Livros que te quero lidos

Livros - Ilustração Ziraldo.

Livros – Ilustração Ziraldo.

Sempre gostei de ler e lia de tudo. Ler foi quase que uma compulsão para mim – menos durante o tempo de faculdade quando ficava cansada de tanto ler para não entender nada ou, pior, entender tudo errado e tirar 3 nas provas. Nunca me dei tão mal com interpretação de texto como no tempo de faculdade. Páh! Jurei que nunca mais ia ler livros em que o autor usa de linguagem acadêmica… lasquei-me, estou lendo um livro de linguagem acadêmica em sueco.

Estou no meio (de novo) de uma brincadeira entre blogueiras. Na verdade, duas: a Nara (Moda Escandinava) me passou faz uma cara a peteca para escolher os 11 livros que amei ler, e a Joana (Boneca de Neve) me passou semana passada a missão de falar de dois livros que quero muito ler e de dois que adorei ter lido o ano passado. Aproveitei o ensejo e vou juntar esses desafios literários de uma vez só!

Vou embaralhar as coisas um pouco. 2011 e 2012 foram anos de vacas magras no que se refere a leitura para mim que era viciada em ler livros: tive que deixar isso de lado para aprender sueco. Ainda assim baixava algumas coisinhas da internet e me sentia super rebelde como que lendo as escondidas… infelizmente, nessa época não encontrei nada que valesse a pena menção… Mas então, em 2012 comecei a ler livros em sueco e apesar de não ser tão legal como quando leio em português, escolhi um deles para posar entre os melhores de 2012:

Doktor Glas de Hjalmar Söderberg – Um thriller em que o médico mata o paciente ao apaixonar-se pela esposa dele. Antes de me xingar, não, eu não contei toda a história do livro que tem apenas cento e poucas páginas, está escrito em sueco velho mas foi mesmo delicioso de ler… vocês nem sabem se ele é preso ou não, como ele mata o cara e se ele fica com a garota no final, ou se eles já tinham um affair escandalosamente escaldante lá pelo meio da história…

O segundo livro que mais gostei de ler em 2012 entra na lista dos meus 11 livros preferidos de todo o sempre (Paula). Nara, que coisa mais difícil viu? Precisei dar um nó na minha cabeça mas vamos lá:

1. Paula de Isabel Allende – Quem nunca leu Isabel Allende não sabe o que está perdendo e por isso eu preciso dizer: gente leiam ela! Essa mulher é fantástica! Em “Paula” ela escreve sua biografia enquanto a filha está em coma profundo no hospital.

2. Eu não existo sem você  de Melissa Fey Greene – Esse ganhei quando me mudei para a Suécia. Escrevi um pouco sobre ele em algum daqueles posts em que eu digo que não sou simpática ao Tio Sam(não me lembro qual, foram alguns já): Melissa é uma jornalista americana que decide contar algumas verdades sobre a AIDS na África e a crise, em particular, pela qual a Etiópia e as crianças etíopes passaram por causa da epidemia. Esse livro me fez chorar. Fiquei tão comovida que até decidi adotar uma criança ou enviar dinheiro para a Etiópia.

3. A menina que roubava livros de Markus Zusak – Eu gosto de livros que criam uma história na própria história do mundo. Antes de ler a “Menina que roubava livros” eu nunca havia pensado nas crianças alemãs que viveram o nazismo mas particularmente, esse livro me marcou muito pela criatividade do autor em colocar a própria morte como narradora da história.

4. As cinco linguagens do amor de Gary Chapman – todo mundo acaba lendo alguma coisa do tipo auto ajuda alguma vez na vida. Gosto muito da forma como o autor compara as diversas formas do amor com formas de linguagem e explica como podemos fazer nosso companheiro entender nossa língua quando falamos idiomas diferentes. Acho que quem tem partner sueco entende o que eu to querendo dizer – no literal e metafórico.

5. Perto do Coração Selvagem de Clarice Lispector – Ela é uma das minhas escritoras favoritas. Li tudo que podia dela e gostei mas, ainda assim, o primeiro romance dela e o primeiro romance “nosso” é o meu favorito. E o nome da personagem é Joana. Já reli o romance diversas vezes e em cada uma delas me descubro em Joana.

6. A morte e a morte de Quincas Berro D’Água de Jorge Amado – Eu gosto de literatura brasileira… sério. Não aqueles livros sofridos como “Fogo Morto“. A morte de Quincas é tão bem construída no livro que muitas vezes tive que voltar a ler para entender se ele estava morto mesmo ou tudo não passava de uma alucinação do pobre bando de cachaceiros que eram os amigos do falecido. Além disso, os livros de Jorge Amado são muito debochados, é uma delícia de ler.

7. O tempo e o vento de Érico Veríssimo – eu fui fascinada pela história do Rio Grande do Sul… e essa é uma história dentro da história do Rio Grande; como disse acima, adoro. “Ana Terra” e “Um certo capitão Rodrigo” foram meus favoritos dentro da coleção (sim, essa é uma série de livros) e Ana Terra foi minha heroína nos tempos em que li a série. Maravilhosos!

8. Ensaio sobre a cegueira de José Saramago – ele escreve de um jeito que me deu raiva de ler e ainda assim eu não pude desgrudar do livro. Quem assistiu o filme (Blindness) sabe que é um drama super dramático sobre o que aconteceria com o mundo se de repente todas as pessoas ficassem cegas. Depois desse nunca mais peguei um livro de Saramago de puro medo porque, apesar do estilo difícil, o cara é demais.

9. Comer Rezar Amar de Elizabeth Gilbert – Eu sei que eu to colocando na lista alguns livros que viraram best sellers e que isso soa um pouco clichê, mas quando eu li essa história tinha tudo a ver com aquele período da minha vida… Pra quem já leu esse aqui recomendo a leitura do divertidíssimo Beber Jogar F@#er de Andrew Gottlieb – mas tem que ler a Gilbert primeiro, senão nada faz sentido.

10. O Hobbit de JRR Tolkien – Na verdade acabei de ler e apesar de ser uma história infantil, amei. Eu sou uma criança crescida e não vejo problemas nisso. Eu já tinha tentado ler Tolkien (o Senhor dos Anéis, claro) mas não deu cola. Já o Hobbit é super gostoso! Me encanto como o autor traz uma série de surpresas para o conto e constrói todos os elementos da trama com tamanha riqueza que, apesar da leitura ter sido em sueco, eu consegui “ver” todo o caminho que Bilbo seguiu nessa aventura.

11. 12 meses para enriquecer de Marcos Silvestre – Não é um livro com combinações numéricas para a Mega Sena e, apesar do título do livro sugerir a imagem de um milionário, o conteúdo é sobre economia doméstica. Uma coisa que eu só aprendi depois de conhecer o Joel foi economizar; comecei a sonhar com coisas grandes e percebi o quanto eu gastava mal o meu dinheiro. Esse livro do Marcos Silvestre é muito didático e simples, e os 12 meses para enriquecer a que ele se refere no título é o tempo necessário para resgatar sua economia quando a coisa está em crise – mesmo. Se você tem mais dívidas do que consegue entender e o salário nunca dá para o fim do mês aconselho a leitura desse livro, que parte do princípio que, a partir do momento em que não temos mais nosso dinheiro comprometido com um milhão de parcelas de roupas, sapatos, carro e tudo o mais temos mais poder de dinheiro, podemos investir (mesmo que seja na poupança) e a partir do momento em que saímos do vermelho já somo ricos – muito mais que do quando temos apenas dívidas.

Agora, continuando o desafio passado pela Joana, vou contar os títulos que quero ler em 2013: Eva Luna (Isabel Allende) e os 50 Tons de Cinza (E.L. James). Eu já comecei a ler Eva Luna, comecei na segunda (estou lendo em sueco, pah!), e viciei a partir da segunda página. Mas eu tenho uma política de ler romances apenas quando estou no trem – em casa eu tenho que ler a legislação sueca – então estou bem no comecinho… Já os contraditórios tons de cinza quero ler por pura curiosidade pois tem gente que ama, tem gente que diz que foi meia boca, tem gente que diz que não conseguiu ir para a frente. Confesso que adoro literatura erótica (mãe, não leia isso. Nem o pai, por favor.)… então, seguindo o conselho da Joana, alguém aí tem o romance para me emprestar?

Agora eu deveria passar os desafios para frente, mas vou ser legal e dar de presente o desafio de registrar os 11 melhores livros que você já leu na sua vida para todas as blogueiras que leram esse post e são apaixonadas por livros. Ao mesmo tempo, proponho o desafio literário de indicar os dois livros que amou em 2012 e os dois livros que gostaria de ler em 2013 para as seguintes moças:

Debora – Mulher de Fases
Inaie – Inaie Out and About
Josy – Enfim Suécia
Karine – Uma aventura no gelo
Maíra – Sonhos Escandinavos
Marília – Uma brasiliera na Croácia
Nara – Moda Escandinava
Nina – Entre Mãe e Filha
Rafaela – Suécia, Queridos!
Vânia – Diário de uma Teimosa
 

Agora é com vocês garotas! Quais seus livros preferidos de 2012? Quais gostaria de ler em 2013? Se responderem o desafio não esqueçam e passar o mesmo para outras 10 blogueiras!

