Aviso (sutil) aos navegantes

Eu acredito que poucas as pessoas que precisariam ler esse post lerão, em todo o caso, eu sou daquele tipo chato que gosta da máxima: eu avisei…

O blog tem recebido muitas visitas no último mês e eu agradeço muito a vocês leitores queridos que tem gastado um tiquinho da vida aqui nesse cantinho virtual lendo baboseiras. Infelizmente, a fama tem algumas faces ruins e ultimamente, por exemplo, eu tenho deletado alguns comentários chatos. Então eu quero pedir licença aos leitores bacanas desse espaço e antecipadamente: desculpem-me! O puxão de orelhas não é para vocês.

Mas alô pessoas sem noção, homofóbicos e tipo, gente xenofóbica e escrota que vem aqui, por exemplo, xingar os estrangeiros. Só para você espertão, que vem aqui xingar os estrangeiros, se ainda não percebeu, EU sou estrangeira nesse país, e não vou liberar comentário de gente que faz esse tipo de conversa, simplesmente porque eu não concordo com a sua visão limitada de que os estrangeiros são os responsáveis pela crise européia. Por favor, leia ao menos um pouco de história antes de soltar as suas pérolas por aí!

E gente que vem aqui babar o neoliberismo… du, como diriam os suecos, veio parar no lugar errado. A Suécia não é a terra dos sonhos não, mas aqui o buraco é muito mais embaixo e definitivamente esse não é um país de direita. Aqui é necessário pedir licença para tudo e o Estado ainda controla muita coisa. Aqui tem educação pública sim, as escolas são privadas mas pagas por meio do dinheiro recolhido dos impostos. Aqui o Estado ampara o cidadão que não tem condições de viver uma vida digna. E isso não é somente ser esquerda, isso é tomar responsabilidade sobre o bem estar da população, é levar a sério o papel da governança, isso é democracia.

Se você quer um exemplo de país de direita eu te dou, é os USA, e lá quem não tem dinheiro se fode. Aliás, sabia que nos EUA eles fizeram um programa tirando o maior sarro da Suécia, dizendo que os suecos não sabem o que é bom da vida porque eles vivem num país socialista? Bom, é claro que você não sabe. Provavelmente você nem sabe que USA e EUA são o mesmo país, além de outras coisas mais. Se você não acredita em mim, eu vou te contar um segredo: Papai Noel não existe e governo de direita não funciona. Não é democracia, aliás, é industricracia, porque não é um governo para o povo, é um governo que paga pau para as grandes multinacionais. Se você acha que liberalismo econômico traz maior segurança ao cidadão porque a concorrência livre faz com que as empresas tenham que baixar preços, meu filho, tá na hora de você acordar para a vida. Concorrência livre é apenas sinônimo de “nós te enganaremos o quanto quisermos, não tem nenhum Estado de merda nos controlando”. Se fosse tão bom essa coisa de livre concorrência, por que é que o Brasil – um dos países com maior número de celular per capta do mundo (se não o maior) – continua tendo um sistema de telefonia celular arcaico? As empresas que estão lá não são multinacionais? Será que com os milhões que elas ganham não poderiam melhorar o sistema no Brasil? Claro que poderiam, mas a única coisa que elas fazem é “melhorar” o sistema de atendimento ao cliente – isso, aquele mesmo em que você é jogado de telefonista para telefonista, em que ninguém pode resolver o seu problema e que no fim resultará em uma fatura bem gorda que você terá que pagar para não ficar no SCPC.

Eu não sou a dona da verdade, mas esse espaço é meu (meu mesmo, eu pago por ele) e exijo que as pessoas que aqui quiserem se manifestar o façam com respeito. Se você quer deixar um comentário, seja bem vindo tanto para concordar como para discordar mas fique sabendo que se você usar a combinação bolsa família= programa de controle do governo sobre a população ignorante; ou estrangeiro= bando de vagabundos que atrasam a Europa; ou a Suécia aceita a homossexualidade e o aborto= alta taxa de suicídio; ou qualquer outra baboseira, você será deletado. Use de respeito se quiser ser respeitado. Ignorância não é receber uma bolsa do governo, ignorância é achar que você sabe tudo e que sua postura de idiota é aceitável, afinal, não vivemos numa democracia? Só que não é isso não, criatura. Ademais, o princípio democrático não inclui a intolerância e o racismo, homofobia, xenofobia, misógenia e o ódio aos pobres.

