Oi.
Minha relação com o blog tem sido meio que como de um frequentador de AA. No começo a gente empolga e fala sobre o “eu” o tempo inteiro. Conta os dias, as semanas, os meses e os anos olhando meio que para o próprio umbigo. Provavelmente você não está entendendo muita coisa desse bla bla bla todo e pra ser sincera, sei lá aonde eu quero chegar.
Chegar eu cheguei, na Suécia, há sete anos atrás. Mas chegar de verdade eu só cheguei quando o Benjamin nasceu. Até o Benjamin nascer eu não me sentia aqui. Sem perceber eu já estava muito mais ligada nos paranauês da sociedade e cultura sueca do que eu imaginava, mas ainda tinha feito uma série de coisas sem saber bem porquê. Eu não tinha o nome dos bois. E agora, para meu desgosto, eu tenho. Porque quando o Mikael nasceu eu percebi que eu tinha fincado em definitivo minhas raízes na Suécia.
Quem segue o blog há mais tempo sabe que eu sempre escrevi sobre uma vontade de voltar para o Brasil. Eu sempre escrevi sobre muita coisa nada a ver, bagatelas do dia a dia, umas coisas mais importantes e outras menos, falei um monte de besteira e idiotice sobre todo o possível porque né, quando a gente é ignorante fala e fala muito; muitas vezes continua falando porque acha que esta abafando e só depois de muito tempo é que percebe que as pessoas ao redor não estavam quietas por achar interessante mas pelo simples fato de ver se a pessoa em si se toca. E a vontade de voltar ao Brasil estava ali sempre no meio dessa bagunça de informação e desinformação – de um troll em transformação. Mas essa, das tantas asneiras que eu falei aos olhos dos outros, foi a única que não era besteira pra mim.
Cansei de ler coisa tipo: “você não sabe o que está dizendo”, “você só fala disso porque não está aqui (no Brasil)”. Quando eu saí do Brasil sabia o que estava deixando no plano estrutural: a sociedade machista, meritocrática e racista. Não sabia o grau da coisa, mas sabia que não era bom. Mudar para a Suécia e viver numa sociedade considerada feminista, igualitária e tolerante a diversidade me deu um breve dislumbre desse abismo que eu nunca tinha entendido. Até eu ter parido aqui eu achava que a maior distância entre Brasil e Suécia estava no plano geográfico e que no resto um dia a gente poderia fazer igual. O problema é que quando eu tive meu filho eu comecei a realmente perceber as pessoas ao meu redor. Eu comecei a pensar nas mulheres ao meu redor. Foi tipo como ter uma revelação. E isso criou outro abismo: um dentro de mim mesma.
Existe uma pequena parte de mim que continua querendo fechar olhos, ouvidos e todos os sentidos que me fazem pensar e entender isso. Mas o fato é que viver na Suécia não é viver em uma sociedade que se contrapõe ao Brasil. A Suécia – talvez a Escandinávia e Alemanha (uma parte dela, ao menos) – é uma bolha num cantinho do mundo. E não é que eu esteja reclamando, estou constatando que a menos que você já tenha vivido em um desses países vizinhos, a hora que você entrar aqui vai perceber que tem coisas que não tem nada a ver com o resto do mundo. E isso tanto para o bem quanto para o mal.
Sete anos de Suécia. O número sete na bíblia tem um significado de totalidade, perfeição. Mas para mim foi mais de cair a ficha mesmo e perceber o quanto estava errada: a distância geográfica entre o Brasil e a Suécia é a menor delas. E a chance de eu voltar para o Brasil fica menor a cada ano que passa.
Isso me deixa triste.
Quero mais…
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é….. algumas coisas que eu já li por aqui, realmente, pessoalmente, condenei… outras adorei… acima de tudo a sua grande capacidade de escrever, um mérito!
quando vc conheceu o seu companheiro, através da ieclb, se encantou e foi para esse país maravilhoso, que é sonho de muitos…
acho que sei o que tem pensado, com sua família e o jeitinho brasileiro, do outro lado do continente…. especialmente agora, que com filho, as raízes se afundam mais…
espero que as raízes se aprofundem e se expandam a fim de que vc possa viver em harmonia aí ou aqui… abraço..