Beijimssss!

Algumas verdades sobre a imigração para a Suécia

Ao longo do tempo escrever no blog tem me ajudado a manter meu português vivo e ainda melhorar a minha relação com o dicionário: só por escrever o título hoje fiquei na dúvida entre emigrar e imigrar… como é que se escreve? Na verdade, os dois termos existem e se você quer descobrir porque usei imigração leia a resposta aqui.

A questão do número de refugiados que chega a Suécia anualmente – dentre outros imigrantes – dá muito pano para manga. No censo comum correm as histórias cabeludas a respeito dos imigrantes que vivem as custas do governo e dos recursos que – não fossem esses famigerados [ironia!] – seriam destinados a aposentadoria dos trabalhadores suecos. No último post até usei uma delas – ironicamente – como exemplo, mas depois fiquei com um peso na consciência porque não sei se todo mundo que lê entende… Não porque os leitores sejam burros mas porque é difícil enxergar os erros naquilo que escrevemos; achei melhor declarar isso abertamente e trazer alguns dados estatísticos.

A Suécia tem uma central de estatísticas tipo como o IBGE no Brasil – com a diferença que a maioria das estatísticas é/são/estão atualizadas. É bom pensar que a população sueca é de pouco menos que 10 milhões de pessoas, e então teoricamente é mais fácil para um país com menos variantes (ou, não sei que palavra usar) manter os dados atualizados. Essa central é muito fácil de acessar e de encontrar o que se procura, até eu que sou meia boca no sueco consigo encontrar o que quero lá. Algumas estatísticas e pesquisas são disponibilizadas também em inglês.

Além disso, no ano passado também foi lançada uma cartilha sobre as expectativas de vida, crescimento da população, morte, nascimento e etc, e que traz alguns dados muito interessantes tanto sobre a emigração sueca quanto da imigração para a Suécia. Com base nos dados dessa cartilha e desse artigo, como de algumas tabelinhas facilmente encontráveis no site da Migrationsverket, deixo algum dados oficiais sobre os imigrantes que tem cara e/ou coragem de se estabelecer por aqui.

blog 1

Imigração e emigração 1850-2010 (Cartilha Demográfica 2012)

Um pouco de história: no século 19 a Suécia era tão pobre que todo mundo queria mudar para os EUA. Se der uma olhadinha no gráfico, entre 1880 e 1890  a emigração chegou a registrar cerca de 50 mil saídas por ano. Estima-se que cerca de um milhão de suecos tentaram mudar para os EUA naquela época das vacas magras. Depois da crise lá na terra do Tio Sam (quebra da bolsa em 1929)  os suecos pararam com a peregrinação.Foi em 2011 que o contingente de emigrantes suecos superou, pela primeira vez, a debandada em massa dos séc 19: 51 179 suecos mudaram para outros países em 2011, e esse número foi maior do que no ano de 1887 – ano da maior debandada de suecos até então.

Lá pela década de 40 o maior contingente de imigrantes que se estabeleceram na Suécia era de finlandeses, e nas décadas seguintes os vizinhos escandinavos ainda eram os caras que mais comummente estacionavam por aqui. Essa imigração tinha como principal força motora a indústria sueca, muito forte e especialmente atrativa para quem quisesse trabalhar. A partir do fim da década de 80 e início dos 90 os iranianos começaram a aparecer na fita (Guerra Irã-Iraque), mas não foram eles os primeiros refugiados a adentrar a Suécia, uma vez que muitos latinos (principalmente chilenos, bolivianos e colombianos) haviam se mudado para cá fugindo das ditaduras na década de 70.

Em meados da década de 90 (96 e adiante) começa a imigração de povos do leste europeu para a Suécia. O país – como membro da União Européia – não tem o direito de barrar ou deportar cidadãos de outros países membros da UE – a menos que o pessoal venha para cá e pratique crimes – e os mesmos podem estacionar por aqui e tentar a sorte de um emprego.

O boom da imigração se deu depois de 2006 quando a lei de imigração sueca mudou – e facilitou principalmente os pedidos de asilo – fazendo com que um grande contingente de iraquianos, seguidos de perto dos afegãos e somalianos, desembarcassem no país. Somada a essa mudança a crise européia trouxe muitos mais europeus para a Suécia – e dessa vez eles não vinham apenas do leste.

Pessoalmente, a insatisfação sueca está apontada para o lado errado: iraquianos e afegãos vieram parar aqui por causa da guerra em seus países. Guerra essa em que o maior ator era: EUA. Lembram da caça aos terroristas após a quedas das Torres Gêmeas? Osama Bin Laden era afegão. E a ocupação do Iraque? Sim, Sadam Hussein era um monstro, Bin Laden um louco e os EUA não estavam sozinhos nessa. Mas a crise de 2008 também foi desembocada por causa de grandes empresas e bancos que vivem de especulação e que estavam (e estão) nos EUA, e ainda fazem a mesma coisa. A bolha econômica que estourou em todo o mundo deixou grandes estragos na economia americana, eu sei, mas eles ainda não fizeram – e muito dificilmente vão fazer – alguma coisa para que a história não se repita mais uma vez.

Ok, já declarei que não sou simpatizante do Tio Sam e para ser justa já vou sublinhar também que a Suécia é um dos maiores fabricantes de armas do mundo e que é aí, nesse caroço, que a Somália entra no meio do angu. Para vender armas o país deve assinar uma série de tratados internacionais e uma das regras é: acolher refugiados. Será que pagar um bidrag e apartamento (para alguns milhares) é muito quando o país está diretamente envolvido na destruição da vida de milhões?  Não obstante, essas questões ficam muitas vezes de fora da discussão que abrange o grande problema da não integração de imigrantes – especialmente os refugiados – na Suécia.

Voltando aos dados: em 2011, a cada cinco imigrantes que se estabeleceram na Suécia um era o sueco filho pródigo, aquele tipo que mudou para algum canto do mundo e decidiu voltar (20615 pessoas). Em segundo lugar estavam os iraquianos (4469 pessoas), seguidos de perto dos poloneses (4403 pessoas). Os somalianos – aqueles que o senso comum afirma que servem só para sugar o sistema – vieram com uma pequena caravana de 3082 pessoas, ficando atrás dos dinamarqueses (3196). Sabiam que as regras de imigração para a Dinamarca são tão rígidas que muitos dinamarqueses mudam para a Suécia apenas para conseguir viver com seus parceiros estrangeiros? E tem gente que adoraria que a Suécia adotasse o modelo dinamarquês – sem nem piscar.

A Migrationsverket mostra que, em 2012, 36526 pessoas pediram asilo na Suécia e que, dentre essas, 12576 permissões de residência foram concedidas, enquanto 12991 foram negadas e 105 ainda esperam a decisão (dos que sobraram, 6158 não foram julgados pela Suécia porque concernem ao Regulamento de Dublin e os demais foram cancelados pelo próprio requerente – 4803). No mesmo período foram concedidos 16543 permissões para trabalhar na Suécia – sendo que dentre essas estão incluídas 1203 permissões para estudar, 121 vistos por laços familiares e 188 refugiados, que tiveram pedidos de asilo negado mas obtiveram, por fim, permissão de trabalho.

Se pudéssemos simplificar as contas dessa forma: por ano entram na Suécia 14088 (refugiados, mais estudantes, mais pedidos por laço familiar) pessoas que não trabalham e 15031 pessoas para trabalhar; podemos concluir que para cada estrangeiro que não trabalha há um trabalhando e um plus de 943 pessoas que só contribuem para o estado sueco. Nessa minha conta maluca o estado sueco ainda sai ganhando apesar de pagar as contas de algumas famílias.

Pena que nem tudo é tão simples, que quem vem para ficar nem sempre consegue ser independente antes da média de sete anos de residência; que nem todos que ficam querem aprender a língua; que nem todos conseguem, apesar do esforço, alcançar o trabalho que gostariam; que nem todos que vem para trabalhar vão ficar aqui a vida inteira… Pessoalmente depois de ver todos esses números ficou meio óbvio que toda essa briga por causa de meia dúzia de (milhares de) refugiados é uma bola de neve gerada pelo senso comum e pelo medo daquilo que não conhecemos.

Pois, não fica mais fácil quando temos um bode expiatório? Ainda mais se for alguém mais fraco…

Devaneios

Aviso: post desabafo.

Tem dias que é difícil acreditar na capacidade de… eu nem consigo pensar numa palavra para expressar – do ser humano. Ultimamente esqueço as palavras e fico fuçando no meu dicionário português-português sinônimo ou definição para aquilo que tô tentando dizer.

