“Oi Maria achei seu blog que é muito legal e queria saber se você pode me ajudar com umas dicas porque quero trabalhar na Suécia…”
Quando o número de acessos ao blog aumenta, aumenta também o número de pessoas que entram em contato pedindo os mais diferentes tipos de informações. As perguntas vão desde o que eu acho do frio, até como é a rotina na Suécia, como fisgar um sueco e a campeã, como arrumar emprego aqui.
É claro que eu escrevo uma página na internet porque eu gosto de escrever. Eu também gosto muito desse contato com os leitores, alguns deles eu já encontrei na vida real e foi muito bacana. Tem gente que realmente não escreve porque tem uma dúvida e sim porque precisa desabafar, trocar umas ideias com alguém. Isso é maravilhoso porque o processo de adaptação não acontece de um dia para o outro e quando eu tenho a oportunidade de conversar com pessoas que querem trocar ideias e que já leram de tudo um pouco na internet sobre o tema, mas ainda tem dúvidas; isso me ajuda a crescer também. Mas há outras pessoas que simplesmente decidiram ontem que vão sair do Brasil e antes de buscar qualquer informação começam a atirar para todos os lados.
Nesse caso eu recebo e-mails e ou mensagens na página do facebook como (mais ou menos) aquilo que escrevi aí em cima. Se eu responder com um “legal, pessoa, qual a sua história? no que você gostaria de trabalhar?” em 80% dos casos recebo de volta um “em qualquer coisa. Quero sair do Brasil porque aqui é uma merda e eu aceito qualquer coisa”.
Ok. Cada um tem o direito de achar do Brasil o que quiser. Se quiser me escrever e dizer que acha o Brasil uma merda, eu entendo. Meu irmão também acha o Brasil uma merda e eu amo ele de montão. A gente cresceu na mesma família e temos visões completamente diferentes do Brasil. Eu acho que tivemos uma vida boa, de muitos privilégios, e que eu não tenho porque reclamar. Não foi fácil. Mas não foi difícil como é para muita gente. E depois, eu acho que a vida pode ser bem difícil independente do país em que você vive. É só uma questão da situação na qual você vive.
Mas então, a pessoa me responde que quer trabalhar em qualquer coisa aqui na Suécia porque a vida é uma merda no Brasil. Aí eu pergunto: “você fala inglês?” – porque não vou perguntar para um brasileiro se ele fala sueco né? – e a pessoa geralmente responde com um “não, não falo” ou “muito pouco, meu inglês é fraco e acho que seria uma oportunidade boa mudar para a Suécia para melhorar o inglês”.
Daí eu vou ter que dizer: você que quer mudar para a Suécia para melhora o seu inglês, você está fazendo isso errado. Eu não sei se você leu por aí, só por acaso, que o idioma oficial na Suécia é o sueco (e não o alemão). Provavelmente você leu por aí que todo sueco tem inglês como segunda língua, e é verdade, mas essa é a SEGUNDA LÍNGUA deles e não a primeira. Se você vier para cá trabalhar com altos negócios (se você é tipo o Jordan Bellfort do Wolf of All Street) parabéns; o mundo dos negócios respira em dólares e transpira em inglês. Se você lida com TI e sua segunda língua é programação, mas você tem inglês fluente parabéns – a Suécia adora poliglotas em tecnologia e informação. Se você é um engenheiro fodão em busca de experiência no exterior, parabéns; há oportunidades para você aqui também. Agora, se você não sabe o que quer fazer, se você só quer zarpar do Brasil a qualquer custo e nem tem inglês suficiente, desculpe: você mirou no país errado. Nos hotéis eles querem pessoas que falem inglês sim, mas você tem que falar sueco fluente porque seu trabalho não será apenas com os hóspedes (e mesmo os hóspedes de hotéis suecos em sua maioria são o quê? Adivinhe? Suecos). Nos restaurantes eles querem pessoas que falem inglês sim, mas você tem que falar sueco fluente porque seu trabalho não será apenas anotar pedidos. Suecos também vão a restaurantes e eles não tem nenhum problema em usar o inglês deles, só é bom que fique claro que você tem que saber sueco para lidar com seus colegas de trabalho, estejam eles na cozinha ou no caixa.
