Todo dia ela faz tudo sempre igual…

…me sacode as seis horas da manhã,
me sorri um sorriso sensual e me beija com boca de maçã!
 

Eu gostaria muito que essa fosse a melodia da minha vida, ao menos de segunda a sexta – com exceção da parte das seis horas da manhã porque, convenhamos: com frio e chuva tem coisa melhor do que ficar na cama e dormir até cansar de ficar deitado?

Entrei numa rotina meio louca (de novo) porque vamos viajar e três semanas de Brasil significam três semanas sem ganhar dinheiro. Não fiquei mais capitalista depois que mudei e nem to pensando apenas em grana, mas como eu trabalho por hora recebo as férias antecipadas (ou não, eu decidi guardá-las para quando eu quiser sacar a grana, ou seja, para pagar as despesas do casório). Trabalhar por hora significa uma maior flexibilidade – eu posso sair agora sem perder o trampo e sem maiores problemas do que organizar minha agenda de forma que as pessoas com quem eu trabalho não fiquem na mão enquanto eu saio… mas eu não tenho “férias pagas”, aquela coisa que me foi tão natural nos meus 5 anos de prefeitura.

Eu não tenho saudade do meu trabalho na prefeitura, fico feliz pelo tempo que passei lá e por tudo que aprendi, mas trabalhar no governo brasileiro exige um estômago de avestruz, daqueles que digerem qualquer coisa como pedra, sapos, lagartos e merdas metida goela abaixo. E me acreditem, há muito o que ser engolido quando se é assistente social em início de carreira (em qualquer profissão em início de carreira há, eu acredito, mas não posso afirmar com segurança a não ser com relação a minha própria experiência). Mas enfim, sinto falta da rotina: acordar as tals horas e sair para o trabalho, terminar as x horas e voltar para casa tendo o fim de semana livre, isso é definitivamente uma coisinha que me faz pensar…

Por exemplo, na quinta trabalhei 5 horas em um trampo e 4 horas no outro (com intervalo de 3 horas entre cada), trabalhei 8 horas na sexta (isso é bom) mas 10 horas no sábado (começando as sete da manhã, o que significou acordar as 5 porque horário de ônibus e trem no fim de semana é diferenciado), e mais 8 horas no domingo (de novo começando as sete…). Hoje trabalho 4 horas (entre 16 e 20h30), amanhã 9 horas, na quarta seis horas e quinta… aff, cansei de explicar.

Todo esse papo deve fazer (ao menos) com que algumas pessoas tenham dó de mim e pensem puxa que confusão! Tadinha dela não? O blog dela é tão legal e ela é tão esforçada… Outras vão pensar que aff, isso não é nada: eu morava em São Paulo e pegava 6 ônibus diferentes para chegar ao trabalho, trabalhava como um cão o dia todo e tinha que pegar os mesmos 6 ônibus para voltar para casa, ganhando uma ninharia por mês…

Não quero que ninguém tenha dó de mim. Só penso que seja importante (sempre quero frisar isso no blog) que morar fora do Brasil significa ralar também. Ganhamos um bom salário? Sim. O transporte funciona melhor e é mais limpo e tranquilo? Sim. Vivemos com mais segurança? Ao menos em Göteborg, sim. Não sou uma mártir, definitivamente, e quem escolheu trabalhar fui eu, quem me candidatou a esse tipo de trabalho fui eu e é isso que eu faço todos os dias (inclusive sábado e domingo) quando eu não estou na escola ou sorrindo lá de uma linda fotinha tirada de Algero… caracas, isso foi em julho!

