Pequenas Grandes Coisas da Minha Vida Sueca #29

Eu já falei que esse mês completei dois anos e meio de Suécia?

Eu já disse também que parecem mais com duas décadas e meia?

Ok. Ontem voltei a escola e, como eu sempre fiz, quero reclamar. Sim, é da minha natureza ser uma chorona e outra, se eu não reclamar, vão achar que tudo por aqui é muito fácil. E é fácil, se você tem cabelos loiros e olhos azuis e sangue sueco e fala sueco desde o nascimento e… bom, chega de me fazer de coitada.

Tenho que estudar mais sueco e mais inglês para poder entrar na universidade. Por causa de falta de atenção (yes, it was my fault) eu não estudei inglês lado a lado com sueco e acabei por cometer também algum erro em junho (o último junho) por causa do qual minha inscrição para os cursos que eu preciso nunca chegaram ao Vux. 

Mas não há problemas porque sempre há mais cursos começando dentro de um período curto de tempo. Fiz inscrição em agosto e comecei essa semana, tanto SAS 3 como Inglês 6. Além disso, aproveitei o tempo depois do passo em falso para fazer a avaliação do meu nível de inglês e, uau! Quase parei no Inglês 7. Se não fosse o quase nessa nossa vida né?

Enfim, eu acho um saco estudar inglês. E não gosto de falar inglês. Mas eu preciso um pedaço de papel que diga que eu estudei inglês suficiente para entrar na universidade. Já a questão do sueco não é tão difícil: eu gosto de falar sueco, só acho um saco ter que estudar sueco na escola.

Primeiro porque não importa se você já estudou na escola ou não, o primeiro dia de aula será de apenas uma hora e meia de enrolação. Eles vão apresentar a escola, a filosofia da escola, vão explicar porque aquela escola é a melhor de Göteborg (todas as escolas que eu já estudei – e foram três – dizem a mesma coisa) e daí explicam alguma particularidade da metodologia adotada pela escola. Na escola em que estou (ABF Vuxen) eles tem uma plataforma online com uma sala online onde o aluno tem que entregar os trabalhos. Legal né?

Sim, não fosse o caso que o primeiro dia em sala de aula, o professor repete a mesma coisa. Aí eu penso: para quê um dia de introdução sobre a escola, com power point, bla bla bla, alunos (suecos) que explicam porquê a escola é muito boa (para um monte de estrangeiros); se o professor vai repetir tudo de novo? É bom mesmo receber a informação várias vezes. E é bom que isso conta como hora-aula, afinal, estamos aprendendo MUITO com isso.

De verdade, a única coisa que achei importante depois de todo o bla bla bla informativo foi apresentarem pessoas de contato para que os alunos que tem dificuldades ou precisam de apoio extra durante o curso possam receber ajuda, tanto no sentido educacional como social (dificuldade financeira, bullying).

O que mais me incomodou foi o que o professores tocaram o terror geral ontem. Tanto na disciplina de inglês como na de sueco. As duas professoras repetiram veementemente que ninguém consegue terminar o curso em nove semanas (eu me inscrevi para um curso de nove semanas, nos dois casos). Eles dizem que são muito trabalhos (4 no curso de sueco e 7 no curso de inglês, um total de 11) e que é impossível para o aluno concluir isso em dois meses.

Eu fiquei pensando por quê? Eu vou estudar apenas inglês e sueco, nada mais. Tenho 7 dias na semana para fazer isso. O que pode ser tão terrível assim? Eu não olhei nenhum teste antigo do inglês, mas sei que gramática não é meu forte. Eu venho estudando um pouco ali e outro aqui desde que soube que teria que fazer o curso. O que mais preciso melhorar, nos dois casos, é a escrita.