Porque tem dias que é difícil acreditar na alta taxa de desumanidade da humanidade. Ou de alguns humanos, se é que os tais poderiam ser classificados assim: gente que vê o negro, o pobre e a mulher de outro jeito. Gente que ganha o suficiente para pagar 30 milhões de dólares por mês pelo condomínio do prédio e que tem poder suficiente de lascar com a vida de todo o trabalhador que luta para ter algum direito social – porque o cara só ganha um salário mínimo e meio mas olha só, ainda quer benefícios o vagabundo! Quer viver encostado no governo!

Não sei se o problema de todo esse texto confuso começou porque eu acabei caindo aqui na Suécia onde o povo luta – ou pelo menos tem um discurso de luta – pela igualdade. Mulheres devem ter igualdade de direito como os homens; deficientes devem ter os mesmo direitos de pessoas “normais”; e quem é rico paga mais imposto para que o sistema possa apoiar o pessoal que não caminha no mesmo passo – leia-se pobres.

Esse dinheiro vai, por exemplo, para o pagamento do socialbidrag (a bolsa família sueca). Basta morar na Suécia e ter o número social para que a pessoa esteja apta a receber o bidrag (esmola) ou o bistånd (assistência). Dependendo do grau de pobreza da família (e do número de filhos) o bidrag pode alcançar o valor de 3500sek – mais ou menos R$1093. Eu sei o que você pensa agora: isso não é esmola mas sim; isso é esmola se considerado que o salário de uma pessoa que trabalha 40h semanais em um emprego normal é de 17000sek (após o imposto). Além disso a família vai ser contemplada com um apartamento – porque com 3500sek não vai dar para viver e pagar aluguel.

Aqui nasce um problema: estrangeiros. Agora vou pintar a realidade mais horrorosa da Suécia (tirem as crianças da frente do computador): pense em uma família de estrangeiros, pessoas negras vindas da Somália, que não falam a língua, muçulmanos, que não entendem merda nenhuma dessa cultura vikingiana e fechada, e não conseguem trabalho. Fugiram de uma guerra. Tem 5 filhos. Recebem o bidrag. E um apartamento que custaria mais umas 7 mil coroas por mês. Agora são 10mil e quinhentas coroas – pois a família não paga o aluguel mas o Estado paga. E se contarmos mais um auxílio ali e aqui – porque crianças e adolescentes não pagam dentista na Suécia por exemplo – plus pequenos adicionais por cada criança pequena (licença maternidade dá um dinheirão na Suécia e quer ver família parideira são essas aí de refugiados! Vixxx é um filho por ano!!) dá para dizer que o bidrag delas alcança os 12 ou 13 mil coroas mês (quase R$ 4mil) fácil, fácil.

(Só para sublinhar eu não tenho nenhuma fonte segura que o trem funciona assim mesmo, mas e daí? Não cheguei ainda nessa parte do meu estudo da sociedade sueca, mas todo mundo acha isso e pensa assim então por que eu deveria parar e questionar a realidade? Censo comum é o que há! Além do  mais, eu escrevo aqui o que bem entender e ainda vou compartilhar no Face as minhas meias verdades… aposto que vai ter um bando de suecos me dando likes!).

Que infâmia! Eu trabalhando duro pra pagar a vida boa daqueles vagabundos… e crescem fóruns na internet dizendo que a Suécia tem que fechar as portas para os imigrantes refugiados porque eles vem aqui comer o dinheiro do povo honesto e trabalhador, sobrecarregar o sistema e ainda por cima tirar o dinheiros dos aposentados… Sabe o quê, esse discurso não parece familiar? É. A diferença é que aqui pelo menos o povo está fazendo isso contra pessoas que não tem a mesma nacionalidade!

Porque enquanto isso no Brasil… o governo dá esmola para a população e chama de Bolsa, e coloca na peneira dessa “bolsa” que a renda familiar mensal deve ser menor ou igual a R$140 reais por pessoa da família (faça as contas: se forem 5 pessoas na família a renda mensal não pode ser maior do que R$700, um pouco mais que um salário mínimo), e que o valor médio* da bolsa é de R$119… e tem gente que tem a capacidade de escrever bem grande por aí (leia-se no Facebook) que o problema do Brasil é gente que se encosta no “Bolsa Família”. E daí todo mundo compartilha, porque alguém disse uma grande verdade! Vou ganhar um monte de likes quando digo que o povo brasileiro é vagabundo e só quer viver do Bolsa Família! Ebaaaaaa!

E não é uai? Eu trabalho duro para sustentar esse bando de vagabundos! Gente que não vai trabalhar porque recebe o Bolsa Família, Bolsa isso e Bolsa aquilo do Governo Federal. E eu aqui na Suécia to pensando seriamente em voltar amanhã para o Brasil porque lá eu não preciso nem trabalhar, eu e Joel podemos nos inscrever no Bolsa Família do governo federal e ter um auxílio mensal de R$119 por mês.

É uma vergonha mesmo e um peso uma nação tem que sustentar esse pessoal todo ai – quantas? quase 13 milhões de famílias – que ganham R$119 mensais… Tem que botar no Face mesmo, tem que denunciar, tem que trazer pra discussão… só que NÃO! NÃO! NÃO! NÃO e não! Acorda Brasil! Bolsa isso e bolsa aquilo não existem! Ninguém vive com R$119 mensais… e por favor não coloquem nos coments que o Brasil também tem bolsa aluguel antes de ler o que é e para que serve. Aliás, fica aqui uma excelente dica para esse povo que vive compartilhando grandes verdades sobre um tudo na internet: cheque a fonte! Na maioria dos casos a única coisa real que você está compartilhando é preconceito.

Na Suécia há uma campanha para se fechar as portas aos refugiados. No Brasil, para estigmatizar ainda mais a pobreza – e os próprios brasileiros. E um monte de gente dá likes para isso. Que lindo… tem dias que não dá para acreditar na desumanidade da raça humana.

Vamos aprender a ser civilizados, a sermos humanos nas redes sociais? Vamos aprender a respeitar o negro, a mulher e o pobre?

Ou pelo menos, a parar de compartilhar bobagens e mentiras?

#prontofalei.

*

O “benefício” do Bolsa Família pode alcançar o valor mínimo de R$70 e máximo de R$306 – para a ultima das opções a pessoa tem que ter 5 filhos na idade entre 0 e 15 anos e dois filhos em idade entre 15 e 17 anos. Lembram que o per capta para receber bolsa família é de R$140 por pessoa (no máximo)?  Vamos imaginar uma família margarina (pai e mãe com os filhinhos), a renda mensal dessa família margarina não pode ser maior do que R$1260. Opa! Mais os R$306 do programa, essa família terá a renda mensal de R$1566!! Só que não… a maioria das grandes famílias do Bolsa Família não são família margarina e não tem papai e mamãe. Se apenas um adulto trabalha, pode contar aí um salário mínimo (R$678 para 2013 certo), o que significa que essa aventurada família que recebe esmola do governo teria uma renda mensal em torno de  R$984. R$984! Puta dinheirão para o desenvolvimento de sete crianças e/ou adolescentes…

Eu lendo a legislação social sueca encontro um parágrafo da mesma deixando claro que se a pessoa que recebe o bidrag sueco quer usar o dinheiro para viajar a opção é dele/dela. Ninguém tem o direito de julgar isso.

Muito humildemente, na minha opinião, em termos de Brasil, se alguém quiser usar o dinheiro do bolsa família para viver “apenas disso”… bom, a opção seria dele/dela. Ou será que eu tenho o direito de julgar isso?

Inverno!

Em janeiro o inverno chegou valendo em Göteborg. Não que já não estivesse frio antes mas… em janeiro parou definitivamente a chuva – agora neva um pouquinho a cada dois, três dias – e as temperaturas estão abaixo de zero desde a segunda semana do mês. No final de semana tivemos -12 C ontem durante o dia, e -17 C na noite/madrugada de sábado para domingo…

E acabou a água quente, tomei banho frio no sábado e banho tcheco ontem – ninguém merece. Liguei hoje para o pessoal que faz a manutenção no bairro e reclamei (porque a água quente vem sumindo desde a quarta feira passada) e eles me perguntaram se não recebemos o aviso que o pessoal está trabalhando e que a água quente poderia sumir entre os dias 16 e 18 de janeiro. Não recebemos e pior: ontem era dia 20! Fico imaginado quem são os coitados que trabalham com encanamento quando fazem graus negativos… e por que não trabalhar com isso na primavera ou verão?

Inverno é sinônimo de resfriado e gripe e apesar de eu não ter passado nenhum aperto por enquanto – não peguei gripe/resfriado que me deixasse de cama, apenas aquelas coisinhas de ficar chatinha por um ou dois dias – já cuidei de doentinhos e fui ao médico… e olha que ir ao posto de saúde na Suécia quando se está gripado é super perda de tempo!

