca sabe ao certo se foi bom ou ruim, um sonho que foi só… esquisito. Só um exemplo: tivemos quase 15 graus quando a primavera começou, agora desde sexta está frio, hoje chove (de novo) e neva e tinha um cervo no jardim da casa da avó do Joel. Ele parecia o Bambi com a bunda e o rabinho branco. Tudo louco e fora do compasso.

Eu posso estar e estou maximizando sentimentos aqui, nesse post. Mas isso é só para deixar bem claro que nas plaquinhas da Duloc sueca o “hahaha” é sempre escrito com letras minúsculas, e tem de ser comedido. Quem já leu ou está lendo sobre choque cultural vai dizer: ahhhh… É isso também. Choque cultural não é uma coisa que dura 3 meses. Eu ainda to dentro: tem dias para se maravilhar, e tem certos dias que dá uma vontade de chutar o lagom para Marte e mandar todo mundo a pqp, bando de gente sem sal e sem salsa. Depois eu me acalmo e acho que posso sobreviver.

Claro que posso.