Há tempos atrás, em um belo sábado de sol, em uma velha igreja em Angered…

Há tempos atrás, em um belo sábado de sol, em uma velha igreja em Angered…
Eu ando com muita saudades de escrever. O blog sempre serviu de válvula de escape para mim, principalmente nos meus dias mais difíceis do lado cá. Esses dias recebi um e-mail mal educado, de uma pessoa me perguntando se eu cansei de falar mal da Suécia ou simplesmente caí na real. Fala sério? Há uma porcão de blogs mostrando o quanto a vida na Suécia é boa, eu não acredito que precise frisar essa questão. Não quer dizer que esses blogs são menos importantes, ou que eu queira ser diferente. Quer dizer apenas que eu decidi mostrar o lado B das coisas, uma vez que o lado A está bem explícito.
Eu gosto da vida na Suécia e concordo com a maioria das coisas que as minhas colegas blogueiras expõe sobre esse país tão seguro. Sou feliz vivendo aqui. Em muito devido aos fatos especiais que me trouxeram para cá, e é justamente sobre isso que eu quero falar…
Hoje se comemora o dia dos namorados no hemisfério norte – ou melhor, o dia de todos os coracões na Suécia (já deu para perceber que eu não estou usando cedilhas?). Apesar das parcas atualizacões que venho fazendo por aqui, ainda há muita gente que me escreve por causa da minha história. O que vem mudando é que ultimamente mais e mais gente vem me escrevendo para pedir conselhos amorosos e isso, bem, é muito complicado.
Já me perguntaram se eu achava que dá para confiar em suecos, se dá para levar eles no motel, se transar no primeiro encontro faz com que eles pensem que somos putas, se vale a pena largar marido e filhos por causa de uma paixão avassaladora por um sueco super carinhoso e gentil de olhos azuis, se é normal que o namorado viking tenha fotos de mulheres nuas no computador, se é verdade que eles preferem as latinas e tailandesas porque as suecas são feministas peludas egocêntricas e malvadas…
Quero abrir um parêntese sobre a última questão. Há uma dicotomia muito interessante relacionada a esse fato. Por um lado, um monte de gente dissemina e acredita piamente que suecos não se casam com suecas porque elas são feministas castradoras. Por outro lado, um monte de gente – quando não as mesmas pessoas – afirmam que suecos são ótimos partidos, uma vez que cresceram em um país onde homens e mulheres tem direitos iguais, então eles são mais gentis e nem um pouco machistas. Partindo do pressuposto que mulheres suecas não servem para casar (elas são feministas peludas egocêntricas e malvadas), imagino que a maioria desses príncipes encantados sejam filhos de chocadeira…
Ironias a parte, o meu problema se deve ao fato de que não sou uma boa conselheira amorosa. Uma, porque me dá preguica. Tem gente que romantiza demais a relacao com um estrangeiro. Gente, se você é uma mulher hétero interessada em um cara hétero, saiba que o estrangeiro é só um homem hétero e ponto final. Homens podem ser doces e interessantes, podem ser malas arrogantes, podem ser machistas retrógrados, podem ser sexistas disfarcados, podem ser um ser maravilhoso, único e especial, e isso não porque são suecos ou brasileiros, mas sim porque são humanos.
Mas a cultura influencia, óbvio. E que a cultura sueca é muito diferente da cultura braisleira é um fato. Feliz ou infelizmente, ninguém nasce em linha de producao e, apesar da diferenca cultural, na Suécia os homens também traem, também assistem pornô, também batem em mulher e também abandonam a mocinha na porta da igreja.
Vou contar alguns casos: mais de uma guria me escreveu e-mails gigantes me contando os pormenores de suas histórias tristes com um sueco. Enquanto elas sonhavam em vir para cá (e o cara enrolando), ele estava saindo numa boa com outras garotas. Certa vez em uma festa eu conheci um sueco que veio me dizer que tinha uma namorado no Rio e que estava querendo trazer ela para cá. Me perguntou se tinha sido fácil para mim conseguir o visto. Eu comecei a contar minha história, até que um amigo do Joel veio tirar uma com a cara do sujeito, bem no estilo ” ai ai João, você ainda não tirou a Ana da cabeca? Olha que se a Rosa ficar sabendo…”. Aí que eu fui entender: o cara estava noivo de uma sueca, mas tinha uma namorada no Brasil. Ele vivia dizendo para ela que ia trazer ela para cá e visitava a guria uma vez por ano, mas ela nem sonhava que o cara estava na contagem regressiva para o casamento. A desculpa dele para ela era que por causa da filha dela o processo era mais demorado… Ele veio me fazer perguntas para descobrir se ia ser fácil ela descobrir que ele só estava enrolando… e ele me confessou isso na cara dura, justificando que era muito jovem para assumir uma crianca!