Tudo começou quando Joel passou uma semana zumbizando pela casa com febre, dor de cabeça, super esgotado e eu enchendo o saco todos os dias: você tem que ir ao médico. Nossa ladainha tinha também o responsório porque ele dizia: não adianta. Você tem que ir ao médico: não adianta. Você tem que ir ao médico: amor, não adinta… Você TEM que ir ao médico:… . Fomos. E o médico mandou comprar paracetamol e ir para casa descansar! Ponto para o viking.

Semana passada fui com o Zé para o médico – não, eu não disse para ele o “você tem que ir ao médico” – e chegando lá comecei a reparar nos cartazes e orientações espalhados pela sala de espera do posto de saúde: “Febre, dor de cabeça e cansaço podem ser sintomas de diversas doenças mas no inverno não passam de resfriado em mais de 81% dos casos. Fique em casa e descanse.” e “Antibióticos devem ser prescritos apenas em caso de necessidade.” ou “O corpo demora em média 7 dias para vencer sozinho uma gripe; e com a ajuda de antibióticos? Também 7 dias.”. Use álcool gel e como espirrar/tossir educadamente, além de diversas dicas de como fazer a higiene de crianças resfriadas também estavam em panfletos e cartazes eletrônicos. Além dessa tinha uma série de coisas do tipo: inflamações nos olhos (de crianças) podem ser uma extensão de gripes e resfriados, proceda assim e assado, antibióticos não são necessários…

Eu já comentei por aqui que acho super estranho essa coisa de fique em casa e descanse – é, eu sei que é melhor quando se pensa no coletivo sim – mas a maioria dos suecos vivem sozinhos e imagine a situação: ninguém vai para a casa da mãe tomar colo e canja de galinha não, o povo fica em casa com febre assistindo tv. Que deprimente!

E pra sobreviver ao inverno não é tão difícil como imaginei. Certo é que esse é o segundo inverno que passo por aqui, então já estou mais forte, já me acostumei, não preciso mais de 3 casacos mesmo dentro de casa… uso o meu vermeio todo dia – eu não lembro no blog de quem, mas alguém escreveu que casaco de inverno é igual carro: a gente usa pra sair; e é verdade – e cachecol, toucas, luvas, mais boas botas (se não passar o vento e não molhar, não importa se é artigo de second hand ou Natur Companiet, você vai sobreviver). O que lasca é a escuridão porque, sinceramente, há noites em que durmo 10 horas e ainda acordo cansada. Sabe por quê? Porque a maioria dos animais hibernam durante o inverno nessas bandas… só os animais racionais escravos do capitalismo selvagem é que não.  Mas, esse não é um blog socialista e a luz está voltando…

Frio, escuridão, nada melhor do que assistir um filme. E essa semana eu tive o prazer de ver Django, o contraditório filme de Tarantino. A-m-e-i. Primeiro: porque é um excelente western – eu gosto de western, precisamos de excelentes filmes nessa linha para que o gênero não morra. Segundo: Tarantino é sanguinário mas todo western é um tanto sanguinário e aqui não há a metade do sangue que rola em Kill Bill ou Trezentos. Terceiro: o elenco é muito bom. Quarto:… já chega. Deu para entender que vi e que recomendo certo?

Também aprendi que o melhor a se fazer quando queremos nos manter quentes no inverno é visitar amigos. E por que não fazer novos? Finalmente encontrei algumas parceiras da blogosfera que ainda não tinha tido o prazer de abraçar: Nara, Karine e Débora; além da Vânia que já virou companheira de tricô há uns tempos. Pensem num encontro quente, o trem ferveu! Certo é que tivemos que nos esconder num café mas nem as baixas temperaturas derrubaram nosso ânimo.  Muito obrigada as meninas que vieram!

Agora, de volta ao livro!

*****

Pra quem viu a versão do post com a foto da mulherada que agora sumiu, sorry! Word press tá com vontade própria hoje e a foto fica no lugar em que deve estar de jeito nenhum. Quem sabe ela volte mais tarde…

Ano novo…

Quando um ano termina e outro começa a gente tem o costume de fazer promessas de ano novo ou apenas de fazer uma lista de desejos para o ano vindouro. Não deixei nenhuma lista com a, b, c ano passado e penso tampouco fazer isso agora entretanto, vou compartilhar meu desejo número um para o ano de 2013.

Eu vou casar esse ano. Gente que doido isso! É maravilhoso. Lindo. Espetacular e… ridiculamente caro. Já me disseram que eu tenho que relaxar, que é só uma vez na vida (e sim, eu entendo porque as pessoas deveriam se casar apenas uma vez na vida e também porquê muitas delas resolvem nunca mais casar outra vez quando por acaso se divorciam: é lindo mas é carooooo!). Meus pais vem para o casório e vão ficar uns dias conosco e meu desejo número um para o ano de 2013 tem a ver com tudo isso, não apenas que o casamento seja uma festa bonita e gostosa como também que meus pais passem um tempo super legal junto com a gente.

Isso me deixa um pouco ansiosa com relação ao meu desejo número dois para o ano de 2013: quero meu emprego como assistente social. Já comecei a ler o conjunto de leis sociais suecas – edição comentada (600 e trá-lá-lá-lá páginas das quais li 10, reli, entendi 2 parágrafos por página… mas eu vou pegar no tranco) e já mandei uns currículos, mas acho que preciso mesmo de um tempo para me familiarizar com termos e com o geral de cada lei para não parecer uma porta na entrevista.

Preciso abrir um parêntese: a Fernanda – do blog Aprendendo a Viver na Suécia – mudou para cá mais ou menos no mesmo período que eu, ela conseguiu a validação do diploma dela (de pedagoga) algum tempo antes do meu, e ela conseguiu emprego agora, depois de lutar uns bons três meses. Isso me enche de esperança! Deixo o relato dela aqui – que contêm ótimas dicas para quem está procurando emprego no geral (e não só na Suécia): Proletária novamente.

Parêntese dois: dizem que o Arbetsförmedlingen oferece aos estrangeiros que tem uma profissão – indiferente se esta é resultado de graduação universitária ou não – um curso de sueco profissional. Não é este o nome do curso, mas eu estou chamando assim porque o objetivo desse curso de sueco em particular seria de auxiliar o estrangeiro a aprender termos e expressões relacionados a sua profissão. Pra variar, não tem para mim: são poucas as assistentes sociais que caem de paraquedas na Suécia e se eu quisesse ter uma espécie de curso geral de sueco profissional (para adquirir uma linguagem mais formal) teria que ir para uma cidade lá nos confins do norte sueco. Sem falar que eu só poderia me candidatar a vaga e aceitar que talvez eu não seria selecionada.

Pra terminar, eu me pergunto porque eu tenho um relacionamento tão ruim com o Arbetsförmedligen: uma handleggare que não tem tempo para mim, cursos que eu não posso frequentar ou que não existem na minha área, programas nos quais eu não me encaixo porque trabalho demais ou de menos – sim, porque você não pode se registrar para isso ou aquilo se você não tem ao menos algum trabalho em vista… Aquele curso (o de sueco profissional) faria um bem absurdo tanto para mim quanto para o meu currículo!! No fim das contas, acho que entendi tudo errado e misturei as bolas legal, me enchi de expectativas com coisas que nunca foram para mim e que não existem, porque, sinceramente, não pode ser perseguição – e se fosse, por que eu?

Voltando ao foco, se eu conseguir o emprego provavelmente não terei férias em menos de um ano… eu me pergunto se as coisas se “casariam”. Não estou sofrendo por causa disso, mas avaliando: meus pais virão e é a primeira vez que eles vão ficar longe de casa e tirar férias de verdade, quero que seja especial para eles… será que consigo conciliar o trabalho novo, preparativos do casório e ser uma boa anfitriã para meus pais? Nem é certo que eu tenha algum trabalho até a chegada deles… mas talvez seria interessante eu procurar alguma coisa de 50% para começar… se bem que eu quero trabalhar 100%… ou continuar assistente pessoal até eles irem embora e usar o meio tempo para me aprofundar no meu livrinho de legislação social sueca… quem sabe frequentar um curso de sociologia e história da sociedade sueca… tantas ideias!

Ano novo, dilemas novos!

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Enquanto isso, minha irmã mais velha achou o sapato de casamento perfeito para mim – o que faria minha irmã mais nova ter um ataque!

dois um

Uma Caipira em Oslo

Parece que minha vida é só passear ultimamente e sim, por um lado, acabei de voltar de Portugal e já dei uma esticadinha para Oslo. De certa forma acho meio esquisito escrever para falar de viagens, mas estou aprendendo a fazer isso melhor e até achando legal. Não que dê mais popularidade ao blog – na verdade, os posts sobre coisas normais do dia a dia é que são mais populares – mas acredito que tem muita gente que gosta de ler sobre esse tema, então aproveito o gancho para recomendar a leitura sobre uma viagem a Madeira (aqui e aqui), e outra a Londres (com início aqui).

