Diário Caipira – 18

Coisas simples que dão errado por conta de uma letra: um dos vizinhos pediu ajuda pra fazer as compras. Mandou uma lista. Nela havia “Marabou chokladkaka”.

Eu li e reli e pensei que se tratava do famoso “kladdkaka” (pra mim é só bolo cru mesmo, mas pra ser chique a gente explica como brownie). Procurei e procurei pelo mercado, até achar um kladdkaka da marca Marabou.

Quando fui entregar as compras para o vizinho perguntei: era esse bolo que você queria? E o vizinho rindo: queria só uma barra de chocolate mesmo mas não vou ter problemas de comer o bolo!

Voltei pra lista e fui lá perguntar a explicação pro meu guru do sueco: amor, como assim isso aqui é barra de chocolate? “Kladkaka” não é bolo? E ele: sim, kladdkaka – com dois Ds – é bolo; mas chokladkaka é uma forma de dizer barra de chocolate.

Da próxima vou conferir a lista com o marido antes de ir às compras.

Dona Maria

Uma das coisas que mais quebrou as minhas pernas com a mudança de país foi a questão da minha identidade profissional. Eu não sou o tipo Dona Maria que é zelosa com a casa – afinal de contas, Amélia que era mulher de verdade – e o fato de ver meu diploma não valer de nada me angustiava.

Até eu arrumar um emprego…

É aquela velha história: você se mata estudando pra passar no vestibular, mas a universidade não é mole não; você se desdobra escrevendo e reescrevendo currículo e carta de apresentação, mas se dar bem no trampo é que são elas. Ano passado, trabalhei apenas um mês e meio antes de sair em licença maternidade e agora que estou há três meses de volta a ativa é que entendo o quanto foi suave aquele período (vassoura nova varre que é uma beleza). Eu estava mais tranquila, havia outras preocupações dentro e fora do campo profissional. Agora há muito mais pressão de todos os lados.

Isso está relacionado ao fato de ser mãe, em primeiro lugar, e ao fato de ser a mais jovem do meu grupo de trabalho, em segundo. Eu mencionei no post passado que apesar da Suécia ser um país liberal me espanta alguns comportamentos conservadores em relação a amamentação, da mesma forma que me espantou que algumas pessoas ficaram surpresas quando eu disse que voltaria ao trabalho antes do Benjamin completar um ano. Eu posso estar enganada, mas senti reprovação também. A pergunta que mais ouvi foi “por quê? Ele ainda não fez um ano, e a licença é longa”. É verdade, a licença é longa, mas eu quero dividir ela de modo igual com o Joel. Porquê eu sou mãe, é super importante minha presença ao lado do meu filho e etc (principalmente até o primeiro ano) mas ele tem um pai que também anseia por um vínculo forte com seu filho. É muito difícil, como mãe e tendo a carga cultural que eu tenho, dar abertura para que o meu parceiro seja pai. Primeiro, porque eu sou o tipo de pessoa chata que acredita que as coisas são muito melhores quando são feitas do “meu jeito”. Segundo, a gente cresce ouvindo que mãe é que sabe o que é bom para o filho. Mas pai também sabe. Eu sabia ser mãe o mesmo tanto que o Joel sabia ser pai quando Benjamin nasceu. Por conta da amamentação, meu vínculo com o Benjamin se estabeleceu mais rápido, mas tudo que eu aprendi aprendi com o Benjamin. Se o Joel não tivesse oportunidade de ficar sozinho com o bebê também não aprenderia.

Então eu quero deixar uma crítica para nós mulheres: temos que ter mais coragem de largar nossos filhos na mão de nossos companheiros. Você casou, ajuntou com essa pessoa porque ela é especial (se você está em um relacionamento saudável), então deixe seu bebê provar disso também. Instinto paterno existe, e o seu filho não vai gostar menos de você porque você é corajosa o suficiente para compartilhar responsabilidades.

Como eu falei, não é fácil… mesmo que racionalmente eu tenha tomado essa decisão, na prática a história é outra. Muitas vezes quando estou no trabalho penso que deveria ter esperado mais para voltar. Que seria mais fácil se eu não tivesse peitos cheios de leite que me fazem perguntar o que é que o meu pequeno está comendo, se ele está dormindo bem (mesmo porquê eu passo 24h seguidas longe de casa). Quando temos alguma reunião em que assuntos delicados estão sendo discutidos pela milésima vez desde que eu voltei, ou quando um dos adolescentes do abrigo começar a ser muito adolescente (e eu com eles né?); eu sempre me pergunto: o que é que eu tô fazendo aqui?