Cada indivíduo tem uma realidade diferente, e eu sei que fica realmente difícil para quem está estudando outras disciplinas do ensino médio ao mesmo tempo. Pessoas com dificuldade de aprendizagem ou gente preguiçosa e que costuma procrastinar (eu por exemplo) tem mais problemas também. Mas… eu vou estudar apenas sueco e inglês. Apenas isso. Do total dos 11 trabalhos que preciso apresentar 3 são orais. Para mim toma o maior tempão escrever, mas no mais…

Eu não entendo. Procurei as duas professoras para conversar e disse que quero tentar terminar o curso em nove semanas. Sabe o que elas me disseram? Você não vai conseguir. Tipo, na lata. A professora de sueco é a mesma do SAS 1 (aquela que eu gostava) mas a do inglês nunca me viu mais gorda. Ela não sabe quem eu sou, o que eu quero, qual a minha motivação. Aliás, nenhuma das duas sabem. Como elas podem dizer já que eu não serei capaz de concluir o curso em nove semanas? Escrevi até um post no facebook ontem dizendo que estava morrendo de saudade do meu último professor de inglês, que sempre dizia que a dedicação pessoal dá o tom do seu estudo. Quando a questão é vocabulário, não há outra forma de aprender a não ser sozinho: lendo, ouvindo música, rádio, assistindo filmes e séries na língua que você quer aprender. Escrever também depende de treino.

Eu não tenho dislexia. Eu gosto de ler. Eu odeio inglês mas preciso aquela porcaria de papel. Eu tenho boa memória. Eu tenho preguiça mas tracei uma meta! E oito semanas (essa a gente já perdeu ouvindo como a escola é boa e como os dois cursos são difíceis) para estudar. Será mesmo tão impossível?

Fiquei muito triste ontem e cansada dessa merda de ser estrangeira. A professora do sueco me disse que mesmo quem é sueco tem dificuldade em terminar o curso com uma boa nota… bem no tom do como é que você, estrangeira, vai conseguir?

Eu me sinto excluída nesse país. As pessoas colocam todos os estrangeiros dentro de um mesmo saco e acham que todo mundo tem o mesmo tipo de dificuldade. Não importa aonde: seja na busca por emprego, no trabalho ou na escola, eu sou tratada como um ser que não entende. Talvez eu não entenda mesmo, mas e daí? Até a minha capacidade de acreditar em mim mesma e tentar querem tirar de mim?

Ainda quero meu certificado em nove semanas. Se o blog ficar em silêncio, vocês já sabem porquê.

 

 

 

Mais histórias sem pés e nem cabeça

Não é que tenha encontrado o meu tesão de escrever, mas é que nunca experimentei postar duas vezes no mesmo dia. Estou treinando para escrever mais coisas sem sentido.

Acho que é um esforço de mostrar – um esforço quase que inútil, eu diria – de mostrar que aqui fora a vida é só vida. Tipo, nada de glamour porque eu moro na Suécia. Aqui a gente também tem que fazer três refeições por dia, também tem que trabalhar, também tem que ir no centro resolver umas coisas, escovar os dentes, lavar roupas, levar o lixo pra fora… essas coisas do cotidiano sabe?

Seja lá como for, fui fazer a tal prova de equivalência do inglês. São seis questões – três focadas na leitura/compreensão, três de escuta/compreensão – mais um pequeno texto de 200 palavras. Depois de tudo eles batem um papo rápido – coisa de cinco minutos – para medir o seu nível de conversação. Demorei uma hora e meia pra terminar a prova (o tempo máximo de prova era de três horas), esperei meia hora para ter os meus cinco minutos de conversação e tcha-rammm: meu nível de inglês corresponde ao inglês 6 (engelska 6). Fiquei feliz! Eu não preciso perder tanto tempo com isso afinal. Sim, porque apesar de ter o nível 6, eu preciso fazer o curso pois a prova que eu fiz não me dá o direito a nenhum certificado. Já fiz a matrícula e começo em outubro. Se tudo der certo, entro no mestrado que eu queria o ano que vem!

Além de inglês vou ter que estudar mais sueco – é pracabá viu? – pois o nível de sueco para universidade agora é o sueco 3. Hahá! Começo em outubro também. Eu só preciso torcer para que os dois cursos não caiam em escolas diferentes, mas no mesmo horário – daí sim é pra fazer o peão chorar em alemão – porque, como eu não to estudando, por exemplo, todo o terceiro ano do ensino médio, eu tenho que aplicar para cada curso em separado. Mas aí seria azar demais né não?