O pulinho que demos até Oslo não teve nada a ver com turismo ou o tipo de viagem que fizemos até Portugal. Não porque Oslo fique apenas a três horas e meia de ônibus de Göteborg, mas porque fomos rever amigos. Aqui na Suécia é um tanto comum o pessoal passar um ano ou dois trabalhando na Noruega – ou pequenos períodos a cada ano, dois anos – porque a língua é parecida, suecos são bem vindos e bem vistos (como excelentes trabalhadores) na Noruega e porque lá a coroa é mais forte.

Pra quem não sabia, na Escandinávia (Suécia, Noruega, Dinamarca – Finlândia pode estar dentro ou não, depende a fonte) a moeda não é o Euro, mas a coroa: coroa dinamarquesa, coroa norueguesa e coroa sueca.  Dentre as três a mais forte é a coroa norueguesa.

Por coincidência, uma série de amigos do Joel vive em Oslo agora (estão até em campanha para que mudemos) e a gente resolveu dar um pulo até lá para dar uma espiada no ambiente. A primeira impressão é que de alguma forma continuamos na Suécia, acho que Oslo é uma cidade que lembra Göteborg, por exemplo. Claro que a língua, apesar de ser semelhante na escrita, soa muito diferente e, o mais impactante de tudo: pensem em um país caro… pensaram? Então, agora pensem em Oslo como um lugar muito, muito mais caro! A Noruega é considerada o país com melhor qualidade de vida do mundo, mas o custo de vida lá é sinistro.

(Nós não vamos mudar para Oslo).

Então no sábado experimentei uma coisa muito legal pela primeira vez na minha vida: andar de trenó. Hahaha! Claro, senão não teria porque escrever esse post! Pegamos o trem (trikken, em norueguês) número 1 em direção a Frognerseteren e andamos até o fim da linha (cerca de 25 minutos saindo de Majorstuen) onde há uma pista que desce a montanha. O melhor de tudo é que a pista termina ao lado de uma das estações do trem número 1 (Midtstuen), então é só por o trenó embaixo do braço e pegar o trem montanha acima de novo!

Antes da descida...

Antes da descida…

Existem vários tipos de trenós e esse com o qual descemos tem o nome de kälke. No alto da montanha há uma estrutura para o pessoal que vai lá para se divertir, com cafés, banheiros, e lojas onde você pode alugar um “kälke” para o dia. O problema é chegar até lá a primeira vez pois o caminho é lotado de gente que sai para esquiar, assim como outras pessoas que já alugaram/trouxeram seus próprios trenós, crianças e cachorros para descer a montanha; e as trilhas, tantos para pedestres como para os demais é a mesma! Uma confusão que nos valeu muitas gargalhadas pois a pista estava um sabão: nevou, as temperaturas subiram, desceram, subiram, desceram; a neve derretou, virou gelo, nevou por cima… resultado: todo mundo caiu ao menos uma vez! Fora as milhares de vezes que escorreguei e me recuperei no último minuto… voltei para casa com dor nos músculos pelo esforço de me equilibrar – assim como pelo esforço de guiar o trenó, o que não é nada fácil.

Animada para descer pela primeira vez!

Animada para descer pela primeira vez!

Eu procurei algumas informações sobre a pista na internet, como qual é o comprimento e etc, mas não encontrei nada. A descida toma em média 15 minutos, o suficiente para congelar os meus dedos – não estava com luvas apropriadas – e para molhar a bunda – não tenho calças a prova de água.

Eu era a última... sempre!

Eu era a última… sempre!

O trenó pega uma velocidade muito louca e eu não aprendi a controlar ele. Por certo, os pés ficam apoiados nas pontas dianteiras do aparato e para virar a esquerda faz-se pressão com o pé direito enquanto relaxa o esquerdo… e vice versa. Que louco não? Parece aquelas aulas de esportes olímpicos dos antigos desenhos do Pateta. Com o gelo o trenó desliza bastante para os lados, assim durante a primeira vez que desci andei mais devagar freando bastante – freio de pé, como nos Flintstones. Cheguei por último todas as vezes mas eu queria aprender a dirigir o trem – tem carteira para trenó? Na segunda rodada desci mais rápido, mas fui atropelada e atropelei um homem – com a criança dele pode? Na terceira fui mais confiante, um pouco mais cautelosa – pra não atropelar ninguém – mas desci mais rápido, pulei muito e dei um cavalo de pau.  Sorte que eu tinha um elmo – ainda que ridículo!

Parece coisa de criança mas é super legal e como comentei, a montanha estava cheia de gente descendo e cheia de gente animada entupindo o trem e gargalhando com suas gafes de descida…

Super recomendo!

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Aluguel do trenó de madeira: 80sek sem capacete; 100 sek com capacete

Aluguel do trenó de metal: 125sek com capacete; 150sek para devolver no final da descida.

Uma Caipira em Portugal – Fátima e arredores

Pensei que conseguiria escrever o post já no início da semana mas nem. Todo mundo que tem blog e que não bloga todos os dias gostaria de fazer isso e eu não sou exceção. Escrevi um pouquinho por pouquinho e foi bom porque assim pude organizar um pouco melhor as ideias.

Eu queria conhecer Fátima há muito tempo, acho que desde que a Gisele mudou-se para Algarve eu pensava em visitar a ela e de quebra dar uma esticada para Fátima. Outros carnavais aqueles… sem Joel, sem Suécia, só sonhos de universitárias recém formadas. Sim, a Gi foi minha colega de facul, uma pessoa super especial. Bons tempos aqueles da faculdade – e não… Formadas, cada uma tomou seu rumo e ela casou-se, mudou para Portugal – eu sempre prometendo visitar… ela voltou para o Brasil em novembro e eu fui pisar nas terras lusitanas um mês depois.

Quando os tios do Joel nos convidaram para viajar com eles nos disseram que gostariam de ir a Portugal e perguntaram se nós tínhamos ambição de conhecer algo por lá, e eu falei de Fátima… mas eu não pensei que eles teriam vontade de visitar um Santuário Mariano; afinal, não é esse o modelo de família protestante a que eu estava acostumada – ou que meus preconceitos aceitassem que exista. Eles acharam o maior barato e incluíram Fátima no passeio para minha grandessíssima surpresa.

Não posso me descrever como uma pessoa devota mas eu vivi dentro da igreja toda a minha adolescência e carrego uma herança muito forte dessa fase da minha vida – de aspectos tanto positivos como negativos. A padroeira da cidade em que cresci é Nossa Senhora de Fátima e ainda sou uma pessoa que acredita na força da oração e da fé, como também acredito no poder de intercessão da Virgem Maria. Esse não é um blog de evangelização e o objetivo é falar da viagem, mas fica meio estranho dizer que fui a Fátima e adorei a experiência sem explicar porquê. Foi maravilhoso ir a Fátima porque vivi uma maravilhosa experiência espiritual.

Mas antes disso, comecemos do começo!

Saímos de Lisboa no domingo (de carro) e seguimos em direção a Porto de Mós – “município” em que nos hospedamos – pela rodovia que passa próximo a Santarém. A estrada era muito boa e até que achei que o pedágio não estava tão salgado (foram 3,75€ pagos em cada praça – duas – em que passamos), afinal, quem viaja nas estradas no Paraná está acostumado a deixar um absurdo nas praças de pedágio da 277. Paramos em Santarém para dar uma espiada no túmulo de Pedro Álvares Cabral – sim, para quem percebeu, fomos ver muitos mortinhos durante esse passeio – que está dentro da Igreja da Graça de Santarém.

Túmulo de Cabral

Túmulo de Cabral

Eu estava mais afim de pegar a estrada A8 que passaria por Óbidos do que visitar o túmulo de Cabral até encontrar um post muito interessante na internet: Pedro Álvares Cabral: três túmulos para um homem só, que vocês já podem imaginar do que se trata. Resumindo: Cabral caiu em desgraça perante o Rei Dom Manuel de Portugal e foi banido da corte; o que fez ele mudar-se para Santarém – onde não há nenhum registro sobre a vida dele até sua morte (1520). Foi enterrado e mais tarde transladado para o mesmo túmulo da esposa, no qual havia apenas a menção de seus ossos. Zé fini… até que um historiador brasileiro foi a Portugal e quase criou uma crise internacional ao afirmar que ninguém dava pelota para o túmulo de Cabral. Abriram o túmulo em 1882 e encontraram 3 ossadas (provavelmente Cabral, a mulher e um filho) e mais o esqueleto de uma cabra! Na época não havia uma maneira de confirmar que aqueles eram realmente os restos mortais do navegador mas, em todo o caso, fez-se um túmulo bonitinho em honra ao descobridor do Brasil. Só que mais de uma cidade afirma ter os restos mortais de Cabral e… bom, quem sabe?

Meu modelo favorito e ao fundo a Igreja da Graça; à esquerda a Casa Brasil.

Meu modelo favorito e ao fundo a Igreja da Graça; à esquerda a Casa Brasil.

