Guest post: Estudar na Suécia

Guest Post  By Bianca Ayres

Dei uma olhada nos termos de busca que levam ao blog (um assunto sempre interessante) e percebi que tem muita gente que vem parar aqui procurando por informações sobre os tipos de visto para a Suécia. Como eu tô cansada de contar a minha história e já esgotei todos os detalhes dela, pedi para uma das leitoras do blog se ela gostaria de contar a sua experiência por meio de um guets post e ela topou!

Apresento a vocês Bianca, uma guria super inteligente (ela faz doutorado em química!) que está morando em Lund, no sul da Suécia. Porque e como ela veio parar aqui deixo vocês descobrirem por meio do texto dela:

Olha só a Bianca em frente a igreja característica de Lund!

Olá, eu sou Bianca, 27 anos e cheguei em Lund no início de setembro! Sou engenheira bioquímica, estou no terceiro ano de doutorado em Engenharia Química na UNICAMP e vim desenvolver uma parte do projeto (sanduíche) na Universidade de Lund, no Kemicentrum-LTH! Escolhi aqui porque é um centro de pesquisa especializado na mesma área de trabalho (biocatálise).

A partir dessa intersecção de interesses, minha professora e eu entramos em contato com o professor daqui para fazer uma parceria! Ele prontamente respondeu e solicitou um resumo do projeto. Ele aceitou e iniciamos o envio do projeto a agência de fomento. No meu caso, este estágio no exterior foi solicitado a FAPESP, mas o Brasil também tem o Ciência sem Fronteiras que está facilitando quem tem essa vontade. A Suécia também oferece bolsas a estrangeiros através do Study in Sweden (clique para acessar o link), mas eu perdi o prazo final de submissão pois guardei na memória que era março, e na verdade foi dia primeiro de março! Outra opção de bolsa também por meio do mesmo site sueco é o programa Erasmus Mundus, cujo prazo varia a cada ano, mas geralmente no segundo trimestre.
A FAPESP aceita a submissão em português, mas para facilitar o acompanhamento pelo professor sueco, tudo foi tramitado em inglês!
Há casos de trâmites de pós graduação sanduíche em que o professor demora um pouco para responder e aceitar, mas eu tive sorte do escolhido ser bastante prestativo e organizado! Ele precisou me enviar 3 diferentes “Invitation Letter” a cada momento que a FAPESP solicitou (submissão de projeto e aceite da concessão) e quando a Imigração solicitou. Além disso, uma das vias de duas mãos é que um estudante de Lund tem de ir para o Brasil para fazer um estágio por lá!
Com tudo aprovado, iniciei a solicitação do visto: a submissão pode ser online pelo website Migrationsverket e há opções para quem pretende trabalhar ou estudar, este último foi o meu caso.
Nesta inscrição fui questionada sobre o motivo de escolher a Suécia, qual a agência de fomento, qual a universidade pretendida e o orientador sueco responsável com o respectivo contato. Foram necessários os documentos que comprovem o prazo e o valor da bolsa proveniente da agência financiadora e também a carta de aceite do professor sueco (Invitation Letter) com o valor mensal requerido para se viver na cidade, o tempo previsto de permanência e a confirmação de que a bolsa aprovada será suficiente (mesmo que os números já indiquem isso, posteriormente me pediram para que esta carta fosse complementada).
Consta no site que é necessário ir a Embaixada sueca para coleta de impressão digital e obtenção do cartão de visto, porém no Brasil há exceção para quem mora longe da capital ou tem dificuldade de ir, pode optar pela retirada do “Residence permit to Sweden granted” no consulado mais perto após a aprovação do visto. A embaixada requer até 2 meses para informar a decisão, porém alguns casos podem ser resolvidos mais rápidos dependendo da transparência dos documentos fornecidos. Ao preencher a submissão é gerado um boleto com a taxa consular de 1000SEK (julho/2012) com um prazo de dois dias para ser pago, senão a submissão será descartada.
Após concluir a submissão e o pagamento, chegará em seu email a confirmação com um check number. Passaram alguns dias e eu queria acompanhar o andamento, pois pelo site existe essa opção, porém o check number recebido não servia para nada. Liguei ao consulado em SP, pois foi onde selecionei para ir buscar e a Mariana, que é muito atenciosa falou para eu ter paciência que chegaria outro email com o número do processo. Este nunca chegou!
Um mês depois da submissão, meu professor me avisou que haviam entrado em contato com ele para confirmar as informações e após mais uma semana a Imigração enviou-me um email solicitando uma carta mais detalhada proveniente do orientador constando quanto se precisar para viver em Lund e quanto a agência de fomento me pagaria (que citei acima). Após isso, mais 5 dias e um email informou que a decisão tinha saído e era para eu me informar com a unidade consular que eu havia escolhido.
Na hora liguei para a Mariana e ela me pediu para enviar um email com meus dados para ela verificar. Só faltavam 19 dias para eu viajar… e a tensão crescia.
Esperei uma semana pelo email dela e nada… então fui a SP levar minha mudança e aproveitei para ligar 12h para saber se eu poderia passar lá e ela disse que ainda não sabia. Só 12 dias para embarcar e não sabia? Eu sei que no mesmo dia, ela “recebeu a resposta” e me avisou por email… quando eu já tinha voltado para Campinas!
Mas tudo bem, minha vontade era tanta de ter certeza que não precisaria providenciar mais nada que fui buscar o documento no dia seguinte. Ah é bom lembrar que o horário de funcionamento do consulado é apenas das 9h as 13h em SP! E com este papel (Residence permit to Sweden granted) é possível chegar na Suécia sem problemas!
Para quem vai ficar 12 meses ou mais, não é necessário contratar seguro saúde de viagem, pois vc pode adquirir o registro sueco “Personnummer”, que além de conceder descontos para atendimento médico, também serve para abrir conta bancária. É só procurar a  Skatteverket da cidade sueca. Para casos como o meu, que não fui até Brasília, antes de solicitar o Personnummer eu precisei ir até a Migrationsverket para fazer o cartão de permissão de residência (UT card ou uppehållstillståndskort) com as impressões digitais e foto. De Lund, eu precisei ir para Malmö (em menos de 20 minutos para ser atendido, 5 min de atendimento e pronto). Em menos de uma semana, o cartão chegou em minha caixa de correio!
Com o UT card em mãos, voltei a Skatteverkert de Lund e solicitei o Personnummer, o qual está previsto de chegar dentro de 2 a 3 semanas. Esta quinta-feira (27/09) completará 2 semanas para eu saber os próximos passos para abrir a conta no banco!!
Minha primeira impressão é que a organização de tudo facilita demais a vida e é estimulante viver aqui! Ah, e no primeiro dia, meu professor já disse para não me preocupar em aprender sueco (ok, ele deve ter considerado o tanto que já vou fundir a cabeça no laboratório), pois todos falam inglês, com exceção de alguns idosos. E é verdade, que não tenho tido problema além dos produtos do mercado, a ainda até conversei em inglês com alguns senhores e senhoras atenciosos no mercado.
Boa sorte Bianca! Bem vinda a Suécia!

