Diário Caipira-142

Eu poderia escrever que Estocolmo já está vendo um aumento de casos confirmados de corona tão grande que já teve reunião especial pra tratar do problema hoje. Mas… como disse um colega de trabalho ontem, a gente não tem com que se preocupar porque a UTI daqui de Gotemburgo está sem nenhum paciente de Covid.

Palmas pra nós então, certo? Errado.

Falando em coisas erradas, hoje ainda estou de ressaca. Não há nada que drene mais a minha energia do que uma série de reuniões cheias de pautas super importantes onde ninguém decide nada. Passei a tarde fazendo e desfazendo meu crochê que, afinal, me ajuda a me centrar.

Eu ando sedenta por espontaneidade. Sabem onde vende?

Diário Caipira-141

Hoje estou exausta. Passei o dia indo de uma reunião pra outra. Uma de manhã, uma a tarde e a noite participei da primeira reunião na escola – tipo reunião de pais e mestres.

Eu e mais uma mãe representamos a classe das crias de seis anos que estão no “pré”. A mulher estava com a corda toda e já criou um grupo no Facebook pra reunir os pais etc. Eu, com a cabeça super lenta depois de passar o dia discutindo os mais variados assuntos, apenas sorri e balancei a cabeça em acordo.

E eu que estava pra desativar a minha conta no Facebook… aff.

Diário Caipira-140

Uma das coisas que eu acho estranho é que a figura do primeiro ministro sueco meio que some da mídia. Durante a primeira fase da pandemia ele – Stefan Löfven – fez um pronunciamento a nação. Um só. Tipo, acho melhor quando a pessoa que não quer ajudar ao menos não atrapalha, mas ele dá q entender que gostaria de implementar medidas mais rígidas de contenção a pandemia do que essas que a agência de saúde pública adotou…

Hoje o Stefan apareceu de novo pra dizer na ONU que precisamos cooperar. Coitado. Logo ele tinha que dizer isso, logo o primeiro ministro do país europeu que mais deu a louca e pagou a egípcia com os outros.

Às vezes dá pra entender o silêncio… mas esse silêncio dele deixa espaço para outras vozes, que, infelizmente, só andam preocupadas com seus números nas pesquisas de opinião.

Diário Caipira-139

Ontem escrevi no post que a Finlândia estava fechando as fronteiras com a Suécia e emendei um “onda, onda, olha a onda!”. Não estou dizendo que a Finlândia está tirando onda com a Suécia ou vice-versa; estou simplesmente vendo a segunda onda de Covid chegando por aqui, como já aconteceu na Itália e Espanha.

A OMS já apontou essa semana que tem visto um crescimento significativo do número de casos em toda a Europa mas emendou que isso era esperado já que os paises dispõem de um maior numero de testes agora (em comparação a fev-março). Já na coletiva de imprensa na terça feira a Folkhälsomyndigheten apontou que o número de casos confirmados crescia. Dá pra perceber pelos gráficos. Desde julho, apesar do número de testes terem aumentado e de que a possibilidade de teste tenha sido estendida a toda a população, o número de casos não havia crescido tanto como nas duas últimas semanas.

O inverno está na esquina, aguardando pra cair no abraço… e a Suécia não vai mudar a estratégia, pelo simples fato de que no inverno todo mundo se isola mesmo…

A cidade de Gotemburgo lançou um desafio aos seus funcionários: vai dar um casaco amarelo fluorescente e pneus com garras de neve pra quem prometer andar de bicicleta durante o inverno. Não parece ótimo? Você se protege do corona e de quebra tem direito a um traumatismo craniano.

Onda, onda, olha a onda!

Diário Caipira-138

Duas coisas nada a ver: a Finlândia vai fechar as fronteiras pada a Suécia de novo porque o número de casos de Covid confirmados do lado de cá começou a subir – onda, onda; olha a onda!!

Ganhei uma cerveja artesanal feita a partir de uma receita de cerveja do século 18! Estou curiosa.

Diário Caipira-137

Hoje eu tinha curso outra vez e, como era no turno da tarde, resolvi ir para casa e participar da formação online. Já bastou ficar sentada quase que de conchinha com outros funcionários da cidade de Gotemburgo na segunda.

