Feliz Páscoa!

Páscoa na Suécia e eu… trabalhei!

Ultimamente eu vivo um dia após o outro e nem me dou conta da diferença. Ou na verdade, sim: meus dias são separados entre as semanas em que tenho o fim de semana livre e a semana em que tenho que trabalhar todo o fim de semana. Isso é mal, é muito mal. Não porque eu trabalhe demais – eu costumo trabalhar apenas algumas horas por dia durante a semana (em média 3 horas por dia) e cerca de oito horas no fim de semana – mas porque eu trabalho ao contrário: noites e fins de semana.

Eu tenho sábado e domingo apenas de 14 em 14 dias e infelizmente esse fim de semana foi ainda mais excêntrico porque trabalhei extra na sexta… Sexta feira santa sempre foi dia de silêncio e meditação na casa dos meus pais – e por trabalhar em prefeitura mesmo quando morei sozinha gastei a Páscoa em família. Daí sexta era dia de ir à igreja participar da adoração e da missa da paixão às três horas da tarde. Nem se varria a casa no dia da paixão, nem se ouvia música ou assistia TV. E agora eu trabalhei (nos últimos dois anos) na sexta feira santa.

O problema nem é que tenho medo de ir para o inferno por causa disso, o problema é eu perceber o quanto me cobro por coisas assim, tradições que estão morrendo – e eu nem sei se o fato de elas estarem morreno é bom ou ruim. Me senti super mal por trabalhar na sexta feira santa, como se senti mal por trabalhar no Natal. É como se houvesse alguém no meu ombro dizendo que isso não vale a pena e é errado – e pode ser tanto o ego como  qualquer outra figura representativa do consciente/inconsciente pessoal ou coletivo.

Se eu estivesse com o tempo livre provavelmente não iria para a adoração na igreja, não sei se participaria de uma missa da paixão – nem sei qual o costume que os luteranos suecos tem ao celebrar a Páscoa (e olha que vou me tornar luterana sueca, de certa forma); não sei se guardaria silêncio e meditaria sobre o calvário de Cristo e sua ressurreição… Apenas tenho certeza de que me sentiria mais feliz em não trabalhar em “dias santos”.

Essa escolha não está ao meu alcance agora e por isso tudo fica meio assim: eu sabia que não passaria a Páscoa em casa, eu sabia que trabalharia com horários meio estranhos, eu não gosto de conciliar longas horas de trabalho com outras atividades no mesmo dia e por isso mesmo eu sabia que não faria outra coisa durante a Páscoa que não fosse trabalhar. Então, não decorei a casa com penas e galhos secos (tipo, a cultura sueca é diferente. Quer saber como  funciona a Páscoa sueca: leia aqui), não comprei chocolate (ganhei quilos no meu aniversário), não fui a missa, não participei de nenhuma adoração e nem vi o dito cujo do feriado.

Conclusão: eu preciso de outro emprego.

Ontem o horário de verão começou e somado à estranheza do fato de que passei a Páscoa trabalhando veio aquela coisa de se estranhar com o relógio. Estava na hora porque tínhamos sol brilhando as 5 da matina, agora temos luz até as oito da noite – já. Nem vou reclamar porque Gotemburgo bateu em março o recorde de dias ensolarados para o mês, foi lindo e espero que continue assim! Daqui uns dias o sol vai estar de novo brilhando as 5 da matina mas eu prefiro assim, que venham muitos dias ensolarados!

E agora que já chorei as pitangas e falei do tempo: Feliz Páscoa!

Mudanças

Tudo muda todo o tempo.

Sei lá quem foi que me disse isso, se foi a Angela – provável, ela é uma das pessoas mais sensatas que já encontrei nessa vida e muito da minha paciência foi por meio da amizade dela que conquistei… falando nisso, eu sei que você me lê, e eu tenho saudades! – em todo o caso, tudo muda todo o tempo. Mas a gente esquece disso. Ou melhor, eu esqueço.

Essa semana fiquei pensando no quanto já me acostumei com essa vida. Fazem apenas dois anos que eu moro na Suécia mas a cada vez que eu desço as escadas rolantes em direção a plataforma de embarque dos spårvagn eu sinto como se eu jamais houvesse feito diferente na minha vida. Não, eu não esqueci que a minha vida não foi assim, é que a gente se acostuma.

Eu acostumei a ir para o mercado e usar o auto scanner para fazer as compras. Acostumei a usar transporte público, e agora a maioria das vezes eu tenho um livro na bolsa para ler enquanto eu viajo no trem ou ônibus. Falando nisso, “antigamente” eu não podia ler no ônibus porque ficava enjoada de uma vez só; agora ler eu posso, mas é só sentir o cheiro de café que meu estômago quer parar na garganta. Tudo muda, meu estômago também… acho até mesmo que estou com intolerância a lactose porque leite me dá uma dor de estômago… ou é a idade, afinal, tenho uns cabelos brancos brincando de luzes na minha franja. E agora eu entendo sueco! Cara, dá para imaginar isso? Eu tenho uma família sueca e um trabalho sueco. Eu falo sueco na rua e quando chego em casa quase deixo o Joel surdo de tanto gastar meu português… é, nem tudo muda, mas o que não muda a gente se acostuma. Eu me acostumei com minha vida sueca.

