Diário Caipira-52

Essa semana estávamos falando de comida afetiva, todas aquelas que te remetem à uma sensação de segurança e amparo, amor. Normalmente estão ligadas à memórias da infância ou de momentos especiais com a família e/ou os amigos.

Eu tenho várias dessas. Tenho lembranças maravilhosas de coisas simples tipo macarrão a alho e óleo e café recém passado. Presunto e queijo eram marcas de quando a gente ia na vó. Vinho novo (suco de uva) da casa da nona. Nhoque de batatas. E, é claro, bolo de fubá.

Interessante como gente associa certas pessoas a determinada comida: minha irmã mais velha comia azeitona assistindo filme, minha irmã mais nova fazia a melhor maionese que já comi na vida e meu irmão era muito novo pra cozinhar qualquer coisa, mas sempre penso nele quando o assunto é “X” (entendedores entenderão).

Falei né que adorava espaguete ao alho e óleo? Mas um dia, eu aqui na Suécia, falando de comidas de mãe que eu sentia falta com uns colegas de trabalhi lá na empresa de limpeza: “putz, o espaguete ao alho e óleo que minha mãe fazia era incrível. Eu sempre ponho alho demais ou óleo demais… Mas o da minha mãe… lembro e chega dar água na boca”. Aí meu colega me olha e diz “minha mãe servia isso pra gente quando não tinha mais nada o que comer em casa… então a gente sabia, agora só tem macarrão, se não entrar dinheiro logo não vai ter mais nada”.

Foi tipo um soco na cara. Demorou muito tempo pra mim fazer espaguete de novo. E cozinhar espaguete me lembra aquele colega. Ainda hoje. Como é que pode comida marcar tanto a gente né?

Então quando meus filhos nasceram tentei envolver eles na preparação da comida pra gente criar essas memórias (que eu espero, sejam positivas) e que façam eles sentir um “nossa que saudade de quando a gente fazia isso ou aquilo”.

Aproveitando que estamos bastante tempo em casa decidi fazer bolo. Pensei na questão da comida afetiva e decretei: vai ser bolo de fubá. Estávamos quase prontos e já ia esquecendo o fermento quando achei chocolate granulado. Deu um quentinho no coração. Olhei pra eles e disse:

– Esse bolo de fubá vai ser um bolo formigueiro, querem ver?

O pedacinho que sobrou foi porque o bolo fez sucesso.