Ano passado, uma outra garota me escreveu dizendo que sofria violência psicológica do parceiro sueco. Estava grávida, não tinha dinheiro para voltar para o Brasil e vivia abandonada pelo cara, que tinha várias amantes e vivia viajndo a Europa com elas e contando para que lugares lindos ele tinha levado as outras gurias. Ainda uma segunda garota grávida me escreveu para contar que estava numa situacao semelhante. Na comunidade de Brasileiros na Suécia (no facebook) uma terceira pediu ajuda pelo amor de Deus pois tinha sido despejada pelo namorado, que simplesmente decidiu que ela não ia mais ficar na casa dele e pau, largou a menina na estacão de Stockholm e disse: se vira… Além de violência psicologica, eu sei que há brasileiras que sofrem de violência física aqui também.
Por fim, há aqueles que desistem “a tempo”. Quando você dá entrada no visto, o sueco tem que confirmar a história e dizer a imigracão que está disposto a te dar casa, comida e roupa lavada. Tem gente que entra em pânico nesse momento e simplesmente diz que não, que não era bem isso, que não pode ser responsável por outra pessoa. Não sei se é melhor ou pior, só sei que deve ser bem duro descobrir que o cidadão no fundo nem sabia ao certo o que queria.
Isso tudo para jogar mais um pouco de lama na reputacao inimputável desse reino tão e tão distante?
Não, é apenas para dar um toque: o que você espera ouvir quando escreve para uma pessoa que não te conhece, que não conhece o homem dos seus sonhos, que não tem a mínima ideia dos pormenores que envolvem a história de vocês? Se você espera ouvir um vem, vem agora que você será feliz para sempre, bateu na porta errada baby. Uma, que mesmo que eu escreva isso para você será uma mentira e duas, acho que você deve pedir conselhos para alguém que te conhece, tipo a sua mãe ou a melhor amiga.
É certo que eu vivo uma história de amor com um sueco. Isso pode ser algo que temos em comum. Mas, apenas para reforcar, cada ser humano é unico e eu não posso orientar um terceiro a tomar as mesmas atitudes que eu. É muita responsabilidade. E tem gente que se irrita! Tipo a guria que me escreveu perguntando se ela devia largar o marido e filhos para ficar com um sueco e eu disse que não iria opinar, me deu uma resposta torta dizendo que eu devia ajudar por ser uma questão cultural. Uma questão cultural? Essa é uma questão pessoal e no mínimo extremamente sensível por dizer respeito a vida de menores. Além de tudo, tem bem cara de cilada: a pessoa me escreve, pergunta o que eu acho; eu digo que eu acho que ela deve apostar; tudo dá errado e depois… foi a caipira do blog que me MANDOU largar do marido!
Enfim, se você é solteira, independente e quer arriscar… coloque as coisas na balanca do seguinte modo: e se ele não fosse sueco? E se ele fosse brasileiro e eu tivesse que me mudar, sei lá, do Amazonas para o Rio Grande do Sul ou vice e versa, sabendo o que eu sei, eu faria isso?
Se você está na duvida, é bom por um freio.
Faz mais ou menos um mês escrevi um texto para o concurso “Uma Música, Mil Lembranças” do blog Borboleta Pequenina Somniando na Suécia. O concurso terminou em 31 de maio e agora rola a votação, o texto preferido da galera vai ganhar uma tela muito linda!
Quando escrevi o texto não pensei em ganhar a tela mas sim em tentar colocar em palavras uma época especial da minha vida. Foi muito legal escrever um texto para o blog de outra pessoa e receber críticas boas a respeito dele. Por causa disso decidi deixar aqui um pedacinho dos textos que participaram do concurso, e quem quiser pode entrar no blog da Somnia e votar no seu preferido. O objetivo do concurso era o de contar lembranças referentes a uma música que fez parte de uma época especial da vida do autor.
