Uma Caipira em Portugal – I

É bom dar os ares da graça aqui no blog outra vez. Mas fim de ano é aquela coisa e depois de comemorar um Natal meia boca (aqui a ceia é no dia 24 – eu trabalhei; e além disso estava morrendo de saudades do meus – ainda estou), felizmente gastei a semana entre o Natal e o Ano Novo em Portugal. E foi lindo, muito emocionante, muito mais do que esperava.

Primeiro, porque também passamos por Fátima. Louco não? Uma católica vai a Fátima com a família luterana. Mas uma família luterana para lá de especial, que me deu esse presente e ainda por cima me acompanhou até o Santuário. Obrigada tia Gunnel e tio Jens!

Mas essa aventura tem uma série de detalhes, tantos que não cabe tudo de uma vez só. Primeiro, viajar com eles (Jens e Gunnel) significa aprender um pouco da história do lugar para entender o que há de especial aqui, ali e acolá. Sorte minha que estudamos ao menos alguns passos da história portuguesa, afinal, temos uma história em comum desde o descobrimento, e assim não precisei me atropelar na leitura dos pequenos guias (somando cento e poucas páginas) da história lusitana (em sueco) que recebemos antes da viagem.

Nada obrigatório, ao contrário, foi o máximo. Acho que seria bem sem graça visitar todos os monumentos, mosteiros, igrejas e etc se não lhes tivesse desvendado a história. Ademais, penso que o fato de ter conhecido de forma mais aprofundada os tempos da glória portuguesa me deixou ainda mais sensível aos traços da crise, traços estes que infelizmente saltam aos olhos assim que saímos do aeroporto na cidade de Lisboa.

Vou começar contando algumas impressões gerais sobre a viagem, adicionando pequenos detalhes que possam vir a ser interessantes. Passamos 4 dias em Lisboa e depois saímos um pouco mais ao norte, às bordas da Serra dos Candeeiros, onde passamos mais 3 dias pernoitando em Livramento, uma vila pertencente a Porto de Mós, numa região de montes ondulados lindos. Em Lisboa também pernoitamos no morro, em um hotel muito próximo a Restauradores, ao ladinho de um bonde elétrico que serve apenas para subir aquele morrinho da Rua da Glória, um aclive capaz de tirar a força das pernas de qualquer um!

Depois de deixar a bagagem no hotel, já na primeira noite demos uma esticada até um mercadinho próximo, Pingo Doce (eu tinha escrito Pão Doce, mas a Dani me corrigiu! Obrigada!!). E sabe o que foi o mais legal? Eu fui uma espécie de guia, afinal, eu falo português! Foi um pouco louco e espantoso sair de viagem e falar português, essa foi a primeira vez que saí e não fiquei (muito) perdida com relação a língua. No começo estava um pouco tímida para falar com os portugueses, afinal, algumas pessoas haviam me prevenido de que a maioria dos portugueses não gostam de brasileiros e que não falam português com turistas tupiniquins. Mito! O difícil mesmo era largar o povo! Nem precisa dar corda e eles contam a história da família, começando porque o nome do fulano é fulano e… Jesus, acho que Portugal é hospitaleiro por demais, as pessoas falam e falam e falam com você, querem te pegar na mão e te levar até o destino (principalmente no interior). Em Lisboa senti que algumas pessoas ficarem um pouco receosas quando as abordava na rua – mas é porque há muita gente pedindo esmolas (principalmente nos pontos turísticos) ou vendendo quinquilharias; então é altamente compreensível.

Falando nos pedintes, falar português era como usar de palavras mágicas para que eles nos deixassem (sou cristã, mas contra a política de dar esmolas). Claro que um grupo falando uma língua desconhecida é facilmente percebido como “turistas!” (sem falar em todos os acessórios, como mochila e máquina fotográfica); mas bastava responder gentilmente com um não sonoro para eles irem embora. Um deles até falou “Ah, são portugueses…” – como se significasse um “estamos todos falidos e desse poço não sai água”. Triste, mas real.

Ainda com relação a língua, me embolei legal falando sueco com os portugueses e português com os suecos; o que nos garantiu muitas risadas. Em uma padaria perguntei para Gunnel e irmãs do Joel: querem café com leite? e na seguinte disparei ao atendente do balcão: Sex koppar kaffe med mjölk, tack! Foi um stress prazeroso chegar aos restaurantes ou cafés onde todo mundo me perguntando: o que significa isso? O que significa aquilo? Pede para mim? Hahaha… Seis pessoas, cinco suecos e uma brasileira, o Joel que pode falar português mas muitas vezes fica tímido… sobrava pra mim.  Muitas coisas eu também não sabia o que eram, por exemplo febrinhas (uma espécie de filés de porco ao molho de panela), pois esqueci de pedir para a Joana um dicionário porrtuguêis- português… Brincadeira! Falando nisso, muito obrigada pelas dicas Joana, elas nos serviram muito bem! Tentei desenterrar o tu e o vós das aulas de gramática e devo ter soado um tanto estranha, mas sem duvidar, quase me passo por portuguesa!

