…ta se criando um buraco. Adquiri o mau hábito de sentar num dos cantos do sofá – aquele em que basta esticar o braço para acender o abajur, ligar o stereo, conectar o note na tomada ou depositar o copo de chá na mesinha – enquanto leio alguma coisa sobre o serviço social sueco, afundada em meio as almofadas e dúvidas.
Comecei bem porque ganhei de presente um livrão com toda a legislação social comentada (atualizado apenas até 2004 e pelo que to sabendo a base legal não mudou depois disso), mas infelizmente percebi que essa linguagem ainda está muito além do meu alcance – eu chuto que seja meio jurídica; entendi muito pouco do que tava lendo… parti para internet. E para minha felicidade, encontrei na página do Socialstyrelsen uma montanha de PDFs sobre os mais variados assuntos.
Na segunda comecei a estudar o básico a respeito do BBiC (Barn Behov i Centrum – Necessidades das crianças no centro) e fiquei surpresa por perceber que a intervenção do serviço social sueco tem as mesmas preocupações e exigências do serviço social brasileiro no que diz respeito ao atendimento à criança e ao adolescente. Como eu estou afastada do trabalho de assistente social há dois anos – e em dois anos tudo pode mudar – acredito que a principal diferença esteja mesmo na utilização desse sistema que é uma das principais exigências em qualquer anúncio de emprego (conhecimento acerca do BBiC e Trevisa).
O BBiC é tanto um sistema de dados quando um método de intervenção. Depois de ler 40 páginas, vi uma repetição daquilo tudo que já estudei: necessidade de escuta da criança/adolescente, trabalho em prol da emancipação da família/indivíduo, foco na avaliação global de forma a identificar tanto as maiores dificuldades quanto as melhores qualidades pertinentes ao caso; que a leitura do caso deve levar em consideração a criança, a família e o meio em que a ela vive… que o assistente social não pode brincar de Deus, entre outros.
Fiquei pasma. Triste e feliz. Muito feliz porque eu entendo o que eles querem e tenho experiência com isso. Triste porque ainda tenho uma barreira grande no que se refere a língua – o parágrafo acima, por exemplo, que escrevi em 4 minutos em português levaria meia hora para ser escrito em sueco. E ser assistente social significa sempre ter uma porrada de papel com que trabalhar…
Eu leio, fico mais confiante, mais ansiosa, escrevo para o Joel que eu já sabia disso e daquilo (as orelhas do Joel! hahaha…), que eu consigo entender, que é maravilhoso, abro minha carta de apresentação, mudo três palavras, agora acho que está perfeita, solto o play de novo (sim, eu aprendo mais ouvindo música ao mesmo tempo); leio mais 20 minutos e tudo começa outra vez.
Decidi que não vou mais mexer na minha carta de apresentação. A sorte está lançada e a carta já foi enviada para vagas em aberto. E eu na torcida… ai se eles me chamam para uma entrevista! Já ensaiei comigo mesma duzentas vezes o que vou dizer e ainda assim, nem sei o que faria.
Pronto, foi o suficiente para o break. Agora de volta ao meu cantinho…