Dia dos namorados e um alô para quem morre de amores por um viking

Eu ando com muita saudades de escrever. O blog sempre serviu de válvula de escape para mim, principalmente nos meus dias mais difíceis do lado cá. Esses dias recebi um e-mail mal educado, de uma pessoa me perguntando se eu cansei de falar mal da Suécia ou simplesmente caí na real. Fala sério? Há uma porcão de blogs mostrando o quanto a vida na Suécia é boa, eu não acredito que precise frisar essa questão. Não quer dizer que esses blogs são menos importantes, ou que eu queira ser diferente. Quer dizer apenas que eu decidi mostrar o lado B das coisas, uma vez que o lado A está bem explícito.

Eu gosto da vida na Suécia e concordo com a maioria das coisas que as minhas colegas blogueiras expõe sobre esse país tão seguro. Sou feliz vivendo aqui. Em muito devido aos fatos especiais que me trouxeram para cá, e é justamente sobre isso que eu quero falar…

Hoje se comemora o dia dos namorados no hemisfério norte – ou melhor, o dia de todos os coracões na Suécia (já deu para perceber que eu não estou usando cedilhas?). Apesar das parcas atualizacões que venho fazendo por aqui, ainda há muita gente que me escreve por causa da minha história. O que vem mudando é que ultimamente mais e mais gente vem me escrevendo para pedir conselhos amorosos e isso, bem, é muito complicado.

Já me perguntaram se eu achava que dá para confiar em suecos, se dá para levar eles no motel, se transar no primeiro encontro faz com que eles pensem que somos putas, se vale a pena largar marido e filhos por causa de uma paixão avassaladora por um sueco super carinhoso e gentil de olhos azuis, se é normal que o namorado viking tenha fotos de mulheres nuas no computador, se é verdade que eles preferem as latinas e tailandesas porque as suecas são feministas peludas egocêntricas e malvadas…

Quero abrir um parêntese sobre a última questão. Há uma dicotomia muito interessante relacionada a esse fato. Por um lado, um monte de gente dissemina e acredita piamente que suecos não se casam com suecas porque elas são feministas castradoras. Por outro lado, um monte de gente – quando não as mesmas pessoas – afirmam que suecos são ótimos partidos, uma vez que cresceram em um país onde homens e mulheres tem direitos iguais, então eles são mais gentis e nem um pouco machistas. Partindo do pressuposto que mulheres suecas não servem para casar (elas são feministas peludas egocêntricas e malvadas), imagino que a maioria desses príncipes encantados sejam filhos de chocadeira…

Ironias a parte, o meu problema se deve ao fato de que não sou uma boa conselheira amorosa. Uma, porque me dá preguica. Tem gente que romantiza demais a relacao com um estrangeiro. Gente, se você é uma mulher hétero interessada em um cara hétero, saiba que o estrangeiro é só um homem hétero e ponto final. Homens podem ser doces e interessantes, podem ser malas arrogantes, podem ser machistas retrógrados, podem ser sexistas disfarcados, podem ser um ser maravilhoso, único e especial, e isso não porque são suecos ou brasileiros, mas sim porque são humanos.

Mas a cultura influencia, óbvio. E que a cultura sueca é muito diferente da cultura braisleira é um fato. Feliz ou infelizmente, ninguém nasce em linha de producao e, apesar da diferenca cultural, na Suécia os homens também traem, também assistem pornô, também batem em mulher e também abandonam a mocinha na porta da igreja.

Vou contar alguns casos: mais de uma guria me escreveu e-mails gigantes me contando os pormenores de suas histórias tristes com um sueco. Enquanto elas sonhavam em vir para cá (e o cara enrolando), ele estava saindo numa boa com outras garotas. Certa vez em uma festa eu conheci um sueco que veio me dizer que tinha uma namorado no Rio e que estava querendo trazer ela para cá. Me perguntou se tinha sido fácil para mim conseguir o visto. Eu comecei a contar minha história, até que um amigo do Joel veio tirar uma com a cara do sujeito, bem no estilo ” ai ai João, você ainda não tirou a Ana da cabeca? Olha que se a Rosa ficar sabendo…”. Aí que eu fui entender: o cara estava noivo de uma sueca, mas tinha uma namorada no Brasil. Ele vivia dizendo para ela que ia trazer ela para cá e visitava a guria uma vez por ano, mas ela nem sonhava que o cara estava na contagem regressiva para o casamento. A desculpa dele para ela era que por causa da filha dela o processo era mais demorado… Ele veio me fazer perguntas para descobrir se ia ser fácil ela descobrir que ele só estava enrolando… e ele me confessou isso na cara dura, justificando que era muito jovem para assumir uma crianca!

Ano passado, uma outra garota me escreveu dizendo que sofria violência psicológica do parceiro sueco. Estava grávida, não tinha dinheiro para voltar para o Brasil e vivia abandonada pelo cara, que tinha várias amantes e vivia viajndo a Europa com elas e contando para que lugares lindos ele tinha levado as outras gurias. Ainda uma segunda garota grávida me escreveu para contar que estava numa situacao semelhante. Na comunidade de Brasileiros na Suécia (no facebook) uma terceira pediu ajuda pelo amor de Deus pois tinha sido despejada pelo namorado, que simplesmente decidiu que ela não ia mais ficar na casa dele e pau, largou a menina na estacão de Stockholm e disse: se vira… Além de violência psicologica, eu sei que há brasileiras que sofrem de violência física aqui também.

Por fim, há aqueles que desistem “a tempo”. Quando você dá entrada no visto, o sueco tem que confirmar a história e dizer a imigracão que está disposto a te dar casa, comida e roupa lavada. Tem gente que entra em pânico nesse momento e simplesmente diz que não, que não era bem isso, que não pode ser responsável por outra pessoa. Não sei se é melhor ou pior, só sei que deve ser bem duro descobrir que o cidadão no fundo nem sabia ao certo o que queria.

