Diário Caipira-79

Nos últimos dias vi uma série de pessoas declarando nas redes sociais que se sentiam idiotas por continuarem cumprindo a quarentena quando “todo mundo” não está nem aí.

Fiquei pensando em alguns comentários deixados aqui nos posts que escrevi… comentários cheios de acusações e julgamentos baseados nas poucas linhas desse diário sem pé nem cabeça. Não só julgando as minhas atitudes como a atitude do povo sueco em geral e a frieza com que nós aqui estávamos jogando com a vida dos outros (aqueles que fazem parte dos grupos de risco). Eu apaguei todos esses comentários, tanto na página do Facebook quanto aqui no próprio blog. Simplesmente porque eu quero guardar aqui tudo o que foi positivo que permeiou esse tempo já tão difícil e cheio de incertezas.

Não tenho a mínima dúvida de que a manobra do governo sueco foi e é arriscada. Também não tenho a mínima dúvida de que essa manobra trouxe muito sofrimento para quem, como eu, esperava um lockdown a qualquer momento. Eu não faço parte do grupo de risco e vi muita gente que faz parte tendo de arcar sozinha com a própria proteção. Ao mesmo tempo, não se deu ao povo brasileiro, que estava fazendo lockdown, a possibilidade de ficar em casa; milhares de famílias no Brasil não contam com a mínima estrutura para fazer isolamento.

A cada vez que eu vejo alguém bravo nas redes, compartilhando filmes ou fotos de locais lotados – shoppings, restaurantes, bares; com o comentário tipo “me sinto um otário, blá blá blá, mas estou em isolamento”; eu imagino a história daquelas pessoas aglomeradas: será que elas queriam estar ali, se foram pegas naquele momento que saíram pra fazer algo essencial; ou se realmente estão dando de ombros para o mundo.

A gente sempre sai com medo. Só sai de carro. Nunca leva as crianças no mercado, em nenhuma loja (comprei chinelos enormes para eles); compra praticamente tudo online; sempre conto o número de pessoas presentes em cada local que entro; estou com as mãos ressecadas de tanto lavar; mas não estou em isolamento, não posso trabalhar remotamente… Eu tô na rua todos os dias. Poderia ser eu numa dessas fotos de gente aglomerada.

E só pra você, que está cumprindo o isolamento saber: também queria poder ficar em casa. Que tal sermos mais carinhosos uns com os outros? Tá super difícil pra quem está em casa, mas também tá difícil pra quem não pode ficar no seu canto.