Depois de receber o resultado do exame fui trabalhar sexta. Se já antes do corona era sensível ir ao trabalho com um pouco de tosse, agora depois do corona a gente se sente realmente fora da lei. Ainda que meus colegas de trabalho saibam que eu testei negativo, fica aquela tensão no ar pois se eu der a minha gripe para alguém, esse alguém terá de ficar em casa até fazer o teste e receber o resultado.
É muito improvável que eu transmita qualquer coisa uma semana depois de apresentar os primeiros sintomas. Ainda assim, sempre foi um coisa sensível entre suecos e valia várias caras feias ir trabalhar “meio resfriada”. Pedagogas de centro de educação infantil sempre publicaram longos textos nas mídias sociais sobre a irresponsabilidade dos pais que feixam crianças meio doentes na escola. Estar meia boca em público ou no ônibus poderia disparar uma guerra civil.
O problema é que, mesmo que o assalariado receba o equivalente a 80% do valor do seu saldo de um dia por cada vez que ele precise ficar em casa – cuidando de crianças doentes ou tossindo – dá uma bela diferença no final do mês. As pessoas preferem trabalhar recebendo 100% do seu soldo a ficar em casa recebendo 80%. Além disso há sim famílias na Suécia onde esses 20% fazem muita diferença.
Estamos numa situação estranha onde as autoridades simplesmente esperam que o “normal” volte, algum dia. As pessoas que mais sofrem são aquelas que tem menos recursos materiais, como sempre. Mesmo aqui nessa bolha chamada Suécia.
Por quê será não conseguimos aproveitar esse momento de ruptura para provocar e exigir mudanças que beneficiem as pessoas mais vulneráveis?