Obrigado a todos aqueles que tem acessado ao blog e que tem deixado comentários construtivos, ou perguntas. É muito interessante perceber que tem gente que encontra algo de bom aqui, e que volta, e que participa.

Aos demais, poupem meu tempo e o vosso e, quando quiserem soltar merda, vão até o topo da página, cliquem no X e depois dirijam-se ao banheiro mais próximo.

#prontofalei

Como namorar um sueco… hã?

Quem tem blog sabe que você pode visualizar um painel com as estatísticas do seu espaço, quantas pessoas leram em tal dia e qual foram os termos de pesquisa que direcionaram as pessoas até ali/aqui. Eu já me deparei com vários que achei super engraçados – por exemplo como é a pele das aves? – mas hoje eu encontrei esse: como namorar um sueco.

?????

Se você é como eu já começou a imaginar que tipo de adolescente ou caipira desocupada senta em frente ao computador para buscar “como namorar um sueco” no google. Não, eu não fiz isso quando conheci o Joel, porque apesar de ele ser totalmente diferente de todos os homens que conheci, eu sou exatamente igual a qualquer donzela apaixonada de filmes: enchi a cabeça das minha amigas.

Mas não deixa de ser interessante a questão – eu to me mordendo para saber quem fez a busca… mas e qual é a hipótese de eu descobrir isso? Ok, voltando ao assunto, eu não posso me lembrar com exatidão o que aconteceu quando eu conheci o Joel, mas a história toda é bem bonitinha… acho que não contei tudo aqui no blog, e se sim, vale a pena escrever de novo.

Maripá é uma cidade de uns 3 mil habitantes, típica do interior, daquelas que todo mundo sabe o que tá acontecendo. Podem imaginar que não é muito comum que estrangeiros apareçam em uma cidade desse porte, que tem como atração turística orquídeas e arrancadas de tratores… se bem que me lembro de que várias vezes grupos de alemães da igreja ou bandas de música passaram por lá, coisa de uma semana. Mas eu nunca aprendi alemão, além de que não me interessava muito pois a maioria dos habitantes da cidade tem sobrenome alemão e são descendentes de – ou seja, nada de novo.

Mas eis que havia um sueco morando entre nós, com cabelos e barba vermelha (que são mais vermelhos aqui na Suécia) e lindos olhos azuis, que falava português muito bem. Ao menos essa foi a opinião da Angela, que por trabalhar no coral da igreja foi apresentada meio cedo ao visitante. Eu acho mesmo que ela disse alguma coisa como “nunca vi uma barba tão vermelha!”, mas… o fato é que eu fiz alguma piadinha típica como seria interessante ajudar ele a trabalhar a língua ou quê, a gente riu muito e fim de papo. Nada de falar do sueco em um mês.

Joel e eu fomos apresentados oficialmente durante uma festa, na qual eu estava razoavelmente feliz (alguém aí conheci free fest? Você paga a entrada e bebe até…), mas devido a minha condição e a concorrência, eu fiquei 5 minutos falando alguma coisa sobre dançar ou o quê, e depois fui procurar a chave de casa que eu tinha perdido. Acreditem ou não, esse fato não aconteceu por causa da bebida, eu vivia perdendo as chaves de casa.

Eu já tinha visto o tal sueco na piscina, na padaria, na rua em algum lugar – afinal a cidade é um ovo – e mais ou menos uma semana depois eu tava com a Janete no ginásio de esportes quando vi ele entrar sozinho e sentar sozinho na arquibancada. Eu disse para ela  “sabe aquele cara é sueco eu falei com ele no baile sábado… vou lá bater um papo”.  Sozinho quem sabe eu teria uma chance de… sei lá. Eu queria que talvez ele lembrasse de mim do Brasil de forma diferente (daquela que eu tava no baile).