Quem quiser mais informações sobre essa prova de equivalência deve entrar em contato com a vuxenutbildning (ou komvux) da sua cidade. Aqui em Göteborg tem prova de equivalência todas as terças, quartas e quintas lá em Rosenlund (não sei se há outra vuxenutlbildning além daquela aqui), a partir das 10h da manhã até as 15h (na quinta encerra as 13h). É só chegar lá com sua identidade, pois a prova é individual e funciona no sistema de “drop in”. Além de inglês você pode conferir a equivalência do sueco, matemática e outras cositas mas.

Como estava “no centro” aproveitei para dar uma olhada num biquíni novo. Eu sei, o verão sueco acabou, as promoções de verão também, e com elas tudo que era relacionado a estação mais feliz destas bandas onde o Papai Noel vem pra a praia. Primeiro, que biquíni na Suécia não é biquíni e, em condições normais, eu não compraria um bíquini aqui. Mas… vamos pra a Grécia em lua de mel e, na hora de fazer as malas percebi que meus biquinis velhos de guerra estão desintegrando…

Aí fica aquela dúvida cruel: correr o riso de ficar pelada com os meus biquínis normais ou comprar um cuecão sueco? Ok, como eu não sou adepta de praia de nudismo – eu ainda não cresci o suficiente para isso – resolvi pela opção b.

Mas não dá né cara? Primeiro, as cores foram banidas da Suécia junto com Deus. Sinceramente, eu acho um charme biquíni preto, e na falta de algo melhor… lá vou eu com um S preto para o provador. Detalhe que eu já tinha achado que o S era grande, mas como eu falei, fim de estação, eu quase me senti feliz por achar um S (que é o equivalente ao nosso P) lá  no meio dos restos mortais do verão.

E a minha bunda sumiu!

Minha mãe ficaria orgulhosa de me ver vestida naquela calcinha. Mais comportada só se eu voltasse aos anos 20, quando todo mundo usava aquele macacão – nem era maiô – na praia. Gente é sério… com o tecido daquele P lá dá para fazer três P’s do modelo brasileiro. E isso que eu não to falando de fio dental – eu não tenho coragem pra tanto. Com um biquíni daqueles eu bem posso ir a praia com uma das cuecas boxer do Joel, a marca de sol seria a mesma.

Desisti. Ou quem sabe eu compre um short jeans? Eles usualmente são menores do que a calcinha do biquíni sueco.

Resultado: os biquinis velhos de guerra é que vão para a mala, e com eles a esperança de que não se desintegrem na próxima semana, ou que existam lojas de biquínis um pouco mais interessantes na Grécia.

E da próxima vez que for ao Brasil, trago um estoque.

Histórias atrasadas e preguiça

To com preguiça de blogar, dai a falta de posts. Arrumei uma série de coisinhas para fazer, entre elas, to tricotando (eu não estou grávida), passeando, olhando bobeiras na internet (você conhece aquele canal do You Tube “All Time 10s“? E o “FailArmy“? Pois é…)… até mesmo deitar no sofá e ficar olhando o teto enquanto ouço música me dá mais tesão do que sentar na frente do note.

É, o tesão por blogar chegou próximo de zero. E o de ler o körkortsbok está em cerca de -50. Aliás, a cada semana eu prometo que vou fazer o teste na semana que vem, e cada “semana que vem” eu repito a mesma coisa. Minha procrastinação chegou a níveis medonhos. Mas voltei a ler as leis sociais suecas comentadas… ok, uma página por dia é melhor do que nenhuma e, como o livro parece uma bíblia, acho até que faz sentido.

Semana passada assisti Elysium no cinema. Curti. Muito. Mas o filme me deu um sentimento terrível de tristeza. Eu to muito boba. Ou muito esperta, ainda não consegui entender. Em todo o caso, desde que parei de tomar anticoncepcionais to sentindo meu corpo e a montanha russa emocional com uma clareza sinistra. Há coisas muito bobas que me fazem rir muito e me sentir extremamente feliz. O drama é que o contrário também é verdadeiro. Já viu alguém assistir uma ficção científica e ficar triste? Até parece que não faz sentido, mas se eu encontrar o meu tesão de blogar por aí eu escrevo porque o filme me deixou com uma tristeza tão pesada num texto cheio de spoilers da trama. Há, eu sou má.

A propósito, se alguém encontrar o meu tesão de blogar por aí, favor mande um alô que eu mando o endereço para postagem. Grata.