E não é que eu encare isso de forma negativa. É terrível o período de adaptação, é uma merda quando a gente não se sente parte do meio. O que não quer dizer que eu já me sinta sueca (nunca vou me sentir sueca), eu não me sinto uma pedacinho da sociedade, eu não tô 100% integrada. Mas já passou aquela fase pesada em que tudo era difícil. Como eu falei, tudo muda, e a gente acostuma.

Há dois anos atrás eu estava contando os dias para mudar, super empolgada com a perspectiva de mudança porque eu estava cansada da minha rotina. Atualmente eu tenho tudo por aqui, menos uma rotina, e tudo o que eu quero é um emprego em tempo normal para poder estabelecer uma rotina. Tudo muda, todo o tempo…

Apesar de quase pirar de vez em quando – quando me estresso com alguma coisa, me estresso com vontade – sinto que a mudança me fez bem. E nesse ponto eu me refiro a mudança de país: apesar da enorme saudades de amigos e família essa mudança está me mudando, acredito, para melhor. Ainda assim mudança me dá angústia e só de pensar que tudo muda o tempo tudo me dá um nó no estômago… de novo o estômago.

Tô com aquela sensação de que a vida é tão efêmera que eu deveria beijar e abraçar todo mundo com quem me importo. Me importo com uma porrada de pessoas e não sei se eu teria coragem de abraçar todo mundo. E depois tem aquele preconceito de que suecos não gostam de proximidade… tudo muda, todo tempo; mas algumas coisas ainda não mudaram – e me refiro tanto ao meu preconceito quanto ao fato de que a maioria dos suecos não gostam mesmo de muita intimidade.

Mas vai mudar. Tudo muda.

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Há dois anos atrás eu não imaginava que meu blog se tornaria alguma coisa importante. E é. Tem sido, e tem ficado ainda mais importante depois que conheci outras pessoas por trás de outros blogs. Blogueiras queridas, vocês estão no meu coração. Quem quiser conferir um pouco da bagunça pode dar uma olhada nesse link aqui, do blog da Joana – a “Boneca de Neve” – e nesse outro aqui, da Priscila – uma “Mineira abaixo de zero” há pouco mais de um mês.

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Eu vou mudar de endereço. Hahaha! Tudo muda…

Leia antes de perguntar! #02

Já percebi que vou ter que melhorar a visualidade da seção porque ainda tem um monte de gente que me manda perguntas sobre visto de turista para a Suécia. Bom que, uma vez que o texto já existe, apenas copio o link e mando como resposta para os preguiçosos . Sim, eu acho que é preguiça mandar um e-mail para perguntar como é que se consegue visto de turista para um país afinal esse é o tipo de informação que muito rapidamente se consegue na página inicial das embaixadas. Eu não fico stressada com quem me escreve pois eu reconheço os meus pares; eu também sou preguiçosa ao extremo e por isso mando mesmo tudo no Ctrl c+ Ctrl v.

E voilá que essa semana recebi perguntinhas novas e já atualizei a seção com duas delas:

1. O seguro viagem é obrigatório?

Segundo o site Viaje aqui o seguro viagem é obrigatório para turistas que estejam visitando a zona de Schengen, da qual a Suécia faz parte. Pessoalmente nunca ouvi dizer que alguém foi mandado embora por não ter seguro, mas acho que não é essa a questão: a questão é que acidentes acontecem e é melhor estar preparado para o pior do que acabar com as férias (e com as suas economias pelo resto da vida) só por causa de economizar uns poucos pilas no Brasil antes da viagem. Bancos tem seguros mais baratos do que agências de viagem, entre em contato com seu gerente!

Para turistas em visita a zona de Schengen a validade do seguro deve se estender por todo o tempo de permanência do visitante na área e a cobertura deve ser de, no mínimo, € 30 mil.

2. Preciso tomar alguma vacina antes de visitar a Suécia?

Na Suécia existem poucas doenças loucas (típicas de países dos trópicos) como malária e similares e normalmente são os suecos que tem de tomar 300 vacinas diferentes quando eles saem para o mundo. Na Suécia nem barata sobrevive (há controvérsias…). Entretanto se você vem para cá na primavera/verão e vai estar em contato direto com a natureza é bom tomar a vacina contra o TBE, uma doença transmitida pelo carrapato tick que afeta o sistema nervoso central podendo deixar sequelas e/ou até levar a morte. A variedade de carrapatos nas florestas suecas é para ninguém botar defeito e alguns deles transmitem pequenas enfermidades também, por isso não é legal arriscar por as férias a perder e ficar no mato sem ter tomado uma vacina. Maiores informações sobre o tick nesse post aqui.

E por enquanto é só!

Promessa é promessa!

Eu vos apresento o meu convite de casamento! Tchrãmmmmmmm!!!

Frente do convite...

Frente do convite…

Ficou simples mas eu gostei. A arte da caricatura encomendei do Brasil, com uma moça muito simpática e talentosa chamada Elaine (encontrei ela no Mercado Livre, deixo as informações de contato no fim do post). Mandei algumas fotos minhas e do Joel para ela e disse como eu queria que os noivinhos estivessem. Escolhi um visual mais limpo porque afinal, aqui na Suécia o pessoal não é muito acostumado com convites informais – então eu não poderia colocar uma moto no meio do desenho por exemplo. Ou sim, eu poderia, mas não queria parecer a brasileira exótica que fica inventando invencionices. E eu tinha inventado um monte de invencionices, mas somos um casal democrático e decidimos as coisas juntos. Assim, fui experimentando vários modelos – montei o convite em casa sozinha – até chegar nesse em que tanto eu como o Joel achamos legal.