O fato de ser a mais nova do grupo me faz sentir meio burra às vezes porque nosso trabalho compreende tanto questões práticas como burocráticas. Há coisas que a galera já está cansada de fazer e eu não tenho a menor idéia de como funcionam; eu não tenho conhecimento da rede de apoio e frequentemente me pego boiando. É um desafio, e eu me sinto bem com isso, mas sempre rola aquela pressão também. Principalmente no quesito linguístico… meus colegas costumam elogiar meu sueco, mas na hora do pega pra capar ainda sou muito lenta tanto para escrever quanto para argumentar. Normalmente, entro muda e saio calada de reuniões porque não desenvolvi o sueco suficiente para entrar no timing de uma discussão acolorada e conseguir expressar meu ponto de vista. Vai melhorar com o tempo, mas nessas horas minha auto estima fica super abalada e eu me pergunto se eu quero mesmo isso.

Mas eu sei que eu quero. Estou acumulando experiência e apesar da pressão constante (eu sinto que “posso” trabalhar fora mas tenho que mostrar que ainda serei uma boa mãe – bem anos 80, mas é isso mesmo) eu começo a dominar e compreendercada vez melhor o sistema social sueco.

Dona Maria sim. Mas não daquele jeito.

Palavrões suecos – Parte II

Há muito tempo atrás (às vezes eu sinto como se tivesse sido há décadas) falei um pouco das palavras enormes em sueco que são verdadeiros palavrões no sentido literal da palavra. Lembram que eu partilhei no post sobre trava língua suecos umas das maiores que eu consigo dizer? Aí vai:

Hidronevrukusticadiafragamkontravibrationer.

(pausa para respirar…)

Essa belezinha aí em cima nada mais é do que soluço (ou melhor, o termo médico para o soluço). Eu chateei muito o Joel quando ele me disse isso a primeira vez… a cada pessoa que eu apresentava ele, eu dizia: “Cara, sueco é uma língua muito louca! Fala soluço para eles em sueco Joel, fala!”.

Quem perdeu esses primeiros posts do blog (quando eu tinha aquela pretensão besta de ajudar os interessados na língua) e não está entendendo nada, aqui vai uma curta explicação: no sueco, você junta uma palavra com outra e forma uma coisa gigantesca para dar nome à algumas outras coisas. Um exemplo simples: cortar é att klippa e grama é gräs. Advinha como é que fica cortador de grama? Gräsklippare. Essas junções criam palavras enormes que às vezes é difícil pacas de pronunciar. Outros exemplos: Drottningtorget e Kungsportsplatsen: no primeiro Drottning é rainha e torget é praça (Praça da rainha); e no segundo, Kung é rei, sport é esporte e platsen é local, lugar (ou Campo de esportes do Rei).

Agora e os palavrões mesmo? Aqueles que são palavras feias? Como é que o sueco xinga?

A fonte já tá aí na figura...

A fonte já tá aí na figura…

Suecos xingam muito no jeito americano. “What a fuck man?”, “fuck you” e “your ass” são alguns dos que mais ouço, sendo que com certeza o primeiro da lista tá na boca da moçada o tempo todo. Com certeza isso é resultado do fato de os suecos não assistirem nada dublado por aqui uma vez que todas as séries e filmes são apenas legendados (também, dublar em sueco deve ser o ó). E isso pega gente! Eu mesmo vivo falando shit! desde que mudei para cá.

Entre os palavrões em sueco mesmo, acho que o mais popular deles é “fy, fan…” uma espécie de “diabos!”, que eles usam tanto no início da frase como no fim. Se você usa somente o fy fica mais ou menos como o nosso “nossaaa!” e não é considerado palavrão.

Talvez seria um erro afirmar que fy fan é um dos mais utilizados, uma vez que tudo depende do tipo de grupo com o qual você está acostumado e da época não é mesmo? Novos palavrões vão e vem com a moda. Assim que mudei para cá com certeza o que eu mais ouvia é o “jävla”, que pode ser traduzido de diferentes formas, entre eles maldito, maldição ou diabo (quando se usa jävel): aquele condutor maldito! seu idiota maldito! uma impressora dos diabos! No mais, se mandamos alguém à algum lugar é ao inferno (dra åt helvet – vá para o inferno), diferente de no Brasil que mandamos à muitos lugares. Além disso há os tradicionais, como “hora” (puta), “neger” (negro), helvet (inferno) e “kärring” (cadela) ou “gubbe” (velhaco), os dois últimos no pejorativo.

Na Suécia é muito feio utilizar palavrões. Jovens e principalmente adolescentes usam muito isso, mas não é legal soltar palavrões no ambiente de trabalho e você pode levar uma cara muito feia de uma mãe se começa a soltar impropérios em frente a crianças pequenas…

No meu ambiente de trabalho muitas pessoas usam palavrões. Acho que isso se explica devido ao fato de que estou em contato com gente que tem uma história de vida difícil e que não vai se importar em usar um vocabulário apropriado, assim, a gente que trabalha com assistência social fala muito palavrão.