Cheguei chegando e disparei um “oi, lembra de mim? Eu tava no baile sábado a gente dançou… mas talvez a música era muito alta e você não lembra meu nome… é Maria.”. E sentei. Enquanto eu pensava é agora que ele diz não e eu vou ficar mais vermelha que tomate e vou dizer… ouvi um “lembro de você, mas não do nome, eu conheci muitas pessoas sábado…” carregado de sotaque. E dai eu tava dividida entre a euforia (ele lembra de mim! ele lembra de mim!) e a vergonha (oh shit! ele lembra de sábado); mas eu sou meio cara de pau e continuei a tagarelice.

Por fim a gente engatou um papo muito bom. O jogo acabou e a conversa foi parar numa mesa de lanchonete, com suco de laranja e X tudo. Quando eu fui embora perto das 1h e meia da matina tava flutuando, e passei o dia seguinte alugando os ouvidos da Angela com toda aquela conversa fiada de paixonite aguda…

O destino tava a meu favor e tinha Arrancadão de Tratores aquele fim de semana. Encontramos, dançamos, conversamos, e… numa dessas conversas acabamos entrando naquela de: do que você tem saudade? Eu falei que tinha saudade de lugares que nunca tinha ido e coisas que nunca tinha experimentado, e ele perguntou se eu tinha saudade de beijar um sueco… fazer o que né? Matei a saudade todos os dias a partir daí, durante duas maravilhosas semanas.

Em 30 de novembro de 2009 ele saiu de ônibus para POA, e de lá embarcaria para casa. Eu não falei de namorar, eu não falei de sentimentos, e apesar de estar com o coração na mão quando ele foi embora, eu disse só tchau, fique bem e tenha uma boa viagem… manda abraços para o povo sueco. E não chorei.

Mas liguei dentro de dois dias, falando que tinha sido estranho ver ele ir embora, e que eu tinha acostumado com nós dois. Foi legal, gostoso, combinamos de tentar falar por e-mail e skype… depois eu vim conhecer a Suécia… afinal, eu ainda tinha saudade de beijar um sueco.

Toda história de amor é assim, fantástica para quem vive. Eu tinha um monte de expectativas e esperanças desde o primeiro dia em que conversei com o Joel no ginásio de esportes, mas eu vivi cada dia como se fosse aquele e só. Talvez eu tenha aprendido isso justamente porque a gente teria apenas duas semanas quando o encontrei, mas acredito  que a lição valeu e vale muito a pena. Deixe de lado mágoas e cobranças, deixe para lá as expectativas (furadas) e viva intensamente o que dá para viver em um dia. Sonhe sim, e construa um futuro, mas não esqueça do hoje. Isso contribui muito para a saúde de qualquer relação: desde que eu conheço o Joel, eu penso que eu tenho apenas esse dia para gostar dele. E faço meu melhor.

Acho que é assim que se namora um sueco, ou um brasileiro, ou simplesmente… alguém.

O inacreditável mistério das saunas…

Que casinha charmosa, parecendo uma pipa de vinho... né? É uma sauna, de frente para o lago.

Você já ouviu alguém dizer que sauna é bom?

Você já ouviu alguém dizer que sauna é melhor ainda quando você pode correr pelado na neve ou direto para um lago congelante em seguida?

Se você acha que isso soa bizarro demais para ser verdadeiro, venha para a Suécia, converse com um europeu ou simplesmente leia o blog de alguém que mora no “mundo civilizado”.

Primeiro, é por demais esquisito ficar em um quartinho minúsculo cheio de vapor com um monte de gente [semi] nua suando. Suando muito. Mas daí vem a surpresa quando alguém abre a porta e diz que vai dar uma voltinha, e você pensa “aleluia! parece que não to sozinha no barco! não sou só eu que acha chato ficar suando…”. Mas o quê pensar quando você percebe que esse foi o sinal para todo mundo sair tresloucado para fora antes de você formular algum comentário e cair na água mais do que gelada de um lago?

