E pensar que demorou uma vida – dez meses , praticamente – pra mim escrever aqui outra vez.
Estamos gripados. Há semanas.
Tipo não gripados os quatro de uma vez, mas gripados e gripando de um jeito bem família. O stresse por conta de resfriados constantes ainda é forte, apesar de estarmos vacinados (ambos adultos, crianças ainda não são vacinadas aqui, apenas adolescentes) por conta do corona. Afinal, os sintomas do corona ainda são semelhantes ao de uma gripe.
Eu estava conversando com uma mãe essa semana que está exausta e frustrada. Frustrada por quê a cria dela está resfriada há várias semanas. Nariz escorrendo não fica na pré escola, que liga pedindo pra buscar a criança, que está razoavelmente bem a parte do nariz de vela. Exausta porque já bateu de frente várias vezes com posto de saúde que não quer investigar o resfriado constante da criança.
O episódio me lembrou 2017, quando eu estava na mesma situação. Batendo de frente com o sistema de saúde. As crianças gripando constantemente, o Mikael com episódios de laringite que faziam a gente passar a noite toda acordados, eu entrando em depressão sem saber como buscar ajuda. Quem nos salvou foi a nossa enfermeira do BVC, na época. Mas ela era uma profissional com P maiúsculo e eu estava entendendo a necessidade de ser mais humilde.
A questão é que a gente se sente desacreditado e ignorado pelo sistema de saúde daqui. Eles trabalham de forma diferente, e a medicina do “deixe seu corpo cuidar sozinho do que ele pode cuidar” não é a medicina do “ouça seu médico, corra para o hospital como você correria para um oráculo e tome todos os medicamentos possíveis, mesmo aqueles que não tem efeito sobre o x da questão”. A cloroquina é um exemplo fresquíssimo disso. Além disso, a gente esquece que no Brasil tem tanta gente na linha da pobreza, tanta gente desnutrida, tanta gente que não tem condições financeiras de “deixar o copo cuidar sozinho do que ele pode cuidar” que não teria como ser diferente.
Eu não tô colocando Brasil e Suécia em lado opostos de uma balança. Porque é impossível. Aqui na Suécia as pessoas tem três refeições por dia. E a desigualdade social está crescendo mas ainda não chegou no nível da desigualdade social no Brasil. Além disso aqui existe seguridade social que é pensada para que as pessoas possam se virar sozinhas.
Sozinhas… não com a ajuda dos pais, irmãos, vizinhos. É normal no Brasil existir alguma mulher na família que “não trabalha” (não ganha pago para trabalhar) mas cuida da criançada de todo mundo. Aqui a história é outra, porque a maioria das mulheres trabalham com algum trabalho assalariado, e quando uma criança precisa de uma “tia”, não tem. As tias trabalham. A avó também. Então o estado paga pra você ficar em casa e cuidar da sua cria. Porque você ainda vai receber 80% do salário pra fazer isso.
Mas é exaustivo né, pois isso não é tudo. Receber 80% do salário por dia “perdido” não significa que está tudo bem. Eu queria ir no médico pra ganhar alguma coisa que fizesse parar essa onda de gripe aqui em casa (E pelamordeDeus, não me escrevam receitas de tônico de gengibre e afins nos comentários meu pai e minha mãe tem esse papel, não tirem a alegria deles) e poder simplesmente trabalhar. Já que eu tô sendo, afinal, paga pra isso.
Mas eu moro na Suécia e a treta aqui é essa. Tem seguridade social pra você aguentar as pontas com as tuas dores na sua família nuclear (os ou o adulto responsável pela ou pelas crianças). E é isso.
Tá bom, mas não tá.
Você não está sozinha, Maria Helena.
Passando pelo mesmo perengue que você…😔 Sei exatamente como é a frustração de não poder fazer nada.
Saudades das suas postagens.
Krya på er 😘
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