Isso me faz lembrar que há também os palavrões socialmente aceitos, que não significam nada de mal mas realmente soam como algo sinistro, e esses são “sjutton” (dezessete) e “tusan” (mil). “Sjutton gubbar” (dezessete velhacos) aparece até mesmo em livros infantis (lembram do Alfons? Está lá).

Döh… Se alguém perguntar, (för sjutton gubbar!) não fui eu que ensinei ok?

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Döh… eu aprendi a pouco tempo e dizem que é uma forma bem gotemburguesa de chamar a atenção de outrem, que pode ser traduzida como o “Ei você” ou aquele “ô você” ou simplesmente “ô”.

Aprenda sueco com Alfons

Como prometido em fins de junho, aqui vai o primeiro post da série. Ao escrever os posts eu percebi que ficava longo demais e esquisito colocar a tradução do episódio, então achei melhor acrescentar três pequenas dicas ao fim de cada um. Além do mais, a tradução desse texto é bem simples de conseguir com a ajuda de um dicionário – serve como treino. Se alguém possui os livros vai perceber que os episódios narrados em vídeo apresentam  um texto um pouco diferente, mas a essência da história permanece. Ha det trevligt!

*****

Här är Alfons Åberg. Han är snäll och glad ibland. Och dum och busig ibland.
Just nu är han busig och ledsen för det är kväll och han vill inte sova. Nere på gatan är lamporna tända och klockan i köket visar snart nio, men Alfons vill ändå inte sova. 
– Snälla pappa, läs en saga!
Här är pappa. Han är nästan aldrig busig men snäll för jämna. Nästan för snäll. Som i kväll: fast klockan är så mycket tar han en sagabok. Han läser en lång bra saga om en häst.
Sen ger han Alfons en puss och släcker ljuset när han går. I dörren säger han:
– God natt och sov så gott.
Men Alfons vill inte sova gott. Han vill inte sova alls. Nu kommer han ihåg: han har ju glömt att borsta tänderna!
– Pappa! Vi glömde att borsta tänderna!
Pappa kommer snart. Alfons borsta sina tänder så noga, så noga. Varenda tand blir ren.
– Sov nu, säger pappa.
Men Alfons somnar inte. Han är förfärligt törstigt! det känner han nu. Förfärligt vad törstigt han är.
– Pappa!, ropar han. Jag är törstigt!
– Sov nu gott, säger pappa när han går.
– Pappa! Jag spillde! Det blev vått i sängen.
– Nä men, oj oj oj oj oj! säger han när han får se fläckarna.
Han torkar upp på golvet med några trasor och i sängen byter han lakan.
– Sov nu så gott.
– Pappa! Jag måste kissa!
Pappa kommer. Han har hämtat pottan i badrummet.
– Sov nu, ber pappa när han går.
Men Alfons somnar inte i alla fall. Han ligger och tänker på garderoben… Kanske, är det ett stort vilt lejon där inne?
– Pappa! Kom och titta! Det är ett stort lejon i garderoben!
Pappa kommer. Pappa hittar inget lejon.
– Lejon finns inte ofta i garderober. God natt och sov så gott. Och ropar helst inte mer för nu är jag så trött.
Men Alfons somnar ändå inte. Först måste han bara ha Nallen.
– Pappa! Nallen!
Pappa börjar leta. Han ser i hallen. Han letar i badrummet. Till slut finner han den längst in inne under soffan… Men pappa dröjer så mycket. Kommer han inte snart? Med Nallen. Vad konstigt. Varför kommer han inte? Vad håller pappa på med?
Men titta: nu har pappa läst saga, hämtat tandborste, kommit med saft, bytt lakan, torkat upp saft, burit potta, sökt efter lejon, hittat rätt på Nallen och blivit så trött som han somnar pladask mitt på golvet just som hade tagit fram Nallen under soffan. Alfons blir full i skratt pappa ser så skoj ut! Han ligger och snarkar riktigt gott.
– God natt och sov så gott, viskar Alfons.
Så vandrar han tillbaks till sängen.Han tänker att han ska inte ropa mera. En pappa som sover kan ju inte gå några ärende. Och kommer ingen när man ropar så kan det kvitta, tycker han. 
Och nu kan nog Alfons sova, han med. Schhhhhh… viska. Det ser ut som han sover… God natt, Alfons Åberg.
 