Logo ao lado da Igreja da Graça está a Casa Brasil e acredita-se que foi lá que Pedro morou. Dentro da casa não há nada muito interessante, apesar de que é uma surpresa entrar dentro daquela construção e perceber que era realmente grande por dentro. Por fora ta meio esbagaçada e não há dentro da casa nada que lembre o séc XVI. Se é verdade que os portugueses não deram pelota para Cabral não sei mas senti falta de alguma coisa a mais no interior do imóvel (onde havia uma exposição de arte moderna, na verdade). Seria difícil tentar montar uma casa com móveis que pertenceram a um Zé Ninguém (quem brigava com o rei estava condenado a isso) e acho pouco provável que alguém tenha guardado pertences de Cabral mas seria legal entrar na casa e vê-la decorada com móveis que remontassem a época.

Depois de comer um bocadinho, paramos também nas muralhas da cidade de Santarém. A vista do alto da muralha é fantástica, mas eu mesma não tirei fotos do lado de “fora”, apenas do lado de dentro. Esses personagens vocês já conhecem…

O amor... ah! O amor!

O amor… ah! O amor!

Cortamos para oeste em direção a Óbidos mas… havia uma feira ou não sei o que na cidade que estava lo-ta-da. Não havia onde estacionar para dar um passeio a pé e entrar na cidade com carro alugado era pedir para ter problemas; por isso ficamos apenas com a vista de longe…

Óbidos - de longe...

Óbidos – de longe…

De lá continuamos rumo a Porto de Mós por uma via secundária, uma estrada mais estreita (sem pedágios) e com uma vista mais bonita. Demos uma última parada em Alcobaça para dar uma espiada em um mosteiro e depois, direto para nosso hotel/pousada que ficava na localidade de Livramento.

Ali conheci a Dona Maria do Céu – a dona da pousada muito papuda e simpática – e roubei mexericas  ou “clementiner“; como se diz em sueco. Também ali me dei conta de que havia extraviado o adaptador para o carregador da bateria da máquina fotográfica, e a bateria com menos da metade da carga… E no outro dia iríamos a Fátima! Pá, às vezes me irrito comigo mesma.

Visitamos primeiro o mosteiro de Batalha que fica na cidade de Batalha – cerca de 15 km da pousada – mais um monumento histórico, mais túmulos de reis portugueses. Fica estupidamente claro que os tempos de glória portuguesa já se foram. Triste, eu acho. Corrupção faz muito mal para todo mundo e eu imagino o que seria do Reino Portugal se alguma vez na história seus monarcas tivessem pensado em melhores formas de investir tanto dinheiro. Batalha começou a ser construído no séc XIV e nunca foi terminado. O mosteiro foi um marco importante – assim como o quase vizinho Alcobaça – naquele tempo em que os cristãos tiraram as terras portuguesas das mãos dos mouros. Quem iniciou a construção foi Dom João I e mais sete reis viveram até que, em 1517, Dom Manuel decidiu empenhar todos seus esforços e recursos em Lisboa para a construção do Mosteiro dos Jerônimos. Ainda assim, há muito do estilo manuelista em Batalha. Atualmente, Batalha encerra dentro de si uma ala cheia de homenagens aos soldados portugueses que deram suas vidas em diferentes “batalhas” pelo mundo.

Portal da Igreja do Mosteiro de Batalha.

Portal da Igreja do Mosteiro de Batalha.

Foi então que chegou a vez de Fátima: chegamos por trás do Santuário, dei de cara com uma placa que informava os horários de missas e dos terços e para minha sorte o terço na Capela das Aparições começaria em 10 minutos. Eu tava um pouco insegura com relação a famiage, informei meio rapidinho que iria rezar o terço das doze e fugi até a Capela, meio que pensando que o povo deve achar que a Maria ficou louca… até que o Joel veio se sentar do meu lado. O sino repicou o hino de Fátima ao meio dia e rezamos o terço juntos, sentindo a paz de Deus. É lindo.

Na frente da Capela das Aparições, depois do terço.

Na frente da Capela das Aparições, depois do terço.

É difícil explicar porque uma coisa que não faria sentido nenhum – visitar uma velha capela onde três crianças dizem ter visto a Virgem Maria – faz tanto sentido. Se é a fé, se é porque a gente se deixa levar pelo ambiente, se é por causa da minha educação… não sei se importa: quando sentei lá e rezei o terço com os demais peregrinos foi uma das experiências mais bonitas da minha vida.

Infelizmente é só sair do Santuário para receber um choque: milhões de lojinhas de terços e imagens para todos os lados! Sério mesmo: parecem as tendinhas de Salto del Guayrá no Paraguai, todo o ambiente espiritual de paz e presença de Deus se quebra em mil pedaços com a balbúrdia dos negócios. Eu sei que tem muita gente que quer comprar lembranças de lugares santos, mas o negócio toma proporções ridículas, a ponto de um terço comum custar 5€! Pode uma coisa dessa? Pior do que isso é saber que essa cena se repete ao redor de cada Santuário – Mariano ou não – pelo mundo afora. Nessas horas dá vergonha de ser católica viu?

No meio dessa balbúrdia de lojas de artigos religiosos há, não muito longe do Santuário (cerca de 10 minutos caminhando), o museu de cera de Fátima que conta tintim por tintim a história das aparições: Lucia, Jacinta e Francisco são pastores que recebem a visita de um anjo em 1916, e no ano seguinte, a visita da Virgem Maria a 13 de maio, junho, julho, setembro e outubro. Foram 6 aparições ao todo, 5 na Cova da Iria e mais uma em Ajustrel, a 19 de agosto. Francisco e Jacinta morrem nos anos seguintes de febre espanhola (1919 e 20, respectivamente) e Lúcia torna-se irmã carmelita, morrendo aos 97 anos em 2005. Recente, não é? Ela assistiu a beatificação dos primos. A maioria dos bonecos são bons, alguns precisam visivelmente de manutenção mas com certeza, o melhor deles é o do Papa João Paulo II.

Eu e o papa! Essa era a imagem de cera mais bonita do museu!

Eu e o papa! Essa era a imagem de cera mais bonita do museu!

Voltamos ao Santuário e eu assisti ao final da missa das 15h; visitamos os túmulos dos pastorinhos – mais uns – no interior da Igreja do Rosário de Fátima. Por  fim visitamos as casas em que viviam os pastorinhos, assim como o lugar em que lhes aparecia o anjo em 1916 – há uma linda Via Sacra no local, que fica apenas 2km do Santuário.

Uma tradicional: vista da Igreja do Rosário de Fátima e do pátio do Santuário.

Uma tradicional: vista da Igreja do Rosário de Fátima e do pátio do Santuário.

Como era véspera de Ano Novo compramos umas coisinhas gostosas e fizemos uma ceia da virada improvisada na pousada mesmo, assistimos aos fogos de ano novo e eu tomei um susto quando todas as sirenes e alarmes da cidade começaram a tocar a meia noite. Gente parece coisa de guerra, dá uma sensação de pânico e como a eu nunca tinha ouvido isso fiquei em dúvida pensando se era para correr e se esconder mesmo ou era para comemorar…

A gruta é iluminada com mais de 3 mil lâmpadas.

A gruta é iluminada com mais de 3 mil lâmpadas.

No último dia na região visitamos a Gruta de Mira de Aire, uma caverna descoberta em 1947. A Serra dos Candeeiros é muito porosa e tem rios subterrâneos. Descemos 683 degraus e ficamos enterrados a 110 metros. Na gruta há um rio conhecido como Rio Negro e até mesmo o Poço da Sogra – um buraco que lembra um poço com 35 metros de profundidade. Ao todo a gruta tem mais de 11km de extensão, e ainda há vias e mais poços que não foram explorados. O passeio percorre cerca de 500m de extensão da gruta e ao fim, subimos com elevador.

Na tarde do dia primeiro voltei a Fátima com os tios do Joel enquanto ele e as irmãs foram conquistar a montanha de Santo Antônio. E não é que descobrimos o caminho de Santiago de Compostela português?

A vista é maravilhosa,  uma inspiração!

A vista é maravilhosa, uma inspiração!

O dia seguinte foi tomar a estrada de volta a Lisboa, voos até Göteborg, capotar na cama exausta. Com a viagem aprendi um monte de histórias interessantes desse país e voltei para casa com uma impressão maravilhosa de Portugal. Estou torcendo para que o país consiga emergir da crise.

Certeza que volto para lá. Já recebi até convite (de novo!) para conhecer Algarve!

Uma Caipira em Portugal – Lisboa

No post passado comentei algumas das minhas impressões gerais sobre a viagem a Portugal e como prometido, voltei para deixar maiores detalhes. Eu não sou muito boa com essa coisa de guia de viagens mas como foi a primeira vez que eu realmente viajei para algum canto e conheci/visitei lugares históricos, museus, igrejas e etc; deixo aos interessados a tentativa de descrever um pouco do que descobri em Lisboa e que me deixou maravilhada.