Bom, claro que comi pastel de bacalhau e experimentei o saborosíssimo arroz de marisco – que não sei porquê no centro de Lisboa tem o nome de Paella – o prato espanhol que é deveras parecido, mas não igual. Dica: procure pelo gostosura na região próxima a Belém. Uma coisa que me chamou muito a atenção é que os cardápios portugueses do interior tem muitas opções de pratos a base de porco e isso me espantou um pouco pois vi centenas de rebanhos de ovelhas, mas não reconheci nenhum chiqueiro. Não deveria ser óbvio então que os pratos principais fossem a base de ovelha? Outra coisa que me chamou a atenção é a oferta de omeletes em todos os restaurantes em que comemos. Além disso, durante o voo (com a TAP) a sobremesa servida durante a refeição foi nada menos do que gemada – coisa que não via desde…

E morcília. Ou morcilha, não sei ao certo qual é a palavra correta… compramos uma no super mercado que não pareceu nem um pouco apetitosa, mas eu comi uma feijoada a transmontana (com pedaços de morcilha ao invés de linguiça) que estava por demais. Não foi difícil encontrar comida boa, gostosa e barata.

Fique encantada com Portugal. Se não fosse a crise já teria começado a minha campanha em prol da mudança: morar no campo e ter rebanhos de ovelhas e plantações de oliveiras e parreirais… Ok. Mas o inverno deles é muito semelhante ao nosso (do sul brasileiro) e apesar do vento frio tivemos dias maravilhosos de sol, tanto em Lisboa como no interior. Nada de tempo mau humorado!

Aliás, achei o povo português deveras simpático e penso mesmo que já descobri de onde é que os brasileiros herdaram simpatia e bom humor. Mau humor só mesmo quando a questão é economia e a crise. Há palavras de ordem conclamando a greve geral pichadas por todos os cantos da cidade de Lisboa e mesmo em algumas placas de trânsito no interior. Também não faltam manisfestações de ódio contra Salazar e Sócrates (ex-primeiro ministro português). Mesmo nos jornais televisos portugueses as notícias não são animadoras e o pronunciamento da chanceler alemã Angela Merkel por ocasião do Ano Novo quando ela afirma que  2013 ainda não será o ano do fim da crise apareceu repetidas vezes nos noticiários.

Ai, ai… se fosse, eu não exitaria em dizer: tchau Suécia!

8 comentários sobre “Uma Caipira em Portugal – I

  1. Não é morcília nem morcilha é morcela eheheh. Se for assada é uma maravilha.
    Que pena teram servido Paella em vez de arroz de marisco, assim não conseguiu apreciar um dos verdadeiros pratos portugueses. Só de me lembrar fico cheia de saudades e com vontade de regressar a Portugal, a uma terrinha bem perto de Fátima local por onde também passou. A minha casa em Portugal é muito perto de Fátima e aproveito muitas vezes para lá ir,
    Fiquei muito surpreendida com a seguinte citação “algumas pessoas haviam me prevenido de que a maioria dos portugueses não gostam de brasileiros e que não falam português com turistas tupinambás”, não fazia a mais pequena ideia que era essa a noção que tinham dos portugueses em relação ao povo brasileiro, afinal sempre tratamos muito bem os brasileiros, são como os nossos irmãos do outro lado do mundo, mas ainda bem que verificou que o que lhe disseram não correspondia a verdade.
    Como portuguesa fiquei contente por ler o post e verificar que há quem goste do nosso país e da nossa hospitalidade.
    Um abraço
    Ana

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  2. Oi Ana!
    Pois é, achei bom escrever e esclarecer que há um mal entendido a respeito da hospitalidade portuguesa. Mas quem sabe alguém teve apenas o azar de pegar outro alguém de mau humor e daí…
    Obrigada por esclarecer a “morcela”; e sim, comemos arroz de marisco mas encontramos o prato apenas nos arredores de Belém. No centro da cidade os menus dizem Paella – achei estranho mas tudo bem; talvez seja uma jogada para atrair turistas.
    Nossa, acredito que deva lhe doer o coração deixar aquela belíssima região!!
    Abraços…