 

Resumo da história em português: Alfons é uma criança que esta fazendo de tudo para não dormir. Ele quer que o pai leia uma história (saga=conto, história infantil), depois lembra que esqueceu de escovar os dentes e que ficou com muita sede; e aí ele derruba saft (um tipo de bebida feito a base de flores) na cama, depois ele precisa muito fazer xixi e morre de medo de que haja um leão dentro do armário; por fim, ele quer o urso de pelúcia (todo o bicho de pelúcia é um nalle)… e quem acaba dormindo exausto é o pai que correu e deu assistência ao menino nessa folia toda.

Snäll é adjetivo para querido, bonzinho  enquanto snälla é por favor. Em português costumamos pedir, por exemplo, quando estamos a mesa: pode me passar o pão por favor? Mas em sueco se costuma usar o “kan jag få blablabla” para esses casos. Se você quer pedir um favor a alguém inicia a frase com snälla ou usa no fim da frase är du snäll; assim se você quer incluir no final de uma frase “kan jag få blablabla” um “är du snäll” fica extremamente educado, mas soa como se a pessoa estivesse implorando e portanto, não há problema algum em dispensar o complemento. Exemplos: Snälla, kan du räcka mig en handduk? (Por favor, pode me alcançar a toalha ou) Kan du räcka mig en handduk, är du snäll? 

Vad håller du på med? é o nosso “o que é que você está fazendo?” e serve tanto para uma pergunta simples como para mostrar surpresa ou revolta – quando a gente solta aquele indignado “o que você acha que está fazendo?”. A  combinação inte e alls é para indicar o nosso “de jeito nenhum”: han vill inte sova alls – ele não quer dormir de jeito nenhum! Já busig é um adjetivo que significa tanto manhoso e birrento quanto sapeca, travesso, genioso; depende do contexto. Alfons é manhoso – nessa história.

Por fim, o temido “kissa” que normalmente é confundido com “kyssa” (o primeir0 é xixi e se pronuncia quissa; o segundo é beijar na boca e se pronuncia xissa). Na prática, se você é daquelas pessoas que morrem de vergonha de falar em xixi ou cocô em público pode usar o jag måste gå på toa que serve para os dois. Ao contrário, crianças costumam gritar a todo o pulmão um “jag måste kissa/bajsa” (eu preciso mijar/cagar) ou jag är kissnödig/bajsnödig. O engraçado disso é que nöd serve para indicar uma situação de perigo! E é. A gente também pode usar o verbo pissa para mijar, que é o equivalente ao pipi que a gente fala para as crianças e que por isso pode soar infantil demais. Já o adjetivo para mijado é pissigt – vilken pissig dag!; algo que aqui soa mais ou menos como palavrão. Mas para “molhado até os ossos” pode usar sem medo “pisseblöt“.

Acreditam que tive de olhar no dicionário como é que se escreve cocô?

O blog de molho e Alfons

Olá gente linda linda, bonita bonita!

(Não me lembro exatamente onde eu vi isso, mas achei simpático)

Já estamos praticamente dizendo adeus ao mês de junho e, para minha felicidade, semana que vem meus pais e a minha irmã desembarcam aqui na Suécia. E como eles estarão por aqui por um tempo e eu quero muito passear com eles e levá-los para vários cantos, aviso aos navegantes que o blog ficará de molho.

Apesar disso, estou deixando alguns rascunhos (só uns poucos) sobre o idioma sueco. Talvez quem não tem interesse pela língua ou por aprendê-la ache que isso será um pouco  chato, mas eu escolhi um ajudante para entreter vocês: o Alfons Åberg que a Vânia conta um pouco neste post aqui.

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O Alfons é um personagem da literatura infantil sueca – um dos mais famosos ao lado da Pipi Långstrump e dos demais personagens de Astrid Lindgren; que apresenta histórias engraçadinhas sobre o mundo infantil e com um sueco de nível bem fácil. Eu não conhecia o Alfons Åberg até começar a trabalhar como personligt assistent com o Zezinho. Fiquei imensamente surpresa com a quantidade de palavras e expressões que aprendi por meio da leitura dos diversos livros e também porque assisti Alfons umas dezenas de vezes.

Então vou deixar alguns posts com um episódio do Alfons em vídeo, o texto narrado abaixo e a tradução em português. Se possível deixarei alguns comentários também, mas provavelmente não. Esses posts serão mesmo para que você, que estuda sueco, possa acessar um vídeo em sueco tendo uma “legenda” em mãos e assim treinar o ouvido e porque não a pronúncia correta das palavras e de quebra, aprender algumas expressões.

Abriremos a temporada do “aprenda sueco com Alfons” no dia primeiro de julho, com o primeiro livro publicado pela autora Gunilla Bergström intitulado God natt Alfons Åberg – Boa noite Alfons.