Fica a dica: quem gosta de fazer esse tipo de turismo pode adquirir (já dentro do aeroporto) o Lisboa Card, um cartão que te dá acesso gratuito a maioria dos locais históricos, além de funcionar como cartão de ônibus/bonde/metrô dentro da cidade. Só não vale para o aerobuss, o busão que vai direto ao aeroporto. Maiores informações aqui. Preço (adultos): para 24h, 18,50€; 48h, 31,50€ ; e 72h 39€.

Em Belém:

Belém é um bairro de Lisboa no qual se localizam o Mosteiro dos Jerônimos, o Padrão dos Descobrimentos e a Torre de Belém. Também em Belém estão as pastelarias mais famosas de Lisboa, assim como foi lá que encontramos o verdadeiro arroz de marisco. Foi em Belém que comemos em um café/pastelaria em que a garçonete é brasileira, super simpática; sem falar que o preço do prato do dia (incluindo bebida) foi o mais barato (4,50€) e um dos mais saborosos que comemos durante a viagem. Pra variar, não lembro o nome do lugar.

blog II

Ao clicar nas imagens é possível descobrir onde estão Filipa de Lancaster e Pedro Álvares Cabral.

Blog 1 Padrão dos Descobrimentos: sabem aquela velha história de que Portugal começou a buscar uma rota alternativa de comércio com as Índias? Pois é, ela tem início muito antes do que nós, brasileiros, costumamos estudar: Henrique o Navegador, filho do Rei João I de Portugal, foi o primeiro português a organizar as viagens marítimas daquele tempo; e pelo que se sabe provavelmente as viagens promovidas por Henrique não tinham nada a ver com o sonho do descobrimento da rota das Índias. Uma das especulações é a de que a mãe do navegador, Filipa de Lancaster (a única mulher a ocupar um lugar no Padrão dos Descobrimentos) teria incitado os filhos a procurarem a um rei pastor legendário que moraria em algum recanto africano, e que segundo a lenda seria a chave para que os cristãos vencessem as cruzadas. O tal do Henrique o Navegador só fez duas viagens marítimas, mas foi o responsável, por exemplo, por fundar uma escola/instituição que ensinava os portugueses a navegarem a partir dos parcos instrumentos de orientação existentes na época. Foi ele também que obrigou Gil Eannes a contornar o Cabo Bojador – conhecido na época como o último ponto antes do precipício do fim do mundo – o que encorajou outros navegadores a irem ao infinito e além. Todos os principais navegadores portugueses da era dos descobrimentos são retratados no padrão (Henrique é o primeiro, olhando para o mar/rio Tejo; e Cabral também está lá!), assim como alguns padres Jesuítas, João I e Filipa de Lancaster.

Um dos portais do mosteiro.

Um dos portais do mosteiro.

Mosteiro dos Jerônimos: uma grande, linda e maravilhosa obra arquitetônica do séc XVI, quando o rei de Portugal era Dom Manuel I. O mosteiro tem um estilo tão marcante que foi batizado como “estilo manuelista”. A igreja do mosteiro é gigante, muito rica em detalhes e cheia de imagens. Dentro da Igreja do mosteiro encontram-se os túmulos de Vasco da Gama e do rei Manuel, assim como no pátio do mosteiro encontra-se o túmulo de Fernando Pessoa. O lugar é tão cheio de detalhes que passamos horas a apreciar – e vale a pena. Curiosidade: na calçada em frente ao mosteiro há uma cópia do Contrato de Lisboa de 2007, no qual há todas as assinaturas de todos os representantes dos países europeus (ou da União Européia – inclusive do primeiro ministro sueco, Reinfeldt). Quando voltamos para casa, viajamos no mesmo bonde elétrico que todos os participantes daquele encontro de 2007 utilizaram – quem quiser conferir, é o trem número 510.

Detalhe da Torre de Belém

Detalhe da Torre de Belém

Torre de Belém – daqui saíam todas as caravelas para mundo, e aqui desembocavam trazendo especiarias, pau brasil, marfim, ouro… O mais legal foi subir até o alto da torre (a escada em caracol é super estreita, prepare-se para encontrar turistas mal humorados, gente com criança no colo, mochilão…) e ver que a vista alcança realmente o infinito – ou ao menos, o Atlântico.

Palácio da Ajuda: não fica exatamente em Belém mas fica muito próximo e dá para ir a pé do mosteiro ao Palácio sem problemas. Bom, o Palácio da Ajuda foi uma empreitada portuguesa que nunca foi acabada. Com o terremoto de 1755 o palácio real virou uma bagaça e o rei português da época, Dom Jose I, viveu o

resto da vida em uma tenda (uma tenda real, muito chique) devido ao pavor de morar novamente em recintos fechados. Mas o rei morreu e todo mundo queria um palácio, que foi proposto ser construído na área próxima a Belém –

Costas do Palácio: aqui a construção havia alcançado apenas a metade do projeto.

Costas do Palácio: aqui a construção havia alcançado apenas a metade do projeto.

região em que o terremoto não deixou muitos estragos. Projeto pronto, chega Napoleão para estragar tudo e João VI foge com a família para o Brasil, deixando o palácio para depois. Apenas o rei D. Luís I com a esposa francesa Maria Pia viveram no Palácio (1861-1911) que ainda estava inacabado, e assim ficou pois a coroa portuguesa já não era tão rica e a república seria logo proclamada. Curiosidade: dentro do palácio há uma sala decorada com móveis que pertenceram a João VI e que viajaram com a família real portuguesa para o  Brasil.

Nós estivemos hospedados em um hotel perto da Restauradores, ou seja, bem no centro histórico de Lisboa. A impressão que tive é que isso facilitou muito o acesso a todos os pontos turísticos a que visitamos. Estar hospedado na Baixa ou Chiado, não sei ao certo o nome, nos garantiu assistir de camarote até mesmo a São Silvestre de Lisboa, no sábado 29 de dezembro. Primeiro me matei de rir com o pessoal correndo em todas as direções imagináveis (e estava sim pensando que era coisa de português), mas depois é que fui me tocar que a besta da história era eu que não tinha entendido a parada; aquele era o aquecimento dos atletas. Enfim, aí também há várias lojas e livrarias, assim como muitos bares e restaurantes. Me faltou assistir a um fado ao vivo, mas na verdade estava exausta depois de caminhar e caminhar os dias inteiros e só queria mesmo era deitar e esticar as pernas.

Terreiro do Paço/Praça do Comércio

Lisboa foi destruída por um terremoto no ano de 1755 e como citei, o Rei José I ficou meio que em pânico depois disso. Quem tomou as rédeas da situação foi o Sebastião José de Carvalho e Melo, ou Marquês de Pombal, que pôs em prática uma política de reestruturação social e de reconstrução do coração de Lisboa – ele liderou todas as ações pós terremoto na cidade, desde o enterro dos mortos e recaptura de presos até distribuição de comida aos sobreviventes e o novo projeto arquitetônico da cidade. O Marquês decidiu que os prédios do centro de Lisboa não teriam mais de três andares, que as ruas seriam largas e pavimentadas e que no local em que antes existia o Palácio Real existiria uma grande praça aberta, esta que ficou conhecida como Terreiro do Paço ou Praça do Comércio. Nessa praça há um centro histórico no qual é possível ouvir mais a respeito da história de Lisboa – pelo menos até o início do séc XX. Curiosidade: nessa praça foram assassinados o Rei Carlos e o filho Dom Luís Felipe, em 1908.

Portal principal do Terreiro do Paço.

Portal principal do Terreiro do Paço.

Igrejas

Visitei várias Igrejas em Lisboa, ao todo foram 7: a igreja do Mosteiro dos Jerônimos, de Santa Luzia, de Santo Antônio, a Sé, a Igreja dos Padres Jesuítas e as ruínas de Nossa Sra do Carmo. Tenho um interesse particular por igrejas seculares, nada histórico ou devocional, é apenas curiosidade. Todas as igrejas era lindas por dentro, a mais rica de todas elas (ao menos aparentemente) é a Igreja dos Padres Jesuítas e a Sé. Na Igreja dos Jesuítas também é possível ver a um par infindável de relíquias de santos (em sua maioria, ossos do braço), mas é difícil entender a que Santo a tal relíquia pertenceu. A Igreja que mais me comoveu visitar foi a Igreja de Santo Antônio pois meu avô materno era muito devoto do santo. Ao lado da Igreja é possível visitar o local em que Santo Antônio nasceu, assim como ver um pequeno museu. Curiosidade: as ruínas da Igreja do Carmo só podem ser apreciadas pelo lado de fora pois ainda é perigoso entrar no edifício. A Igreja ruiu devido ao terremoto e muitas pessoas morreram lá uma vez que se celebrava a missa de todos os santos.

