Feliz Páscoa!

Páscoa na Suécia e eu… trabalhei!

Ultimamente eu vivo um dia após o outro e nem me dou conta da diferença. Ou na verdade, sim: meus dias são separados entre as semanas em que tenho o fim de semana livre e a semana em que tenho que trabalhar todo o fim de semana. Isso é mal, é muito mal. Não porque eu trabalhe demais – eu costumo trabalhar apenas algumas horas por dia durante a semana (em média 3 horas por dia) e cerca de oito horas no fim de semana – mas porque eu trabalho ao contrário: noites e fins de semana.

Eu tenho sábado e domingo apenas de 14 em 14 dias e infelizmente esse fim de semana foi ainda mais excêntrico porque trabalhei extra na sexta… Sexta feira santa sempre foi dia de silêncio e meditação na casa dos meus pais – e por trabalhar em prefeitura mesmo quando morei sozinha gastei a Páscoa em família. Daí sexta era dia de ir à igreja participar da adoração e da missa da paixão às três horas da tarde. Nem se varria a casa no dia da paixão, nem se ouvia música ou assistia TV. E agora eu trabalhei (nos últimos dois anos) na sexta feira santa.

O problema nem é que tenho medo de ir para o inferno por causa disso, o problema é eu perceber o quanto me cobro por coisas assim, tradições que estão morrendo – e eu nem sei se o fato de elas estarem morreno é bom ou ruim. Me senti super mal por trabalhar na sexta feira santa, como se senti mal por trabalhar no Natal. É como se houvesse alguém no meu ombro dizendo que isso não vale a pena e é errado – e pode ser tanto o ego como  qualquer outra figura representativa do consciente/inconsciente pessoal ou coletivo.

Se eu estivesse com o tempo livre provavelmente não iria para a adoração na igreja, não sei se participaria de uma missa da paixão – nem sei qual o costume que os luteranos suecos tem ao celebrar a Páscoa (e olha que vou me tornar luterana sueca, de certa forma); não sei se guardaria silêncio e meditaria sobre o calvário de Cristo e sua ressurreição… Apenas tenho certeza de que me sentiria mais feliz em não trabalhar em “dias santos”.

Essa escolha não está ao meu alcance agora e por isso tudo fica meio assim: eu sabia que não passaria a Páscoa em casa, eu sabia que trabalharia com horários meio estranhos, eu não gosto de conciliar longas horas de trabalho com outras atividades no mesmo dia e por isso mesmo eu sabia que não faria outra coisa durante a Páscoa que não fosse trabalhar. Então, não decorei a casa com penas e galhos secos (tipo, a cultura sueca é diferente. Quer saber como  funciona a Páscoa sueca: leia aqui), não comprei chocolate (ganhei quilos no meu aniversário), não fui a missa, não participei de nenhuma adoração e nem vi o dito cujo do feriado.

Conclusão: eu preciso de outro emprego.

Ontem o horário de verão começou e somado à estranheza do fato de que passei a Páscoa trabalhando veio aquela coisa de se estranhar com o relógio. Estava na hora porque tínhamos sol brilhando as 5 da matina, agora temos luz até as oito da noite – já. Nem vou reclamar porque Gotemburgo bateu em março o recorde de dias ensolarados para o mês, foi lindo e espero que continue assim! Daqui uns dias o sol vai estar de novo brilhando as 5 da matina mas eu prefiro assim, que venham muitos dias ensolarados!

E agora que já chorei as pitangas e falei do tempo: Feliz Páscoa!

14 comentários sobre “Feliz Páscoa!

  1. Olá Maria! Interessante seu post, aliás vc tem a manha de escrever. Fiquei pensando… Realmente temos que mudar nossas crenças, aquilo que acreditamos para entrar num outro esquema? Creio que não. A gente abre mão de tanta coisa por um amor. Como disse, vai se tornar luterana de certa forma. Mas penso que não precisa esquecer as orações que talvez sua mãe te ensinou, ou a religiosidade que vivenciou, ainda que sem tanto empenho talvez. Todos passamos por isso. Claro que algumas mudanças nos acrescentam, mas até onde devemos mudar? Não quero desrespeitar ninguém mesmo, apenas falar do que eu sinto, sendo Cristã que erra tantas vezes, mas que encontra no Colo de Maria Mãe de Deus tanto conforto. Se já experimentou isso, não deixe que acabe. E já que a Páscoa não é apenas o domingo, te desejo realmente as bênçãos dessa Vida Nova dadas unicamente pelo Nosso Senhor Jesus.