Era uma vez em São Paulo

Oilá! Não tenho certeza se já contei essa história por aqui, mas, sinceramente? Fiquei com preguiça de pesquisar se eu realmente tinha feito isso… então vamos lá – e se preparem que o trem é comprido!

Há dias da minha vida que parecem ser retirados de um livro e, como não podia deixar de ser, a minha visita a São Paulo quando eu precisei fazer a entrevista solicitando o visto foi uma verdadeira saga. Naquele tempo (ui! parece um século e não dois anos) o processo de solicitação de visto não era online mas mesmo assim o primeiro passo foi entrar na página da Embaixada da Suécia no Brasil e ler a sessão sobre vistos; ler e reler a relação de documentos necessários e em seguida, ligar para o consulado em Sampa para tirar as últimas dúvidas e marcar o dia da entrevista.

Ainda depois de acertar o dia da entrevista liguei e conversei com o pessoal de lá várias vezes por causa das dúvidas que vão surgindo quando a gente junta a documentação – por mais bobas que elas fossem – e sempre fui bem “respondida” (até por e-mails). Algumas pessoas que chegam ao blog me escrevem pedindo para elucidar dúvidas sobre o processo de solicitação de visto e em alguns casos eu posso ajudar, mas eu gosto de afirmar que se vocês quiserem encurtar o caminho liguem ou escrevam um e-mail para o consulado mais próximo ou a embaixada: além de ter a resposta certa, eles são bem rapidinhos em responder!

Eu iria para São Paulo pela primeira vez na vida e tava morrendo de preocupação afinal, a gente só vê problemas e problemas na televisão e notícias ruins sobre a cidade mas ao mesmo tempo fiquei de boa porque eu passaria só um dia na cidade, o que poderia sair errado? Cheguei as seis e meia na Estação Barra Funda e liguei para os meus pais dizendo que cheguei (a gente sempre fez isso, fosse para 10km longe, mandava um sms ou sinal de vida) e que a viagem de 15 horas nem tinha sido tão cansativa ao final – mentira. Não me pareceu muito medonho estar em um terminal rodoviário – tudo bem que eu nunca tinha visto tanta gente correndo em todas as direções na minha vida e que parecia que as pessoas simplesmente brotavam do chão, porque… Achei melhor entrar num banheiro e jogar uma água na cara pra acordar.

Eu tinha levado um kit de sobrevivência como se fosse passar a noite em um hotel – apesar que a ida e volta foram a noite no busão – pois o plano era ficar em Sampa apenas um dia mas vai saber né? Fora de casa é bom estar prevenido. Eu estava de frente para a pia do banheiro ao lado da faxineira que pegava água em um balde quando a torneira estourou e me deixou molhada desde o peito até as canelas. A faxineira entrou em pânico, me pedindo mil desculpas, que não era intenção, que ela não entendia o que tinha acontecido. E eu tinha virado pedra! Olhei para o chão cheio de água e dei graças a Deus que a água não tinha pego a minha mala com toda a documentação que eu tinha que entregar nas mãos do cônsul pela ocasião da entrevista… Respirei fundo e comecei a acalmar a mulher com aquele papo acidentes acontecem, não tem problema, eu tenho roupa extra, vai ver o encanamento é velho e tals.

Eu não tinha calças extras e o tempo estava nublado, meio chato. Não era frio, e depois de ter usado 900 papel toalha e duas toalhas de pano a minha calça estava vestível, grudando um pouco mas com sorte ia secar até as 14h, horário da entrevista. Eu ficava pensando: se o objetivo da entrevista é causar uma boa impressão to meio que lascada… chegar lá com cara de mal dormida e fedendo a cachorro molhado… vou dar uma caminhada, ver se me seco e me acalmo. Perdi a coragem assim que ia saindo do terminal: quase não tem calçada por ali e pra falar a verdade, não há nada próximo ao terminal para ver. Nem um cafézinho esperto ou o quê.

Voltei, sentei num banco perto de um botequinho de sucos dentro da estação e fiquei lendo um livro. Lá pelas nove da manhã eu pensei que seria bom me por em marcha se eu queria estar em tempo e encontrar com calma o prédio do consulado. Eu tinha impresso números e nomes de quais ônibus deveria pegar para chegar ao Consulado (com saída da Barra Funda, onde cheguei) e de trem (que depois mudava para ônibus e mais um trecho a pé) mas quando cheguei lá desisti: nunca tinha visto tanta gente se acotovelando por um espaço dentro de um transporte público; tanto que as portas quase não fechavam. Eu pensei: tá cedo, mais tarde melhora…

Comprei uma viagem de táxi as 10h e sai. O taxista era legal e não sei se ele ficou com dó de mim – pois imagina meu tipo depois de um banho involuntário – e deu uma de guia  turístico, desse lado de cá fica não sei o quê e do lado de lá as empresas tal… e a gente nunca chegava e ele admitiu que estava perdido (mesmo com GPS). Como eu tinha pago a viagem no terminal paguei uma tarifa padrão pelo destino, então fiquei relax. Ele se desculpando que o consulado dos EUA ele sabia de cor porque era tanta gente que ia para lá todo dia e blá blá blá… Por fim ele se achou e me deixou na porta do tal lugar, tipo 11h30.

Subi para o escritório do consulado e uma mocinha muito simpática veio conferir a documentação. Ela disse que eles iam fechar as 12h para almoço até as 13h mas que eu podia deixar os papéis com ela. Fiquei feliz… até ela me olhar e dizer: Cadê sua certidão de solteira? E eu… Ela falou: pode ser a certidão de nascimento original, você não trouxe? E eu não tinha levado! Fiquei meio baqueada, tentando me lembrar porque eu tinha deixado o RN de fora… Daí ela me orientou que perto do consulado havia um cartório e que eu poderia ir até lá e fazer uma certidão de solteira.

Eu poderia comparecer a entrevista mesmo que estivesse em falta com alguns documentos, o problema era que o os documentos seguiam para Brasília apenas uma vez por semana e seria na quarta (e só depois é que seguiam para a Suécia – oh, burocracia!). Eu tinha pressa e saí atrás do dito Cartório, mas tomei a direção errada sem saber e depois de caminhar 20 minutos e de ouvir todo mundo dizer “Não sei onde fica moça” desisti. Pensei que ela tinha dito perto, mas vai saber o que é perto para um paulista? Sentei num barzinho e comi alguma coisa. Estava muito cansada por causa da viagem, do stress do banho surpresa e com o taxista perdido, depois a história da certidão de nascimento… Aff, quem merece?

