Esses dias estava falando sobre aqueles carros/caminhões que passam na rua vendendo fruta-picolé-panelas-vassouras-gás-e tudo o mais que você já viu ou ouviu… afinal esses vendedores ambulantes ainda existem… existem??
O carro do picolé era um bem particular. Sempre vinha com aquela gravação que era feita pra cidade grande: “chega mais senhora, chega mais senhor, atenção criançada! É o carro do picolé passando na sua rua! Tem picolé de leite, picolé de limão, picolé disso, daquilo e daquilo outro! São doze picolés por apenas (sei lá quantos) reais! O carro passa e não volta mais”… mas voltava. Afinal, a cidade onde eu morava tinha uma avenida de umas 12 quadras talvez? Duas ruas perpendiculares a avenida… e um bairro mais na ponta, com umas ruas mais estreitas. O carro do picolé voltava, várias vezes, durante o dia inteiro. “O carro passa e não volta mais…” mas dali uma hora passava de novo. E de novo. E de novo. Quando não tinha a gravação tinha um megafone e alguém que ficava falando um monte no microfone e a gente só ia adivinhando “zzzzzzzzzz xiii docizzzzz” (abacaxi docinho).
Fiquei pensando nisso e na ansiedade que esses vendedores ambulantes criavam em mim. “O carro passa e não volta mais”… repetidos cem vezes e eu acreditando mesmo sabendo que passaria de novo. Amanhã vou participar de uma reunião online e me dá essa ansiedade, essa coisa de querer correr atrás do carro que passa e não volta mais, ainda que eu saiba que basta esperar, que o carro passa de novo sim, eu quero ir atrás do carro agora.
Eu quero ir atrás daqueles encontros presenciais, quando eu via gente de verdade, com carne e osso. Mas eu nem posso pegar o transporte coletivo porque estou resfriada de novo, o nariz parecendo vela e denunciando a minha falta de imunidade (apesar do pólen e do própolis que eu comprei de tanto a minha mãe insistir). Eu fico ansiosa pensando em cada encontro que não fui, em cada carro que eu acreditei que passaria de novo, mas já realmente… talvez não volta mais.
Eu quero picolé de fruta, doze por apenas sei lá quantos reais. Só que aqui o carro não passa…
Eu só queria um abraço…
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Eu sempre penso nessa coisa de “abraço virtual”… quem é que curte isso?
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