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  2. Feliz Páscoa atrasada, minha linda Maria! Aqui também não celebramos nada. Apesar de ser atéia, minha família quase toda é católica e sempre celebramos do jeito deles (mesmo os espíritas-kardecistas e os católicos-de-meia-tigela e os que são budistas, sempre fizemos do jeito da maioria… tradição de família…). O nosso cachorro demanda muita atenção, muito mais do que eu tinha imaginado, e assim não pude curtir a Páscoa, não pude aproveitar o sol que também chegou por aqui, não pude nem tomar banho, pra falar a verdade.

    Eis o que eu penso: sendo atéia, obviamente não dou nenhuma importância pra essas datas. Não comemoro o nascimento de Cristo nem a morte dele, mas certamente gosto de curtir um feriado junto com a minha família, de cozinhar algo especial pra eles, de meditar. Não medito sobre a vida e morte de Jesus Cristo, assim como não costumo pensar na vida e morte de Maomé, nem de Iansã, nem de Buda (mentira, eu penso sobre Buda com alguma frequência). Mas eu gosto de meditar sobre a minha própria vida, tudo que eu já fiz, quanto eu já caminhei, o quão longe eu cheguei, da provinciana e patriarcalista Recife pra igualitária, limpa e cheirosa Suécia. Gosto de tentar “sair de mim” e olhar pra dentro de mim e me entender melhor e analisar os pontos que preciso melhorar e me congratular pelos pontos positivos.

    O que quero dizer na realidade é: não se preocupe com tradição, dogma, o que os outros pensam, o que os outros fazem. Isso é tudo abobrinha pra encher a cabeça da gente de besteira e controlar a nossa vida. Medite sim, sobre você. Preocupe-se com o que te faz feliz. Acho que a vida é muito curtinha (e sendo atéia, acho que depois que morremos, morremos, fim da história) e acho que é muito difícil viver, por isso não vale a pena arranjar mais problema, confusão, sofrimento. Meu desejo de Páscoa pra você é que siga meditando, analizando, refletindo e se livrando de todas as amarras. Que vá renascendo, você mesma, e encontrando aquilo que lhe faz verdadeiramente feliz. E que você não precise entrar em conflito por causa disso. Você meio que vai virar luterana, mas é católica. Mas isso faz mesmo diferença? O importante não seria ser acima de tudo cristã? Eu já li a Bíblia duas vezes e lembro bem de algumas passagens que achei belíssimas e que só me causaram ainda mais raiva da Igreja e todas essas instituições malucas e castradoras. Lembro que Jesus disse que pra comungar com deus não precisa de templo nenhum, pois deus está em todo lugar, nas montanhas, florestas, rios. Eu nem sou cristã, mas adoro dar uma de bruxa velha e sair pra caminhar pela floresta e sentir aquela energia. Às vezes até abraço árvores. Pra mim é a magia da biologia, da química e da física em ação. Pra você, é um milagre de deus. Também sei que Cristo estava lutando justamente contra essas instituições caducas, que ele era um ser muito político, que era um homem de muita visão. Então será que é preciso mesmo seguir um certo tipo de ritual, de liturgia? Não será possível fazer as coisas do seu próprio jeito e se sentir ainda mais próxima de deus? A única coisa que realmente importa é a SUA FELICIDADE.

    Um beijão!

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  3. OI caipira, pelo que eu entendi do texto não foi um clamor sobre religião ou o que Deus representa pra você, mas me pareceu que você está infeliz com esse emprego. E não tem coisa pior do que acordar e saber que você vai para um lugar que não quer.
    Lembro que no último post sobre esse assunto você estava bem confusa, mais a respeito dos horários e de como você arrumaria tempo junto com o noivo. Aí, eu te pergunto: “Vale a pena esse sacrificío?”. Lembra que falamos sobre colocar na balanca?

    E se você sentiu-se mal por trabalhar nesses “feriados religiosos” apenas por não está cumprindo uma tradicão, relaxe, pq eu acredito que Deus está em todo lugar. E é até injusto cobrar a si mesmo apenas por uma questão de dogma, não é mesmo?

    Beijos e boa sorte com a sua decisão.