No caminho eu tinha visto uma praça e decidi voltar lá para tentar ler pois tinha cerca de uma hora ainda. E qual não foi minha surpresa quando vi a placa do tal cartório? Peguei uma senha e quase mato a atendente porque ela insistia que não existe declaração de solteirx. E eu pá e corda, o pessoal do consulado me orientou e tals… e ela negando. Insisti tanto que ela ligou para um tal lá em outra sala (com ar condicionado) que aceitou falar comigo.

O cara me explicou que para fazer a declaração eu precisava de duas testemunhas. Murchei. Tentei dar um jeitinho e ele falando que não, que isso e que aquilo, depois chegou mais um cara que acho que ficou com dó de mim e disse que ia me ajudar. Pediu meus documentos e R$250. oO! Eu… ainda perguntei se ele aceitava cartão (porque claro que eu não ia andar com 200 paus na carteira) enquanto abria a bolsa para pegar meu passaporte. Ele disse que não a mesma hora que me dei conta que não achava meu passaporte. Comecei a chorar lá no cartório e o cara ficou me olhando e pedindo se podia ajudar. E eu só pensando no passaporte, onde eu podia ter deixado? Se eu tinha deixado no consulado? Perdido na rua? Na lanchonete em que eu tinha comido? Falei que não tinha dinheiro e sai pedindo desculpas.

Liguei para o Joel. Chorei, reclamei do mundo, disse que odiava São Paulo e torneiras velhas. O Joel é pró na arte de consolar alguém e mesmo pelo telefone ele conseguiu me fazer respirar e entender que eu tinha que ficar tranquila ou tudo ficaria pior. Ainda fui até o consulado olhando pelo caminho para ver se eu tinha deixado o passaporte cair pela estrada, naquela inocente esperança de que ninguém pegaria.

Cheguei para a entrevista um caco e para minha sorte o cônsul foi super bacana comigo. Disse que orientou a estagiária a sempre solicitar o Registro de Nascimento com negativa de “nada consta” (no livro de registro de casamentos) como certidão de solteiro porque aquele outro documento é muito caro e desnecessário. Mas meu passaporte não estava na embaixada. Eu fui até a DP mais próxima lá do consulado (depois da entrevista) e fiz o BO no mesmo dia – orientada pelo cônsul. Paguei uma multa a Polícia Federal por ter perdido o passaporte e tive de solicitar de novo… mas isso é outra história.

No final das contas o mais importante daquele dia – que era a entrevista – foi super bem. Ele só me pediu para contar a minha história com o Joel, do tempo em que estivemos juntos e de planos para o futuro. O cônsul afirmou na época que a Imigração Sueca normalmente travava os pedidos por falta de documentação e que a maioria dos vistos negados acontecia quando o parceiro sueco não se mostrava mais interessado em que o solicitante residisse na Suécia (no caso de visto de residência por laço familiar); que quando os solicitantes já eram casados o processo tendia a ser mais rápido mas que não estar casado com o partner suecx não correspondia a negação do visto. Tanto que não sou casada e estou aqui…

No fim, nós vivemos felizes… para sempre!

Tudo de novo e outra vez

Nas cenas do capítulo de hoje a caipira vai para a escola e descobre que foi enganada mais uma vez.

Ok, agora parando com o melodrama – ainda que a minha relação com a escola na Suécia seja uma novela; não sei se recordam que eu desisti de uma vaga na escola chamada Hermods há um tempo atrás – porque o curso de sueco seria a distância; e me rematriculei de novo – em outra escola. Deixei uma reclamação por escrito no escritório da Vuxenutbildning e ganhei uma pessoa de contato que ficou todo esse tempo de espera do começo das aulas – em 17 de setembro – em contato comigo.

Na primeira semana de setembro recebi uma carta da Vux me dizendo que eles haviam aceito o meu pedido de matrícula e que eu tinha um lugar em uma escola chamada Studium. Sempre ouvi falar muito bem da escola e fiquei feliz. Tava só esperando chegar a carta da escola…

Que nunca chegou. Então liguei e liguei e liguei para a escola e ninguém atendia o telefone (coisa super estranha que só aconteceu comigo). Sem respostas, liguei para a D. Angélica, que é o meu contato dentro da Vux, e pedi ajuda. Contei um pouquinho da história toda e nem precisei muito porque ela se lembrou de mim e me orientou a mandar um e-mail para a escola (para ter uma prova de que eu tinha tentado o contato) e que continuasse ligando.

Fiquei no vácuo ainda depois de mandar o e-mail e na quarta passada consegui que alguém da escola atendesse o telefone. Disse meu nome, meu personnummer e “Eu tenho uma vaga aí para estudar SAS 2, mas não recebi nenhuma informação da escola… não quero perder minha vaga e etc etc”.

Daí não seria bem mais fácil só ir até lá e tentar pegar a professora nos corredores? Hipoteticamente seria, não fosse o fato de que NENHUM sueco dá informação para você se não tem 100% de certeza e que às vezes é só com o professor que você pode receber o plano de aula e todos os etc. Sim, porque eu começaria o curso depois de 17 de setembro, o que não significa que meu primeiro dia de aula seria o tal dia mencionado; mesmo porque as turmas já estão em aula desde 13 de agosto. Assim, indo até a escola eu teria apenas a informação do tipo: sua turma tem aulas as segundas a tarde a partir das 13h, a professora chama Ilona e a sala é a número 109.

Como eu estive trabalhando todos os dias da semana passada e não queria correr o risco de “perder” uma viagem fiquei ligando. Na quarta quando fui atendida a pessoa do outro lado da linha estava super insegura, me pediu mil desculpas, anotou meu personnummer e telefone, disse eu não tenho acesso aos dados agora, te ligo depois… e eu só ok.

E esperei… na sexta eu estava na porta de casa a caminho da tal escola para tentar agarrar alguém pelo braço na tentativa de não perder minha vaga na escola quando o telefone tocou e uma tal de Anne Marie disse que “sua turma tem aulas as segunda-feiras, sala 309, professora Ilona. Quer que eu te mande um e-mail com essas informações?” e eu sim, obrigada.

O e-mail não veio mas eu fui. Cheguei lá 20 minutos antes e fui procurar a professora – afinal eu queria conversar sobre o que a turma está lendo e blá blá blá – na escola em que estive eles vendiam o livro que a gente usava em aula na secretaria. Ela me pediu um segundo para resolver uma coisinhas, e eu esperei até 5 para uma para descobrir que estava na turma errada: ela é a professora do SAS 1. Fiquei p… o sangue subiu nas veias e eu tinha vontade de chorar.

Voltei a secretaria e lá fui deixada com a D. Rafatt, que me disse só e simplesmente “Não podemos te ajudar porque você está na turma errada. Eu não posso te mudar”. Expliquei toda a situação para ela – e a professora do lado olhando – que eu já terminei o SAS 1, que eu tava esperando para começar desde maio (sim, cinco meses sem aula, eu podia estar pronta com essa joça!) e todo o etc e tal que aconteceu a respeito da outra escola. A tal da Rafatt achando problemas, a professora só me olhou e disse: “eu sou a professora do SAS 2 também, sexta feira 9h, mesma sala”.  E se foi.