Recebo e-mails de gente que me pergunta como conseguir um emprego/trabalho na Suécia e eu não sei o que dizer, mas ter inglês fluente (ao menos) é um bom ponto de partida (afinal…). Preparar um bom CV, assim como você faria no Brasil. O que você faria para ter um bom trabalho no Brasil? Estudaria? Acho natural que as pessoas tenham o sonho de conhecer o mundo, mudar para os países que a gente assiste nas reportagens de tv e que tem uma sociedade tão distinta e interessante. Ganhar mais dinheiro (não há nenhum problema com isso) e viajar mais… mas, pelo menos no Brasil em que eu cresci isso não é assim tão impossível, a questão é aplicar energia no que você quer. Não é impossível conquistar um bom emprego no Brasil e desfrutar do dindim. A principal diferença é que no Brasil aprendemos a emprestar dinheiro primeiro (para a casa, o carro ou uma viagem), trabalhar e pagar depois. Aqui o povo aprende a trabalhar e guardar dinheiro (para a casa, o carro ou a viagem) e aproveitar o bem escolhido depois.

Eu tive que entrar nessa bonitinha também. Eu quero ir para o Brasil, muito bem, então eu tenho que saber quanto custa a passagem e quanto custa morar lá durante o tempo em que ficarei. Tenho que trabalhar, guardar o dindim para passagem, para a estadia no Brasil (mesmo ficando na casa dos pais…) e para o período pós Brasil, quando eu não vou ganhar salário porque eu não trabalhei 3 semanas. Se o meu trabalho é meio louco com horários esquisitos, tenho duas opções: melhorar meu CV para conseguir coisa melhor ou melhorar meu CV para conseguir coisa melhor. Estudar (melhorar o inglês e o sueco), adquirir experiência e boas referências.

Se você que tá lendo o post quer trabalhar na Suécia, na Europa ou simplesmente fora do Brasil, comece fazendo com que seu CV seja atraente. Seja um expert naquilo que você faz… Papo de palestra motivacional? Talvez! Mas sendo ou não a realidade é que esse é o primeiro passo para conseguir um trabalho em qualquer lugar, dentro ou fora do Brasil. E tenha um pé de meia.

Afinal, trabalho aqui é trabalho assim como em qualquer lugar do mundo. E acabou o meu recreio…

7 comentários sobre “Todo dia ela faz tudo sempre igual…

  1. Eu também, gosto de rotina, gosto de saber o que vai acontecer next! Mas eu entendo o seu sufoco em guardar dindin para o Brasil, tem que ralar mesmo e as coisas no Brasil não estão tão baratas, não… É tudo pela hora da morte.
    Esse post me fez lembrar o quanto meu CV é ruim, eu não sei fazer um CV atraente, eu acho que na verdade eu nunca tive assim empregos, atividades atraentes, é isso…Uma boa carta de apresentacão também é válido, aqui na Suécia eles sempre querem carata de apresentacão e foto!!!!

    Bjs e bom trabalho.

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  2. oi ! este fds fui para Itá SC, pensa num lugar legal. tinha piscinas naturais e thermas, a maior tirolesa da américa latina e arvorismo já fez? tirei fotos vou postar pra vc ver vou fazer um face. e olha mandei meu CV pra lá, para trabalhar com recreação e esportes da natureza…

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  3. Verdade Maria! Gostei muito do seu texto, como sempre, lógico. Os seus textos sempre tem uma dosagem de ironia, de graça. Nos instigam a continuar a leitura!! Adoro lê-los!

    “… trabalhar no governo brasileiro exige um estômago de avestruz, daqueles que digerem qualquer coisa como pedra, sapos, lagartos e merdas metida goela abaixo”, rsrsrs, realmente realmente!!

    Abraço e bom trabalho! Continue na peleia, que daqui uns tempos você sentirá muita saudade daí, isso quando estiver na Terra dos Tupiniquins, ops, digo Brasil.

    bye!

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  4. Maria, esses esforços vão render muito, sobretudo quando você estiver no Brasil a curtir os seus tratamentos de beleza!

    No meu trabalho anterior eu não tinha rotina… podia passar dias a fio sem trabalhar para depois trabalhar imenso… uma semana trabalhava muito cedo, na outra de tarde… isso é óptimo quando é temporário, porque passado um tempo cansa muito. Eu não tenho dó não :) Mas entendo o que é estar nessa situação.

