Diário Caipira-165

Eu estava sonhando com o Brasil. Não estava claro aonde eu estava, mas eu estava olhando um campo. Era quente e estava ventando. Então o som de um trovão chegou “rolando”.

Quando eu abri os olhos eu não estava certa se eu tinha sonhado com o trovão ou ouvido um trovão, que então me acordou. Poucas vezes ouvi trovões por aqui e, em sua maioria, sempre em tempestades da primavera. Uma, que dificilmente há tempestades de muitos raios e trovões. Outra, que o isolamento das casas faz com que seja mais difícil ouvir qualquer coisa que esteja se passando fora.

Me senti criança outra vez, aguçando os sentidos a espera do sinal: se fosse só chuva eu iria me esconder embaixo do cobertor; mais raios, ventania ou granizo me levariam a correr para o quarto da minha mãe. Mas agora a mãe sou eu… Acho que todas essas sensações e lembranças vieram no embalo do som do trovão se desenrolando e também porque estou lendo “A menina da montanha”. Há tanta coisa nesse livro que me faz lembrar a minha infância! Então veio o clarão e um estrondo, típico de quando o “raio” cai perto. As janelas vibraram. Mais um raio, mais um trovão, mais vibração nas janelas e um alarme disparando. Ao mesmo tempo, começa a chuva de granizo.

Vou espiar os meninos. Dormindo, tranquilos. Então vou dormir de novo, pensando que a minha menina ainda tem medo de trovão.

Diário Caipira-160 e tals

Toda terça e quinta tem reunião com a imprensa e a Folkhälsomyndigheten apresenta a forma como a pandemia tem se desenvolvido no país. Essa semana as duas transmissões foram tensas. Na reunião de ontem a representante do Socialstyrelsen – quase que ministério da seguridade social – tinha um tom bem irritado.

Parece que estamos a poucos passos de um lockdown. O número de casos disparou, agora a gente tem contato com bastante gente que tem um parente que tem corona.

Estamos naquela expectativa terrível pra saber quem será o primeiro desta família a ficar doente.

Argh! Tempos estranhos. A propósito, bom final de semana…

Diário Caipira-162

Desde sexta feira tem sido difícil organizar meus sentimentos. Já recebemos a ordem de fechar as portas no trabalho. Metade do grupo de trabalho da outra entidade que trabalha em conjunto com a gente está em casa doente. Um dos colaboradores avisou que a mulher dele está com Covid.

O tempo hoje estava bem típico do outono. Venta horrores. Há uma tempestade passando pelas costas suecas e há três dias as autoridades vem “lançando aviso de temporal”. Felizmente os temporais aqui trazem menos estragos do que aqueles a que eu estava acostumada, ao menos nessa região.

Fiquei molhada como um pinto saindo do trabalho. Chovia de todas as direções. Não sei se é típico de Gotemburgo mas olha… aqui não adianta ter guarda-chuva.

Apesar disso, há algo de fenomenal em poder presenciar a força da natureza. É bonito. Mas espero que ninguém tenha se machucado.