Ano passado eu fui à um casamento com o Joel no norte, e é costume por aqui caprichar na despedida de solteiro (de ambos os noivos). Pra encurtar a história, a irmã da noiva não esteve presente nesse grande dia e por isso deu um dia de sauna como surpresa para ela. E convidou todas as moças para irem também – inclusive eu. Eu nunca tinha ido para uma sauna e achei que ia ser legal. Foi divertido, eu não posso dizer que não, mas é uma insanidade, percebe? A moça iria casar no dia seguinte e estava em um quartinho suando com muito vapor, mas no momento seguinte ela tava dentro do lago gelado sorrindo e feliz. Daí correu de volta para a sauna, e de volta para o lago e de volta para a sauna para o lago para a sauna para… eu já estava vestida nesse meio tempo, porque não achei graça nenhuma suar e tremer de frio e suar e tremer de frio… além disso, morro de medo de choque térmico. Já pensou? Ir para o casamento com cara de Coringa? Ao menos em todas as fotos estaria sorrindo…

Você pode ter uma casa grande, móveis lindos, o carro do ano, mas nada desperta mais admiração do que ter uma sauna em casa… Ano passado, no Natal, o Joel e um amigo foram para uma sauna, e como não tinha lago, eles iam da sauna para a neve para a sauna para a neve… PELADOS. E os vizinhos viram eles pelados, porque eles tiraram fotos e o flash da máquina…

Dá para acreditar?

Coisas estranhas!

Às vezes coisas estranhas acontecem. Como por exemplo um dia desses um sueco me perguntou se eu pensava que o povo sueco era fedido. Eu tipo… =$ Hã???? Foi muito engraçado…

Também me perguntaram qual coisa é mais estranha aqui. Na verdade, tenho uma lista grande de coisas estranhas… eu sou caipira então, talvez para muita gente isso seja bem normal. Mas lá vai:

1. Eu acho bonito e natural que todo mundo ame o sol aqui. O estranho é que quando há sol, há um monte de gente pelada na rua. Por pelado entenda-se micro saia ou short curto (curtíssimo), combinados com bata quase transparente de tão fina e top. Ou um homem de regata, por exemplo. Nesses dias normalmente eu estou usando duas blusas grossas e passando frio.

É bem normal todo mundo estar a vontade em casa. Normalmente está no mínimo 10 graus mais quente, então isso é tranquilo. Mas na rua? Com vento? Me avisaram que eu vou entender depois de viver o primeiro inverno aqui… então se eu sobreviver, conto para vocês.

2. Ficar pelado é normal. Tipo agora é pelado no sentido literal da palavra. Eu fiquei puta com o Joel andando de cuecas pela casa na frente das outras gurias. Agora estou quase acostumada. É normal também as crianças pequenas brincarem peladas (isso eu não sei se posso me acostumar).

3. Em todas as casas que eu fui, não tem lixeiro no banheiro. Depois de usar o papel higiênico você joga no vaso, e ele será descartado com a descarga.

4.  Café da manhã é como na novela. Tem suco e frutas e todo mundo come cereal. Saudável. É claro que eles comem pão também, com queijo, e tomam café. Sem leite e sem açucar. Mas isso é outra coisa. Um lanchinho ou fika.

5. Comida em geral. Tudo tem pimenta demais, sal de menos. Ou os doces são sem açucar…

Eu poderia achar estranho também que muitas pessoas são sozinhas aqui. Mas é bem normal, considerando o frio. E a evolução. É… pra que sair na chuva se você tem 346 amigos no Facebook? E quando chove aqui é frio pra cacete!

Pra mim é muito estranho a coisa com o Sol da meia noite. Isso não é uma coisa só da Suécia, então eu não deixei na lista acima. Todos os países para cima do círculo polar tem disso. A cada dia tem mais sol. Ontem anoiteceu perto das onze. Amanhece antes das 4h. E o dia será mais e mais longo até o dia 24 ou 25 de junho (eu não lembro). Não é que tenha um solaço desde as 4h da matina até as 23h, mas tem claridade. É super estranho porque se você acorda as 7h, já tem luz há 3h. E porque você tá indo deitar se agora mesmo está ficando escuro?

Puts! Eu sempre me levanto com a sensação de estar atrasada, e vou me deitar pensando nos meus pais: tirei onda com eles toda a vida dizendo que eles iam deitar com as galinhas (porque as galinhas “dormem” assim que escurece). Agora quem faz isso sou eu…

Só, para o post não ficar tão longo, eu me deixo aqui. Outro dia faço uma lista de pelo menos 5 coisas supimpas…

Obs.: Particularmente não penso que o povo sueco é fedido. Alguns deles não tomam banho todo dia, mas não é isto que dizem dos franceses?