Essa coisa de choque cultural…

Ontem apareci no blog “Minha Aquarela” da Cíntia lá de Stockholm. A Cíntia deu um pulinho aqui em Göteborg e para minha alegria eu estava de folga aquele fim de semana – é, quem muda para a Europa fica rico de tanto trabalhar no final de semana: não pode festar e nem tomar cerveja, daí além de ganhar os pilas do dia trabalhado economiza todo o dinheiro que iria para alguma festa – e pude encontrar com ela e tagarelar por uma meia hora lá na Central Estação. Foi bem legal mas como a cabeça de vento aqui nunca tem a máquina fotográfica junto (alguém reparou que esse blog quase não tem fotografias?) esperei a Cíntia contar do nosso encontro que afinal, foi ela que registrou. Dê uma passadinha aqui quem quiser saber todo os detalhes a respeito da incrível experiência de encontrar uma caipira no exterior!

Quem já conhecia o blog Minha Aquarela – e talvez acompanhe por algum tempo – tenha lido esse post aqui quando a Cíntia conta um pouco a respeito de como os suecos encaram ficar doente. Eu percebo essa questão da seguinte maneira: primeiro que se você ficou doente (na Suécia é melhor que) fique em casa; e, segundo, espere para tomar remédios e não corra atrás de médicos, deixe seu corpo aprender a reagir.

Eu até concordo com a última, mas a primeira me dá nos nervos! Não porque eu possa ficar em casa para descansar, acho que seria legal ter essa possibilidade no Brasil também (não se sente bem, ligue e avise dizendo que está passando mal). Acho importante sublinhar que esse dia de “descanso” não é pago e que faltar ao trabalho dias a fio sem atestado médico significa olho da rua tanto quanto no Brasil. O que me incomoda com relação ao “fique em casa” é que suecos tem um medo tão absurdo de contágio que nem chegam perto de pessoas doentes.

Seja fruto de séculos sobrevivendo a mais incontáveis pestes, seja somente uma questão cultural, isso me choca bastante. Eu consigo entender a lógica da situação, a racionalidade do costume e os efeitos positivos que um comportamento como esse traz para a sociedade. Por exemplo: descobri que uma pessoa com suspeita de rubéola na Suécia deve ligar para o posto de saúde antes de se dirigir para lá porque se houverem mulheres grávidas no local elas serão deslocadas para um quarto seguro de forma a evitar o contato com o possível cidadão contaminado pelo vírus; pessoas com suspeita de terem contraído o HIV ou AIDS devem deixar uma lista dos nomes dos parceiros e os mesmos serão intimados judicialmente a comparecer em posto de saúde para exames. Mas quando o caso é menos complexo me dá… uma coisa esquisita, é como se fosse uma maneira de exclusão, fracos e doentes ficam a margem enquanto os saudáveis continuam na dança…

Talvez isso seja fruto de uma educação de cunho religioso, aquela coisa de ajudar e acolher os doentes e por causa disso eu ache que é meio esquisito ficar sozinho em casa (sim, é preciso relembrar que a maioria dos suecos moram sozinhos) doente, com febre e sofrendo. Eu não tou dizendo que eu daria uma de São Francisco – que lavava os leprosos com água de bacia e ao final do rito tomava a tal da água – porque eu também me incomodo ao ter um estranho tossindo as tripas na minha direção ou espirrando até os pelos do nariz fora, mas o povo aqui tem o costume de nem ver os parentes – nem mesmo a mãe – para não contagiar outras pessoas.

E eu penso na minha mãe, que hoje tá de aniversário (eu te amo mãe, espero que você tenha tido um dia super especial) e que fazia meu pai ir buscar a gente para ficar de molho em “casa” – na casa deles. E tomar suco de cenoura e aquela gororoba de beterraba e açúcar mascavo – eu odiava isso! Mas era tão bom! – e então todo mundo ficava fazendo ares de enfermeiro em casa, um irmão querendo cuidar mais do outro, e brigando para roubar a atenção, aquele retetê todo…  e se todo mundo ficasse doente, que ficasse!