A Rafatt continuou que eu teria que conversar com não sei quem e não sei quem dentro da escola (sendo que as duas pessoas não estavam) e que ela não podia me ajudar, que eu teria de ir na Vux e… Eu respondi, não preciso ir na Vux, tenho um contato lá dentro, eu ligo para ela agora mesmo. Liguei para a D. Angélica e falei que o pessoal da escola estava achando problemas para eu ficar, que tinha acontecido um erro do sistema e eu estava no SAS 1 ao invés do 2 e eles disseram que não podiam me mudar de turma… a Angélica me pediu para passar o telefone para a tal da Rafatt. E depois disso todos os “eu não posso” passaram para “eu já mudei você, seja bem vinda.”

Descobri que as escolas tem um medo danado do pessoal da Vux. A Angélica me ligou depois e disse que eu havia errado quando fiz a matrícula – não discuti, porque aconteceu o mesmo quando saí do SFI para o SAS: o sistema dizia que eu tinha feito a matrícula para o curso do SAS G quando eu tinha escolhido o A. O A passou a ser 1, e mesmo assim, agora o sistema diz que eu escolhi o 1, sendo que eu já tinha concluído o mesmo em maio…

Mas a Angélica me deu os parabéns também. Disse que precisando eu devo chamá-la se tiver mais algum problema – ao final, as escolas não perdem nada quando ficam enrolando o aluno… mas perdem muito se a Vux fica sabendo. Para algumas escolas sempre somos os imigrantes burros que não conhecem a língua, não sabem se defender e que podem ser enrolados…

Aposto que eles não contavam com a minha astúcia…

Portueco

Eu falo português em casa afinal, quando conheci o Joel ele já era fluente na língua e isso assusta um pouco as pessoas. Tipo, eu estou conversando com alguém e a pessoa: quanto tempo você mora na Suécia? E eu: um ano e meio (que eu completo só mês que vem, mas desde o mês passado eu digo um ano e meio); e a pessoa: puxa, você fala muito sueco! E eu: meu noivo é sueco; e a pessoa: Ah! Tá explicado… vocês falam sueco em casa. E eu: não. E a pessoa: Nãoooo???

Não acho tão estranho, afinal, aprendi muito sueco com a família do Joel e por causa dos amigos em comum que temos. A maioria das pessoas que fica tão impressionada com meu sueco está normalmente me comparando a outros estrangeiros que vêm para cá com a família. Não é estranho imaginar: eu vim para cá sozinha, e tinha o Joel que falava português comigo, assim como mais umas duas ou três pessoas que eu encontrava eventualmente. Meu inglês é pobre, assim achei melhor tentar conversar em sueco mesmo… foi difícil, mas deu certo. Agora imagine a outra situação: a pessoa muda para cá com a família (no caso de famílias africanas, com muitas crianças) e vai procurar fazer amigos entre outras famílias emigrantes do seu próprio país (nem sempre, mas na maioria dos casos). Essas pessoas não tem vínculos com suecos – e não é tão simples estabelecer vínculos com esse povo – e não tem porque treinar o idioma. Não é estranho que eles passem anos e anos sem falar mais do que hej e hej då.

Acho que fluência no inglês também ajuda a retardar o processo, afinal, por que ficar se ferrando e tentando adivinhar palavras e frases e mais todo o blá blá blá quando é muito mais prático e rápido – e dinâmico – ir direto ao ponto? A maioria dos suecos podem conversar inglês fluentemente e não se importam nem um pouquinho de treinar o idioma com quem quer que seja!

Seria simplismo reduzir as questões de aprendizado somente a estes poucos casos, e cada um sabe como o quanto é fácil ou difícil (eu acho díficil pacas) aprender sueco. Mesmo assim, eu insisto que uma rede de amigos ou familiares que ajudam (não aqueles que não tão nem aí) fazem uma enorme diferença para aprender uma língua nova – quando se vive fora do país.

Agora cheguei num ponto que misturo as bolas, então em casa tá rolando na verdade um portueco: eu começo falando em português mas coloco umas palavras em sueco no meio ou então invento um gerúndio para o sueco (sabe que sueco não tem o ando, endo, indo como em trabalhando, comendo, dormindo). Dias desses falei para o Joel: dai eu tava flyttando as coisas… e o Joel se estraga na risada: Flytt o quê???

É claro que eu tenho que rir também…

Emagrecer é preciso #02

To super desanimada. Sim: isso significa que meu programa de exercícios já foi por água abaixo. Na verdade, o mundo não acabou, nada está perdido para sempre, mas desde a quarta-feira da semana passada não levantei mais nem um pesinho, não fui mais caminhar, não treinei mais flexões, nem os polichinelos!

Cheguei a conclusão de que estou com um sério problema de baixa estima. Nunca na minha vida me incomodei tanto com meu “excesso de peso”, e eu realmente entrei no pique e trabalhei firme e forte. Mas eu não consegui descobrir se é uma desculpa ou se é realmente um agravante a questão dos meus horários de trabalho. Com o Zé eu tenho uma agenda fixa, trabalho todo dia assim e dia assado toda a semana. Já com o Zezinho (o menino autista) eu sou substituta, aí acontece por exemplo coisas meio loucas como esse fim de semana (ou desde quinta-feira) quando uma moça adoeceu e eu cai dentro da agenda. Resultado: trabalhei quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, hoje e vou trabalhar todos os dias dessa semana até o domingo.

A verdade é que os patrões me ligam e perguntam se eu quero trabalhar e que eu tenho liberdade para dizer não – por ser apenas substituta – eu tenho outra coisa para fazer. O problema é que quando ninguém está doente eu trabalho só dois dias por semana… então é melhor dizer “sim, eu estou disponível!” do que esperar até que o próximo assistente fique doente! Daí eu estrago minha rotina…

Me sinto exausta porque se eu passo 8 horas no trabalho isso significam 10 horas fora de casa. Nessas dez horas eu posso estar em super atividade ou quase que dormindo. Explico: se eu tô com o Zé e ele tá na cidade podemos estar para lá e para cá olhando coisas em lojas; se eu to com o Zezinho e ele está disposto estou brincando o tempo inteiro. Mas às vezes o Zé quer só assistir um filme, e eu vou sentar ao lado dele (mesmo que eu tenha assistido ao mesmo filme 20 vezes), ou às vezes o Zezinho vai querer só que eu leia um livro (lembro de uma noite que passei uma hora e meia lendo para ele duas histórias diferentes e ao fim ele sempre pedia para que eu repetisse… só parei porque meu turno acabou!). Sem contar toda a questão do esforço físico: vestir, despir, corrigir a postura, mudar de posição uma pessoa adulta é pesado pacas… quero qualquer coisa que esteja incluída dentro da opção descansar quando meu turno acaba. E isso não incluem exercícios físicos.

