Lancei um “ridículos” no meu bicho papão da solidão e transformei ele no Chacrinha. Rachei de rir, ele morreu de vergonha e fugiu. E como “quem não se comunica se estrumbica” tratei de dar um olá para todos os meus conhecidos suecos. Vou trabalhar mais a relação com esse povo, afinal, eu já sei que eles são “difíceis”, se eu ficar só reclamando nada vai mudar.
Falando nisso encontrei a Karolina ontem no mercado e fique morrendo de remorso. Na bem da verdade, foi ela que me encontrou, me deu um super abraço e me fez dar umas boas risadas. Eu realmente posso considerar ela minha amiga, e ela é SUECA. Pra você ver que tristeza é um sentimento traiçoeiro por demais… eu me fazendo de dodói, agora preciso morder a minha língua: eu tenho uma amiga sueca gente, e fui EU que esqueci dela.
A Karolina é enfermeira e vai casar em agosto com um dos melhores amigos do Joel. A gente tava fazendo um daqueles papos furados quando ela disse que tava morrendo de vontade de chips, e eu disse que nunca tenho vontade de comer essas coisas industrializadas, só comida ecológica e o que faz bem ao coração. Claro que ela riu (comedidamente, mas riu) e entrou na brincadeira, porque precisava de umas dicas para ser mais saudável.
O inverso seria mais sensato, uma vez que ela é vegetariana. Não que eu esteja a fim de me torna vego, mas eu tenho que admitir que os vegetarianos comem melhor, ou que, no mínimo, são mais criativos na hora de fazer compras e preparar um prato. Aprendi muito depois que mudei para a Suécia (e tive de me abdicar de comer a mesma quantidade de carne que comia antes) sobre alimentação, principalmente porque todo mundo busca um cardápio mais balanceado.
Hoje vamos ter o tal debate na aula. Há, eu realmente recebi um e-mail ontem as 10 e tantas da noite com o seguinte recado: “amanhã antes da aula nos encontramos e decidimos o que vamos falar.”… vá???!!!!!! Antes da aula quando? Tipo 5 minutos antes da aula? Odeio fazer trabalho em grupo, que palhaçada isso!
Fiz uns apontamentos, pesquisei uma série de sites sobre comida orgânica/ecológica e descobri uma série de coisas interessantes. Há uma tendência de que consumidores que optam pela comida ecológica (segundo o Bláblánomequenãolembroblá Institute da Suécia – um órgão que publica estudos sobre o que os suecos compram e etc) optam por um leque muito mais variado de produtos do que os que não compram comida ecológica. Concordo com isso: antes de entrar nessa a minha dieta sempre foi feijão com arroz e carne e salada. Gosto muito de macarrão, mas sempre que fiz macarrão foram duas modalidades: macarrão alho e óleo – para os dias de preguiça – e macarrão a carbonara (molho de tomate e carne moída); muitas vezes com feijão, mas sem salada. E salada sempre foi uma salada, de preferência alface ou tomate que é rapidinho por demais.
Sim, meu lema na cozinha sempre foi “por que complicar se não precisa”? Sou preguiçosa e feliz na hora de cozinhar também, e no meu caso isso pode ter mudado não porque comecei a comer comida ecológica mas porquê conheci o Joel; ele adora preparar um prato caprichado. Depois que eu introduzi o molho de tomate para o macarrão aqui em casa ele até decidiu fazer molho de tomate caseiro – sim, ele passou horas cozinhando tomates e testando esse e aquele tempero. Parece coisa de filme porque ele vai para a cozinha e solta um jazz; parece um chef cortando coisas e misturando e… eu olhando claro, pra aprender. =P
Mas sobre a comida ecológica: não há nenhum estudo científico que comprove que a comida orgânica/ecológica é melhor para a saúde do que a comida convencional. Entretanto uma pesquisa feita nos EUA em 2002 aponta que os primeiros apresentaram em média 13% de resíduos de substâncias químicas nas amostras enquanto os alimentos convencionais apresentaram em média 71%. Não precisa ser gênio para saber – e eu não concordo que seja senso comum acreditar – que resíduos de pesticidas e herbicidas prejudicam a saúde. Além disso, eu sou caipira bem, vi com esses olhos que um dia a terra há de comer… hahahaha. Brincadeira. Como eu morei no interior eu sei de muitas pessoas que se intoxicavam com “veneno de lavoura”. Se o alimento convencional não faz mal para quem come ainda faz muito mal para quem o produz.
A Universidade de Uppsala fez um estudo apontando que o problema dos orgânicos/ecológicos é que a produção desse tipo de produto não pode atingir uma grande escala. As perdas nas lavouras de orgânicos sempre são mais acentuadas do que nas convencionais que por utilizarem todo o leque disponível de “idas” (pesticidas, herbicidas, inseticidas…) e sementes transgênicas produzem mais. Segundo esse apontamento, se a humanidade escolher a produção orgânica condenará a fome milhões… Eita discursinho capitalista viu? Segunda a FAO jogamos fora cerca de 1/3 de tudo o que produzimos, seja por causa de transporte e armazenamento inadequado ou porque os alimentos que perdem a aparência viçosa perdem também seu valor comercial.
É fato que os alimentos orgânicos/ecológicos tem uma vida mais longa do que os alimentos convencionais – principalmente no caso dos hortifruti – uma vez que os convencionais tem mais água e por isso parecem murchar e adquirem a aparência de “velhos” muito mais rapidamente do que os orgânicos/ecológicos. Consumidores habituados a comprar orgânicos compram alimentos mais maduros porque sabem que eles não vão estar podres no dia seguinte. Ainda segundo a FAO, na Europa até 115kg de comida são jogados fora por ano (per capita) contra 11kg na África. Na América Latina as perdas no processo de transporte/armazenamento chegam a 40% da safra anual. Acho que podemos muito bem passar sem transgênicos e os “idas” se aprendermos a utilizar, transportar e armazenar melhor os alimentos.
Foi por isso que o programa Fome Zero ficou tão famoso no mundo. Tem muita gente que acredita que Fome Zero era só um nome bonito para o Bolsa Família, e que fora disso muito pouco se fez. Ledo engano e falta de informação, para variar. O Fome Zero tem uma série de parceiros – entre eles o “Alimente-se bem com um Real” do Sebrae (não to certa que era do Sebrae mesmo, mas é um dos Ss) e os programas de apoio a Agricultura Familiar. É muito mais fácil para um pequeno produtor rural ser um produtor orgânico do que convencional: ele não precisa botar a cabeça a prêmio no banco anualmente para financiar a compra dos grãos e “idas”, além do que o objetivo da cultura orgânica é a qualidade e não apenas quantidade. Por isso mesmo em 2009 82% dos agricultores paranaenses que cultivavam orgânicos/ecológicos eram agricultores familiares.
Essas e outras coisas encontrei garimpando sites (em português ainda, claro) na internet sobre o mercado de produtos orgânicos no mundo – que cresce cerca de 8% ao ano. Escrevi um monte de tópicozinhos em sueco e daqui a pouco vamos ver se eu consigo falar na frente de todo o mundo sem gaguejar.
Pelo menos aqui no blog consegui convencer alguém?
Haha…