Primeiro, decidimos fazer o convite com uma caricatura, e lá começa a saga pela busca de um caricaturista na internet. Conversei com cinco ou seis, primeiro aqueles que tem os sites que aparecem no topo da pesquisa do Google e já estava desanimando quando decidi ver o que é que estava no Mercado Livre; e encontrei a pessoa que eu precisava. Para mim foi bem importante a segurança que a Elaine me passou desde o primeiro contato com ela. Enviei um e-mail que foi respondido de forma educada. Se algum caricaturista chegar a esse blog eu dou um conselho: sejam mais humildes, principalmente os que estão no ramo há mais tempo.  Um dos caras que contactei por meio de site foi curto e grosso comigo e eu penso por quê? Se a pessoa trabalha vendendo coisas deveria tratar com mais carinho possíveis clientes. Eu conversei com a Elaine quase três ou quatro vezes por dia durante o processo do desenho, enviei dúvidas que foram respondidas e quando ela não respondeu disse que estava correndo e que me mandava um recado mais tarde. Mudei o desenho diversas vezes até ele ficar do jeito que eu queria – separei e juntei os noivos, coloquei as minhas invencionices, tirei quando o Joel não aprovou. E no fim, quando fizemos a coloração, ela também mudou vários detalhes (das cores, e não dos desenhos) a meu pedido.

Frente e verso - convite no meio do meio varal de fotografias!

Frente e verso – convite no meio do meio varal de fotografias!

Com a caricatura pronta cheguei na fase do “e agora”? Que formato de convite escolher? Tamanho? Cor? Bla bla bla? Decidimos adotar o modelo panfleto – é diferente, econômico e melhor para o meio ambiente (uma hora eu conto como é que estou ficando meio maluca com essa coisa de sustentável). Usei um programa do Office mesmo (o Publisher) para montar o convite, usando as molduras do Word Art. Experimentei várias fontes sugeridas por blogs “faça você mesmo o seu casamento”, e cheguei a conclusão de que esse tipo de dica ajuda a soltar a imaginação. Acho que confeccionei no mínimo uns doze modelos diferentes (e alguns vão pensar: pra chegar nesse resultado? Gente, eu não trabalho com Photoshop e Corel Draw, eu tenho que usar os gatos disponíveis). Escolhi e comprei papel (que foi muito grosso para a impressora – dãã); aí a tia do Joel nos salvou (a impressora era dela) e no fim todos foram felizes para sempre… (Fora aqueles que ainda nem sabem que deveriam receber o convite porque eu não acho o endereço. Há pessoas super difíceis de achar e nesse ponto nem o Facebook ajuda a facilitar a vida da gente…).

E contando selos (também para o Brasil), envelopes, papel, caneta, impressão (foi de grátis), caricatura… gastamos cerca de 15sek por convite (um pouco menos de 5 pilas). Eu sei que há páginas brasileiras que oferecem convites a partir de R$3,90 mas eu achei super divertido confeccionar o meu convite.

Dá um pouco de trabalho, mas é um trabalho legal.

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Elaine Frias
elaine-frias@ig.com.br
Tel: (48) 30472077
Brasil

Livros! Eu quero livros!

Eu to muito feliz com meu presente de aniversário: um tablet. Eu posso ter quase 2 mil livros dentro dele, e a bateria dura o suficiente para a leitura de até 2 mil páginas. Mas até agora tenho seis exemplares no meu livro digital. Todos em sueco. E meu objetivo não era bem esse… Livros em sueco eu posso comprar em todos os cantos por aqui. O que eu quero mesmo são livros em português.

Dá última vez que falei sobre livros foi para responder o desafio da Joana e da Nara, vocês lembram? Naquele tempo havia começado a ler Eva Luna de Isabel Allende (que é um maravilhoso livro de contos, recomendo) e contei que queria ler a trilogia dos Tons de Cinza. Eu li a trilogia e gostei mas sinceramente, acho que a autora poderia ter economizado um pouco nos momentos quentes e ter escrito a história inteira em um livro só. Ou tá bom, eu tenho que admitir que o desfecho do primeiro livro dá um ótimo gancho para o segundo, mas o terceiro é totalmente dispensável, principalmente a parte final quando parece que ela já não sabia mais o que inventar. E longe de achar que o livro é simplório acredito que ele deveria ser utilizado por todas as escolas de psicologia porque traz uma excelente descrição de comportamento maníaco compulsivo por controle. E para todas as pessoas que dizem que a trilogia dos Tons de Cinza tem o mesmo calibre da trilogia Crepúsculo eu discordo total e completamente: o vampiro Edward não existe e apesar de adolescentes sonharem com um cara assim não vai rolar; já homens como Christian Grey existem aos montes e fazem o pesadelo de suas namoradas e esposas ser uma experiência apenas dolorosa e diária. É sério gente, o relacionamento deles é doentio e só porque o cara é rico e bonitão não vale a pena viver uma doença (muito menos por todo o sexo louco que eles faziam). A história é boa, viciante, mas eu não queria um desses para mim não.