Claro que nem toda a família se entende, e que nem todo amigo é tão ligado no outro a ponto de querer fazer companhia para uma pessoa ranhenta.  Mas ainda acho estranho pacas ficar doente e sozinho.

Essa coisa de choque cultural…

5 comentários sobre “Essa coisa de choque cultural…

  1. Maria! Eu entendo sua forma de pensar mas olha, neste momento em que escrevo, tenho uma colega doente sentada à minha beira… ela está doente mas não quer ficar em casa, tem o nariz entupido mas não quer assoar-se… e então passa o santo dia a fazer os ruídos mais nojentos com o nariz, tipo a aspirar aquele ranho todo! São 8 horas sentada à beira desta criatura (e não, não vale a pena oferecer lenço porque ela acha que não precisa…). Já não é a primeira vez que isto acontece… Já falei com ela e com a minha chefe sem êxito… A minha sorte é que o nojo não mata :) Beijo

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  2. Agora eu fiquei surpreso. Dá medo só de pensar eu em casa sozinho e doente.
    E eu fiquei pensando no que você falou a respeito sa sua criação religiosa, acabei enxergando vantagem nela (ou não[?]). Eu que não sou muito religioso, ainda sim tenho os valores do cristianismo/catolicismo imbutido no meu subconciênte, pois pra mim isolar doentes é pecado! KKK
    Tomare que você não fique doente ai, ou que o seu marido adquira alguns costumes brasileiros. KKK

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  3. Oi MAria. Obrigada pela citação. Adorei de encontar e fiquei P comigo mesma de ter pego o transfer mais cedo do que o necessário. Espero ter outra oportunidade para conversarmos e rirmos muito. Sobre o que você diz, acho sua raiz muito harmoniosa, com comportamentos familiares que refazem o sentido de união. Mas em tempos de Suécia, eu percebi que essa coisa de ficar em lugar fechado é um antro para os virus nos contaminar… como já fiquei bem doente aqui (e sozinha), hoje em dia eu corro de gente que espirra! Sério mesmo… achava os suecos exagerados, mas me contaminei. Morro de medo de ficar doente e pior, passar prá Bia! :( Bj

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  4. Olá gente!

    Joana!!
    Fiquei pasma: essa criatura é sueca? Céus, os amigos suecos que tenho não chegam dois metros longe quando estão gripados; dão um sorriso amarelo enquanto vão dizendo: desculpa, eu to gripado/a, vou ficar de longe para não te contaminar… Hahahaha! Som ranhentos o dia todo? Ainda bem mesmo que nojo não mata!

    *****
    Oi Lucian,
    Legal que você não desistiu de comentar! Hahaha… aqui em casa já botei ordem que não tem essa de ficar de cama sozinho! Brincadeira… acho que acabo enchendo tanto as orelhas do Joel quando ele fica gripado que ele chega a ter saudade dos tempos que ele podia ficar sozinho em casa “curtindo” uma febre… mas nada como um pouco de brasileirice para ajeitar as coisas: duvido que ele consiga fazer isso de novo! No fundo, no fundo todos nós guardamos um pouco de Madre Teresa… =P

    *****
    Cintia,
    Pois é, já deixei um coments lá no seu blog também sobre nosso encontro, achei um sarro ser comparada a Rosinha! Hehehe, faz sentido né, na caipirice… Sobre a questão de um monte de gente em lugar fechado respirar os mesmos vírus e tralalá eu to contigo e penso que a lógica da coisa é boa… só não entendo porque não procuram nem a mãe! Por fim, eu sei que é diferente quando tem crianças e idosos na jogada: na minha família, a mormor tem mais de 80 e é terminantemente proibido alguém doente chegar perto dela! Eu concordo, temos que proteger os que nos são caros…

    Beijitos povo!

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Agora vamos prosear!

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