Eu tenho tentado me alimentar melhor e por isso tenho sempre frutas na bolsa. Infelizmente eu não sei explicar mas tenho uma carência louca por coisas salgadas (alguém aí já viu fruta salgada? me conte o nome), e daí posso comer o que quiser doce que ainda chegarei em casa louca por um prato de macarrão com molho de tomate. Sorte que na minha lista de prioridades estão também um banho quente e a minha cama. Por preguiça não faço o tal macarrão, como qualquer coisa (salgada) e vou para internet/banho/cama.

E como mal. Pensando no tal prato de macarrão que eu teria de cozinhar em casa nesses dias eu sempre como porcaria. E por porcaria leia-se Mac Donalds. Obviamente esse foi um costume que adquiri aqui na Suécia pois na minha cidade no Brasil não tinha nenhum Mac Donalds. E mesmo que a gente comesse x salada ao menos uma vez por semana acho que não era tão gorduroso e tão junk como ir a esses restaurantes fast food. Mas depois de comer duas ou três variedades de frutas e ainda sentir o estômago vazio lá estou eu parada a espera do próximo trem que chega em 10 minutos pensando: quanto tempo demora para entrar na fila do Mac Donalds e pedir um Mac Feast? Voltei a tomar coca-cola… até quando compro um kebab peço uma coca-cola para acompanhar.

Alguém vai dizer que eu posso acordar mais cedo para me exercitar. Desculpe alguém, mas eu sou boa de cama e eu preciso desfrutar de ao menos 8 horas bem dormidas de sono. Ou isso ou sou uma lesada no dia seguinte – além de ficar de mau humor. Não é legal trabalhar com pessoas mal humorada.

Ainda bem que tenho aquelas semanas em que trabalho apenas dois dias. Então faço exercícios e cuido melhor de mim mesma. Pior que assim fica difícil ver algum resultado.

E eu definitivamente não to feliz com meu corpo.

Essa coisa de choque cultural…

Ontem apareci no blog “Minha Aquarela” da Cíntia lá de Stockholm. A Cíntia deu um pulinho aqui em Göteborg e para minha alegria eu estava de folga aquele fim de semana – é, quem muda para a Europa fica rico de tanto trabalhar no final de semana: não pode festar e nem tomar cerveja, daí além de ganhar os pilas do dia trabalhado economiza todo o dinheiro que iria para alguma festa – e pude encontrar com ela e tagarelar por uma meia hora lá na Central Estação. Foi bem legal mas como a cabeça de vento aqui nunca tem a máquina fotográfica junto (alguém reparou que esse blog quase não tem fotografias?) esperei a Cíntia contar do nosso encontro que afinal, foi ela que registrou. Dê uma passadinha aqui quem quiser saber todo os detalhes a respeito da incrível experiência de encontrar uma caipira no exterior!

Quem já conhecia o blog Minha Aquarela – e talvez acompanhe por algum tempo – tenha lido esse post aqui quando a Cíntia conta um pouco a respeito de como os suecos encaram ficar doente. Eu percebo essa questão da seguinte maneira: primeiro que se você ficou doente (na Suécia é melhor que) fique em casa; e, segundo, espere para tomar remédios e não corra atrás de médicos, deixe seu corpo aprender a reagir.

Eu até concordo com a última, mas a primeira me dá nos nervos! Não porque eu possa ficar em casa para descansar, acho que seria legal ter essa possibilidade no Brasil também (não se sente bem, ligue e avise dizendo que está passando mal). Acho importante sublinhar que esse dia de “descanso” não é pago e que faltar ao trabalho dias a fio sem atestado médico significa olho da rua tanto quanto no Brasil. O que me incomoda com relação ao “fique em casa” é que suecos tem um medo tão absurdo de contágio que nem chegam perto de pessoas doentes.

Seja fruto de séculos sobrevivendo a mais incontáveis pestes, seja somente uma questão cultural, isso me choca bastante. Eu consigo entender a lógica da situação, a racionalidade do costume e os efeitos positivos que um comportamento como esse traz para a sociedade. Por exemplo: descobri que uma pessoa com suspeita de rubéola na Suécia deve ligar para o posto de saúde antes de se dirigir para lá porque se houverem mulheres grávidas no local elas serão deslocadas para um quarto seguro de forma a evitar o contato com o possível cidadão contaminado pelo vírus; pessoas com suspeita de terem contraído o HIV ou AIDS devem deixar uma lista dos nomes dos parceiros e os mesmos serão intimados judicialmente a comparecer em posto de saúde para exames. Mas quando o caso é menos complexo me dá… uma coisa esquisita, é como se fosse uma maneira de exclusão, fracos e doentes ficam a margem enquanto os saudáveis continuam na dança…

Talvez isso seja fruto de uma educação de cunho religioso, aquela coisa de ajudar e acolher os doentes e por causa disso eu ache que é meio esquisito ficar sozinho em casa (sim, é preciso relembrar que a maioria dos suecos moram sozinhos) doente, com febre e sofrendo. Eu não tou dizendo que eu daria uma de São Francisco – que lavava os leprosos com água de bacia e ao final do rito tomava a tal da água – porque eu também me incomodo ao ter um estranho tossindo as tripas na minha direção ou espirrando até os pelos do nariz fora, mas o povo aqui tem o costume de nem ver os parentes – nem mesmo a mãe – para não contagiar outras pessoas.

E eu penso na minha mãe, que hoje tá de aniversário (eu te amo mãe, espero que você tenha tido um dia super especial) e que fazia meu pai ir buscar a gente para ficar de molho em “casa” – na casa deles. E tomar suco de cenoura e aquela gororoba de beterraba e açúcar mascavo – eu odiava isso! Mas era tão bom! – e então todo mundo ficava fazendo ares de enfermeiro em casa, um irmão querendo cuidar mais do outro, e brigando para roubar a atenção, aquele retetê todo…  e se todo mundo ficasse doente, que ficasse!

Claro que nem toda a família se entende, e que nem todo amigo é tão ligado no outro a ponto de querer fazer companhia para uma pessoa ranhenta.  Mas ainda acho estranho pacas ficar doente e sozinho.

Essa coisa de choque cultural…

Göteborg News #04

Em agosto pude assistir a uma chuva de estrelas cadentes: eu e Joel esperamos até as 00h de um domingo para nos deitar no chão próximo a um lago e contemplar um espetáculo de luz nos céus suecos. Claro que não era nada do tipo “fogos de artifícios”, com luz pipocando lá e cá por todo o céu – ainda mais porque o céu sueco no verão é bastante claro – mas em questão de uma hora eu pude contar cerca de 14 estrelas cadentes. Nunca havia visto tantas assim na minha vida!

Fonte: yonnas.se

Agora com um pouco de sorte poderei assistir a aurora boreal sem ter de viajar nem um pouquinho mais para o norte do mundo: astrônomos afirmam que neste ano poderá ser possível presenciar esse espetacular fenômeno mais ao sul do círculo polar ártico devido ao grande número de explosões solares.