Não estou pedindo votos (acho que ganhei uns 3 votos até agora) mas quem quiser conhecer um pouco da minha história com o Joel, pode dar um pulinho no link que vou deixar abaixo. Aqui vai um cadinho de cada texto – após o nome do autor e a da música que inspira as lembranças:
Texto 1 Que sorte a nossa hein? (autor Ricardo Perez, música “Ai,ai,ai,ai” Vanessa da Mata)
O relacionamento deles havia acabado há pouco mais de um mês. Programada para ser a comemoração de 4 anos juntos, a viagem não foi cancelada e ambos acharam que tudo bem. Tinham sido felizes juntos mas o que fazer se não dava mais certo, se as brigas tinham se tornado mais frequentes que os bons momentos, se havia tantas outras possibilidades, tantas outras paixões perdidas por aí, tantos outros corpos a serem descobertos? Então, pegaram o avião com a certeza de que tinham o que festejar. Seria um final feliz.(para ler o texto na íntegra clique aqui)
Texto 2 Escorrendo pelos dedos (autora Ingrid K Lima, música “Slipping trough my fingers” ABBA)
Parece que o tempo passa cada vez rápido, o tempo escorrega pelos meus dedos. Sinto mesmo que foi ontem que eu vim ao mundo, mas se páro para pensar que já fazem 12 anos que estou vivendo simplesmente não acredito. Se pensar que apenas poucos anos atrás que eu queria estudar no colégio que estou hoje e isso já correram dois anos. Quando me lembro que queria viajar para vários lugares para os quais já viajei. As emoções que eu vivi, as pessoas que eu conheci, tudo isso é fantástico! (para ler o texto na íntegra clique aqui)
Texto 3 The Story (meu texto povo! Música “The Story” Brandi Carlile)
Foram sete meses até nos reencontrarmos, sete meses marcados por ansiedade, impaciência, insegurança, “The Story” e uma santa loucura. Uma loucura movida por lembranças fantásticas – de um amor de verão; pela certeza de que ele me conhecia como ninguém apesar do curto tempo em que estivemos juntos e pela necessidade que eu tinha de dizer para ele: “aquelas semanas maravilhosas não eram uma fantasia, elas são uma verdade porque eu fui feita para você”. (para ler o texto na íntegra clique aqui)
Texto 4 A história da amor entre Pingo e Laura (autora Nina Sena, música “Com minha mãe estarei”)
Eu adoro lembrar da minha avó. Porque foi com ela que senti amor pela primeira vez na vida. Foi ela, com seu jeito simples de mulher interiorana e lutadora e mãe de uma penca de filhos e avó de uma porrada de moleque, quem me ensinou sobre cuidar do outro, sobre solidariedade e amar a todos sem fazer desdén de ninguém. Eu nunca havia pensado nisso, mas foi vovó quem me ensinou o dom de ser generosa. Ela repartia o amor tão bem entre os netos quanto a sopa que sempre fazia em quantidade bem maior que precisava porque sabia que sempre iria aparecer alguém na sua porta com fome. Esse amor era tão bem distribuído que se você perguntasse pra cada um dos netos quem era o mais querido da vovó, cada um iria dizer: eu mesmo, claro! (para ler o texto na íntegra clique aqui)
Espaço para comentar: eu chorei quando li esse texto da Nina, na minha opinião foi lindo demais e o melhor de todos. Quem não lembra das músicas de Maria na infância?