Interior da Igreja do Mosteiro dos Jerônimos

Interior da Igreja do Mosteiro dos Jerônimos

Apesar de Santo Antônio ter nascido em Lisboa ele é mais conhecido como Santo Antônio de Pádua e, o padroeiro de Lisboa é, na verdade, São Vicente. Também visitamos o Cristo Rei que fica em Almada, mas de lá não tenho nenhuma foto decente. Achei meio caro (5€ pra subir até os pés do monumento), mas a vista é maravilhosa: dá para ver toda a cidade de Lisboa, até mesmo as atrações de Belém. O Cristo Rei de Almada foi inspirado pelo Cristo Redentor do Rio.

Também visitamos alguns museus, mas acho que museu fica muito mais interessante quando tem alguém que entende de arte junto com a gente. Com os tios do Joel aprendi que, por exemplo, pinturas renascentistas que retratam a Anunciação tem sempre o anjo a esquerda de Maria, que está rezando e tem lírios próximos a si. No Museu de Arte de Lisboa estava a mostra um enorme ostensório feito de prata, ouro e pedras preciosas brasileiras trazidas para Portugal no tempo do Brasil colonial. A peça continha mais de 2600 pedras!

Por fim, os dias ficaram curtos e não vimos o Castelo de São Jorge e nem a fortaleza, tampouco o “mercado de pulgas” (que acredito não ter esse nome, mas eu não lembro qual é), esse último porque choveu. Como a nossa última atração lisboeta tomamos o elevador de Santa Justa para apreciar a cidade a noite (esse é uma facada: 5€ para subir e mais cinco para descer se não tiver o Lisboa Card). A foto não é das melhores mas, vamos lá:

Praça dos Restauradores - vista do alto do Elevador de Santa Justa.

Praça dos Restauradores – vista do alto do Elevador de Santa Justa.

Caraca, acho que foi o post mais comprido que já escrevi! No próximo conto o resto da viagem…

Uma Caipira em Portugal – I

É bom dar os ares da graça aqui no blog outra vez. Mas fim de ano é aquela coisa e depois de comemorar um Natal meia boca (aqui a ceia é no dia 24 – eu trabalhei; e além disso estava morrendo de saudades do meus – ainda estou), felizmente gastei a semana entre o Natal e o Ano Novo em Portugal. E foi lindo, muito emocionante, muito mais do que esperava.

Primeiro, porque também passamos por Fátima. Louco não? Uma católica vai a Fátima com a família luterana. Mas uma família luterana para lá de especial, que me deu esse presente e ainda por cima me acompanhou até o Santuário. Obrigada tia Gunnel e tio Jens!

Mas essa aventura tem uma série de detalhes, tantos que não cabe tudo de uma vez só. Primeiro, viajar com eles (Jens e Gunnel) significa aprender um pouco da história do lugar para entender o que há de especial aqui, ali e acolá. Sorte minha que estudamos ao menos alguns passos da história portuguesa, afinal, temos uma história em comum desde o descobrimento, e assim não precisei me atropelar na leitura dos pequenos guias (somando cento e poucas páginas) da história lusitana (em sueco) que recebemos antes da viagem.

Nada obrigatório, ao contrário, foi o máximo. Acho que seria bem sem graça visitar todos os monumentos, mosteiros, igrejas e etc se não lhes tivesse desvendado a história. Ademais, penso que o fato de ter conhecido de forma mais aprofundada os tempos da glória portuguesa me deixou ainda mais sensível aos traços da crise, traços estes que infelizmente saltam aos olhos assim que saímos do aeroporto na cidade de Lisboa.

Vou começar contando algumas impressões gerais sobre a viagem, adicionando pequenos detalhes que possam vir a ser interessantes. Passamos 4 dias em Lisboa e depois saímos um pouco mais ao norte, às bordas da Serra dos Candeeiros, onde passamos mais 3 dias pernoitando em Livramento, uma vila pertencente a Porto de Mós, numa região de montes ondulados lindos. Em Lisboa também pernoitamos no morro, em um hotel muito próximo a Restauradores, ao ladinho de um bonde elétrico que serve apenas para subir aquele morrinho da Rua da Glória, um aclive capaz de tirar a força das pernas de qualquer um!

Depois de deixar a bagagem no hotel, já na primeira noite demos uma esticada até um mercadinho próximo, Pingo Doce (eu tinha escrito Pão Doce, mas a Dani me corrigiu! Obrigada!!). E sabe o que foi o mais legal? Eu fui uma espécie de guia, afinal, eu falo português! Foi um pouco louco e espantoso sair de viagem e falar português, essa foi a primeira vez que saí e não fiquei (muito) perdida com relação a língua. No começo estava um pouco tímida para falar com os portugueses, afinal, algumas pessoas haviam me prevenido de que a maioria dos portugueses não gostam de brasileiros e que não falam português com turistas tupiniquins. Mito! O difícil mesmo era largar o povo! Nem precisa dar corda e eles contam a história da família, começando porque o nome do fulano é fulano e… Jesus, acho que Portugal é hospitaleiro por demais, as pessoas falam e falam e falam com você, querem te pegar na mão e te levar até o destino (principalmente no interior). Em Lisboa senti que algumas pessoas ficarem um pouco receosas quando as abordava na rua – mas é porque há muita gente pedindo esmolas (principalmente nos pontos turísticos) ou vendendo quinquilharias; então é altamente compreensível.

Falando nos pedintes, falar português era como usar de palavras mágicas para que eles nos deixassem (sou cristã, mas contra a política de dar esmolas). Claro que um grupo falando uma língua desconhecida é facilmente percebido como “turistas!” (sem falar em todos os acessórios, como mochila e máquina fotográfica); mas bastava responder gentilmente com um não sonoro para eles irem embora. Um deles até falou “Ah, são portugueses…” – como se significasse um “estamos todos falidos e desse poço não sai água”. Triste, mas real.

Ainda com relação a língua, me embolei legal falando sueco com os portugueses e português com os suecos; o que nos garantiu muitas risadas. Em uma padaria perguntei para Gunnel e irmãs do Joel: querem café com leite? e na seguinte disparei ao atendente do balcão: Sex koppar kaffe med mjölk, tack! Foi um stress prazeroso chegar aos restaurantes ou cafés onde todo mundo me perguntando: o que significa isso? O que significa aquilo? Pede para mim? Hahaha… Seis pessoas, cinco suecos e uma brasileira, o Joel que pode falar português mas muitas vezes fica tímido… sobrava pra mim.  Muitas coisas eu também não sabia o que eram, por exemplo febrinhas (uma espécie de filés de porco ao molho de panela), pois esqueci de pedir para a Joana um dicionário porrtuguêis- português… Brincadeira! Falando nisso, muito obrigada pelas dicas Joana, elas nos serviram muito bem! Tentei desenterrar o tu e o vós das aulas de gramática e devo ter soado um tanto estranha, mas sem duvidar, quase me passo por portuguesa!

Bom, claro que comi pastel de bacalhau e experimentei o saborosíssimo arroz de marisco – que não sei porquê no centro de Lisboa tem o nome de Paella – o prato espanhol que é deveras parecido, mas não igual. Dica: procure pelo gostosura na região próxima a Belém. Uma coisa que me chamou muito a atenção é que os cardápios portugueses do interior tem muitas opções de pratos a base de porco e isso me espantou um pouco pois vi centenas de rebanhos de ovelhas, mas não reconheci nenhum chiqueiro. Não deveria ser óbvio então que os pratos principais fossem a base de ovelha? Outra coisa que me chamou a atenção é a oferta de omeletes em todos os restaurantes em que comemos. Além disso, durante o voo (com a TAP) a sobremesa servida durante a refeição foi nada menos do que gemada – coisa que não via desde…

E morcília. Ou morcilha, não sei ao certo qual é a palavra correta… compramos uma no super mercado que não pareceu nem um pouco apetitosa, mas eu comi uma feijoada a transmontana (com pedaços de morcilha ao invés de linguiça) que estava por demais. Não foi difícil encontrar comida boa, gostosa e barata.

Fique encantada com Portugal. Se não fosse a crise já teria começado a minha campanha em prol da mudança: morar no campo e ter rebanhos de ovelhas e plantações de oliveiras e parreirais… Ok. Mas o inverno deles é muito semelhante ao nosso (do sul brasileiro) e apesar do vento frio tivemos dias maravilhosos de sol, tanto em Lisboa como no interior. Nada de tempo mau humorado!

Aliás, achei o povo português deveras simpático e penso mesmo que já descobri de onde é que os brasileiros herdaram simpatia e bom humor. Mau humor só mesmo quando a questão é economia e a crise. Há palavras de ordem conclamando a greve geral pichadas por todos os cantos da cidade de Lisboa e mesmo em algumas placas de trânsito no interior. Também não faltam manisfestações de ódio contra Salazar e Sócrates (ex-primeiro ministro português). Mesmo nos jornais televisos portugueses as notícias não são animadoras e o pronunciamento da chanceler alemã Angela Merkel por ocasião do Ano Novo quando ela afirma que  2013 ainda não será o ano do fim da crise apareceu repetidas vezes nos noticiários.

Ai, ai… se fosse, eu não exitaria em dizer: tchau Suécia!