Chequei os emails, veriifiquei o horário do curso, avisei os colegas do plano e parti. Quando chego na metade do caminho… “Västtrafik informa: devido a um problema técnico algum linhas tiveram horários cancelados.” E a minha linha de busão era uma delas.

Entro no teams pelo smartphone pra me conectar com a sala do curso mas cadê o bendito do link. Faltavam 20 minutos para o curso começar, eu estava a 20 minutos de casa e o ônibus só viria em 10 minutos. Eu estava muito atrasada.

Mando um e-mail para a palestrante perguntando aonde está o link do curso. Ela não responde. Eu chego em casa suada, morta por correr morro acima e jogo as coisas em cima da mesa pra acessar e-mail e o teams do notebook. Nada. Não tem link.

As 15.00 recebo uma resposta: infelizmente esse curso era apenas presencial.

O curso: como usar One Note para facilitar o trabalho durante a pandemia.

Diário Caipira-136

Temos uma rotina estruturada pra colocar as crianças na cama. Assim que quando chega a hora de dormir eles sempre estão tranquilos, a gente lê uma história e dá a eles um beijinho de boa noite. Apaga a luz e antes que saia do quarto já ouve o som da respiração cadenciada de anjinhos adormecidos.

Mas esse história aconteceu com a prima de segundo grau do namorado da neta de uma pessoa que eu conheço:

“As crianças estavam fazendo a maior bagunça na hora de dormir. Falando sem parar, um tentando contar uma história e o outro também. De repente um começa a cantar Macarena:

– Baila que baila alegria Macarena, êêê Macarena! Ai!

E o Benji outro menino já entra no coro. A mãe já não sabe o que inventar e antes de pensar diz:

– vaca amarela cagou na panela e quem falar primeiro vai comer a bosta dela!

Silêncio. Três segundos. Risinhos abafados. E então…

– ÊÊÊ Macarena! Ai!”

Não sei como é que a mãe, ao fim, acalmou as crias porque é claro que a algazarra continuou alguns bons minutos noite adentro.

Sorte minha que os meus não fazem dessas…

Diário Caipira-135

Tinha curso outra vez. Outra vez era gente demais numa salinha. E, pra piorar, eu fico “resfriada” instantaneamente só por andar de ônibus. Aí a palestrante pede que a gente se apresente dizendo nome e aonda trabalhamos e a minha voz sai rouca como eu estivesse de cama.

Os olhares que recebo são de puro carinho e compreensão. Só que não.

Diário Caipira-134

Numa conversa com amigos ficamos em dúvida: Quem testa positivo pra Covid deve ficar em casa por quanto tempo? Uns achavam que eram 14 dias (eu entre eles) outros que eram apenas sete. Fomos conferir na página da Folkhälsomyndigheten: são 7.

Om du har tagit ett test som visar att du har covid-19 ska du vara hemma i minst sju dygn räknat från den dag du fick symtom. Om du av någon anledning blivit provtagen trots att du inte har symtom räknas sju dygn från den dag du tog ditt test. Du behöver dessutom ha varit feberfri och mått bra i minst två dygn. Om du har kvarvarande lindriga symtom som torrhosta, lätt snuva eller lukt-och smakbortfall men i övrigt känner dig helt frisk, kan du återgå till arbete, skola, förskola och annan aktivitet om det gått minst 7 dygn sedan insjuknandet. (fonte: Folkhälsomyndigheten, skydda dou vou andra).

Trocando em miúdos, se você testou positivo deve contar sete dias a partir do dia que ficou doente antes de sair de casa SE depois desses setes dias os sintomas houverem desaparecido. No caso de você ter feito o teste sem apresentar sintomas, deve ficar em casa por sete dias a partir da data que fez o teste. Em caso de dúvidas deve-se entrar em contato com o 1177. (Exceto os casos que precisaram de cuidados intensivos).

Det är viktigt att känna till att covid-19 är en allmänfarlig och samhällsfarlig sjukdom enligt smittskyddslagen och att man därför är skyldig att följa förhållningsregler för att förhindra smittspridning. Du får information om förhållningsregler enligt regionalasmittspårningsrutiner. (Fonte: Folkhälsomyndigheten, Skydda dig och andra).