Feliz férias para mim! E um ótimo mês de julho para vocês!

SAS… ou S.O.S?

Parece que meu blog é mais um canto de desabafos que eu uso quando não posso gastar meu pobre português nas orelhas da Lu e da Angela. Parece e é. Mas antes de começar a disparar, rapidinhas da semana (como diria a Maíra – o blog dela é um barato!):

– to mesmo conseguindo ir a academia 3 vezes na semana. Na segunda cheguei no aparelho que eu nunca lembro o nome – um simulador de subir escadas – e coloquei o fonezinho e tals (a academia é um luxo e cada aparelho tem sua própria tela, a gente pode assistir tv enquanto sua…); e tentei encontrar o canal SVT 1 que tem coisas interessantes e programas com subtítulos em sueco. Mas qual não foi a minha surpresa quando descubro que o botão de mudar canal estava estragado, e que o único canal funcionando era um canal de culinária! Tudo bem, gastei boas caloria enquanto comia com os olhos um prato de frango ao molho de curry com arroz…

– Nesse mesmo programa aprendi que o recorde mundial de fatiar um salmão em 40 pedacinhos iguais é de 1min e 24s.

– Fiz a primeira entrevista de emprego decente depois que mudei – talvez a primeira da minha vida.

– Ontem (na academia) perguntei a personal trainer o valor a hora aula… 595kr (quase R$150). Não acho demais, acho muito bom, fiquei pensando na minha querida amiga Lu que ganha uma miséria – comparado a isso – e é uma profissional excelente. Tem coisas que funcionam na Suécia…

Agora, as aulas de sueco… mas primeiro, um conselho para quem está chegando: não espere nada dessa bosta de aulas que são SFI e SAS. Estude muito por si mesmo.

Quando estava no SFI levei alguns bolos da professora. Sério: por duas vezes quando cheguei na escola simplesmente não tinha aula, e outra vez eu perdi de fazer uma viagem de graça porque faltei a aula. O Joel sempre ficava indignado quando isso acontecia, repetindo que era um desrespeito porque o professor não pode simplesmente não aparecer e que… Enfim, cheguei a aula ontem e a minha professora não estava, mas sim a professora B e mais uma guria que acredito seja uma coisa como estagiária.

Minha turma do SAS tem cerca de 40 alunos, por isso na metade da aula sempre somos divididos em dois grupos sendo que o segundo vai para outra sala com a professora B – o que é muito inteligente – e então fazemos exercícios referentes a lição enquanto a professora passa conversando e corrigindo e trocando idéias. Os dois grupos sempre fazem o mesmo trabalho, apenas em locais diferentes e com professoras diferentes. Eu nunca fui para o grupo B, mas gostei bastante da professora deles porque ela tem uma dinâmica de aula muito semelhante a da Birgitta, minha última professora no SFI.

A professora B nos abandonou na metade do caminho com a aprendiz/estagiária/candidata a professora. Então uma série de cenas ridículas começaram a se desenrolar: ela ficava repetindo tyst! (quieto) para qualquer suspiro não permitido entre os alunos, respondia as questões objetivas de forma irônica e quando começamos a analisar um poema ela simplesmente disse que o poema era sobre uma relação amorosa que terminou. E é isso. Teve uma aluna que fez uma tentativa de contestação com um tímido mas, que ela ouviu com um sorriso nos lábios do tipo coitados, eles não entendem!; para em seguida usar um não definitivo, o poema é sobre um amor que acabou.

Instalou-se a ditadura ou eu sou melodramática. Acredito nos dois. Mas fico tão frustrada! Tudo bem que talvez 80% dos estrangeiros não estejam dando a mínima para SFI e SAS, mas precisa avacalhar tanto? Quero a minha professora de volta!! Ela ao menos sempre pergunta: o que você entendeu a respeito desse texto? Qual a sua opinião sobre a história?

O maior pecado do SFI/SAS é tratar os alunos como colegiais. Sim, existe o módulo de inserção para pessoas que nunca aprenderam a ler e escrever, mas minha turma tem um monte de gente com universidade, tem gente com mais de 40 anos que estudou muito na vida! Estrangeiro não é burro só porque não sabe falar a língua, nós aprendemos interpretação de texto na língua mãe também, quem é que não passou poucas e boa tendo que ler Euclides da Cunha?

No final das contas, a reclamação não é só minha não. Antes de chegar a Paula me alertou para não esperar muito do SFI. Mas eu sou meio boba assim, sempre tenho uma esperança. Agora minha maior esperança é ter a professora de volta, aquela com a qual comecei o curso do SAS.

Senão, fazer o que?