Dentre as palhaçadas que já andei fazendo, não sei como é que não enviei a minha matrícula para o curso de Sueco como Segunda Língua 3 (SAS 3) e o inglês. No fim das contas, tudo bem, eu não tava tão afim assim de estudar, nem um e nem outro. Mas não dá mais para protelar.

To saindo para fazer uma provinha que vai definir em que nível de inglês eu posso começar. Mesmo que eu já saiba a resposta, vai que eu tenha uma surpresa? Sonhei com essa merda a noite e, no meu sonho, a prova tinha hieroglifos.

Desejem-me sorte!

 

Pequenas Grandes Coisas da Minha Vida Sueca #27

Algumas atualizações rápidas e rasteiras.

Devido aos milhares de nove pedidos para que eu não feche o blog agora, vou continuar postando meus blá blá blás e desabafos da madrugada, ao menos, for a while. Eu realmente não gosto dessa coisa de blogar pela metade e é assim que me sinto ultimamente: não consigo terminar alguns rascunhos de há muito tempo, teve gente que me pediu mais dicas para estudar sueco, não respondo os coments. Ultimamente me sinto fazendo muita coisa pela metade e isso prova que estou abraçando mais do que posso dar conta. E meu tempo voa! Preciso no mínimo de duas horas para cada post. Och det är mitt fel – a culpa é minha. Eu gostaria de ser uma pessoa  que não cobra tanto de si mesma e que simplesmente posta uma foto do cachorro e voilá! bloguei. Antes que alguém fique brabo, não tenho nada contra gente que posta três linhas e acho mesmo é que essas pessoas é que são felizes. É que eu não consigo, primeiro porque não sei tirar fotos decentes e segundo, não me dou essa liberdade. Comecei o post dizendo que seriam atualizações rápidas e rasteiras mas dá uma olhada para esse parágrafo?

Falando em gente que está a caça de dicas de sueco, deem uma passada no blog da Rúbia – Carioca da Clara Suecando. Quem quiser uns áudios de sueco deixe um comentário com o nome do usuário da conta do Drop Box que eu compartilho; é o melhor que posso fazer por enquanto.

E falando em estudar, recebi a resposta sobre a minha candidatura para o mestrado e começo a estudar em agosto. Inglês. Como eu já suspeitava, meu inglês foi considerado insuficiente – não há o que chorar, é verdade; e antes que eu alcance o nível Engelska 6 posso esquecer a universidade. Sinceramente, me deu quase um alívio: eu realmente não tô afim de cursar universidade agora, ainda me sinto muito insegura com meu sueco e sendo assim, com sueco mais ou menos e inglês mais ou menos eu só sofreria. A gente já recebe muita merda nessa vida de graça, eu não preciso adicionar umas pitadas a mais, obrigada. E aproveitando o ensejo e para evitar futuras surpresas vou estudar o SAS 3 também. Espero que… nem vou esperar nada.

Depois de muita enrolação faço o segundo curso obrigatório para a carteira de habilitação semana que vem. Pra quem queria fazer a carteira em um mês e começou em março… tá longe ainda. Mas estou estudando o livro teórico – körkorts… alguma coisa. E nessas horas é que dá para perceber o quanto meu vocabulário em sueco é pequeno; pá… são muitas palavras que eu não tenho a menor ideia do que significam. Tenho que ler mais e ouvir mais rádio.

Agora tenho um carro no meu nome porque o seguro é mais barato. Estatisticamente, mulheres são muito mais cuidadosas no trânsito do que os homens, apesar de que comprovadamente eles são melhores na hora de estacionar.

Continuamos trabalhando a todo o vapor com a casa e quase todo dia vem gente ajudar. Uma das coisas que me deu medo quando o Joel disse que queria mudar para o “campo” foi que a gente ficaria isolado. É verdade que alguns amigos que víamos antes agora a gente não vê com tanta frequência, mas de outro lado a casa está sempre cheia. Cheia de gente e cheia de coisas a fazer. E esse é um dos pontos em que tenho que aprender a relaxar…

Cuidar de uma casa de quase 100 metros quadrados não é mesmo que cuidar de um apê de quarenta. Parece que eu nunca consigo terminar de limpar a casa – e sim, agora estou falando igualzinho a minha mãe. Ainda mais com reforma e com tanta gente que vai e vem, que entra e sai, tem dias que eu simplesmente me pergunto de onde vem tanto pó se nesse país chove quase todo dia?

