Diário Caipira – 115

O tempo virou e hoje soprava um ventinho daquele jeito que nos lembra que em breve nos despedirimos da época clara e quente do ano.

Queria levar as crianças pra fora, para darem uma volta de bicicleta e respirar ar puro. O mais velho só me ignorou lindamente, dizendo que hoje estava frio e ele ia ficar dentro de casa. Eu pensei com meus botões: ah tá, em maio num dia desses (18°C) tu estava se esbaldando na água gelada do lago!?? O pequeno ainda estava naquela fase de que ficar com os pais é legal, então notamos casaco saímos, pegamos a bike sem pedal dele e quando íamos sair uma nuvem negra daquelas bem gordas tapou o sol.

Escureceu. O piá jogou a magrela de lado e voltou pra dentro. Vai chover!!!

Me resignei pois ontem o tempo estava realmente desse jeito. Fazia um sol lindo, estava razoavelmente quente, chegava uma senhora nuvem gorda de chuva que desabava… chuva grossa, como em dia de verão no Brasil.

Não seria nada mal ter um clima mais temperado na Suécia. Porém, como se não bastasse todos os problemas advindos do aquecimento global, tenho certeza de uma coisa: baratas. Se for botar na balança, bem conversadinho: um verão mais longo e pra equilibrar, baratas; eu não tenho dúvidas: quero os verões gelados de volta.

Pequenas Grandes Coisas das Minhas Férias

Chove… e somente porque choveu tirei um tempo para escrever algumas historinhas pra vocês porque antes estava tão quente que era meio impossível ficar em frente ao computador…

A viagem foi bem tranquila mas super exaustiva pois tivemos de esperar 5 horas pela nossa conexão doméstica no Brasil. Agora o pessoal das companhias aéreas não despacha mais a bagagem até o destino final porque a declaração de bens importados deve ser feita assim que o passageiro desembarca no Brasil – e quem não tem nada a declarar se lasca junto com pequena parte da população que viaja e volta para casa com 10 pila acima da cota. Eu nunca precisei ficar esperando minha mala em Guarulhos e me arrependi milhões por não ter trazido apenas bagagem de mão.

Também não consegui fazer o check in online (sei lá porque cargas d’água), podíamos acessar a reserva mas não podíamos realizar o chek in. Como resultado eu e o Joel acabamos por ficar com poltronas separadas (para o voo transatlântico – aquele que pode ser de 12 horas) e quando embarcamos no avião começamos a busca por uma boa alma que topasse trocar de poltronas com a gente. A opção mais simples – de trocar apenas um lugar com o pessoal mais próximo – não rolou já que ambos estávamos na fileira central entre um casal e dois gordos; os outros casais, assim como nós, queriam viajar lado a lado e os gordos haviam escolhido o banco do corredor por causa de espaço. Mas como brasileiro é gente boa encontramos um cidadão que trabalha para a Scania que entendeu que esse povo aqui era from Sweden e trocou com a gente – o que fez com que o cara ao lado dele também resolvesse trocar. E todos viveram felizes para sempre.

O calor aqui está deliciosamente demais. Tanto que tá rolando temporal a beça – como é comum nessa época do ano quando a primavera já tá fervendo – o que não é muito legal. O pessoal daqui já passou por uma chuva de pedras que estilhaçou todos os vidros de algumas residências, botou abaixo telhados de eternite e simplesmente deixou sem teto uma casa na roça. As “pedrinhas” daquele temporal foram do tamanho de um ovo de pato. Há duas semanas a tempestade veio com vento, atingindo a região do município que havia escapado da chuva de granizo. As árvores caíram e os telhados voaram, fazendo um monte de agricultores perderem seus frangos (essa região tem muito aviário – produção de frangos de corte). Ontem choveu forte, ventou mais ou menos, caiu granizo de novo (do tamanho de ovos de codorna) e eram tantos raios que a impressão é que estavam caindo ao lado da casa. Por sorte temos algumas torres altas com para-raio, mas acho que foi só impressão mesmo pois ainda não ovi ninguém comentar que alguma torre tivesse “pego” um raio. Como eu moro na Suécia e ouço trovejar duas vezes ao ano tenho que confessar com um pouco de medo e até fui rezar com a minha mãe.