Texto 5 Já sei namorar ( autora Beth Lilás, música “Já sei namorar Tribalistas”)
Quando eu era menina, formava com minha irmã e mais duas amiguinhas um quarteto a que denominamos “Quarteto fora de si” parodiando um famoso daquela época chamado “Quarteto em Si”, e eu sempre ficava com a voz aguda e estridente da boa soprano que era, ou melhor, achava que era. Cantava muito, parecia uma cigarra durante o dia e também inventava palavras em inglês que eram bem parecidas no som com as originais, já que eu não manjava nada daquela língua. Era tão divertido cantar com as amigas ou mesmo sozinha em casa, no quarto, no banheiro, em banhos demorados em tardes quentes de domingo. Coisa boa, tempo bom! Babaluuuuuuuuu! (para ler o texto na íntegra clique aqui)
Texto 6 Os verdes campos da minha infância (autora Irene Cechetti, música “Os verdes campos da minha infância” Agnaldo Timóteo)
Nos sábados e domingos a escola se transformava em um salão de baile. As carteiras eram encostadas e a música tocada por instrumentos musicais como a sanfona, violão e pandeiro que animavam os pares dançantes. Foi num desses bailes que conheci meu primeiro namorado. Uma paixão, um amor puro e verdadeiro que meu pai, um italiano ciumento e brigão, de uma maneira violenta, dando um soco na cara do “meu príncipe encantado” colocou um ponto final no romance. (para ler o texto na íntegra clique aqui)
Texto 7 Até mais ver (autora Daniela Barbagli, música “Até mais ver” Trio Virgulino)
Era algo transcendente que ditava o ritmo dos passos numa sintonia sem igual. A felicidade estava no ar. Num desses momentos mágicos, quando o sol estava quase a raiar, a música parou. O silêncio da caixa de som não interferiu no ritmo do salão. Com o céu clareando, continuamos dançando ao som de nossos próprios passos: dois pra lá, dois pra cá; dois pra lá, dois pra cá… a areia trazida das dunas fazia um chiado difícil de resistir. (para ler o texto na íntegra clique aqui)
Gostou de algum dos textos? Clique aqui e deixe seu voto na enquete que aparece ao lado direito da página!
Vi ses!!
Hoje é um dia especial na Suécia, mas não tem nada a ver com o título que eu coloquei… Também não é Carnaval, e para acabar de vez com o mistério: é terça feira gorda! HahahHAhaha! Não é promoção de supermercado não! Como não existe Carnaval na Suécia para marcar o último dia antes da quaresma (algumas pessoas também jejuam aqui e guardam a quaresma) existe o fettisdagen, um dia para encher a pança de uma delícia chamada semla: um bolinho com recheio de amêndoas ou baunilha, coroado com muito, muito, muito creme de leite. Vale lembrar que o creme de leite aqui na Suécia é batido e tem uma consitência diferente do nosso.
Eu não sou boa com essa coisa de descrever os pratos típicos e do dia que existem na Suécia. Felizmente, eu não sou a unica blogueira que escreve a respeito desse reino tão, tão distante; e se você quiser ler mais sobre a semla passa lá no Mundo da Mari. Ela tem receitas fantásticas de algumas especialidades suecas!
Esse é na verdade um post sobre saúde. Porque a gordura em excesso prejudica o coração… Brincadeira. Semana passada na terça-feira foi o dia dos namorados sueco, que aqui é chamado de Alla Hjärtans Dag – o Dia de Todos os Corações. Sorte de Santo Antônio, que por aqui não é conhecido e por isso mesmo não é dependurado de cabeça para baixo ou posto na geladeira até que apareça o grande amor da vida de alguém. Em outros países do norte do mundo o dia dos namorados também é comemorado em 14 de fevereiro por causa do dia de São Valentim, um santo que ajudava jovens enamorados a se casarem. Na Suécia em 14 de fevereiro é comemorado o nome Valentim, mas o dia é popularmente conhecido como de todos os corações.
Com uma semana de atraso – mas é amor é eterno enquanto dura, não é Vinicius de Moraes? – resolvi postar então algumas palavrinhas e frases suecas sobre amor, relacionamento e etc. Pode parecer meio bobo, mas é importante – tenha fé, isso vai te ajudar a se livrar de alguns micos. Você sabe por exemplo a diferença entre kyssa e kissa?
Att kyssa é beijar – beijar na boca, e a pronúncia é xissa. Att kissa significa mijar, fazer xixi, e a pronúncia é quissa. Quem é esperto já pegou o espírito da coisa. Por mais idiota que seja, TODO MUNDO COMETE ESSE ERRO de misturar kissa e kyssa. Eu também já fiz a besteira de falar errado na frente de um monte de pessoas que estavam esperando para saber como foi a história de quando eu e o Joel nos conhecemos (dai que o Joel mijou em mim!)… o king kong é explicável: em inglês, beijo é kyss. E a gente fala kyss mesmo!
