Tagarela

O Benjamin vai completar 15 meses essa semana. E está um tagarela.

Aí eu comecei a pensar em quanto me preocupei com isso antes. Tanto durante a gravidez quanto nos primeiros meses de vida do Ben eu imaginava como seria esse momento e lia e lia muito sobre o assunto. Achei dicas ótimas, e comecei a seguir um site em específico (filhos bilíngues, googla aí) aonde encontrei muita coisa boa. Mas eu tenho que confessar que a melhor coisa que me aconteceu foi conhecer uma guria que mora em Stockholm (e que é fono) que compartilhou muita coisa interessante sobre a exploração da fala por bebês e ajudou a desmitificar algumas coisas.

Por exemplo, há quem afirme que crianças bilíngues demoram mais para começar a falar. Na verdade, esse padrão não foi confirmado cientificamente. Há bebês que desenvolvem a fala cedo e outros nem tanto, e isso é uma questão do desenvolvimento individual da criança. Eu acredito que o meio no qual o bebê cresce influencia muito também, assim como a própria personalidade da criança. Mas essa coisinhas também não são comprovadas cientificamente.

Daí, pra encurtar a história, Benjamin “fala” muito. Ele balbucia o tempo inteiro e ainda que a gente não entenda o que ele diz, esse é um sinal explícito de que ele está desenvolvendo a fala. Segundo, ele tem um vocabulário de aproximadamente 20 palavras (dessas que a gente entende), o que para um bebê da idade dele é bastante (o esperado seria uma média de 8 palavras aos 18 meses). Algumas palavras ele fala tanto em português como em sueco (mãe/mamma, papai/pappa, água/vatten, olha/titta, lá/där [inclusive olha lá/titta där, que soa mais como ulalá], oi/hej, banho/bada e bola/bolen), outras palavras ele fala apenas em sueco (borta, titt ut!, nej, den, oj, tack, hej då, gunga, vad är detta? – sumiu, achou!*, não, isso [em sueco informal] ai e nossa!, obrigado, tchau, balanço/balançar e – a única frase até agora – o que é isso?); e algumas palavras ele inventou como por exemplo “nenenenene”, que significa tanto ele mesmo como não quero e algo está errado. Sem falar  outras coisinhas, tipo dindu (que seria ding dong) e bam. E quase ia me esquecendo, a única palavra que ele fala apenas em português: oba!

Se há algum segredo por trás do nosso “sucesso” na questão da fala do Benjamin? Acho que tanto eu como o pai dele somos tagarelas natos. A gente é muito  verbal e fala o tempo todo um com o outro, em reuniões de família, com os amigos e mesmo quando estamos sozinhos com o Benjamin. Outra coisa que acho que fez muita diferença é que aprendi com a minha mãe desde cedo a conversar com o bebê, acho que essa é uma característica bem marcante em algumas famílias brasileiras e ela (minha mãe) sempre me disse em todas as conversas por skype que tivemos nos primeiros meses de vida do Benjamin pra conversar com ele todos os dias, cantar muito, etc. Não que eu queira me dar os parabéns e sair por aí gritando aos quatro ventos que eu tenho um bebê bilíngue e que “olha só como sou experta, faça como eu fiz e o sucesso é garantido” porque não é assim tão simples. Benjamin parece ser uma criança extrovertida, e isso faz toda a diferença afinal, se ele fosse tímido, provavelmente ele saberia todas essas palavras mas não falaria muito – ou não falaria nada – e eu não estaria aqui me gabando.

De modo geral eu gostaria de incentivar pais brasileiros residentes no exterior a falar português com suas crianças porquê, se por um lado o fato de o Benjamin começar a se expressar tão cedo não é mérito meu, o fato de ele falar português é. Eu falo português com o Benjamin, meu marido também fala português com ele mas quando os dois estão sozinhos é apenas sueco (vale lembrar que eu trabalho 40h por semana e que nos últimos seis meses Benjamin ficou em casa com o pai). Ultimamente percebo inclusive que mesmo quando estamos nós três cada vez que o Joel se direciona ao Benjamin em específico ele fala sueco, assim como eu sempre falo português com o Benjamin quando estamos entre outros adultos mas eu me dirijo exclusivamente a ele. O vocabulário dele em sueco é maior do que o vocabulário dele em português mas seria um tanto estranho se fosse o contrário uma vez que eu falo sueco quando todo mundo fala sueco ao redor da gente, a gente mora na Suécia e convive com suecos quase que 100% do tempo. Mas quando o Benjamin me diz algo em sueco eu repito o que ele disse em português. Inclusive eu tive que me policiar para fazer isso porque parece meio fácil só repetir o sueco.