Ademais, comi muita carne – churrasco, carne de panela e etc – e to tomando muito suco! Ai que delicia fazer suco com fruta fresca, uma folhinha de hortelã e um tiquinho de gengibre. E esquecer o açucar e todo mundo dizer: faltou açucar. Sério gente! Acho que não ouvia isso a décadas e me sinto quase estranha pois na Suécia estou acostumada a gente que me diga o “eu não acredito que você toma café com açucar!” e ” suco com açúcar? Que estranho…” ou “açucar engorda e faz mal a saúde!”. Agora tive que ouvir todo mundo reclamar que “a Maria fez suco de novo e esqueceu o açúcar!”. Hahaha… É a vida…

Fui a dermatologista que me repetiu todas as coisas que a dermatologista sueca havia me dito, com exceção de: a) há uma forma de clarear os melasmas, mas nenhum clareador vai funcionar a não ser que eu use protetor solar no mínimo 3 vezes ao dia mesmo quando eu não vá sair de casa (a Juliana comentou mesmo – neste post aqui – que a luz fluorescente ajuda a aumentar manchas de pele e ontem a dermato confirmou); e b) que eu preciso usar um filtro solar dermatológico porque comprar qualquer filtro mesmo que fator 50 não vai limpar a minha barra (e muito menos ajudar a clarear as manchas na minha cara – rimou). Saí satisfeita, com receita médica para compra do clareador e do protetor solar e… estranhei a rotina. Acordar e passar protetor para mim era coisa de praia (ou vamos para a piscina!!!) e agora vai virar padrão na minha vida. O bom é que o clareador que ela me receitou também existe na Europa – segundo a médica – assim eu posso pedir a receita lá na Suécia e continuar o tratamento.

To meio gripada (não há coisa pior do que gripe no meio do verão!), meio rouca e pisando torto depois que pisei em uma abelha. Não sou alérgica mas meu pé inchou e a picadura provocou uma lesão meio roxa, coisa que não é muito estranha na roça porque as abelhas daqui ficam contaminadas com agrotóxico que o pessoal espalha na lavoura. Apesar dos mortos e feridos (a abelha morreu) todos ficarão bem.

E agora chega de computador porque eu to de férias!

Valborg e Dia do Trabalhador

Me entreti a semana inteira porque a Somnia do blog Borboleta Pequenina Somniando na Suécia está realizando um concurso (Uma música, mil lembranças!) e eu decidi participar. Eu gosto de escrever mas isso não é uma coisa que simplesmente “flui” para mim, eu tenho realmente que trabalhar o texto algumas horas. Do contrário eu já teria escrito um livro!

Demorei 2 dois para escrever o texto, e quem quiser conferir clica aqui. Achei muito legal esse concurso de textos, aproveitem e deem uma navegadinha no blog da Somnia se quiserem ler os demais textos participantes do concurso ou dar uma olhada em muitas mais coisas interessantes!

O dia 30 de abril é um dia um tanto quanto especial aqui na Suécia, por ser véspera de feriado e porque é Valborg. Diz a internet que Valborg vem de uma antiga tradição em que fogueiras eram acendidas para se espantar as bruxas e demônios. Eu e Joel fomos a uma festinha com amigos – sem fogueiras – que foi muito legal. Rolou um middag com brincadeiras e tals, um encontro realmente descontraído.

Se o Valborg de antes – para espantar os espíritos ruins – funcionava eu não sei, só posso afirmar que esse ano o Valborg definitivamente espantou o frio e marcou a entrada triunfal do calor sueco porque na segunda feira o tempo limpou e ficou muito mais quente. Desde então tenho que tirar o meu chapéu para o clima dessa semana: beirando os 20 graus C e com sol, céu azul, blá blá blá, muuuuiiiito gostoso.

No dia primeiro eu trabalhei mas por coincidência estava no centro da cidade bem na hora da passeata do dia do trabalhador. Dizem que cerca de 15 mil pessoas participaram do evento; eu só posso dizer que tinha muita gente. O maior partido sueco é o Socialdemokraterna e o socialismo democrático marcou definitivamente a forma de governo e de vida do povo sueco desde… não sei ao certo, mas chuto que foi depois da Segunda Guerra Mundial.

Por estar tão perto da Rússia a Suécia sofreu uma pressão para entrar para o lado socialista durante a guerra fria, mas o que aconteceu aqui foi a implantação de um regime bastante diferenciado, mesmo para a Europa. É por causa do socialismo democrático que o governo tem, por exemplo, o controle total sobre a venda de bebidas alcoolicas na Suécia.

Eu ainda estou lendo sobre o assunto então não posso entrar em muitos detalhes a perigo de dizer abobrinhas. Não que eu não possa dizer abobrinhas, mas só se for para brincar e deixar bem claro que as abobrinhas daquele minuto tem essa intenção. Em todo o caso a primeira impressão é que essa ideia sueca – do socialismo democrático – foi muito boa!