Depois li “Känslan av ett slut” (O Sentido de um fim) de Julian Barnes. Esse livro teve uma história engraçada: quando fui para Mallorca comprei 1Q84 de Haruki Murakami – que é um livro um tanto grosso e que todo mundo fala muito bem, ao menos aqui em Göteborg. Quando cheguei no aeroporto percebi que tinha esquecido o livro em casa, então passei no Pocket e comprei o Julian Barnes; porque era barato e fino. Foi difícil pegar no tranco com o livro, mas como eu não tinha outra escolha… o cara conta de uma vez toda a vida dele, apenas salientando algumas passagens aqui e ali na escola e no tempo da universidade. Quando eu cheguei na metade do livro fiquei com um sentimento de “e agora? Já é o fim?” mas claro, o autor tira umas cartas muito interessantes da manga e o trem fica super interessante. O livro é muito bom mas eu não alcancei ou não entendi o sentido do fim que ele queria passar e talvez seja porque eu li em sueco e não sou capaz de interpretar e entender todos os sinônimos e entrelinhas; ou é isso: o fim não tem sentido.

To quase na metade do primeiro 1Q84 – que também é uma trilogia – e gosto muito. Em 150 páginas já houve um assassinato, uma moça passou para outra realidade, um aspirante a escritor entra num negócio duvidoso… Mas eu já to pensando nos próximos títulos, aqueles que eu vou ler no meu tablet.

Ouvi dizer que “O filho eterno” de Cristovão Tezza é maravilhoso e já está na minha lista. Alguém aí me recomenda outros títulos?

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Feliz aniversário! Pra mim! Pra mim!

Hoje é meu aníver!!!! Vivaaaaa!

E eu nem sou daquele tipo que faz caso e fica escondendo o jogo para ver quantas pessoas lembram: eu conto logo para todo mundo; bem do tipo sabe que eu faço aniversário essa semana? Então, sabiam que eu faço aniversário hoje? Hahaha… pois é.

E de repente 30. Vivi três décadas e fico pensando em como eu imaginava o mundo e me imaginava há 10 anos atrás. Tudo mudou. E foi rápido… eu to começando a entender aquelas pessoas que dizem que a vida passa como um trem diante dos olhos… ou, acho que não é bem essa a expressão, mas é assim. O tempo não para, cantava Cazuza.

Rosas e velas para um jantar em comemoração aos meus 30 anos...

Rosas e velas para um jantar em comemoração aos meus 30 anos…

Me perguntaram como é completar trinta, e se eu não estou um pouco chocada/com med0 disso. De verdade dá um pouco de medo sim, afinal quando a gente tá na casa dos vinte se sente jovem, mas a partir dos trinta é adulto – definitivamente. E agora parece que meus 20 anos foram há tanto tempo atrás e ao mesmo tempo ontem. Tanta coisa aconteceu e tão rápido, tudo mudou. Com meus 20 anos eu definitivamente não me imaginava aqui. Eu me imaginava… será que eu lembro? Acho que quando a gente está na faculdade não pensa muito sobre “como eu serei daqui a 10 anos”… acho que eu pensava mesmo era em quão difícil será arrumar o meu primeiro emprego? Será que vou casar logo? Será que vou ser mãe logo?

Engraçado mas são exatamente essas as coisas que eu penso agora, ou quase exatamente já que eu sei o dia em que vou casar – e é logo. Essa semana liguei para alguns locais em que procurei emprego e não fui selecionada – segundo o Arbetsförmedlingen a gente deve ligar para os locais que não nos escolheram – e perguntei porque eu não havia sido chamada para entrevista. Eu estava morrendo de vergonha mas depois achei o negócio uma boa: as três pessoas com quem conversei disseram que havia mais de 110 candidatos para cada vaga (acho que duas delas até combinaram, disseram 117 e a outra 140); uma disse que eles deram preferência para quem cursou “familjeterapi“, e outra que deu preferência para quem tinha mais de 2 anos de experiência com crianças e a outra só que deu preferência para quem tinha experiência na Suécia – tipo, perdeu imigrante. Se eu pensar que não tenho toda essa experiência e pesar a concorrência desanimo, mas por outro lado esse feedback me deu algumas ideias… uma delas é que vai demorar para mim arrumar emprego como assistente social se eu não fizer um curso em alguma coisa específica (terapia familiar, abordagem de dependentes químicos, trabalho com crianças, sei lá!). Já me matriculei para um mestrado.

E toda essa bagunça de arrumar emprego, estudar – quem sabe eu terei de enfrentar aulas de inglês também – casar… tudo isso me faz sentir meio adolescente ainda… sabe aquela coisa do desafio? Como é que se faz? Como é que a gente se comporta dentro de uma sociedade que eu passei a conhecer fazem apenas dois anos? Que mundo é esse? Já diz o ditado que jovem é aquele que se mantém com a mente aberta e a minha, bem, a minha está escancarada – ao menos nos últimos dois anos tem sido assim.