Isso tudo para jogar mais um pouco de lama na reputacao inimputável desse reino tão e tão distante?

Não, é apenas para dar um toque: o que você espera ouvir quando escreve para uma pessoa que não te conhece, que não conhece o homem dos seus sonhos, que não tem a mínima ideia dos pormenores que envolvem a história de vocês? Se você espera ouvir um vem, vem agora que você será feliz para sempre, bateu na porta errada baby. Uma, que mesmo que eu escreva isso para você será uma mentira e duas, acho que você deve pedir conselhos para alguém que te conhece, tipo a sua mãe ou a melhor amiga.

É certo que eu vivo uma história de amor com um sueco. Isso pode ser algo que temos em comum. Mas, apenas para reforcar, cada ser humano é unico e eu não posso orientar um terceiro a tomar as mesmas atitudes que eu. É muita responsabilidade. E tem gente que se irrita! Tipo a guria que me escreveu perguntando se ela devia largar o marido e filhos para ficar com um sueco e eu disse que não iria opinar, me deu uma resposta torta dizendo que eu devia ajudar por ser uma questão cultural. Uma questão cultural? Essa é uma questão pessoal e no mínimo extremamente sensível por dizer respeito a vida de menores. Além de tudo, tem bem cara de cilada: a pessoa me escreve, pergunta o que eu acho; eu digo que eu acho que ela deve apostar; tudo dá errado e depois… foi a caipira do blog que me MANDOU largar do marido!

Enfim, se você é solteira, independente e quer arriscar… coloque as coisas na balanca do seguinte modo: e se ele não fosse sueco? E se ele fosse brasileiro e eu tivesse que me mudar, sei lá, do Amazonas para o Rio Grande do Sul ou vice e versa, sabendo o que eu sei, eu faria isso?

Se você está na duvida, é bom por um freio.

6 comentários sobre “Dia dos namorados e um alô para quem morre de amores por um viking

  1. Sempre adoro os seus textos. Essa semana eu estava pensando em como vc sumiu e sobre a sua decisão de não expor o seu filho nas redes sociais, o que eu super respeito, mas me pego curiosa pensando no porquê. (Isso foi meio que uma pergunta sem interrogação).
    Sobre os causos amorosos, eu ia morrer de preguiça dessa gente. Como vc aguenta?
    Xx

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  2. Oi Paula!
    Eu sempre penso no blog. E bem… eu sei lá exatamente o porquê de não querer expor o Benjamin, um tanto é porque eu fico imaginando o que ele pensaria quando adulto e visse que um monte de gente sabe cada tintim da infância dele. Eu preciso confessar que acho o máximo blogueiras que tem esse desprendimento e que jogam toda a loucura e fofura de ter uma criança na rede. Muitas vezes me pego morrendo de vontade de compartilhar fotos, vídeos e um monte de detalhes… mas depois vem o medo. A Internet é um lugar fabuloso para encontrar pessoas de todos os tipos e isso é tanto bom quanto péssimo. Sei de gente que encontrou a foto dos filhos em páginas nazistas e até de pedofilia… não quer dizer que aconteceria comigo, mas e se?
    No caso do “disque coração apaixonado” a verdade é que tenho ignorado mesmo.
    Beijos!

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  3. Nossa mew, largar os filhos, é de mais! As vezes eu reclamo dos problemas de saúde do Mathias, mas ao mesmo tempo dou graças a Deus… pq Fui para aí, cheguei a conhecer os pais dele (sogrinho que Deus o tenha), fui suuuper bem tratada pelos pais dele, tivemos sim, os nossos perrengues, pois temos costumes diferentes, rs, e qualquer coisa que falamos (o jeito de se comunicar), para eles já é uma ofensa kkkk, então nestes anos todos, percebi que se ainda estamos aqui (tentando ficar juntos) é pq realmente existe amor. Que nem a história da mulher que foi abandonada na estação, cara… Nem dá pra saber quem é a vítima da história, pois já vi brasileiras quererem ser bancadas pelos caras (gringos de vários países), e serem folgadinhas com os fazeres de casa (faz de qualquer jeito e acha que tá bom), só que mew… Na Susu é assim… Eu trabalho e vc trabalha e crescemos juntos (pra quem sabe o que quer da vida), e lá aprendemos o quê? Eu só reforcei o que aprendi em casa… Filha se sustente e seja auto suficiente, pois não é casamento que te dá estabilidade, qdo o cara quiser, vai picar a mula, ponto e acabou (você que tenha um plano B). Gostei da sua postagem Guria!
    Beijão em vc e no príncipe!

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  4. :* Gosto muito do seu blog, parabéns!! continue sempre assim @freitasmh.. Seus posts são ótimos, sem rodeios….e bem coerente…
    Espero que conhece-la pessoalmente assim que visitar está linda cidade Suécia…

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  5. Maria Helena, tudo bem? Que bom que voce comecou a escrever de novo pois gosto muito dos seus textos. Eu concordo com voce de que muitas pessoas glamorizam demais relacionamentos com estrangeiros. A pessoa antes de se mudar pra outro país, tem que estar ciente dos desafios que irá enfrentar, aprender a língua é só um deles… aprender a cultura entao e econtrar o seu lugar ao sol, a pessoa tem que saber que nao será fácil. Mas eu apesar de tudo acredito no amor também, porém com os pés no chao.

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  6. Infelizmente as pessoas fantasiam muito sobre escandinavos serem perfeitos. São pessoas, como em qualquer lugar do planeta. Parabéns pelo texto!

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Agora vamos prosear!

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