Acho que é fácil desanimar quando se está fora do Brasil e não se convive muito com brasileiros (foi uma escolha minha para que eu aprendesse sueco mais rápido) ou quando o parceiro não fala português (tem muita gente que fala inglês em casa), mas o esforço vale a pena. Além do mais, se o Benjamin não falasse português seria um tremendo tiro no pé pois além de ele não poder falar com meus pais, o sueco é apenas a 91a língua mais falada no mundo (quando o português ocupa a 6a posição). Suecos aprendem inglês por necessidade extrema mesmo, já pensou se não fossem bilíngues?

Guardei para o final a coisa que acho mais fofa nesse mundo, que é a palavra mais longa do vocabulário do meu anjinho: Menhamin.

*o titt ut é usado naquela brincadeira do “cadê? achou!”, o pekaboo do inglês.

Amamentação no trabalho

Tô de férias e vou tentar escrever algumas coisas que comecei há muito tempo, nunca terminei e nunca publiquei. Há uma grande chance de este ser o único post em meses de novo, há tempos o blog deixou de ser uma prioridade. Pra falar a verdade, prioridade na minha vida tem sido Benjamin, depois ele de novo e em terceiro vem o Ben. Nada que a galera por aqui não tenha notado.

Sou uma mãe galinha muito apegada. Essa semana chorei muito por causa da foto do menino sírio afogado na praia… a forma como ele estava deitado, aquela inocência gritante tão explícita no rosto das crianças quando dormem. Por um lado ele é tão parecido com o Benjamin! Ele dorme com a “bunda virada para a lua” naquela mesma posição, com a enorme diferença que ele está envolto por um mar de cobertas em uma cama macia. E o Benjamin vai acordar…

Pensei muito em tanto perrengue que a gente passa como mãe e resolvi contar um pouco da minha experiência em voltar para o trabalho e continuar amamentando. Primeiro, eu queria voltar para o meu trabalho e isso é um privilégio: ter um trabalho que a gente gosta e paga bem, no qual os horários de trabalho são compatíveis com a criação de filhos não é uma realidade e sim uma exceção. E dois: tenho o privilégio de contar com o fato de que o Benjamin tem um pai que se comporta como tal e não foge das responsabilidades. Eu já disse aqui que acho que nós mulheres temos que aprender a deixar os pais serem pais, mas não quero dizer com isso que toda mulher tem que trabalhar e largar a cria com o marido. Tem ótimos exemplos aqui de mães que não trabalham mas dividem a responsabilidade da criação dos filhos com o marido, se você quiser umas dicas passe no blog da Débora por exemplo (mulher de fases), ela fala bastante sobre os meninos dela e dá pra ver nas entrelinhas como o senhor marido sempre está participando.

Ao ponto… voltei ao trabalho quando Ben tinha oito meses. Minha pretensão de mãe hippie é amamentar forever até que o Benjamin desmame sozinho mas eu tive muito medo de que ele fosse largar o peito quando eu comecei a trabalhar. Então se você está na mesma situação eu digo: calma! Canalize a preocupação para traçar um plano de como é que você vai resolver a ordenha do leite no trabalho.  No meu caso levei para o trabalho uma bomba de tirar leite, comprei uma pequena bolsa térmica e potes de vidro de 150ml. Eu li em algum lugar que deveriam ser de vidro para facilitar a limpeza e esterilização, mas as tampas não devem ser de metal. Enfim, não é necessário comprar potes especiais, eu fiz isso porque tenho condições, mas a maioria dos potes de conserva funcionam muito bem para o mesmo fim. No caso da bolsa térmica é meio importante porque eu passo quase três horas no trânsito até em casa (há, pensa que é só noBrasil que a galera leva três horas até o trampo? Prazer, meu nome é Maria e eu moro na Suécia) então não dá pra só tacar o leite numa bolsa e de boas. Eu recomendo realmente investir numa malinha dessas.