Metal contra as nuvens

Quase três meses de Suécia e continuo na minha batalha com o sueco. Felizmente posso conversar um bocadinho, mas ainda falo muito lento, tenho que pensar muito e usar o inglês para me salvar volta e meia-sempre.

Sem SFI, arrumei um professor particular incrível, o sonho de qualquer estudante: Joel. Ele fala português e eu sueco. HahahAhHAha! É isso mesmo que vocês imaginam: nossas conversas tem muito “conteúdo”. Brincadeiras a parte, quando o Joel começou a aprender português ajudei com algumas coisas, agora trocamos os papéis: ele me explica o sueco; ele fala, eu escuto. Ele comentou que devia ter começado com essa tática há mais tempo… aludindo a piada mais velha do mundo de que as mulheres falam sem parar. Infâmia!

Andei treinando algumas expressões e nas minhas pequenas incursões falando sueco senti bastante insegurança em relação aos adjetivos (palavra que caracteriza um substantivo atribuindo-lhe qualidade ou característica, estado ou modo de ser). É importante lembrar que os adjetivos também sofrem influência com relação a en e ett e mudam quando o substantivo é esse ou aquele. Por isso você vai se deparar com röd e rött por exemplo, e os dois significam vermelho.

Por regra, os adjetivos sempre estão à frente do substantivo, e no plural são terminados em a, por exemplo: casa vermelha/flor vermelha = rött hus/röd blomma; casas vermelhas/flores vermelhas = roda hus/blommor. É, o plural de casas é igual ao seu singular. Alguns adjetivos são parecidos com o substantivo, como no português em que florido vem de flores e listrado vem de listras: blomig[t] (blomma) e randig[t] (rand), respectivamente. Sabendo o substantivo você mata a charada.

Em relação aos comparativos o sueco tem aquele sistema como do inglês para definir quando uma coisa é mais e “o mais”, aquele lance do jovem=young, mais jovem=younger; e o mais jovem (de todos)=youngst. Esse foi um exemplo em inglês, mas lá vai uma listinha com os principais para compartilhar:

→ Grande: stor, större, störst.
→ Pequeno: liten, mindre, minst.
→ Alto: hög, högre, högst (para prédios, montanhas e etc).
→ Baixo: låg, lägre, lägst (idem).
→ Alto: lång, längre, längst (para pessoas).
→ Baixo: kort, kortare, kortast (idem).
→ Longe: långt bort, längre bort, längst bort (distância).
→ Perto: nära, närmare, närmast.
→ Caro: dyr, dyrare, dyrast.
→ Barato: billig, billigare, billigast.
→ Magro: smal, smalare, smalast.
→ Gordo: tjock, tjockare, tjockast.
→ Pesado: tung, tyngre, tyngst.
→ Leve ou fácil: lätt, lättare, lättast.
→ Difícil: svår, svårare, svårast.
→ Velho: gammal, äldre, äldst.
→ Jovem: ung, yngre, yngst.
→ Frio: kall, kallare, kallast.
→ Quente: Varm, varmare, varmast.
 

Dá para entender como a listinha funciona? Descontando a definição em português, a primeira palavra (em sueco) é o adjetivo normal, a segunda é mais do que o normal e a terceira é o mais+mais-mega-master-ultra-plus. Usando o adjetivo svår[t] vou deixar umas frases para ficar bem claro como é. Às vezes as pessoas me perguntam: como é com o sueco? Respostas: é difícil = det är svårt; é mais difícil do que inglês = det är svårare än engelska; é o idioma mais difícil do mundo! = det är det svåraste språket i världen!

Porque o e em svåraste? Porque todos os adjetivos da listinha estão na forma indefenida. A questão do que é definido e indefinido é muito importante no idioma sueco e no caso dos adjetivos os indefinidos mudam a forma conforme en ord/ett ord no singular; já o definido no singular é igual ao adjetivo no plural, com a no fim. Mas isso é somente com relação as palavras da primeira coluna na listinha – stor, liten, hög, nära, ung, kall… A boa notícia: a coluna dois na listinha é assim tanto quando o adjetivo é indefinido como definido. Mas a terceira, quando é definido pode terminar em a ou e.

Enfim, adjetivos no comparativo são ainda irregulares ou regulares. Regulares seguem a regra: adj – adj+re – adj+st, como o caso de svår[t]:

→ svara (adj definido);
→ svarare (adj definido+re);
→ svarast (adj definido+st).
 

Os irregulares também são seguidos de re -st, mas a palavra muda, exemplo:

 unga (adj defnido);
 yngre (irregular+re);
 yngst (irregular+st).
 