O último parágrafo frisa que é importanre lembrar que o corona é uma doença perigosa para a sociedade e todas as pessoas. Aí fiquei me perguntando: mas há algum tipo de multa ou sanção para quem ignora as recomendações da Folkhälsomyndigheten?

Não que eu saiba… e o Google não pode me ajudar.

Diário Caipira-133

Hoje foi dia de festa do lagostim, ou melhor, da nossa versão da festa do lagostim adaptada aos tempos de corona. Temos uma tradição desde 2017 de celebrar a festa do lagostim com alguns casais de amigos que tem crianças na mesma faixa etária das nossas crianças.

Sempre celebramos a festa do lagostim ao nosso modo por dois motivos: como o lagostim da festa é servido inteiro a gente tem que descascar o bicho. Imagine o trampo que é descascar lagostim e comer. Agora imagine isso ao mesmo tempo que tu tem de dar comida as crias. Também por causa das crianças fica proibido o consumo exagerado de bebida e não rolam “snaps”.

Devido ao corona não pudemos encontrar o mesmo número de amigos que normalmente faziam parte da “nossa festa”. É um pouco triste pois eu gostaria de rever todo mundo. A cada ano que se passava aumentava o número de crianças e a mesa tinha de ficar mais comprida. Dessa vez o efeito foi contrário… nem fizemos a celebração lá em casa, pois queríamos um local ao ar livre.

O tempo colaborou, lutamos para comer 20g de carne de lagostim e pão com queijo e salada. Vou esperar que no ano que vem possamos fazer a festa do lagostim como era antes.

PS.: eu nem gosto de lagostim. Mas sempre como na festa do lagostim só por causa do ritual de sentar e ficar preparando um sanduba de lagostim enquanto todo mundo conversa e fica quebrando as cascas do bicho.

PS2. Cascas de lagostim fedem violentamente. Minha dica é (se você mora em uma casa) enterrar no quintal ou congelar até o dia em que o lixeiro passa. A gente fez a besteira de jogar o trem no lixo depois da festa em 2017 e já no dia seguinte a lata de lixo fedia terrivelmente. Também tivemos a infelicidade de que alguém jogasse uma parte dos restos na lata de lixo errada… Essa lata era recolhida a cada duas semanas pelo serviço de coleta de lixo. Mas bastaram cinco dias para que o fedor fosse insuportável: tive que abrir a lata, revirar o lixo e enterrar os restos de lagostim que já estavam em decomposição.

Diário Caipira-132

Hoje estava conversando com uma amiga querida na hora do almoço sobre como a nossa sociedade é, ao mesmo tempo, fascinante e escrota.

Já imaginou daqui a três mil anos, nossos descendentes (ou mais provavelmente, a forma de vida superior que existirá na Terra) desenterrando resquícios da nossa civilização e analisando: “os povos desse período chamavam-se a si mesmos de Homo Sapiens Sapiens e imaginavam estar vivendo tempo modernos. Mas sua inteligência era limitada e eles destruíram tudo ao seu redor e não fica muito bem claro porquê”.

“Os humanos desse período acreditavam que havia espécimes mais ou menos superiores. Essa classificação se dava por meio de conceitos primitivos como cor, sexo biológico ou orientação sexual. Normalmente o homem hetero cis branco estava no topo da pirâmide.”

Não parece que descrevemos uma sociedade parcamente desenvolvida?

Diário Caipira-131

Eis que a minha bolsa vai tomando forma. Agora só me faltam dois quadrinhos e posso colocar as alças.

Estou tão dentro dessa onda de crochê que convenci meus colegas de trabalho a entrar num projeto de crochê coletivo.

Como diria uma amiga querida, estou virada em uma “Testemunha do Crochê”. Daqui a pouco vou sair batendo de porta e porta nos domingos de manhã perguntando as pessoas se elas sabem crochetar um “granny square”, se já tentaram, se tem noções da maravilha que se pode alcançar por meio de crochetar quadrinhos. Às pessoas me olharão boquiabertas e tentarão gentilmente me mandar embora e eu vou insistir com frases tipo: ninguém jamais de ensinou a segurar a agulha corretamente…

E aí, já fez crochê hoje?