    Quando é que você vai para o Brasil?

    Beijos!

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  5. Eu não sei muito bem como são os contratos de trabalho aí, mas sei que estou sofrendo muito com os daqui- Brasil. Tenho um pequeno negócio com 3 funcionários. Se o salário é X, para mim custa 2X, Fora equipamento, treinamento e outras coisas como festa de final de ano para as famílias. Dos 3, 2 fazem corpo mole, cada dia uma desculpa, chegam atrasado, inventam doença e pegam atestado no posto duas vezes por mês porque tavam com dor: de dente, de ouvido, unha encravada, estas coisas. Todos tem smartphone, melhor que o meu e mais caro que o salário deles. E este é o pensamento dos jovens da classe C que estão entrando no mercado de trabalho. Ah e aqui ninguém se demite. Faz de tudo para ser demitido. Imagina perder um mês de aviso previo, multa de FGTS, seguro desemprego? e tudo pago por quem? A pobre da micro empresária que deve até as calças.

    ai me desculpe o desabafo, mas a legislação trabalhista deste país é ridicula. Meu sonho é um funcionário que ganhe por hora.

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  6. Oi pessoas! Demorei mas cheguei!!

    Oi Deby!
    O “bom” (mau, eu acho na verdade) é que o real desvalorizou em relação a coroa (coisa de 3,30 coroas por real agora e já esteve a mais de 4 coroas por um real!) e isso ajuda um pouquinho… mas o melhor mesmo é guardar dinheiro para não ficar na mão depois. Bem lembrado sobre a carta de apresentação, aqui é praticamente mais importante a carta do que o currículo em si – no que se refere a mostrar quem você é.

    *****
    Oi Gio!!!
    Irmããã!! Tomara que dê certo, e eu quero ver as fotos de lá! Eu falei com a mãe e ela disse que vocês estavam lá no fim de semana. Falando em fim de semana, tem noção que agora é apenas uma semana antes de eu voar para ai? Céusssss que saudade… essa semana vi uma pessoa no ônibus de costas que era igual você (e uma cópia da Raquel e outra do Nelson)…. vai saber se não é meu cérebro me enganando? hahahaha

    *****
    Gio(vani),
    To morrendo de saudade das terra tupiniquins… e mais ainda da minha família. Sei lá a gente (eu) tenho um sentimento constante de que tem alguma coisa faltando… mas é bom porque se transforma em uma motivação a mais para trabalhar, lutar por uma coisa gostosa como visitar a minha gente. Muito obrigada pelos elogios, tem dias que eu to assim, “arretada”, daí sai coisa que presta!

    *****
    Joana!!!
    Adivinha o que eu tô ouvindo? hahahaha! Eu já avisei a minha amiga do salão que eu vou lá visitar ela, e também vou ao dentista e à dermatologista. Agora eu tenho uma novidade (que vou contar no próximo post) que vai mudar a minha vida – com relação ao trabalho… Não, eu não estou grávida… hehehe!

    *****
    Ana Beh,

    Eu nunca tive uma empresa mas acho que tem que mandar para a rua funcionário com preguiça. Gente para trabalhar não falta aí no Brasil não é mesmo? Ah, e bem vinda ao blog!! Pode desabafar, eu sei como é, a família da minha irmã tem uma pequena empresa também… mas aqui na Suécia não é muito diferente para quem tem uma empresa (a Suécia tem uma taxa de impostos semelhante à brasileira) e o empregador também tem que tirar do bolso o equivalente ao dobro do salário do funcionário… independente se o mesmo trabalha por hora ou não. Acho apenas que aqui existem contrato de trabalho mais flexíveis, mas isso não muda em nada o quanto o empregador deve pagar em impostos, muito menos quanto o funcionário deve contribuir (cerca de 30-35% se você tem um salário normal, até 50% se você é um cara super bonado).

    Beijossssss!!!

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  7. Pingback: Enfim, o tão esperado emprego | Uma Caipira na Suécia

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