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  4. Ai Heleninha, sim, a gente vai perdendo certas práticas devagar, elas vao sumindo da gente nesses paises frios. eu me cobro pelo menos uma vez, chorar. Nem preciso de motivo, serio mesmo, eu me cobro: mt bem dona Nina, hoje é dia de chorar. Nao posso me permitir, Helena, virar um monstro, seco, duro e frio como eu as vezes penso que esses europeus sao. Falo com Deus, agradeco, nem peco mais nada, porque minha vida é um mar de rosas…gracas a Deus. Mas nao deixo a vida ficar na mesmice porque senao, eu endureco. Endurecer jamais! tenho que ser terna. Isso aqui endurece nossos coracoes.

    Sai do tema eu sei :-)

    Sim, ta na hora de procurar um novo trampo. Isso de horario mt diferente do nosso interno, nao faz bem a gente.

    Bjs e sorte!

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  5. Olá Maria, achei lindo o seu post, mas concordo com o que a Debora disse. Acho que você não está satisfeita com seu novo trabalho, e é muito ruim quando isso acontece. Parece que a nossa vida perde um pouco das cores.
    Eu imagino como é difícil a saga por um emprego aí, e tá chegando a minha hora e eu já estou arrancando os cabelos, mas eu tenho certeza de que com a sua garra você vai conseguir arrumar um trabalho mais de acordo com as suas aspirações e mais generoso com seus horários e o seu bem-estar.
    Beijos

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  6. Oi Ju,
    Eu reli o post e acho que não me expliquei bem – talvez eu seria uma boa escritora contando tudo meio que pela metade, o que deixaria que o leitor preenchesse as lacunas como bem quisesse – é que eu estou um pouco chocado com a minha mudança de perspectiva de como viver a Páscoa e Natal, principalmente. A família do Joel é cristã mas para eles o Natal é muito mais especial do que a Páscoa, o que era o contrário para nós. Eu me assusto um pouco de pensar que eu saí de um lar muito religioso e não trouxe comigo essa vontade de perpetuar a tradição, e para mim isso não entra na conta do: eu vou me tornar luterana sueca então preciso mais seguir a tradição. É só que, sei lá… não rolou nenhuma vez aquela vontade, saudade dos ritos. E eu me sinto estranha com relação a isso. Mas não é porque eu vou deixar o catolicismo – ao menos por enquanto – que eu vou esquecer de coisas que me fazem bem, e minha devoção (ou talvez eu deveria dizer carinho) por Nossa Senhora é uma delas. Obrigada pela benção, espero que Deus abençoe sua vida também!

    ******
    Oi Maíra,
    O que eu sinto não é saudade dos ritos, eu sinto é uma estranheza de eu ter deixado tudo assim de supetão. Eu concordo com você sobre essa coisa de meditar sobre a minha vida e isso me faz questionar o quão profunda foi a minha devoção, o quão verdadeira é a minha fé: eu estava indo apenas junto com o bloco ou isso era o que eu queria mesmo? Porque agora eu sinto que queria estar livre nos feriados, mas é mais para poder curtir com a minha família sueca do que para ir a Igreja e participar desses ritos e tradições. Concordo que a Igreja é uma instituição com regras esquisitas que acorrenta muita gente, mas ainda tenho esperança no catolicismo. Muito provavelmente eu não verei essa transformação mas, quem sabe? Acho que dei uma de Pollyanna agora.

    ******
    Oi Deby,
    Na verdade, esse é o emprego velho como assistente social e com esse eu não ando feliz mesmo. O problema não é o trabalho em si, o trabalho é muito gostoso e gratificante e o grupo de pessoas com quem eu trabalho é muito legal. O meu problema são os horários de trabalho: eu sou substituta e só tenho trampo quando me chamam. Até agora acontece muito raramente de eles me chamarem para horários normais de trabalho, sempre que há uma vaga são noites ou fins de semana. Isso me faz viver um eterno desencontro com o Joel: ele sai, eu fico; ele chaga, eu saio. E fins de semana… pá, lá estou eu no trabalho ao invés de cultivar uma vida social. Você sabe o quão difícil é estabelecer contato com os suecos, imagine ainda alguém que nunca está disponível quando todo mundo está de folga… preciso mudar de emprego, urgente!