Mas que conversa é essa? Estrelas cadentes? Aurora boreal? Penso que a maioria dos mortais que viveram em uma cidade da qual ainda é possível ver o céu tiveram o prazer de ver uma estrela cadente, fechar os olhos e fazer um pedido. Tudo bem que isso é crendice, mas e por que não? Eu não fechei os olhos para fazer pedidos naquela noite de agosto por puro medo de perder a próxima estrelinha que riscaria o céu…

Já a aurora boreal é uma coisa ainda mais exclusiva: acontece somente próxima ao círculo polar ártico, sendo que o fenômeno também pode ser visto próximo ao círculo polar antártico (mas daí recebe o nome de aurora austral). O fenômeno em si tem o nome de aurora polar ou norrsken (luzes do norte – numa tradução livre) em sueco; e é provocado (segundo o Wikipédia – artigo aqui) pelo impacto do vento solar e de partículas espaciais com a atmosfera da Terra. O fato de esse fenômeno se dar apenas nos pólos é que as tais partículas são atraída pelo campo magnético da Terra.

Na mitologia nórdica acreditava-se que a aurora boreal era um facho de luz derramado pela armadura das Valquírias:

As Valquírias são virgens da guerra, montadas em cavalos e armadas com elmos e lanças. /…/ Quando elas cavalgam adiante em sua mensagem, suas armaduras derramam uma luz estranha que bruxuleia, que acende por cima dos céus do norte, fazendo o que os homens chamam “aurora borealis”, ou “Luzes do Norte”

by Thomas Bulfinch

Quem me contou da novidade foi a minha futura sogra, e achei mais do que lindo o relato que ela me fez de quando assistiu o espetáculo das luzes “dançando no céu”. A aurora polar pode se apresentar de diversas formas e cores, e acho que assim como o arco íris pode apresentar as cores mais ou menos fortes dependendo da ocasião. Algumas pessoas veem as cores serpenteando o céu, outras veem como que uma cortina em movimento…

Eu que sempre tive vontade de ir para o norte sueco apenas para poder contemplar a aurora boreal fiquei super entusiasmada em pensar que talvez tenha a oportunidade de presenciar o espetáculo por aqui mesmo!

O melhor de tudo é que o fenômeno não está necessariamente relacionado a uma aurora… ou seja, as luzes do norte não aparecem apenas quando o sol está para nascer (ainda mais porque dentro do círculo polar o sol pode demorar seis meses para aparecer de novo!). Infelizmente não há garantia de quando e como o fenômeno vai acontecer, mas eu decidi ficar alerta e até o final de outubro ficar de olho no céu.

Quem sabe eu não tenha uma surpresa?

O que é a Suécia para você?

Não vou repetir (de novo!) que a Suécia não fica na Suíça e que aqui ninguém fala alemão… mas achamos um PDF muito interessante na página da Sweden abroad (clique em Sweden abroad para acessar o PDF) que fala a respeito de qual é a imagem que o Reino da Suécia tem para a população de alguns países do mundo, entre eles o Brasil, e…

Dois em cada cinco brasileiros sabem (ou afirmam saber) o que é a Suécia. Segundo o documento, os brasileiros associam a Suécia a Copa de 58 (claro!), caminhões (Volvo), um lugar escassamente povoado (tem razão), um país muito frio do norte (com certeza) e com alta taxa de suicídios (hummm). Bom, deixo claro que os comentários em parêntese são de minha autoria e não estão no documento da Sweden abroad e que até posso entender a associação a Copa do Mundo, Volvo, povoamente escasso e frio, mas essa do suicídio, da onde é que saiu? E é tão forte que já deu, e muito, o que falar até mesmo no blog da Lola, que nem mesmo mora na Suécia!

Apesar de associar a Suécia a “extremamente frio” e a “alta taxa de suicídios”, os brasileiros que afirmam “conhecer a Suécia” acreditam (quatro em cada cinco) que a Suécia é um país  entre favorável e muito favorável para se viver. Segundo a pesquisa, os suecos são vistos como reservados (na mosca!), bem educados (também) e muito éticos no trabalho (essa eu ainda não vou opinar). As marcas mais conhecidas são Volvo, Ericsson, Scania, Electrolux e Sandvik; e as personalidades mais citadas são Ingmar e Ingrid Bergman, Santa Brígida, a rainha Silvia e Alfred Nobel.

Eu lembro que na época em que conheci o Joel minha imagem da Suécia estava restrita a quatro coisas: Abba, vikings, o terceiro maior país da Europa e loiras com peitões (o que Hollywood não faz com a cabeça da gente?). Claro que eu também pensava em coisas como qualidade de vida e etc, mas nunca havia lido muita coisa sobre a sociedade ou a política na Suécia e nem sabia que a rainha sueca tem sangue brasileiro. Também não estava muito interessada na Escandinávia… lembro até de ter visto alguns documentários sobre a história das guerras entre os povos escandinavos, mas não era nada que me marcasse de forma especial…

Daí eu conheci o Joel… pirei, li tudo e mais um pouco que encontrei na internet sobre o país, inclusive muitas informações erradas mas, por mais estranho que seja, nenhuma informação pertinente a respeito da taxa de suicídios suecos. Li um pouco sobre a história, sobre política e principalmente sobre a importância e a interessante política de proteção ao meio ambiente sueca – principalmente no que diz respeito a preocupação com a reciclagem, não poluição e a busca de fontes de energia renováveis.

Às vezes o pessoal aqui me pergunta: o que você acha da Suécia? O que você pensa do povo sueco? O que você acha que é tipicamente sueco? Aqui é da forma como você imaginava? Para a última pergunta eu sempre digo não, achava que seria pior – mais difícil e mais penosa – a adaptação: pessoas mais carrancudas, o frio ainda mais frio (peguei um inverno ameno!), possibilidade zero de me enturmar. Eu acho que é tipicamente sueco comer comida fria (pra mim isso é o ó!) como salmão e batatas, sem sal; mostrar horror ao açúcar; balançar o corpo pra frente e para trás e chamar isso de dançar; ter de beber (muito) para “dançar”; gastar a noite discutindo política ao invés de “dançar” e amar o Melodiefestivalen… como também um Natal lindo com muita luz; um povo louco pelo sol; gente que sabe valorizar pequenas coisas – como sair para caminhar mesmo que seja um dia de chuva; gente que gosta de ficar junto e ter uma noite “mysigt” (sem loucuras, só para curtir mesmo). Já para a primeira e segunda questão eu não tenho resposta… tudo muda, o tempo todo; tem dias que eu amo de paixão, tem dias que eu odeio com toda a minha razão!

E vocês? Qual a sua imagem da Suécia? O que mudou depois de mudar (quem mora aqui…)?

A máquina devoradora de meias

Papel de parede. Fonte: Google.