Todo mundo que muda a reboque de um amor sabe essa: Jag älskar dig. Na cultura sueca amor é um sentimento para a família e o parceiro, não se usa isso para dizer que você gosta muito de outras pessoas. Nesses casos, você pode usar “jag tycker om dig“ ou “jag gillar dig“. Quando está apaixonado usa o “jag är kär i…”. O interessante é que daí deriva uma série de palavras semelhantes no pacote dos sentimentos: kär é apaixonado, kärlek é amor, känslig é sensível, känsla é sentimento e att känna é sentir.
Namorado e namorada seguem a mesma lógica do inglês: pojkvän e flickvän. Mas você também pode usar a gíria kille e tjej – na tradução literal garoto, garota; rapaz, moça. Para noivo e noiva existem duas denominações: fastman e fastmö para a época do noivado e brudgummen e bruden para o dia do casamento (quando o casal é chamado de brudparet). Marido é make/man e esposa, hustru/fru. Não existe nenhum equivalente para ficar, mas amizade colorida é apenas kk (coco – não cocô, nem káká), que significa knullkompis – amigos que fazem sexo. Namorar é att vara tillsammans; noivar é att förlova sig; e casar, att gifta sig.
Para gostoso/gostosa se diz “en godbit”, ou brud/brudar especificamente para mulher/mulheres bonitas. Já a gíria para solteiro é “jag är ute på markanden”, no sentido de estar no mercado.
“Vi håller i hand” ou “att hålla varandra i handen” é o equivalente ao nosso “andar de mãos dadas”. E kyssa é mijar ou beijar? Pussar é beijo no rosto e kramar, abraço. Att ligga sked é dormir de conchinha, que traduzido é “dormir de colheres”. Fazer algo gostoso juntos é att mysa, e chamegar é att gosa – por isso ursinhos de pelúcia são chamados de gosedjur.
Quase que a totalidade dos suecos que eu conheço levam muito a sério o compromisso de estar junto com outra pessoa: compram flores, saem para jantar, vão ao cinema, saem para caminhar; enfim, gostam de fazer muitas coisas com o parceiro. Se é por causa do feminismo ou porque muitas pessoas moram a vida toda sozinhas? Não sei. Existem divórcios e o fim de namoro também, mas as pessoas curtem bastante um ao outro; sempre mantendo a liberdade de também sair com os amigos, fazer coisas sozinho.
Em todo caso, espero que quem já tá por aqui e tiver vontade adicione mais expressões do amor e etc nos coments!
Falei que o post era sobre saúde? Amar é a melhor forma de cuidar bem do coração…
É muito engraçado como algumas mulheres suspiram quando eu ou Joel contamos a nossa história. Eu não posso contestar que ele vir para o Brasil e ficar justo na minha cidade que não tem nada de turística (agrícola, 5 mil habitantes) e eu me me despachar para a Suécia tem seu quê de charme e uma dose cavalar de romantismo mas, apesar da gente viver – ainda – uma fase carregada de paixão no relacionamento, não foi este o fator determinante para que eu mudasse.
Que me desculpem os crentes do amor romântico, mas é fato. Óbvio que não posso descartar a valiosa contribuição da paixonite, afinal esse estranho sentimento sempre nos dá uma dose extra de coragem; mas namorar a distância não tem nada de transcendental, e nós passamos praticamente um ano fazendo disso uma rotina. Eu sempre repeti a minha mãe que ela tinha a filha dos sonhos já que eu namorava a moda antiga: sentava para falar com o namorado pelo Skype por uma ou duas horas, de 2 a 4 vezes por semana. Nem pegava na mão. Tudo absolutamente respeitável. E chato.
Pensando bem, isso foi injusto: era e é – ainda uso o serviço para falar com a família e amigos – emocionante! Você nunca sabe se conseguirá ser ouvido ou ouvir, se vai ter sorte de a conexão ser estável o suficiente para ter vídeo, se de repente choveu uma nuvem perto de Itaipu e a transmissão de energia será cortada por tempo indeterminado… é preciso uma santa paciência! E teimosia.
teimosia (tei-mo-si-a)
s. f. Apego obstinado às próprias idéias, gostos etc.; obstinação, persistência. Sinônimos: birra, capricho, turra, obcecação, perrice.
