Faz um tempo que ando pensando em escrever um pouquinho sobre as notícias que circulam nos jornais e etc de Göteborg, mas eu estou me preparando para a minha primeira despedida de solteiro aqui na Suécia e por isso não havia começado ainda. A despedida de solteiro não é a minha e eu to super ansiosa porque aqui na Suécia despedida de solteiro é levada bem a sério – tanto para o noivo quanto para a noiva – e apesar de eu não ser tão pop (ainda) eu vou passar por essa ano que vem, sem sombra de dúvida.
Ok, depois da data eu posto maiores informações aqui no blog, talvez umas fotos! Mas como eu ia dizendo… fazia um tempo que eu tava afim de comentar algumas notícias que rolam nos periódicos gotemburgueses só que eu preciso de tempo para não escrever apenas abobrinhas e ter os dados corretos. Eu até tinha separado alguns recortes de jornal, mas no fim das contas eles encontraram o lixo antes de eu ter tesão de escrevê-los. Por conta do último post recebi alguns coments muito interessantes de uma senhorita Maria Carolina – com links de reports relacionados a Suécia. Por coincidência – ou não – um deles era justo sobre o tema que havia pensado escrever.
O objetivo não é a produção de um texto de cunho jornalístico e sim de deixar alguns dados e informações sobre a cidade e o país em que vivo, misturado a alguma experiência pessoal – quando possível.
“Boneca Deficiente” Cria Polêmica em Göteborg – Essa foi da contribuição da Maria Carolina, que deixou o link com reportagem em português da R7 (aqui). O “lançamento” da boneca foi na semana passada, e claro que a aparência “peculiar” do brinquedo gerou as mais diversas discussões. A boneca não está a venda mas foi exposta nas prateleiras de lojas e mercados e sua embalagem traz os seguintes dizeres: “trate-me como um deficiente mental”. Segundo a GIL (Göteborgskooperativet för Independent Living) o brinquedo marca o início de uma campanha pela discussão de como os deficientes mentais são tratados pela população em geral, destacando que os deficientes mentais são pessoas como as demais.

Fonte: http://www.thelocal.se
Um dos membros da GIL declarou que a maioria das pessoas dizem coisas estranhas como “Uau! É fantástico que você compra sua própria comida!” e isso faz com que um deficiente se sinta como um completo idiota. Apesar de discordar quanto a aparência da boneca concordo que mesmo numa sociedade como a sueca é necessário expandir a discussão acerca da capacidade/incapacidade dos deficientes mentais. Primeiro, porque nem todas as deficiências mentais são graves e segundo, porque há falta de informação e isso cria preconceito.
Por trabalhar com um CP skada (paralisia cerebral) vivo muitas situações que vão do hilário ao ridículo. Às vezes as pessoas olham para mim e dizem: “O seu trabalho é lindo! Parabéns!” e outras vem para me dizer: “Sabe a posição em que ele está dormindo… vai deixar ele com dores. FAÇA ALGUMA COISA.”… Tipo, o Zé gosta de dormir na cadeira de rodas, às vezes ficamos meia hora, 40 minutos no spårvagn e ele simplesmente dorme. Não é diferente de uma pessoa normal que dorme no ônibus, trem; mas sempre tem alguém para cutucar e dizer que não está certo. Se eu dormir no trem, ninguém vai cutucar o Joel e dizer: “Olha, a cabeça da sua namorada está torta, ela vai ter torcicolo…” E dai, o que fazer?
Como assistente de um CP-skada eu percebo que as pessoas tem de conversar mais sobre o assunto, entender que mesmo aquelas pessoas com cara de retardada (como a da boneca) tem muito mais entendimento do que a expressão sugere. É super interessante no meu dia-a-dia perceber que algumas pessoas tem dificuldade de entender que como assistente de um deficiente mental eu não estou para pensar, sentir e decidir por ele (somente em questões específicas), e que na verdade eu sou mais como um porta voz, alguém que por estar perto há algum tempo aprende a identificar alguns sinais e pode conseguir coisas que a pessoa em questão quer mais rápido.
Eu não entendia isso no início e muitas vezes eu agi como uma idiota por insegurança, por não saber como tratar como uma pessoa que tem deficiência mental. Agora que eu já tive contato com vários CP-skada sei que até mesmo aqueles que tem cara de retardado não são tão retardados como parecem, e que a gente diz oi para eles como diz para qualquer pessoa, apertam a mão ou o quê, e fala principalmente olhando para o deficiente, e não para o assistente, mãe, pai, irmão, primo, namorado, amiga, amigo… etc. Se definitivamente não der para fazer isso porque a pessoa não entende, a pessoa ao lado vai explicar, e você não vai pagar mico; ao contrário, vai ter mostrado respeito.
Na dúvida, trate o deficiente mental apenas como uma pessoa.