“Mas eu falei com fulano que mudou para aí e trabalha num restaurante/num hotel/na faxina sem problema”. Verdade. Eu mesmo já fui faxineira. A maioria dos brasileiros (de qualquer imigrante) que venha parar aqui já trabalhou em cozinha/hotel/limpeza. A diferença sutil dessa treta é que eu não vim para aqui com um visto de trabalho para ser faxineira. Eu já falei isso aqui no blog antes mas pelo jeito tenho que repetir: não existe visto de trabalho para a Suécia se você quer ser faxineirx, garçonete/garçom, serviço de quarto. Tem gente de sobra pra fazer esse tipo de trabalho por aqui porque esse é um tipo de coisa que todo mundo procura quando o calo aperta. E acredite: o calo sueco anda apertando.
Se você tem formação acadêmica no Brasil e quer mesmo assim saber como anda o mercado de trabalho para sua profissão aqui na Suécia, leia este post aqui. E saiba que se você não está no ramo de administração/negócios, TI ou engenharias; você precisa dominar o sueco. E só para deixar extremamente claro: você consegue visto de trabalho para a Suécia se estiver mirando em coisas grandes. Negócios. Projetos específicos. Parcerias entre instituições suecas e brasileiras. A gente que veio para cá com visto por vínculo familiar – e não por vínculo de trabalho – pode brigar por um trampo num hotel/restaurante/na faxina. Esse trampo nem precisa ser integral, pode ser de final de semana, ou em parceria com o Arbetsförmdelingen. Mas se você quer um visto de trabalho na Suécia esse tipo de emprego não vai te dar a estabilidade necessária para que a imigração te carimbe o passaporte.
Em outras palavras: se você não sabe o que quer da vida ainda, não tem inglês mas tá de saco cheio da merda do Brasil, não vai conseguir visto de trabalho para a Suécia. Vá estudar inglês primeiro. Faça uma graduação. Invista na sua carreira profissional que oportunidades aparecerão – talvez nem seja aqui, seja em outro lugar do mundo ou pasme, aí no Brasil mesmo.
Não tô dizendo com isso que seja fácil. Eu bem sei que não é apenas decidir estudar no Brasil e puff! estudei, estou formado e agora eu posso conquistar o mundo. Só que vir para a Suécia sem formação, preparo ou apoio é ainda mais difícil. Nesse caso é bem mais fácil abrir uma conta num bate papo na internet e tentar a sorte por amor.
E não adianta ficar de cara comigo. O fato de eu não dizer: venha! não quer dizer que eu não quero brasileiros na Suécia. Por mim as fronteiras do mundo inteiro deveriam ser abertas. As regras comerciais e trabalhistas deveriam ser iguais em todo o mundo. E as políticas sociais também. Mas enquanto isso não acontece – se é que um dia irá acontecer – a verdade é essa: não tem choro e nem vela, não há espaço para quem quer fugir aqui. E você pode repetir a mesma pergunta para qualquer blogueira que for. Eu recomendo mesmo que vocês questionem a Vânia, do Diário de uma Teimosa, perguntem para ela como é que foi que o marido dela arrumou emprego aqui (se ele decidiu ser faxineiro na Suécia e conseguiu). Ou a Fernanda, do Aprendendo a Viver na Suécia. E a Cíntia, do Minha Aquarela 2 que acabou de mudar para a Noruega (e que apesar do marido trabalhar aqui há cinco anos, nunca conseguiu emprego fixo).
E eu, infelizmente – ou melhor, nós não podemos dar emprego para ninguém. Se eu pudesse, já tinha trazido para cá meu irmão, minhas irmãs e respectivos. Minhas melhores amigas. Até meus primos eu traria. Se fosse tão fácil eu teria trazido desde o primeiro ano os meus próprios pais. Nenhum deles está morando aqui. Por que será?
Porque para eles vale o mesmo que vale para todo mundo, indiferente de eu ter um lugar para morar aqui e um visto. Não me faz especial. Ao contrário: eu sou uma imigrante na Suécia. Eu faço parte da classe mais ou menos aceita porque tem marido sueco. No mais, não tenho nenhum poder especial a não ser o de compartilhar informações. E isso eu já tô fazendo.
Se não era bem o que você queria ter ouvido, paciência. Ainda assim, é a verdade.