Verdade, pô! As suecas são consideradas as mulheres mais bonitas da Europa, porque o Joel sentaria para conversar com uma caipira? Somos o país da festa e pegação, qual a graça de ficar blá-blá-blando na frente de uma máquina? Simplesmente porque ficar junto com alguém requer decisão, precisa de querer obstinadamente seguir um capricho.
Mas que vidinha mais sem graça, né mesmo? Tudo tem que ser planejado agora, nada é espontâneo, surpreendente, avassalador… tudo tem que ser quisto! Pois é, amor romântico só existe na tela do cinema e em livros. Na vida real a paixão não dura para sempre, simplesmente porque de repente saltam aos olhos todos os defeitos inimagináveis que a pessoa mais maravilhosa do mundo tem como um jato certeiro de água fria! …e se você não decidiu gostar dele/a mesmo com tudo isso, adeus fogo da paixão.
Uma das minhas frases favoritas é de André Comte Sponville citando Denis de Rougemont:
“Estar apaixonado é um estado; amar, um ato.” Ora, um ato depende de nós, pelo menos em parte, podemos quere-lo, empenhar-nos nele, prolonga-lo, mantê-lo, assumi-lo… Mas e um estado? Prometer continuar apaixonado é se contradizer nos termos. Seria como prometer que teremos sempre febre, ou que seremos sempre loucos. Todo amor que se compromete, no que quer que seja, deve empenhar outra coisa que não a paixão.
Eu e o Joel fomos amigos mas do que tudo por todo o tempo em que estivemos longe um do outro, falando de todas as coisas e nada, de sofrer a distância, o que fazer com a saudade. Mas do que a paixão, nos uniu o respeito, carinho, fé e teimosia. Sim, por que não? Não adianta só sonhar, é preciso correr atrás do sonho e para isso você precisa acreditar nele, acreditar que é possível e tentar e tentar.
Todos temos monstrinhos ou somos monstrinhos em alguns momentos da vida e quando você tem um relacionamento verdadeiro com alguém, aquele que é bem perto, não adianta tentar esconder; uma hora aparece um rabo aqui, ou sente-se um cheiro estranho. A paixão não serve para aceitar monstrinhos, nem tampouco nos dá a coragem de apresentar ao outro os nossos. Simplesmente porque na paixão existe a ilusão do perfeccionismo, da beleza, da plenitude… como encaixar uma coisa estranha no meio disso tudo?
Por meio do amor. Uma vez que amor é decisão e você não se encontra em um mundo perfeito pode aceitar a imperfeição e apresentar a sua também, pode se decepcionar com o outro e aprender a olhar para aquilo que o outro é e não aquilo que você imaginou que fosse, pode aprender a perdoar e recomeçar, pode se descobrir e descobrir novas faces do ser amado. Dessa forma eu me apaixonei de novo pelo Joel pelo menos duas vezes depois que nos conhecemos, apesar de descobrir que ele não toma banho todos os dias (ele jura que é só no inverno) – brincadeira. O Joel é uma daquelas pessoas que morrem de nojo quando encontram cabelos que não estão mais na cabeça de alguém… advinha só? Eu sou uma daquelas pessoas que perdem 100 fios de cabelos por dia. Mentira, não perco porque o Joel encontra quase todos.
Eu tenho um monstrinho peludo, o Joel um monstrinho fedido. Eu posso decidir se quero ou não aceitar isso, eu posso lutar ou desistir; assim como ele também. Todos podem viver uma maravilhosa história de amor. Mas para isso mais do que paixão é preciso querer… querer se envolver, querer se doar, querer crescer, querer se machucar, querer perdoar, querer mais fé, querer dividir e conquistar! Eu encontrei alguém fantástico com quem quero tudo isso…
Joel, eu amo você!
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes
É uma afirmação piegas, mas é fato: o Joel veio para o Brasil por meio de um intercâmbio entre a Igreja Luterana Sueca e a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB; e apesar de o sonho dele ser conhecer o nordeste, ele veio parar na minha cidade – extremo oeste do Paraná, sul do Brasil. Brincadeiras a parte, eu sou cristã e acredito realmente que as coisas maravilhosas que acontecem na minha vida são presentes de Deus.