    Beijos

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  7. Oi Nina,
    Não acho que você fugiu do assunto não, acho que tem tudo a ver. Às vezes nos engessamos aos moldes daquilo que os outros esperam de nós e isso nos faz ficar duros; tanto conosco mesmo como com os demais. É difícil trabalhar a questão de poder desistir, ou de poder fracassar, ainda mais quando moramos em um outro país. Eu tenho medo de deixar meu trabalho e de ficar em casa e de ver minha família se decepcionar por causa disso. E mais do que isso: tá muito difícil ter trabalho agora, será que eu consigo outro se eu deixar esse? Vivo um dilema e deixo de lado muito do que eu quero em prol daquilo que eu preciso. É bom de vez em quando, mas até quando? Acho que tenho que ser mais suave comigo mesma.

    ******
    Carioca,
    A coisa está ficando meio preta aqui na Suécia e como eu disse para a Nina ali em cima, apesar de eu querer deixar o meu trampo eu fico com muito medo de não conseguir outra coisa. Esse final de semana estava um amigo aqui em casa (que eu vi meio rapidinho) que estava falando justamente sobre essa coisa de a gente gostar do que faz; quando gostamos do que fazemos deixamos de trabalhar e passamos apenas a nos divertir. Seria fantástico…

    Beijos!

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  8. Maria, você é uma criatura linda, colocando seus pensamentos em papel (digo, pixels?!) e deixando todo mundo dar pitaco! Olha, será que não rola de ligar pra eles e dizer que esses horários não estão bacanas e se eles não podiam arranjar mais trampos durante o dia? Vc sabe como os suecos são, não tomam nenhuma iniciativa pra ajudar… Mas se você abrir a boca e pedir ajuda, daí eles movem mundos e fundos! E outra, depois que vc começar o mestrado (quando vai ser?), vai começar a ser chamada pra muitas vagas. Um utbildning sueco vai abrir muitas portas, tenho certeza! Confia na intuição e vai fundo, guria! Você é uma guerreira e têm conquistado muitas vitórias :)

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  9. Oi Maria, entendo essa sua questão de não querer decepcionar sua família, caso desista do emprego. Mas acho que ficar triste ou estar sempre ausente do convívio social é um preço muito alto a ser pago.
    Sei também que é mais fácil dar conselhos do que viver uma situação difícil … não sei como é a seleção / concorrência para esse emprego, mas de repente é possível se ausentar um pouco ou diminuir o ritmo e procurar algo mais interessante, e retomá-lo caso não encontre outro que te agrade.
    Com certeza é uma decisão muito difícil, mas você vai conseguir decidir o que é melhor pra você.
    Boa sorte!
    Bjs

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  10. Pois é Maíra, o negócio aqui é preguiça e mal entendidos também. Acho que há muito da língua que me deixa boiando sem eu perceber e aí que às vezes pago o pato por causa disso. Mas já deixei meu trabalho de 40% para poder correr atrás do que quero, agora é torcer para que o master dê certo. Dedinhos cruzados!
    Beijos!

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  11. Ai, flor, o buraco é mais embaixo sabe? Duvido que a minha família sueca teria algum problema se eu dissesse: Olha, eu não vou mais trabalhar, agora quero ter 3 crianças e me dedicar a ser esposa em tempo integral. Mas socialmente, estrangeiro é sempre o cara que se encosta, que vem para cá e não aprende a língua, que fica “escolhendo” trabalho, que faz tudo errado. Eu não quero entrar no meio dessa estatística.
    Beijinhos

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  12. Entendo perfeitamente, to na torcida para que você consiga fazer o mestrado e possa trabalhar na sua área!
    Beijos

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  13. Mariaaa!
    Quando eu trabalhava como aeromoça também tinha esse problema com os horários e com as datas festivas. Trabalhava no Natal, na Páscoa, no Midsommar, em tudo quanto era dia para ficar em casa! E eu me sentia mal também, apesar de nunca na vida ter dado grande importância a essas datas. Acho que o que incomodava mais era a sensação de estar “à parte” do resto da sociedade. Foi durante esses dois anos que eu me apercebi que realmente era importante para mim ter um emprego com horários normais.
    Espero que você arranje um novo emprego logo e que possa curtir muitas Páscoas em solo sueco!
    Beijos

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  14. Oi Joana!
    Você descreveu perfeitamente o meu sentimento: estar a parte. Nunca estou com o Joel nesses dias festivos, por exemplo e fico me perguntando se o que estou fazendo vale a pena. Eu me mudei para cá para ficar com ele e puxa, logo os dias que poderíamos relaxar e curtir um ao outro estou comprometida e trabalhando! Estou rezando – e ligando atrás, mandando currículos – por um emprego novo! Isso definitivamente resolveria o problema.
    Beijinhos!

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