Acabei de lavar roupas e após separar as meias descobri, de novo, que um par ficou solteiro. Não que isso aconteça a cada vez que eu lavo roupa, mas eu me lembro de apenas uma vez em que isso não tenha acontecido.

Daí rola um mistério: quando é que a meia perdeu o par? A caminho do cesto de roupa suja? A caminho da lavanderia? Ou dentro das máquinas devoradoras de meias?

Sim, meus caros leitores, isso é uma bar-ba-ri-da-de. Se tivesse um vídeo, eu pediria um close especial na meia que ficou sem par e que agora será marginalizada – a menos que seja preta e eu encontre em alguma gaveta uma outra preta “solteira” que vai ganhar um par um pouco mais curto ou um pouco mais velho apenas porque preto é preto, é básico e vai com tudo; e a meia do close diria com a voz trêmula e os olhos muito assustados que vive com medo por não saber quem será a próxima vítima.

Antes de mudar para a Suécia eu li um post engraçadíssimo de uma Paola (perdi o endereço do link há algum tempo) que relatava poucas e boas a respeito das lavanderias coletivas suecas. Pra quem caiu de paraquedas e não ta entendendo nada do que eu to falando vou deixar uma breve explicação: os apartamentos suecos são pequenos e, em sua maioria, não contam com uma lavanderia; ou seja, não tem tanque e nem máquinas de lavar individuais (alguns apartamentos contam com essa vantagem agora mas eu não sei se é realmente uma vantagem porque a lavanderia está dentro do banheiro… e ainda sem tanque) e  por causa disso cada conjunto de apartamentos tem uma lavanderia coletiva.

Para ter acesso a tvättstuga (como é chamada) o morador recebe uma chave especial semelhante a um cartão (cada lavanderia tem sua própria chave, mas a essência do sistema é o mesmo) e com ela tem acesso aos quadros de horários da lavanderia. Aqui onde eu moro a tvättstuga funciona 24 horas, assim há 8 passes diários para cada quarto, sendo que há 4 quartos com máquina de lavar e secadores. Eu vou lá, marco um passe (que sempre tem duração de três horas) e durante o período do passe apenas eu tenho acesso ao quarto que eu aluguei.

A questão é que ao final do prazo das três horas o seu cartão não vai mais abrir o quarto porque seu passe acabou e começou o passe de alguma outra pessoa (a menos que você tenha reservado dois passes consecutivos): as máquinas param de funcionar e qualquer ação em andamento é interrompida. De acordo com o texto da Paola os suecos ficavam furiosos quando alguém estava “a meio do caminho” no momento em que o passe deles iria começar… e eu estava preparada para enfrentar a cara feia dos possíveis suecos enfurecidos porque a estrangeira atrapalhada não se organizou para lavar as roupas durante o tempo especificado; para correr contra o tempo e lavar roupas em apenas três horas (achava isso pouco tempo) mas não estava preparada para perder pares e mais pares de meia.

Até algumas calcinhas sumiram (mas foram apenas duas) o que indica que o estômago dessas feras é pequeno. Parece bobo mas eu compro meias a cada mês – no mínimo cinco pares! – e hoje após a volta da stuga me dei conta que tenho só 6 pares sobrando… e lá vou eu de novo comprar mais meias que serão devoradas pelas máquinas de lavar.

Por que as meias nunca voltam aos pares de uma tvättstuga?

Há dias assim

Eu sou uma pessoa muito besta de coração mole. Talvez a afirmação soe um tanto quanto idiota quando em uma grande parte dos posts aqui do blog eu pareço mais uma velha ranzinza e mal humorada. Mas tudo vai da forma como a gente lê… muitas vezes as palavras deitadas “no papel” não podem transmitir aquilo que realmente sentimos, somente uma impressão.

Sim, mas eu tava falando do meu coração mole e do quanto eu sou doce (durante uns milésimos de segundo) e o papo chegou até aqui por causa do meu trabalho: quando eu comecei a trabalhar como assistente pessoal um dos coordenadores perguntou para mim o que eu achava mais difícil e eu respondi muito rápido que era discutir com o sujeito que eu cuido, o Zé. Ele me disse que “assistente pessoal não tem que ser amigo, tem que ser profissional. Nós estamos muito perto do usuário, é uma proximidade que não é habitual (no caso da cultura sueca) e por isso é fácil confundir essa proximidade com uma amizade”.

Tenho que admitir que fiquei um pouco chocada, não pelo que ele tinha dito mas porque eu não queria dar a impressão de que é penoso argumentar com o usuário, ainda que para mim seja, devido a essa questão da “proximidade” no trabalho. O que eu pensava quando tivemos essa conversa era que meu sueco era tão pobre que era difícil argumentar com o cidadão quando eu precisava dizer não diante de uma coisa que ele queria fazer e que seria perigosa para ele; mas a verdade é que existe o outro lado também.

Você está ao lado do usuário – que é também o seu patrão – em situações tão bizarras e íntimas que às vezes nem pessoas que tem uma relação muito próxima – como por exemplo um casamento ou mesmo irmãos – viveram juntos. É simplesmente um desafio gigantesco estar tão perto de alguém – duas, três vezes na semana – e simplesmente ser profissional. Ao menos para mim; eu ainda não aprendi a fazer isso.

Eu penso que essa coisa entre o assistente pessoal e o usuário seja mais ou menos como uma relação entre mãe e filhos, ao menos para as pessoas de coração mole como o meu. Subimos seis lances de escadas carregando o Zé, eu e mais um assistente, para ele descer os tobogãs de um clube. Cada vez que estivemos a caminho eu ficava rezando para Deus mandar um anjo colocar cola na minhas mãos e não deixar o Zé – molhado – escorregar. Depois dos primeiros lances de escada a minha oração já era para a escada se tornasse rolante, e de preferência, com super velocidade para cima, pois os meu braços começavam a tremer… mas assim que sentávamos o cidadão no topo do tobogã e ele começava a gritar de entusiasmo, tudo sumia: a preocupação de ele escorregar das mãos, a sensação de que meus braços iam cair do corpo, a quase irritação por não ter um elevador para o tal tobogã (imagine se tivesse como seria difícil para o pessoal do clube domar a criançada), os seis lances de escada…

Sei lá quantas dez vezes subimos aquelas escadas, às vezes rumo a outro tobogã dois lances de escada acima, com as crianças impacientes querendo passar na frente do tiozinho que tava sendo carregado. Suei, tremi, quase pedi pinico, meus braços tão super cansados hoje mas o que eu sinto é uma imensa satisfação devido aqueles míseros gritos de felicidade que rolavam em alguns segundos.

Não penso que eu e o Zé sejamos amigos, mas o tipo de relação entre assistente pessoal e usuário está – ao menos para mim – bem longe de ser puramente profissional. A pessoa para qual trabalhamos não é apenas um chefe, é especial por motivos além do óbvio da deficiência que carrega. E a proximidade a que o assistente está submetido, o usuário e a família dele também estão. Acabamos por ser mexidos e por mexer, só e simplesmente porque há dias que são assim… daquele jeito que a vida de qualquer um é.

