Oilá! Não tenho certeza se já contei essa história por aqui, mas, sinceramente? Fiquei com preguiça de pesquisar se eu realmente tinha feito isso… então vamos lá – e se preparem que o trem é comprido!
Há dias da minha vida que parecem ser retirados de um livro e, como não podia deixar de ser, a minha visita a São Paulo quando eu precisei fazer a entrevista solicitando o visto foi uma verdadeira saga. Naquele tempo (ui! parece um século e não dois anos) o processo de solicitação de visto não era online mas mesmo assim o primeiro passo foi entrar na página da Embaixada da Suécia no Brasil e ler a sessão sobre vistos; ler e reler a relação de documentos necessários e em seguida, ligar para o consulado em Sampa para tirar as últimas dúvidas e marcar o dia da entrevista.
Ainda depois de acertar o dia da entrevista liguei e conversei com o pessoal de lá várias vezes por causa das dúvidas que vão surgindo quando a gente junta a documentação – por mais bobas que elas fossem – e sempre fui bem “respondida” (até por e-mails). Algumas pessoas que chegam ao blog me escrevem pedindo para elucidar dúvidas sobre o processo de solicitação de visto e em alguns casos eu posso ajudar, mas eu gosto de afirmar que se vocês quiserem encurtar o caminho liguem ou escrevam um e-mail para o consulado mais próximo ou a embaixada: além de ter a resposta certa, eles são bem rapidinhos em responder!
Eu iria para São Paulo pela primeira vez na vida e tava morrendo de preocupação afinal, a gente só vê problemas e problemas na televisão e notícias ruins sobre a cidade mas ao mesmo tempo fiquei de boa porque eu passaria só um dia na cidade, o que poderia sair errado? Cheguei as seis e meia na Estação Barra Funda e liguei para os meus pais dizendo que cheguei (a gente sempre fez isso, fosse para 10km longe, mandava um sms ou sinal de vida) e que a viagem de 15 horas nem tinha sido tão cansativa ao final – mentira. Não me pareceu muito medonho estar em um terminal rodoviário – tudo bem que eu nunca tinha visto tanta gente correndo em todas as direções na minha vida e que parecia que as pessoas simplesmente brotavam do chão, porque… Achei melhor entrar num banheiro e jogar uma água na cara pra acordar.
Eu tinha levado um kit de sobrevivência como se fosse passar a noite em um hotel – apesar que a ida e volta foram a noite no busão – pois o plano era ficar em Sampa apenas um dia mas vai saber né? Fora de casa é bom estar prevenido. Eu estava de frente para a pia do banheiro ao lado da faxineira que pegava água em um balde quando a torneira estourou e me deixou molhada desde o peito até as canelas. A faxineira entrou em pânico, me pedindo mil desculpas, que não era intenção, que ela não entendia o que tinha acontecido. E eu tinha virado pedra! Olhei para o chão cheio de água e dei graças a Deus que a água não tinha pego a minha mala com toda a documentação que eu tinha que entregar nas mãos do cônsul pela ocasião da entrevista… Respirei fundo e comecei a acalmar a mulher com aquele papo acidentes acontecem, não tem problema, eu tenho roupa extra, vai ver o encanamento é velho e tals.
Eu não tinha calças extras e o tempo estava nublado, meio chato. Não era frio, e depois de ter usado 900 papel toalha e duas toalhas de pano a minha calça estava vestível, grudando um pouco mas com sorte ia secar até as 14h, horário da entrevista. Eu ficava pensando: se o objetivo da entrevista é causar uma boa impressão to meio que lascada… chegar lá com cara de mal dormida e fedendo a cachorro molhado… vou dar uma caminhada, ver se me seco e me acalmo. Perdi a coragem assim que ia saindo do terminal: quase não tem calçada por ali e pra falar a verdade, não há nada próximo ao terminal para ver. Nem um cafézinho esperto ou o quê.
Voltei, sentei num banco perto de um botequinho de sucos dentro da estação e fiquei lendo um livro. Lá pelas nove da manhã eu pensei que seria bom me por em marcha se eu queria estar em tempo e encontrar com calma o prédio do consulado. Eu tinha impresso números e nomes de quais ônibus deveria pegar para chegar ao Consulado (com saída da Barra Funda, onde cheguei) e de trem (que depois mudava para ônibus e mais um trecho a pé) mas quando cheguei lá desisti: nunca tinha visto tanta gente se acotovelando por um espaço dentro de um transporte público; tanto que as portas quase não fechavam. Eu pensei: tá cedo, mais tarde melhora…
Comprei uma viagem de táxi as 10h e sai. O taxista era legal e não sei se ele ficou com dó de mim – pois imagina meu tipo depois de um banho involuntário – e deu uma de guia turístico, desse lado de cá fica não sei o quê e do lado de lá as empresas tal… e a gente nunca chegava e ele admitiu que estava perdido (mesmo com GPS). Como eu tinha pago a viagem no terminal paguei uma tarifa padrão pelo destino, então fiquei relax. Ele se desculpando que o consulado dos EUA ele sabia de cor porque era tanta gente que ia para lá todo dia e blá blá blá… Por fim ele se achou e me deixou na porta do tal lugar, tipo 11h30.
