Pequenas Grandes Coisas da Minha Vida Sueca #24

Hoje o sol deu as caras por pelo menos umas duas horas quando eu estava no outro lado da cidade, aquele que os jornais dizem ser o mais ensolarado – no que eu quase acredito. E me deu uma sensação incrível de felicidade ver o céu azul, com o sol quase despontando por trás das nuvens de frio que pairavam no horizonte… Céus! Há quase duas semanas eu não via nem o céu azul e tampouco o sol!

Fiquei sorrindo comigo mesma e pensando que a vida é boa – ao menos para mim é – tudo isso e eu simplesmente estava saindo do emprego a caminho da escola…  sabem o quê? Apesar de achar uma breguice e pura baboseira a filosofia Pollyana de ser, há dias que eu entro nessa sem pensar: eu sou feliz porque tenho um trabalho, sou feliz porque tenho roupas quentes, sou feliz porque eu vi o sol depois de uma semana, sou feliz porque a minha cidade fica a beira mar (que eu não possa aproveitar as praias é outra história), sou feliz porque vou a escola…

Falando da escola, acho que a professora também ficou feliz de me ver, me chamou para ter uma conversa e para me lembrar que estou atrasada com meus trabalhos. Aff, eu já sabia! Eu poderia ter entregue todos os quatro textos que eu deveria ter feito – um antes de sair para o Brasil), dois no Brasil e um essa semana; ontem. Mas como eu também gosto de, além de ser Pollyana, dar uma de João sem braço, eu coloco (sem remorsos) toda a culpa no meu computador: esse mesmo que estou utilizando agora, ficou manhoso e não quer me ajudar quando escrevo sueco.

Falando no bendito, ainda penso que não tenho a menor idéia se aquilo que escrevo está certo ou errado, mas senti um salto enorme na minha capacidade de compreensão, tanto que praticamente li dois livros em sueco duranta a úlitma semana: En herrgårdssägen (A história de uma mansão – em tradução bem livre) de Selma Lagerlöf e Doktor Glas (Doutor Glas) de Hjälmar Söderberg; o primeiro com 110 páginas e o último com 150. Os dois escritores são nascidos no século XIX e a narrativa é em sueco “velho”, um pouco difícil de entender no início mas não tão diferente assim do sueco atual. Gostei das duas histórias, acho que depois do sofrimento de ler “Simon och Ekarna” finalmente encontrei prazer na literatura sueca. Certo é que quase terminei Hundraåringen som klev ut genom fönstret och forsvann (O homen de cem anos que pulou uma janela e sumiu), mas foi difícil entender algumas das muitas piadas do autor mesmo após rele-las  (o livro é extremamente divertido, ainda assim, mas é preciso saber alguma coisa de história mundial do século XX também, senão a pessoa fica perdidinha!).  Selma Lagerlöf é uma escritora de grande renome na Suécia, a primeira cidadã sueca a ganhar um Nobel em literatura no ano de 1909, a primeira mulher a fazer parte da Svenska Akademi – uma organização do mesmo caráter da nossa Academia Brasileira de Letras, mas na Suécia. O estilo dela me intrigou, quero ler outros livros dela. Ah, e o Doktor Glas é uma história de um médico que mata um paciente…

(A principal diferença entre o sueco velho e o atual – além de que as palavras que caem em desuso estão fortemente presentes no corpo do texto – é que no sueco velho os verbos conjugados na terceira pessoa do plural [de] quando no passado recebiam uma forma variada, por exemplo vi var, de voro [nós éramos, eles eram]. Atualmente, não há distinção.)

Estou com os papéis prontos para dar entrada no meu processo de permanência na Suécia; em janeiro meu visto acaba… dá para acreditar?  18 de janeiro minha permissão de morar na Suécia acaba e oficialmente o processamento desse pedido de permanência pode demorar até seis meses – bah, que saco, estou entrando nessa outra vez… Em 13 de dezembro completo 20 meses de Suécia mas sinto como se vivesse aqui há muito, muito mais tempo.

Definitivamente, eu quero ficar.