Benjamin é tipo um bezerro e ta mamando toda a hora que me vê. Eu fiquei muito encucada antes de me separar dele. Foi um sofrimento! Eu não tinha idéia de como seria minha produção de leite longe dele. Eu trabalho em regime de plantão, tenho dois plantões de 24h por semana. Então contando as 3h para ir e mais 3h para voltar seriam 30h separados. Eu não sabia quanto vezes precisaria ordenhar também. Armazenamento não seria problema porque temos uma cozinha para o pessoal no trabalho, e a ideia foi sempre ordenhar e congelar o leite.

Eu nunca cheguei a pedir permissão para minha chefe. Talvez porque ela seja mulher, talvez porque eu sempre entendi isso como um direito meu e ponto. Da mesma forma eu comuniquei minha colega de trabalho na época e perguntei a ela se ela tinha alguma observação, ao que ela respondeu com um “é claro que não! Meu Deus é óbvio que você pode e deve ordenhar leite para seu bebê. Não tem nenhum problema. A gente dá um jeito!”

E foi aí que o problema começou.

Minha colega, apesar de mulher, apesar de dizer que não era problema algum e de afirmar que a gente daria um jeito começou a me atazanar de todas as formas possíveis. Eu percebi que eu precisava ordenhar com um intervalo de 6h para não ficar com os seios explodindo de leite, e que também precisava de cerca de 30 minutos para não machucar os seios (se você usa a bomba a todo vapor os bico dos seios podem ficar bem doloridos, machucados até) mas a criatura sensível lá fazia de tudo para me atrapalhar. Precisava de mim no exato minuto que eu colocava as minhas mãos na bomba de leite, e se eu conseguia fugir e começar a ordenha ela ficava gritando, batendo na porta e perguntando quando eu estaria pronta. Cheguei a ficar horas com os seios tão cheios que empedravam, e tinha tanto stress durante a ordenha que o leite não saia todo. Aí quando voltava para casa sofria um  dia inteiro até que o Benjamin sugasse todos os “caroços de leite”. Havia dias em que eu ficava com marcas azuis nos seios.

Depois de um mês e meio sofrendo na mão da maluca fizemos um rodízio de pessoal e comecei a trabalhar com uma pessoa sensata. Depois disso nunca mais tive problemas com a ordenha por causa da insensibilidade de um colega de trabalho. Há dias mais corridos em que eu não consigo fazer a ordenha direito, mas é por causa do fluxo de trabalho mesmo e, para minha sorte, agora já não é preciso ordenhar com essa frequência de 6h de intervalo, oito ou nove horas funcionam bem.

Acho que o corpo muda, a amamentação muda conforme a criança cresce e a gente se acostumou a essa rotina, tanto eu como Benjamin. Sempre que chego em casa após um dia de trabalho Benjamin gosta de tirar o atraso e mamar muito então eu também já aprendi que não posso fazer planos para assim que chegar em casa. Sempre tenho que reservar ao menos uma hora para nós, comer bem e beber muito líquido.

Gostaria de deixar algumas dicas práticas mas o que me vem a mente é que cada situação é especial. De modo geral, tente se preparar psicologicamente de forma positiva. Sempre dá um frio na barriga mas tanto a mãe como a criança tem capacidade de se adaptar à diversas situações diferentes. Segundo, tente traçar um plano, analisando o que você precisa para realizar a ordenha, se há possibilidade de armanezar o leite no local de trabalho etc. Terceiro, tente ser um pouco cara de pau com seu chefe. Infelizmente, sei que a maioria das mulheres tem condições muito precárias de trabalho, mas não peça permissão para fazer a ordenha, apresente uma proposta de como fazer da ordenha parte do seu dia mostrando que isso é importante para seu desempenho no trabalho. Não dá para trabalhar bem com peitos explodindo de leite. Tente mostrar ao seu chefe as implicações positivas disso. E na medida do possível ignore colegas insensíveis.

É difícil. Tenho consciência de que mesmo eu contando com muitas facilidades passei por momentos de desânimo e me questionei se conseguiria continuar e se valia a pena. Até agora valeu. Mas eu acredito que a amamentação é mais do que alimentar uma criança, amamentação é parte da relação mãe e filho e para funcionar os dois tem que estar bem. Se a mãe está sofrendo muito com a amamentação precisa de ajuda, de apoio, talvez de um novo plano ou porque não, talvez seja o momento de parar. Na minha balança o lado da satisfação sempre pesou mais do que o lado do sofrimento.

Desejo boa sorte a todas mães que trabalham e amamentam.