Subi para o escritório do consulado e uma mocinha muito simpática veio conferir a documentação. Ela disse que eles iam fechar as 12h para almoço até as 13h mas que eu podia deixar os papéis com ela. Fiquei feliz… até ela me olhar e dizer: Cadê sua certidão de solteira? E eu… Ela falou: pode ser a certidão de nascimento original, você não trouxe? E eu não tinha levado! Fiquei meio baqueada, tentando me lembrar porque eu tinha deixado o RN de fora… Daí ela me orientou que perto do consulado havia um cartório e que eu poderia ir até lá e fazer uma certidão de solteira.
Eu poderia comparecer a entrevista mesmo que estivesse em falta com alguns documentos, o problema era que o os documentos seguiam para Brasília apenas uma vez por semana e seria na quarta (e só depois é que seguiam para a Suécia – oh, burocracia!). Eu tinha pressa e saí atrás do dito Cartório, mas tomei a direção errada sem saber e depois de caminhar 20 minutos e de ouvir todo mundo dizer “Não sei onde fica moça” desisti. Pensei que ela tinha dito perto, mas vai saber o que é perto para um paulista? Sentei num barzinho e comi alguma coisa. Estava muito cansada por causa da viagem, do stress do banho surpresa e com o taxista perdido, depois a história da certidão de nascimento… Aff, quem merece?
No caminho eu tinha visto uma praça e decidi voltar lá para tentar ler pois tinha cerca de uma hora ainda. E qual não foi minha surpresa quando vi a placa do tal cartório? Peguei uma senha e quase mato a atendente porque ela insistia que não existe declaração de solteirx. E eu pá e corda, o pessoal do consulado me orientou e tals… e ela negando. Insisti tanto que ela ligou para um tal lá em outra sala (com ar condicionado) que aceitou falar comigo.
O cara me explicou que para fazer a declaração eu precisava de duas testemunhas. Murchei. Tentei dar um jeitinho e ele falando que não, que isso e que aquilo, depois chegou mais um cara que acho que ficou com dó de mim e disse que ia me ajudar. Pediu meus documentos e R$250. oO! Eu… ainda perguntei se ele aceitava cartão (porque claro que eu não ia andar com 200 paus na carteira) enquanto abria a bolsa para pegar meu passaporte. Ele disse que não a mesma hora que me dei conta que não achava meu passaporte. Comecei a chorar lá no cartório e o cara ficou me olhando e pedindo se podia ajudar. E eu só pensando no passaporte, onde eu podia ter deixado? Se eu tinha deixado no consulado? Perdido na rua? Na lanchonete em que eu tinha comido? Falei que não tinha dinheiro e sai pedindo desculpas.
Liguei para o Joel. Chorei, reclamei do mundo, disse que odiava São Paulo e torneiras velhas. O Joel é pró na arte de consolar alguém e mesmo pelo telefone ele conseguiu me fazer respirar e entender que eu tinha que ficar tranquila ou tudo ficaria pior. Ainda fui até o consulado olhando pelo caminho para ver se eu tinha deixado o passaporte cair pela estrada, naquela inocente esperança de que ninguém pegaria.
Cheguei para a entrevista um caco e para minha sorte o cônsul foi super bacana comigo. Disse que orientou a estagiária a sempre solicitar o Registro de Nascimento com negativa de “nada consta” (no livro de registro de casamentos) como certidão de solteiro porque aquele outro documento é muito caro e desnecessário. Mas meu passaporte não estava na embaixada. Eu fui até a DP mais próxima lá do consulado (depois da entrevista) e fiz o BO no mesmo dia – orientada pelo cônsul. Paguei uma multa a Polícia Federal por ter perdido o passaporte e tive de solicitar de novo… mas isso é outra história.
No final das contas o mais importante daquele dia – que era a entrevista – foi super bem. Ele só me pediu para contar a minha história com o Joel, do tempo em que estivemos juntos e de planos para o futuro. O cônsul afirmou na época que a Imigração Sueca normalmente travava os pedidos por falta de documentação e que a maioria dos vistos negados acontecia quando o parceiro sueco não se mostrava mais interessado em que o solicitante residisse na Suécia (no caso de visto de residência por laço familiar); que quando os solicitantes já eram casados o processo tendia a ser mais rápido mas que não estar casado com o partner suecx não correspondia a negação do visto. Tanto que não sou casada e estou aqui…
No fim, nós vivemos felizes… para sempre!