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Li pela primeira vez o seu blogue. Interessante. … Me parece feliz aí.
Eu fugi do meu destino na Suécia e preferi o Brasil…Por um tempo achei que tinha errado na escolha , mas hoje sei que fiz e escolha certa! Gostaria de falar mais com você.
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Entendo bem como é essa situação e mesmo não te conhecendo, desejaria te dar um abraço bem forte nessa hora. Por 3 anos e meio estive morando na Alemanha e na época tinha decidido que ficar lá era o melhor para mim. Lutei, batalhei, tentei achar o meu lugar, mas no fim nunca consegui me sentir 100% em casa. Você tem filhos e um marido, eu tinha somente a mim. Sei que isso representa uma diferença gritante, mas o que eu quero dizer é que mesmo estando distante de casa, você tem os seus consigo. Tem pessoas que adoram meter ideias errôneas nas cabeças alheias e acabam dando enfoque demais nas coisas que não sabem. É fácil demais falar que a vida na Europa é boa, sendo que nunca foi para lá e viveu num país com uma cultura diferente. Coisas como essa só entende quem já vivenciou isso, sempre tento pensar dessa forma.
Uma vez uma mulher me disse “Problemas a gente tem em todo lugar, só nos resta escolher aonde (ou com quem) esses problemas ficam mais “suportáveis”. Talvez chegue para você (como chegou para mim) o momento de pensar quais são as suas vontades e optar realmente por elas.
A minha decisão eu fiz a 3 meses e mesmo volta e meia me arrependendo em alguns quesitos, foram os meses mais alegres e de aprendizado para mim.
Desejo que você seja feliz, não importa onde! Que suas escolhas e desejos te levem somente para bons caminhos…
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Força, Maria Helena. Vai ficar tudo bem.
Engraçado como a experiência é diferente de pessoa pra pessoa,né?
No meu primeiro ano na Suécia eu ainda pensava na possibilidade de voltar para o Brasil, mas depois de dois anos sem ir ao Brasil, quando fui, senti uma imensa saudade da Suécia…Muito louco isso.
Na época fiquei muito, muito triste por não ter me sentido tão em casa quando estava lá, mesmo com minha família e amigos, mas com o tempo fui entendendo que tá tudo bem eu me identificar e me sentir bem na minha realidade aqui, então parei de me cobrar tanto.
A minha família é a minha maior ligaçao com o Brasil atualmente, nada mais.
Fica bem,tá?
Um abraço apertado.
Rafaela
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Oi Malu, está chegando o dia que iremos em Gotenborg. Somos 4 caipiras de Bauru com mais 4 Paulistanas. Seria muito bom poder encontrá-la. Iremos para lá dia 15 de julho e ficaremos numa escola. Depois iremos para uma cidadezinha cujo nome não sei pronunciar ou escrever. Começa com L e tem muitas consoantes kkk. Ly… parece ser praia. Lá participaremos da RIDEF 2018. Pode verificar. Encontro de professores Freinet. Gostei muito de sua escrita.. Se se interessar em nos ver, vamos nos teclando.
Abraços
Leila Arruda
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Chorando aqui, Caipira…
Te acompanho a muito, muito tempo.
Você não fala exatamente de Brasil e Suécia: dois torrões singulares.
Sua fala é sempre sobre a perplexidade da alma humana, da alma feminina. Essa falta de pertencimento que aumenta enquanto amadurecemos! Felizes aqueles com raciocínio lógico deficitário, que não mergulham em reminiscências…
Deixamos um dia a casa dos pais, deixamos aos poucos a juventude, deixamos amigos cá e acolá, empregos e cursos ficam prá trás.
A maturidade abre feridas onde antes a pele era tão viçosa… Tentamos colocar a culpa num lugar específico, num relacionamento falido, num trabalho imperfeito, numa amizade ingrata.
No fundo, tudo diz respeito ao fato de sermos vidas em ebulição.
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Oi.
Leio seu blog desde o início e me identifico muito com seu modo de pensar.
Se quer tanto voltar ao Brasil não desista. Se programe com o seu marido para passarem uns seis meses aqui e ver se é o que querem mesmo e venha.
Beijos.
Jana.
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Que situação .
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