 
Um detalhe interessante é que no inglês dizemos para irmão mais velho older brother/sister; e para irmão mais novo younger brother/sister. No sueco se diz para o irmão mais velho grande irmão e para o irmão mais novo pequeno irmão: store bror/stora systerlille bror/lilla syster, respectivamente. De novo, porque o e? Porque a regra geral do sueco é que tudo é feito de exceções…
 
Quem acha confuso grita: aaaahhhhhhhhhh!!!
 

É ruim? É. Mas eu penso que é mais assustador no início mesmo… aposto que quem mora aqui faz tempo e domina a língua se ler isso morre de rir. Eu, que nem estou aqui a tanto tempo assim já aprendi a relaxar com en e ett, adjetivo é mole!

O duro é eu ainda ter um mês de férias…

Supercalifragilisticexpialidocious

Quem lembra de Mary Poppins? Eu não tenho ideia de quantas vezes assisti o filme… e é claro que sempre havia discussão para saber quem realmente sabia falar Supercalifragilisticexpialidocious. A palavra não tem uma definição (você encontra alguma coisa no Wikipédia, mas pra que?) e é usada no filme quando alguém tem sentimentos que não podem ser expressados por meio de palavras comuns.

Alguma palavras em sueco são tão compridas que – eu juro! – me lembram Supercalifragilisticexpialidocious. A primeira vez que eu vi Kungsportsplatasen, por exemplo, pensei justamente nisso. E parecia impossível falar! São realmente palavrões, com a diferença de que é difícil pacas de pronunciar!

Normalmente esses palavrões suecos são o resultado da junção de um monte de palavras. Kungsportsplatsen não é nada mais do que kung+sport+plats (rei+esportes+lugar). Tudo bem que esse é o nome de um lugar e normalmente nomes são só nomes, mas há uma leva de palavras assim que muitas vezes não tem definição no dicionário.

Se isso acontece, tente separar a palavra em palavras menores. Por exemplo, [ett] fritidsintresse: fri+tid+intresse= interesse do tempo livre, ou simplesmente hobbie; [en] ögonläkare: ögon+läkare= médico dos olhos, oftalmologista.

Essas palavras recebem a definição de en ord ou ett ord de acordo com a úlitma palavra que forma o palavrão. O caso de fritidsintresse: fri  é um adjetivo e tem a defeinição dada pelo substantivo que acompanha; mas tid é en ord e intresse é ett ord.  Sendo a última palavra ett ord, toda a composição é ett ord.

Apesar de as palavras serem escritas juntas, grudadas, a pronúncia deve ser como se as palavras fossem independentes. É obvio que não se pronuncia cada qual lentamente, mas se você emenda as palavras na pronúncia, nenhum sueco vai entender o que você quer dizer. Nada de comer letrinhas (a não ser aquelas que já é comum comer mesmo).

Um dos primeiros palavrões que aprendi foi födelsedagen,  que junto com Grattis (com dois t’s, senão é gratuito) significa feliz aniversário. Födas é o verbo sueco para nascer, e födelse siginica nascimento. Eu morria de rir toda vez que precisava dizer “Grattis på Födelsedagen”, uma vez que você diz o l tão rápido que parece foda-se mesmo um palavrão.

Nem todo mundo que lê o blog tem interesse em aprender sueco. Então isso é pras vocês: EU SEI dizer Supercalifragilisticexpialidocious!

Isto é confuso…

 Passei uma semana sem escrever no blog, porque eu tenho problemas com o Word Press. Constantemente ele muda sozinho as configurações e eu perco o maior tempo arrumando tudo: cada vez que vou escrever um post preciso autorizar os comentários, a conexão com Facebook, e até refazer o visual do blog!

Bem, para não parecer que eu sou tão boba assim com coisas de internet, volto para o sueco – no qual eu ainda estou bem boba. Minha palavra preferida é VAD (= o que) que eu uso com um grande ponto de interrogação na esperança de que a segunda tentativa de entender seja mais bem sucedida que a primeira. Normalmente a pessoa ri e repete um pouco mais devagar… mas eu não aconselho a tentar isto com pessoas mais velhas. Porque – de novo – o sueco (idioma) falado da forma correta é uma coisa imensamente importante. Então você deve usar o “Forlåt! Skulle du kunna upprepa det långsammare?” (Desculpe! Será que você pode repetir isto devagar?). É, a vida é dura…

No vácuo de en e  ett, o sueco tem o den e det; eles funcionam quase como este/esta; esse/essa. Você vai utilizar para uma referência ao substantivo, então en ord utiliza den, e ett ord utiliza det. Den e det também aparecem como denna e detta, como no caso de essa semana – denna vecka, por exemplo; mas comunente servem mais para aquilo/aquele/aquela.