Agora, bora trabalhar!!!!

PS.: To achando que encontramos um lugar para o casório. Se for mesmo, logo este blog contará com uma categoria muito linda e interessante: casar na Suécia!!! Hahahahaha!

 

Pequenas Grandes Coisas da Minha Vida Sueca #15

A primavera deu as caras por esses dias: estamos acima dos 10 graus C minha gente! E tudo indica que ficaremos por ali… hehe. Mas é super, não dá realmente para explicar. Todos mundo me dizia que eu entenderia a felicidade do povo sueco quando o termômetro atinge essa marca insignificante aos olhos brasileiros depois do meu primeiro inverno aqui, e veja só, é verdade. Isso que meu primeiro inverno sueco não foi um “daqueles” invernos – como a Mari e a Paula experimentaram – mas eu me sinto imensamente satisfeita com esse calorzinho.

Ontem tivemos 15 graus e eu e Joel nos aventuramos a beira mar. Ventava muito, o vento a beira mar é super gelado mas eu me senti quase no verão: céu azul, eu com apenas dois casacos, uma sensação maravilhosa de liberdade! Entrei na onda e agora eu sou mais uma entre os entusiasmados suecos que comemoram os 10 graus C. É muito lindo: as pessoas parecem mais sorridentes e até mesmo as árvores parecem contentes ao exibir suas novas folhas verdes e flores.

No trabalho o Zé começou a ouvir um CD com músicas de verão. E qual não foi a minha surpresa ao ouvir uma versão do Biquíni de Bolinha Amarelinha em sueco? Na verdade, a versão original da canção é dos Estados Unidos (com o nome Itsy Bitsy Teeny Weeny Yellow Polka Dot Bikini, e eles falam de um biquini normal! haha), que ganhou o mundo em várias versões na década de 60, no Brasil na voz de Celly Campelo.

Eu já comentei que as calcinhas suecas são enormes, mas acho que não dá para explicar sem mostrar. Em todo o caso eu tenho uma amiga que foi para o Brasil e levou umas amigas suecas e me contou que as suecas ficaram horrorizadas com o tamanho do biquíni brasileiro (sim, aqui elas tapam a bunda inteira e os seios inteiros quando não fazem topless). Não quero ser repetitiva, mas o que quero deixar claro é que uma calcinha sueca, ainda que fio dental, vai ter mais pano do que a calcinha convencional brasileira. É uma contradição inexplicável, uma vez que quando a gente vai para um local de banho (próximo a um lago ou numa praia) não há cabines para trocar de roupa e todo mundo fica ensaiando uma coreografia louca com a toalha de banho – mostra aqui, tapa lá, puxa para o lado, opa! foi muito, volta agora para baixo…  – mas as crianças em geral ficam peladinhas, e eu já vi mulher grávida se trocando sem toalha alguma e sem nenhum pingo de vergonha: só e simplesmente ela tirou a calcinha e colocou a calcinha do biquíni, depois tirou o sutiã e colocou o sutiã do biquíni…

Eu uso um biquíni normal. Mesmo assim quando fui nadar com a Frida e a Liv tinha uma monte de gente olhando para mim como se eu estivesse pelada. Não, definitivamente não foi porque essa brasileira aqui – apesar de não ser mulata – é muito linda (minha modéstia me consome) – afinal, eu engordei quase 3 quilos depois que mudei, e esse três quilos foram parar só na barriga! Foi por causa do tamanho do meu biquíni! Hahahaha – ah se ele fosse amarelo!

E com vocês, direto de 1961, Lil Babs com…

O coro masculino é em norueguês, e eles perguntam: 1, 2, 3 o que a gente não pode ver? O restante da música segue o mesmo padrão da versão em português…

Lar doce lar #02

Uma semana de Brasil e ainda to felizona com o sol, o calor e os mosquitos. Tudo bem, talvez nem tão feliz assim com o calor afinal, pois ontem cortei o cabelo e hidratei, fiquei lindona mas nem durou já que a noite rolei pra caramba na cama. Mas como a culpa é do Joel também (amorrrr, que saudade d’ocê!!!), e como brasileiro adora tomar banho e agora eu posso fazer isso mais de uma vez por dia, continuo satisfeita.

Eu tenho um lado bem… sei lá, to com dó do povo que vive da roça e perdeu tudo. Todo mundo espera a chuva só para tentar plantar alguma coisa outra vez, porque tudo que está na lavoura morreu. Em contrapartida, depois da visitinha ao salão meu cabelo – que estava meio morto apesar da intensa chuva de Göteborg – reviveu.