Ganhei um monte de presentes hoje – o pessoal aqui na Suécia acha uma coisa grande completar 30 anos: café na cama, aquele tablet que eu queria, um jantar num restaurante famoso da cidade, vinho, um buquê formado de trinta rosas (vemelhas, amarelas e laranjas! A combinação foi fatal!). E tantos telefonemas e recadinhos!! Alguns eu vim ganhando durante a semana… um monte de gente especial me ligou, pessoas muito especiais me mandaram olá, algumas com que não conversava há tempos… e os novos amigos me fazendo rir! A Vânia me ligou e cantou Ira! “Envelheço na cidade” ao telefone!!! Hahahaha… eu disse para ela que essa foi a segunda vez que envelheci na cidade porque antes eu envelhecia no campo… piada de caipira.

Sabem de uma coisa? Me sinto uma rainha hoje… foi um dia especial e eu fui amada e bajulada ao extremo. Fazer trinta anos é bom demais! Eu quero repetir todos os dias!! Se um bom começo significa uma bela continuação eu vou viver os meus trinta bem demais O que me leva a pensar… o que será que vai ser de mim quando completar 40?

Vou ter 3 crianças, morar no Brasil e continuar a ser feliz…

Micos

Sempre que aprendemos uma coisa nova erramos muito, afinal é errando que se aprende. Mas se tem uma coisa que realmente não é legal é errar feio e na frente de um monte de pessoas quando estamos aprendendo uma língua nova.

Pessoalmente penso que existem três grupos diferentes de pessoas no que se refere ao tipo de comportamento no momento de experimentar uma língua nova. No primeiro, as pessoas são muito tímidas e só falam quando tem certeza de que estão falando bem e corretamente. No segundo, elas – como eu – são mais ou menos descoladas e tentam falar mesmo quando erram algumas coisinhas aqui e ali. E por fim tem o povo que fala de qualquer jeito e não tá nem aí, muitas vezes ri de si mesmo e nem se esquenta quando paga um micão de linguagem.

Para o primeiro e o segundo grupo, penso eu, é muito difícil errar em público. Eu fico muito puta da cara comigo mesma quando eu falo uma abobrinha gigante em público ou quando eu converso com uma pessoa que fica pedindo para mim repetir porque não entendeu o que eu estava falando. E fica pior quando a gente encontra alguém que quer sacanear com a nossa cara.

Fonte: Google

Fonte: Google

Aí que num dia desses (já em outros carnavais) estávamos comemorando entre amigos – alguns conhecidos, outros não – em um bar na cidade e o garçom chega e pergunta o que queremos beber. Eu logo disse “jag vill ha öl” (eu quero cerveja) e estava muito satisfeita comigo mesma… Até ele fazer careta e perguntar: “Ol? Vill du äta?” (Peixe? Você quer comer?).

O “ö” sueco tem um som muito complicadinho, é muito difícil aprender e muitas vezes a gente pronuncia como “o” mesmo. Infelizmente, faz uma grande diferença porque cerveja virou peixe (aqueles peixes que parecem cobras tem o nome de ol em sueco) – mas claro que o garçom foi um tremendo fdp comigo. Ele perguntou o que queríamos beber e está escrito na minha cara bem grande “estrangeira”. Todo mundo na mesa riu, e eu me senti muito mal. Vai demorar até aprender o “ö” e agora, sempre que saímos beber e eu quero cerveja digo: En stor stark, tack.

Fica a dica, se alguém quiser aproveitar.

PS.: A Lu Maciel (que deixou um coments logo abaixo) mandou uma dica valorosa: esse site chamado Lexin. Nessa aba o site exibe a palavra que você procura seguida de pronúncia (tem até o áudio gente! Uma maravilha! Clique na palavra “lyssna” que aparece ao lado da palavra que você procurou) e logo abaixo qual a forma da palavra no definido, plural e plural definido. Muito obrigada Lu, você salvou nossas vidas e seremos eternamente gratos! O exagero é só brincadeira viu?

Trabalhar ou não, eis a questão…

Quem escreve em um blog as três da manhã? Mães de recém nascidos e a Nara… bom, eu acredito lembrar de pelo menos uma vez ter lido algo que ela postou na madrugada. Na verdade, acredito que há gente que escreva no meio da noite, acredito até mesmo que existam aqueles que varam a noite na internet, mas para mim isso é novidade.

Meu trabalho novo é responsável por essa blogagem não convencional. Ou, talvez, aquilo que vai se tornar mais um dos meus trabalhos aqui na Suécia. Seria o 4º emprego diferente em menos de dois anos… primeiro eu não falava sueco e trabalhei como faxineira, aí aprendi um pouco e comecei com o Zé (que não “fala” exatamente, então eu não precisava de fluência); e em seguida foi a vez do Zezinho, que é autista (ele fala, mas eu não preciso um vocabulário muito grande)… Agora a coisa começou a ficar séria.

Ainda não sou assistente social. O que estou fazendo agora é definido como behandling assistans e eu sou, naturalmente, uma behandling assistent ou simplesmente a pessoa que trabalha em um abrigo e acolhe e/ou cuida de pessoas. Eu não lembro qual é o termo utilizado dentro do SUAS no Brasil para este tipo de trabalho e, na verdade, a essa hora da madrugada eu não tenho cabeça nem para lembrar disso e tão pouco vontade de “googlar” o termo. Att behandla significa cuidar/tratar e o termo behandling é utilizado para designar um tipo de tratamento – tanto dentro da área de saúde como fora dela.