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  3. Olá,

    Isto foi algo que não fiz e devia ter feito antes, dizer “Olá”, desculpa.
    Foi pena não aproveitares e teres ido até uma das praias que encontravas a poucos Km de Fátima e aí tinham encontrado facilmente e comido o arroz de marisco. Ele foi considerado um dos pratos nas categorias das 7 maravilhas da gastronomia portuguesa. E o prato original foi inventado numa praia aí perto de Fátima. Isto foi apenas uma curiosidade.
    E já agora sinto muita falta daquela região, mas no verão estou lá de certeza, já começo a fazer a contagem decrescente nos meses que é para me sentir menos depressiva, eheheh.
    Abraços

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  4. Maria, Mariaaa! É tão bom saber que você gostou da viagem a Portugal! Vejo que foram dias muito produtivos, vocês conhecem agora mais locais dessa região que eu, que sou portuguesa! Tem direito? ;)

    Acho que é muito especial visitar um país ou simplesmente outra cidade com a mente aberta, disposta a conhecer a história e a cultura. Sem dúvida que as companhias fazem a diferença, e parece que você teve companhias fantásticas. No que respeita às simpatias/antipatias, já conheci portugueses que não gostam de brasileiros e brasileiros que não gostam de portugueses. Em todo o lado há gente assim que gosta de generalizar e colocar rótulos nos outros. Mesmo dentro da Suécia, por exemplo, há aquele preconceito Estocolmo versus Gotemburgo. E depois há também aqueles que estão simplesmente mal dispostos. Ainda bem que você não se cruzou com gente assim!

    Há muitos restaurantes em locais turísticos que, para atrair turistas, alteram os pratos típicos para atrair turistas. Cheguei a ver um prato típico a que acrescentaram ketchup para agradar à “colónia” de ingleses que faziam férias na região… Mas bom, pelo menos vocês comeram o verdadeiro arroz de marisco. Tão bom! É o meu prato preferido!

    Pena que a crise desfez esses planos de mudança. Os seus e os meus! Neste momento sinto que não posso regressar ao meu país nem que queira…

    Fico à espera da segunda parte! :D

    Beijos

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  5. Gostei muito de ler suas impressões sobre Portugal. Sou paulistana e vivo em Lisboa há 3 anos. Acompanho seu blog, pois tenho muito carinho pela Suécia, afinal, meu primeiro contato aqui em Lisboa foi através de um sueco que tinha um hostel na capital portuguesa. Nesse Natal, meu amigo que é filho de sueca com português, ofereceu um Glogg, e lembrei de ter lido aqui no seu blog sobre esta bebida.
    Escrevo sobre Portugal no meu blog, Na Terra dos Bules que Babam, e espero que não importe que eu faça uma referencia a este artigo.
    Obrigada por partilhar sua experiência cá em Portugal.
    Um abraço. Debora

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  6. Maria, leio seu blog faz muito tempo, cheguei nele por meio do da Cíntia, que já leio há 2 anos. Morei no Porto em Portugal em 2011 antes de mudar pra Estocolmo e conheço muito bem toda essa região que descreveu. Me dá nostalgia….Mas tem uma coisa que queria te perguntar, você falou que foi a um mercadinho chamado Pão Doce, não era Pingo Doce? É que fazíamos compras lá e é uma rede de mercado portuguesa, muito bom e barato. Como o nome é muito parecido, achei que pudesse ter gravado errado, me lembro dele diariamente pois nossas sacolas de compras para todo dia é de lá.
    Belo blog, muito gostoso ler.
    Beijos,
    Daniela

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  7. Olha eu aqui de novo!

    Oi Ana!
    A ideia era ir até Nazaré, mas eu queria muito voltar a Fátima… =)
    Fica para a próxima!

    *****
    Joana,
    Hahahaha! Você tem que vir conosco na próxima viagem que fizermos a Portugal, assim te apresentaremos alguns pontos turísticos! Faz muito tempo que queria ter ido até a sua terra, tinha justo uma amiga que morava em Algarve, mas com a crise ela e a família voltaram para o Brasil. Nossa, arroz de marisco foi tudo de bom, e como comentei, nos serviram uma porção enorme (pelo menos, na minha humilde opinião, dá muito bem para duas pessoas). Só me faltou ir a um show de fados, mas caminhamos tanto durante os dias que nas noites só queria mesmo saber da minha cama! Fica para outra vez…

    *****
    Debora,
    Bem vinda ao blog! Não acho nada de mal em comentar do seu blog não, acho mesmo que é muito legal assim eu posso passar por lá e conhecer um pouco mais do pessoal que me visita! Gostou do glogg?

    *****
    Daniela,
    Bem vinda ao blog! Você é a Dani das aventuras de carro e viagens com crianças com a Cíntia? Hahahaha… tem razão, o nome do mercadinho é Pingo Doce, eu vi que era uma rede pois encontramos em todos os cantos!

    Abraços gurias!

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