Isso parece imensamente confuso porque é imensamente confuso. Os próprios suecos só sabem isso porque repetiram a vida inteira, e se você pergunta, por exemplo, mas por que?; vai receber um sorriso e porque é. Mas, eu tenho uns exemplos de um site sobre sueco (para ver, e não para entender):

Jag vill kopa bilen röda den(Eu quero comprar um carro vermelho.)

Vi bor i det huset röda. (Nós vivemos na casa vermelha).

Den e det não são utilizados quando o substantivo está no plural. Nesse caso, é utilizado de (que se lê dom): De röda bilen (os carros vermelhos). De significa também eles, elas (ele=han, ela=hon, eles/elas=de).

Em muitas frases você vai ver o DET como it, sem nenhuma razão relacionada a um substantivo. Por exemplo, se alguém lhe pergunta (diálogo sueco): Chega você para nós na quinta (kommer du till oss på torsdag)?; você responde: Sim, isto faço eu (ja, det gör jag). Dai não importa en ord ou ett ord, você utiliza o det simplesmente porque ele indica o sujeito da frase. Em sueco ninguém diz está frio, diz isto é/está frio!: det är kalt!

Dai que uma frase boa de saber é vad är det på svenska? (o que é isto em sueco?). Quando o objeto está longe, utilize o detta (e o dedo… afinal, é preciso apontar o que se quer saber =P).

E por fim, meu e seu também estão no vácuo de en e ett: min/mitt e din/ditt. Min bil. Mitt  hem. Din bil. Ditt hem. No plural usa-se apenas mina e dina.

E o plural… bem eu adoro português porque o plural é com s!!

Jag förstår inte!

Eu comecei outro dia a coisa com dicas para aprender sueco. Sinceramente, é difícil definir o que partilhar quando não se sabe muito, então vou abordar principalmente as coisas que foram/são importantes para mim.

E a primeira abordagem é acerca de EN e ETT. Esses são os artigos suecos (e também o numeral 1) e a principal dor de cabeça de todo o mundo que não nasceu sueco. En não é um artigo feminino e ett masculino, ou vice versa. Aceite que EN é EN e ETT é ETT e simplesmente saiba que isso define toda a formação de uma frase. Cada substantivo é definido ou não por um desses artigos, e a má notícia é: não há regra para sua aplicação. A boa notícia: se você tem um dicionário está escrito qual é.

A “regra” é que EN e ETT são aplicados de acordo com o gênero do substantivo: se ele é neutrum (neutro) é ETT-ORD, e se ele for utrum (comum) ele é EN-ORD. Para saber se a palavra (ord) é comum ou neutra, você deve descobrir se ela vai acompanhada por en ou por ett (isso o Joel explicou!). Hahahahaha – a verdade é que eu não sei. Mas tem uma explicação (histórica): quando o mundo passou a ser civilizado e a bárbarie não era mais uma coisa aceitável, os vikings começaram a pensar em uma forma de continuar sacaneando todo o mundo que não fosse viking. Enfim, eles inventaram essa forma de tortura bem sutil: o utrum e neutrum – a coisa com EN e ETT na gramática sueca. Acredito que eles ficaram extremamente satisfeitos porque é uma prova de resistência. Se você é capaz de superar à vontade louca de desistir disso quando começa a perder cabelos, se torna digno que ser incluído ao mundo viking.

Skoja. A historinha é pra descontrair. É assim porque é. Tudo indica que você vai aprender dessa forma: bil [carro]=comum; hus [casa]=neutro. Ou melhor, para carro se usa EN, e para casa, ETT . Enfim, é como o Joel falou. O bom disso é que existem mais substantivos comuns do que neutros, por isso na dúvida chute em EN.

O porque de isso ser tão foda difícil é mais ou menos isso:

– Um carro= en bil; se você utiliza para qualquer carro – artigo indefinido. O carro=bilen; se você está se referindo a um carro em específico. Mesma coisa para casa: uma casa= ett hus; a casa= huset.

Muda o substantivo, e o adjetivo também quando você usa um ou outro. Normalmente o adjetivo é acrescido de um “t” no fim quando o substantivo relacionado é ett-ord. Por exemplo: Det är vackert huset (Isto é uma casa bonita) – Det är vacker bilen (Isto é um carro bonito).

Hummm, sinceramente espero que ajude. O nível das frases que eu usei como exemplo é porque o meu sueco tem agora esse nível – de criança das séries iniciais do primário. É… nesses horas eu penso que ficções como Matrix poderiam ser verdade. Então eu compraria um arquivo com todo o arcabouço teórico, gramático e fonético do sueco que seria descarregado/arquivado no meu cérebro. Seria fluente assim que o download fosse concluído.

Na prática, demora mais!