A conversa que tive com a studievägledare sobre as minhas ambições acadêmicas na Suécia fez com que eu ficasse literalmente sem dormir. Ela me encorajou a procurar um trabalho como vikarie (substituta) em algum canto da enorme rede social de Göteborg a fim de conseguir alguma experiência e por meio da oportunidade aprender um pouco mais sobre o sistema de assistência social sueco (ao menos da cidade de Göteborg). Dentre as três opções disponíveis naquele momento, duas jamais atenderam ao telefone.

Já quando eu liguei para o pessoal que trabalha com os sem tetos da cidade alguém atendeu e eu agarrei a chance com ambas as mãos, o que fez a Dona Rosa (a responsável pelo abrigo) ficar bem admirada. Não que eu a tenha impressionado com o meu sueco mas o caso é que disparei a história da minha vida de uma vez só pelo telefone sem dizer o meu nome e sem dizer que eu morava em Göteborg. Apesar da gafe ela riu e marcamos uma entrevista.

Se eu disser que tinha alguma ideia da onde estava amarrando o meu burro estaria mentindo: eu sabia que era um boende (abrigo – somente nesse caso na minha tradução livre) mas não sabia ao certo para quem e para quê, qual seria o meu papel. Ela me disse já por telefone algo como “somos um grande abrigo e precisamos de gente para trabalhar a noite com as pessoas sem teto”.  E é isso… trabalho em um grande abrigo que abriga três grupos distintos de usuários: imigrantes, sem teto e semi sem teto (se é que esse termo existe). O último é constituído de um grupo de pessoas que está em transição – perdeu tudo que tinha e não sabe para onde vai. Alguns deles vão se tornar sem tetos, outros vão conseguir de volta alguma estabilidade . Só para constar: estabilidade é um termo muito estreito para ser aplicado nesse caso e eu não to muito feliz em utilizar ele aqui.

Quando a D. Rosa começou a me explicar as peculiaridades do trabalho fiquei assustada. Alguns dos usuários têm doença mental, outros fazem uso de drogas ou álcool. Eu deveria trabalhar usando um pequeno alarme próximo ao corpo, o qual eu passo disparar em caso de me sentir ameaçada. E o mais difícil: ficar acordada a noite toda (começo as 21h30min e saio as 8h da matina). Como eu não sabia o que fazer ao certo decidi experimentar e então eu alcancei a oportunidade de trabalhar por duas noites (seguidas) com o pessoal que já faz o trabalho há anos, numa espécie de introdução da qual tanto eu como eles podem decidir se foi bem sucedida ou não.

Por fim, cá estou eu experimentado passar a noite em claro para atender pessoas sem teto. O meu papel é acolher pessoas que estiveram em contato com o sistema social e por algum motivo querem (ou precisam de) uma noite tranquila em uma cama. Elas recebem um quarto (o abrigo fica em um velho hotel), comida (jantar e café da manhã), a possibilidade de tomar banho e lavar roupas, assim como acesso a novas roupas (usadas). Eu não preciso fazer nenhum espécie de abordagem individual – do tipo chegar no usuário e submetê-lo a uma entrevista; quem quer conta quem é e para onde vai e quem não quer, come e dorme. O departamento em que estou é quase que uma casa de passagem, em teoria os usuários não deveriam/poderiam voltar ou passar uma temporada por aqui mas, com base no que vi/ouvi a noite passada e hoje, muitos deles são velhos conhecidos.

A primeira impressão é que gostei do trabalho e, principalmente, dos colegas que já encontrei – ri demais e apesar do relógio voltar para trás entre as 3h e 5h da matina, no mais vai sem muito problemas afinal, eles tem muito o que dividir e eu quero muito escutar mas… não sei se tenho peito para continuar com isso. Sinceramente, meu medo foi substituído por algum sentimento entre a compaixão e a empatia, e isso é tanto bom como ruim. O problema maior está em passar a noite em claro e virar de ponta cabeça a minha vida. Se eu continuo nessa vou ficar longe de duas coisas que fazem minha vida repleta de sentido, em primeiro lugar o Joel – trocamos apenas algumas palavras tanto na segunda como na terça e amanhã… vou dormir durante o dia outra vez! – e em segundo lugar, a minha cama.

Tudo  que tenho ouvido aqui nesses dois dias me deixou entusiasmada mas também dividida; feliz e triste. De certa forma, não há muitas diferenças entre a realidade do trabalho social (que eu conheço) no Brasil com o daqui – eu vou explicar isso em outra hora, mas me refiro sobretudo as frustrações e expectativas com relação a esse trabalho e a possibilidade de tratamento de pessoas com dependência química. Por outro, parece que ser assistente social que trabalha com pessoas sem teto não é um caso fácil – sem falar que de forma nenhuma assistente social passa por uma moça boazinha que ajuda as pessoas; não na Suécia.

No fim, guardo uma certeza: a studievägledare tinha razão.