***

Quero deixar como indicação um filme muito interessante que mostra um pouco o que é ser assistente pessoal e que assisti na semana passada. A produção é francesa e é mais ou menos assim o meu trabalho, com exceção que na França só tem assistência pessoal quem pode pagar por ela e que aqui na Suécia ela é para todo cidadão sueco que precise.

Trailer do filme em português aqui.

Dicas para estudar sueco

Meu computador anda meio lento, meio preguiçoso demais – como a dona – tanto, que até me dá preguiça de pensar escrever no blog por causa da demora para iniciar esse trem aqui. Depois que iniciou vai embora mas eu to pensando seriamente se já não chegou a hora de trocar o bichinho por um Mac, por exemplo (=D). Pena que vontade não dá para trocar por koroas e, por enquanto, é só a vontade que eu to dispondo… enquanto ligar e desligar vamos de Acer mesmo.

Nos últimos tempos tenho recebido bastante e-mails dos leitores do blog e acho isso bem legal. Infelizmente (ou felizmente) eu não faço mais login no msn há décadas, nem tenho tempo de ficar no chat e por isso não aceito solicitação de contato lá. Em contrapartida já deixei alguns recadinhos em posts que e-mails são sempre bem vindos – principalmente se você é uma pessoa paciente e não fica grilada de receber resposta só depois de uns dias.

Como eu recebi e-mails de pessoas me perguntado por dicas de como estudar sueco eu vou deixar umas idéias aqui. Primeiro, acho que estudar sueco no Brasil é meio complicadinho, sei que existem escolas de sueco em Sampa e em POA mas nunca ouvi falar de outras cidades que tenham algum tipo de curso presencial. Se você não é morador nem de lá e nem de cá fica difícil encontrar algum curso que não seja online ou a distância, então a primeira dica é pesquisar um curso que se adéqua ao seu tempo, bolso e expetativas. Parece meio bobo isso mas é sério: qualquer investimento (estudar uma língua é um investimento) precisa de dedicação e de um plano e quanto você está disposto a pagar e o que está disposto a fazer para alcançar o objetivo são questões importantes.

Se alguém tem interesse em comprar um curso de sueco a distância a minha indicação é que compre o da Folkuniversitetet ou o Rosetta Stone. O primeiro porque é de uma instituição sueca bem conhecida e porque eu conheço gente que fez e disse que é muito bom – mas o material é em inglês. É só entrar na página deles, pesquisar um pouquinho e solicitar o material – que será enviado para sua casa. O Rosetta Stone é um programa e por causa da sua facilidade de instalação e uso é que eu to indicando também – além do que conheço gente que pagou e também achou muito bom. Não tô por dentro dos preços, mas isso não é problema, só perguntar ao Google que ele responde!

Se você está guardando a grana para a mudança ou não quer arriscar pagar por uma coisa que você não sabe se vai “virar” pode recorrer ao LiveMocha. Eu fui usuária do LiveMocha e acho que a ideia do site é muito inteligente, o problema é que às vezes ficava no vácuo e ninguém me respondia dúvidas ou os exercícios. Bom, mas o programa é gratuito e isso é uma vantagem. Além disso, penso que enquanto se está no Brasil é mais difícil aprender a formular frases e manter uma conversação devido a falta de alguém com quem praticar, daí já é uma boa se você aprende palavras e no LiveMocha você pode realmente aprender muitas palavras contando, inclusive, com áudio e com a definição “en” ou “et” no início (de alguns) dos substantivos no site. Mas eu não entro lá há décadas… se alguém por aqui tem visitado o site seria legal deixar nos coments como é que vai o status do sistema atual.

Se quiser tentar a sorte sozinho também há opções:  baixar filmes e ou seriados suecos, assistir vídeos suecos no You Tube, ouvir a rádio sueca online. Eu ouvia rádio sueca todo dia, às vezes no trabalho (o povo achava muito estranho. E era estranho.) ou em casa um cadinho antes de dormir. Antes de vir para a Suécia eu só podia entender o “oi, tchau, e aí?” na rádio. Desanimador? Não. Penso que a língua sueca tem uma melodia (a tal das vogais curtas e longas) e eu consegui aprender a melodia ainda no Brasil ouvindo rádio: sem entender as palavras eu compreendi que algumas delas eram mais “puxadas” do que as outras. Quando cheguei aqui não foi difícil “entrar no clima”.

Eu também tinha uma caderneta, essas miudinhas de 50 folhas, e com a ajuda do Joel enchi ela de verbos, da seguinte forma: em uma linha escrevia o verbo base, na seguinte o verbo no presente e por último o verbo no passado (simples, não o perfeito pois este eu nem tinha ideia ainda!). Como os verbos suecos não mudam de acordo com o sujeito eu não precisava me preocupar com isso e não escrevi ao lado do verbo nenhum sujeito. Para conjugar o verbo no futuro se usa o verbo base mais “ska” ou “kommer att“, então eu também não escrevia nada disso. Fiz isso desde a primeira folha até a última apenas do lado direito da caderneta. No lado esquerdo eu escrevia o significado do verbo em português, de forma que eu tinha que virar a página para lembrar o significado quando eu me confundia ou esquecia. No meu tempo livre pegava a caderneta da bolsa e ficava decorando os verbos. Antes de eu mudar para cá o Joel passou um tempo comigo no Brasil e durante esse período eu pedia para ele dizer os verbos de forma clara; então eu anotava a lápis do lado o que parecia para mim (como se fosse uma tradução para português), por exemplo: o verbo prata em sueco soa como pró-óta. Com alguns verbos funciona.

Como falei acima, acho legal usar o tempo no Brasil para aprender palavras apenas: decore o nome das peças do vestuário, das frutas, das cores, dos móveis, de objetos do dia-a-dia, de coisas que você encontra no supermercado (desde carne, óleo, farinha, leite… até sabão, vassoura, coisas de limpeza). Aprenda a ler e escrever isso. Quando chegar aqui vai começar a ouvir as pessoas falando e entender uma coisa ali, outra aqui, vai perceber que a tal da paprika (pimentão) soa exatamente como se escreve e o que diabos é esse tal de miolki? Bom… é quase assim que soa leite (mjölk).

Pra quem já chegou, use e abuse da TV, enfie as cara nos livros e quando começar a ficar paranóico por causa de en e et ou qualquer dessas coisinhas que não tem regra nem explicação clara saia para dar uma volta, preste atenção nas conversas do ônibus, do trem, no parque, qualquer lugar. Também é legal comprar um livro de exercícios (eu tinha vários, um dos que mais gostei  … esqueci o nome mas deixo depois aqui mesmo! ou nos coments) e visitar a família do partner (se você mudou por causa de um), eles vão adorar te ajudar.

Por hoje é só!