Como o objetivo não é adentrar uma discussão sobre a complexidade do destino, a vontade de Deus e o peso que as decisões humanas tem sobre a história de cada um; eu apenas quero sublinhar o fato de que o Homem (no caso Joel, lindo, olhos azuis, gentil e maravilhoso… na época solteiro) apesar de todos seus esforços de ficar no norte do Brasil veio parar praticamente na porta da minha casa! Definitivamente, isso não é uma simples coincidência do destino. E eu agarrei meu presentão com todos os braços e abraços que pude.
E deu certo.
Eu seria uma mentirosa se dissesse que eu não pirei os primeiros dias. Li tudo que eu encontrei sobre a Suécia, a Escandinávia, a moeda, a língua, a cultura, sobre a Rainha Silvia – afinal ela casou com um sueco; olhei Gotemburgo tantas vezes no Google Earth que eu poderia dizer como chegar ao centro da cidade a pé, de trem ou ônibus. Isso, e a gente nem estava namorando! O Joel foi embora, a gente ficou no status de amigos e eu nunca mais visitei a página da Embaixada Sueca, até agosto do ano passado.
Decidimos que eu ia tirar o visto, e me mudar para a Suécia!!
Passada a euforia da coisa, a gente realmente sente um frio na barriga. No começo eu não tava muito segura para pedir residência por laço familiar (que é o famoso visto) pois parecia rídiculo ter que provar para outras pessoas que eu tinha realmente um compromisso. Mas quando eu comecei a ler blogs de pessoas que saíram do Brasil percebi como era complicado para todo mundo. Não é fácil ou romântico ser um estrangeiro, e não importa se você está estudando, é au pair, está trabalhando ou só seguiu seu parceiro lá fora; todo o processo de visto é desgastante, toda a adaptação – por maior que seja o sonho, por mais maravilhoso que seja o país e as perspectivas que você tem a respeito da mudança sejam fantásticas – é difícil: você não vai mais estar no Brasil, e não vai mais ter “jeitinho” para tudo.
A observação acima não é para dar a impressão de que ser estrangeiro é um desastre. Afinal, qualquer escolha da vida pode ser um desastre, se você não estiver seguro a respeito do que quer. Algumas pessoas repetem todo dia para mim que eu sou muito corajosa por decidir mudar de “mundo”, mas eu não decidi isso num impulso. Aluguei os ouvidos da Angela e da Lu por horas a fio, com todo o blá blá blá imaginável a respeito de uma das perguntas mais famosas da humanidade “Ser ou não ser? Eis a questão.”.
Eu decidi ser estrangeira porque conheci uma pessoa por quem vale a pena mudar de ares. Mas talvez você seja uma pessoa que está pensando em mudar para outras terrinhas para estudar, ou porque surgiu uma ótima oportunidade profissional. Se você já tem essa idéia na cabeça, o melhor a fazer é buscar todas as informações que você puder sobre o país de destino e os tipos de visto que você pode ter para o tal lugar. Visite o site da embaixada do País das Maravilhas, e procure descobrir o que eles pensam sobre ter “Alices” em suas terras.
Uma página que eu considero deveras importante é o site da Polícia Federal do Brasil. Primeiro, porque é aqui que você vai ter que fazer o cadastro para ter o seu passaporte, e segundo, tem a lista dos endereços da PF no mundo, as chamadas adidâncias. Ninguém quer pensar em coisas ruins, ainda mais quando tem um leque de possibilidades sorridentes a sua frente, mas todo País das Maravilhas tem sua Rainha de Copas, então, não custa nada ser uma pessoa bem informada.
É dificil lembrar de ficar atento aos detalhes quando se está eufórico, e muitas vezes parece que tudo vai ser tão demorado (o visto, guardar dinheiro, esperar respostas) que é melhor fazer e ter tudo o mais rápido possível. Mas vale a pena esperar, ter paciência, estudar. Eu ainda fico impressionada como tudo aconteceu rápido, ao final, para mim. Conheci o Joel em novembro de 2009, e em 12 de abril vou mudar para a Suécia, já sabendo que vou ter imensas saudades do Brasil…
” Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.”