Estática

Sabe quando você passa um pente de plástico numa blusa de lã? Ou nem me lembro como é que você faz, só lembro que a fricção cria eletricidade estática. E a gente que vive empacotado (no bom sentido) – com múltiplos casacos, touca, cachecol, meia e tals – sofre disso: você tira a luva e de repente ouve aquele tec! e um pequeno choque nos dedos. Sem falar que os cabelos ficam meio arrepiados… #exagero

Viver sob múltiplas camadas de roupa faz com que a gente viva criando eletricidade estática por meio da fricção entre os muitos casacos, camadas e também devido ao tira e põe de roupas e acessórios de inverno. Assim que a eletricidade acumulada tem oportunidade de pular fora sou surpreendida. Não acontecia tanto no início do inverno, mas agora…

Pra ter uma ideia levei no mínimo uns cinco choquinhos só hoje, é mole? Levei um susto a cada vez que encostava os dedos ou a pele em um pedaço de metal ou precisamente, a cada vez que encostei no carro/porta do carro. Às vezes basta encostar em outra pessoa. Hoje, em casa, um daqueles tecs! estourou bem na hora que o Joel me deu um selinho – mas esse nem foi devido a eletricidade estática e sim pura paixão… ♥

Acho que chega né? Cortei o dedo e por isso o post é curto…

Enrolando…

Fonte: Google

Fonte: Google

Tô toda enrolada. Na real eu não aprendi a dividir o meu tempo para isso, aquilo e aquele outro; se faço exercícios não blogo, se como direito não limpo a casa e se leio livros não consigo me concentrar para estudar. A verdade é que gasto muito tempo na internet também, sou facilmente capturada por um artigo que alguém postou no facebook ou que está sublinhado no post de alguma amiga. E se esse artigo trouxer outras referências lá se vai mais meia hora perdida em coisas – muitas vezes – que deveriam ficar para depois.

Agora mesmo eu deveria estar lendo as normas de trânsito suecas e me preparando para a prova teórica. Semana que vem faço o Risk 1 e não tenho ideia que quando poderei marcar uma data para a prova teórica mas quanto antes eu estiver pronta com a carteira melhor para mim. Só que né… faz uma semana que não blogo e por que não fugir uns minutinhos? Só para contar uns causos…

Cortei o cabelo num salão sueco na semana passada. Fiquei o tempo inteira tensa, a menina sendo muito gentil comigo (não simpática, mas gentil), puxou papo o tempo inteiro e foi legal. Aí ela perguntou o que fazer com a minha franja e eu disse deixa como tá; mas ela me deu um olé e cortou a danada. Muito curta na minha opinião. Falei para ela que não tinha curtido a ideia de cortar tão curto e ela me disse que era só para ajeitar o corte… quase chorei. Fora disso fiquei bem satisfeita, nada comparado a ir a um salão no Brasil mas ela (a mocinha que cortou meus cabelos) não foi o monstro dos meus piores pesadelos (se eu jogo a franja meio de lado e escovo bastante não dá para perceber que tá no meio da testa). Além disso preciso arrumar um local para arrumar os meus cabelos no dia do casamento, a minha irmã estará aqui e com certeza vai querer ajudar mas tenho que ter um plano reserva se algo precisa mudar.

Falando em casamento, ainda não terminei de enviar os convites e, de quebra, me faltam os endereços de algumas pessoas. Dos convites que enviei ao Brasil metade chegou e metade sei lá… os Correios são uma empresa engraçada: minha irmã mora a 70 km da minha mãe e recebeu o convite dela há quase duas semanas e para minha mãe até agora, nada. E tem mais gente no vácuo; mas se o convite não chega a unica coisa que posso fazer é pedir desculpas e mandar outro. Se todo mundo usasse a internet a coisa toda seria bem mais fácil. Eu seu que tem gente que quer guardar de lembrança e tal, mas tem aqueles que só vão anotar data hora e tals e depois jogar o convite no lixo. Pra quê todo o gasto com papel, impressora, envelope e selos?

E com relação a papel que só serve para parar no lixo, o governo sueco vai exigir que todo o cidadão tenha ao menos um e-mail que esteja acoplado ao seu personnummer (número social) para que as correspondência expedidas por partições públicas sejam enviadas apenas eletronicamente. Com isso o governo vai economizar milhões de coroas com papel, impressão e envelopes – e ajudar a preservar o meio ambiente afinal, metade da papelada que chega pelo correio tem informações que quase ninguém lê e – a exceção dos boletos de despesas diversas – vão direto para o lixo.

Ainda no quesito papel versus mundo digital: ando pensando em comprar um tablet para ler livros. Adoro estantes e pockets, eu penso que é deveras charmoso comprar livros mas por outro lado há tanto que está disponível gratuitamente para download que eu gostaria de aproveitar… E queria uma coisa simples mesmo, nada de Ipad ou similares. Quero contar o que ando lendo mas isso fica para outro post.

