Diário Caipira-152

Hoje terminei a primeira manta de crochê que eu fiz na minha vida (que eu me lembre, antes eram apenas cachecóis e panos de prato). Foi muito gostoso fechar o trabalho e sentir que ficou mais ou menos como eu havia imaginado.

Tem certas coisas na vida da gente que são engraçadas, não é? Eu nem sei quantas vezes eu já torci o nariz para bordados e trabalhos com fio em geral, seja tricô, crochê, macramê, tear ou o que seja. Acho que sempre me faltou paciência. Não sei se foi a maternidade que me deu essa lição, a idade, ou o simples fato de que agora era a hora, chegou o tempo em que eu pude me encontrar com aquela Maria que sente prazer em se demorar pra conseguir as coisas.

Falando nisso, ando refletindo sobre o tempo. “O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem?”. Eu acredito que a maioria dos suecos tem uma forma bem calminha de viver. Uma coisa de cada vez, en sak i taget, é um mantra sagrado desta nação. Mas sera que a gente sabe, como indivíduos e/ou sociedade, entender o tempo?

Eu diria que não. De modo geral a gente sofre porque o tempo passa rápido demais. Mas aí a gente está focando no quê? Eu imagino há cerca de cem anos atrás, quando as pessoas esperavam um ano inteiro pra comer maçãs, será que a perspectiva do tempo era a mesma de hoje?

Essa manta que eu fiz me tomou cerca de três meses pra ficar pronta. Eu encomendei novelos pela internet, então percebi que havia encomendado pouco, depois desisti de usar quatro cores e voltei para três cores; por fim ainda faltou lã e eu encomendei uma terceira vez. Tudo isso num curto espaço de tempo. Antes, eu teria que ter comprado a lã, fiado eu mesma, pra depois tingir o fio (provavelmente eu não faria isso pois só gente rica podia/tinha condições) e a manta teria demorado bem mais para ficar pronta. Anos até.

Tudo acontece tão rápido. Será que realmente me tornei mais paciente?

Diário Caipira-146

Eu decidi desfazer um pedaço da manta de crochê que eu estava fazendo porque não gostei do tom da cor. Na verdade, o tom estava destoando. Como é lã e é lã de bebê comecei a fazer uma touca.

Desmanchei cinco vezes e já estou na sexta tentativa. Eu sigo a receita mas alguma coisa está errada. Ainda não descobri o que é, mas quando (e se) eu acertar boto a foto aqui.

O marido quase tem um treco quando eu desmancho mas faz parte da terapia.

Diário Caipira-131

Eis que a minha bolsa vai tomando forma. Agora só me faltam dois quadrinhos e posso colocar as alças.

Estou tão dentro dessa onda de crochê que convenci meus colegas de trabalho a entrar num projeto de crochê coletivo.

Como diria uma amiga querida, estou virada em uma “Testemunha do Crochê”. Daqui a pouco vou sair batendo de porta e porta nos domingos de manhã perguntando as pessoas se elas sabem crochetar um “granny square”, se já tentaram, se tem noções da maravilha que se pode alcançar por meio de crochetar quadrinhos. Às pessoas me olharão boquiabertas e tentarão gentilmente me mandar embora e eu vou insistir com frases tipo: ninguém jamais de ensinou a segurar a agulha corretamente…

E aí, já fez crochê hoje?

Diário Caipira-64

O tempo voa quando a gente está se divertindo; e eu me diverti muito fazendo crochê hoje. Tô super zen já que o crochê diminui meu tempo de tela… ao mesmo tempo que acabo tendo muito tempo pra pensar.

Ainda não sei se isso é realmente positivo. Tem certas coisas que eu gostaria de ignorar completamente. Que fase essa, de achar que a ignorância é uma benção…

Mas aí, voltando para o crochê: mesmo que eu esteja fazendo quadrados que em princípio deveriam ter o mesmo tamanho (mesmo desenho e número de pontos) descobri que certos quadros ficaram menos quadrados e que o tamanho varia em até meio centímetro. Vamos ver como resolver lá na frente, quando eu tiver peças suficientes para a minha colcha.