Aliás, eu amo ir ao salão. Só porque aquele é um momento pra mim mesma, porque tem alguém que vai lavar e massagear e hidratar o meu cabelo, e porque sempre me sinto uma princesa depois disso – ainda que vista shorts, regata e havaianas. E quando a gente tem uma profissional de beleza que é nota 10 – Isa, to falando de você – melhor ainda.

Acho que essa é uma das coisas que mais me faz falta na Suécia. Mas aqui no Brasil também sinto falta de coisas que eu tenho lá em Göteborg – mercado aberto até as 22h no domingo também, por exemplo – ou seja, coisas de cidade grande. Pagar com cartão em qualquer boteco também.

Falando nisso, esqueci de levar o cartão no mercado (C-Vale) hoje pela manhã e passei raiva. A compra deu R$27,97 e quando eu pedi o meu troco de R$0,03 centavos, a caixa me olhou com bico. Primeiro, que acho o cúmulo caixa de supermercado trabalhar emburrado. Segundo, se em um só dia 100 pessoas deixam R$0,03 centavos para trás, o dono do mercado, claro, ganha R$30,00. Assim, sem fazer nada – e isso que to falando de Maripá – Paraná, 3 mil habitantes; imagina nos grandes centros. Claro que se for alguém bem intencionado, vai orientar os funcionários a fazerem a coisa certa, afinal, de três em três centavos o cidadão pode perder muito mais do que imagina em um ano. Não me intimidei com o bico não, e fiquei lá esperando até me darem os três centavos.

Coisa de gente chata? Pode ser, mas ninguém vai me dar três centavos de graça. Aliás, tá muito mais fácil perder os três centavos, ou com o caixa do supermercado, ou na compra do pão, ou naquelas compras que dão pá pá pá e 99, e você nunca ganha o centavo de volta. Talvez uma bala. E se a pessoa é diabética, de que serve?

Outra coisa ridícula desse Brasil é patrão que paga funcionário com cheque de terceiros. Ao invés do cidadão receber o salário no fim do mês recebe um pepino: vai da sorte conseguir trocar o cheque em algum lugar, se não tiver de depositar e esperar mais sei lá quantos dias o dinheiro entrar na conta.

Por essas e outras me irrita o discurso sobre a corrupção. Que o Brasil é um país corrupto, infelizmente, não posso contestar. Afinal, nem receber o troco certo em mercado eu posso. E se faltar três centavos para pagar a conta, será que eu posso levar os produtos? Na minha opinião, consumidor não pode deixar passar os centavinhos não: paga-se um monte em impostos, tá todo mundo se lascando por causa da inflação e reclamando do governo (com razão); mas façam as contas dos centavinhos que se perdem na padaria, mercado, e todas as compras de ,99… ficou surpreso?

Economia não é apenas guardar dinheiro: é cuidar do dinheiro também…

 

Que ideia genial!!! Mas na Suécia eu não ganho balinha no troco…

Lar doce lar

A lei de Murph impera: to gripada. No mais, tudo vai de vento em popa no Brasil. Na real, não com muito vento não, tá super abafado e seco, não tem chovido por essas bandas e a previsão do tempo na televisão só mostra mais e mais chuva para o povo que já tá debaixo dágua, lá em Minas e no Rio.

Apesar do quadro de desoloção – a soja tá morta e o milho não produziu nada – to bem feliz e não me importo um tiquinho com a falta de chuva. To suando e feliz. Tem um solaço que me queimou o nariz no primeiro dia e eu nem; até fiquei com aquela marca horrível de regata só de sair para comprar calcinhas. Mas nada diminui meu entusiasmo: to usando chapéu e ou guarda chuva quando to na rua (não estou branca, estou quase transparente), além de quilos de protetor solar. Me sinto apenas um tiquinho egoísta, mas é mesmo apenas um tiquinho.

Tem uma coisa que tira meu entusiamo: televisão. Céus, sorte que consegui instalar a internet aqui em casa porque BBB (como eles chegaram a décima segunda edição dessa merda?) é para dar náuses em Gandhi.

Com exceção dessa grande merda, ah! como a vida é boa. Amigos e família perto. Calor. A caipirada saindo na rua com carro velho e som ligado no último volume. Cerveja gelada – gelada mesmo, de trincar os dentes. E churrasco… céus, como é bom comer carne…

To feliz até com os pernilongos… será que dura três semanas?