Outra coisa que anda chocando a população sueca é a caça ao pessoal que mora ilegal por aqui (papperlösa – sem papel). Não que não existam pessoas a favor de que os ilegais sejam deportados mas a forma como tudo começou gerou polêmica: a polícia sueca começou a fazer “batidas” e exigir documento de identidade de todo mundo em Stockholm. Foi um caos pois, como dá para se esperar, há estrangeiros nascidos na Suécia que tem a papelada em dia mas não tem olhos azuis e cabelos loiros. Cidadãos suecos também foram abordados pela polícia e a coisa toda inflamou. Nada de briga, mas muita crítica contra a ação (da polícia e do governo). Essa semana começa a mesma coisa aqui em Göteborg. Vamos ver se alguém vai me abordar…

No mais, vou fazer um teste para um trabalho novo. Mas não, ainda não é como assistente social. A história é longa e fica para depois…

Agora to meio enrolada…

Dirigir na Suécia

Toda essa função em torno da busca do meu primeiro emprego como assistente social por aqui me levou a iniciar o processo para a carteira de habilitação sueca. O negócio é meio enrolado e muito caro (principalmente para quem não sabe dirigir), mas não tenho outra saída. Além do mais, eu gosto de dirigir.

Eu imaginei que teria de fazer inscrição em uma Traffikskola (auto escola) e liguei para algumas delas para pedir informações. Felizmente, como eu já dirijo há uns dez anos, não preciso de aulas de direção e então posso pular essa fase – vou economizar muiiiiiiiiitttooo com isso. Essa informação eu não consegui por meio da traffikskola e sim por meio do meu amado viking que usou o google para me ajudar porque – pasmem! – as auto escolas suecas também não me respondiam.

(Parênteses: eu acredito que meu sueco seja bom mas, definitivamente, eu tenho algum problema de comunicação. Ninguém [Arbestsförmedlingen] me entende e eu fico no vácuo quando ligo para consultas de preço ou das vagas de emprego… Minha auto estima com relação a língua foi parar nos meus pés essa semana).

Para iniciar o processo de habilitação é preciso acessar o site korkortsportalen e procurar o formulário para pedido de habilitação (esse aqui). Na Suécia também há a divisão de categorias de habilitação representadas por letras e eu vou ter a permissão B=carros. Apesar de minha habilitação brasileira ser AB não vou tirar carteira para motos porque o processo para tirar habilitação para motos é realmente complicado e nós nem temos uma moto; além disso, não é legal sair de moto nessa terra gelada.

Quando você solicita a permissão para realizar o processo de habilitação tem de responder (já no formulário eletrônico online) uma série de questões sobre a sua saúde: que você não é paranoico ou esquizofrênico, não tem tendências suicidas ou homicidas; ou problemas de coração, epilepsia, problemas de visão, dependência a substâncias psicotrópicas ou álcool.Por meio do formulário também é necessário informar se você toma medicamento controlado ou já tomou. Depois de realizar o pagamento online de uma taxa de 220sek você recebe em casa um formulário para o exame de vista que pode ser realizado em qualquer ótica – e pelo qual você paga 100sek.

Até o momento gastei 320sek (mais ou menos R$100) com o processo de habilitação e a expectativa é que vá gastar pelo menos mais 4075sek (cerca de R$1360). Como eu não preciso das aulas de direção posso estudar as normas de trânsito suecas em casa mesmo e depois marcar a prova teórica – que custa 325sek.

Mas antes da prova teórica eu tenho que participar de dois cursos obrigatórios (Risk 1 e Risk 2), o primeiro deles sobre direção defensiva e o segundo deles para você experimentar situações perigosas na pista, especificamente, deslizar por causa do gelo (halkbanan – pista de gelo). Parece coisa de filme mas aqui as pistas são definitivamente uma caixinha de surpresas e mesmo hoje, com sol brilhando e a temperatura em torno dos 4graus C ainda é possível encontrar gelo nas pistas – o que, ao longe, pode parecer apenas uma pocinha d’água. Isso é perigoso porque durante o período em que neva há muitos caminhões espalhando sal pelas pistas (sal e pedrinhas britas); mas agora não há nada para proteger os motoristas além do bom senso. Vale a pena aprender a manter o controle durante uma situação de risco e perda do controle do veículo.

Durante o inverno eu e o Joel passamos por uma situação assim: fomos visitar um conhecido que mora no campo e numa curva da estrada o carro simplesmente deslizou para fora da pista. Como o Joel já esperava por isso foi relativamente fácil controlar a situação – a situação, não o carro. Nós estávamos devagar (muito mesmo) e foi por causa da direção defensiva do Joel que não nos machucamos e estragamos o carro.

Os dois cursos acima custam, respectivamente, 700sek e 1700sek (2400sek no total ou quase R$800). Depois disso faço a prova teórica (teoriprov) e a prova de direção (uppkörning ou körprov) que custará mais 800sek. Até agora pelo que soube o grande desafio dessa prova é passar pela Korsvägen – um dos cruzamentos mais loucos de Göteborg, com spårvagn, ônibus, de frente  ao Liseberg e a Svenska Mässan, ou seja, poluído de pedestres. Não ouvi nada sobre baliza e pelo jeito, o maior medo do pessoal é mesmo passar a Korsvägen. Eu penso que é difícil, mas é apenas uma questão de manter a calma.

Depois de tudo isso terei a carteira em mãos, ou melhor, depois de tudo isso e de pagar mais 80sek para dar o meu retrato ao Traffikstyrelsen e mais uma taxa de 150sek para retirar a carteira; vou ter um cartão de plástico a mais na carteira e 4000sek a menos no banco. Isso se eu não pirar e reprovar…

Mas não vou. Tenho experiência de sobra no volante… só me falta o espírito de paciência e calma no trânsito dos suecos…