Ok, eu não vou reclamar do clima não porque apesar de frio – as temperaturas estão na média dos 15 graus C – os dias estão ensolarados e se não venta dá para se esbaldar no sol de camiseta. E os dias estão super claros, com luz do sol até quase meia noite e o dia começando a despontar as 2h30m, 3h da matina. Isso dá um pique de deixar tudo bonito: tirar as teias de aranha, plantar flores, trocar as cortinas…

Me empolguei tanto que até fiz aqueles cartões de clientes tanto no Ikea como na Class Olsson. E uma lista! Que será providenciada aos poucos afinal, não há salário que aguente quando se é substituto.

Falando em emprego… conversei com minha handläggare sobre a nossa relação por cartas. Ela me disse apenas que está seguindo o protocolo e… cara, eu tenho muita dó de todo mundo que está inscrito no A. Se o protocolo deles é desse nível, não é de se estranhar que muito poucos estrangeiros tenham emprego. E aquele relatório que ela disse que eu teria que enviar, eu entendi tudo errado e recebi outra bronca sutil – mas até fiquei feliz, porque dessa vez a bronca veio por e-mail. Em todo o caso, dá para perceber porque eu e o A fazemos uma dupla de sucesso: eles com um protocolo super moderno e eu que não entendo nada. Tenho até amanhã para enviar um novo relatório… adivinha? Nem comecei.

Parei de tomar anticoncepcional porquê mais uma vez descobri que o anticoncepcional que estou tomando é uma bomba: troquei um anticoncepcional que me fez ficar com o rosto manchado por outro que pode me dar trombose. Quem quiser ler mais sobre isso é só usar o Google e as palavras chave Yaz e trombose. 27 mulheres canadenses morreram e há indícios de que o anticoncepcional que elas usavam (Yaz) pode ser  a causa da morte – por tabela. Entre os efeitos colaterais dos anticoncepcionais da marca Bayer (Yaz e Yasmim) há o alerta sobre trombose, sendo que a vigilância sanitária – tanto nos EUA como na Europa – já vinha alertando sobre esse “detalhe” desde 2011. O que me assusta é que mesmo que as agências de controle emitam os alertas os medicamentos continuem sejam receitados.

Mas eu to bem e a vida continua, semana que vem tem Midsommar e logo logo meus pais estão aqui! Com minha irmã mais nova a tiracolo. Eu me caso mês que vem e quase nem posso acreditar que o tempo passou tão rápido. Ainda nem decidimos por completo o menu do dia porque o chef do local da festa é tão enrolado quanto eu. Nem escolhemos o bolo…

E tipo, já falei que estou com torciolo de novo? A segunda vez no último mês…

 

Como validar o diploma

Eu validei o meu diploma o ano passado e depois de dividir essa experiência aqui no blog muitas pessoas me perguntam o que é necessário fazer para validar o diploma – universitário ou do ensino médio – na Suécia. Eu vivi uma história meio confusa e acreditei que só o histórico universitário bastava para o ingresso na universidade mas infelizmente não é bem assim.

E atenção: para validar seu diploma na Suécia é necessário portar um número social, ou seja, esse é um post com dicas para quem tem seu visto de residência e personnummer ou para aquelas que já sabem com certeza que terão – gente que estará mudando para cá com visto de residência por laço familiar (marido, namorado) ou visto de trabalho. Isso não é aplicável para quem está pensando em fazer mestrado na Suécia e quer mudar para o país por meio de visto de estudante.

Eu tive azar (um pouco de cabeça dura também) e vivi uma série de mal entendidos. Primeiro que ouve uma falha de comunicação entre o Vuxenutbildning e eu logo que me mudei para cá. Eu não sei se acontece com todo mundo mas durante a minha primeira visita na Vux eu fui falar com um studievägledare – um profissional qualificado que, em tese, sabe tudo sobre o sistema educacional sueco e que te ajuda a encontrar os melhores caminhos para você chegar lá e durante a conversa fui orientada a procurar pela validação do meu diploma universitário por meio da Högskolverket. Segundo o cara que me atendeu lá atrás isso seria tudo que eu precisaria para entrar na universidade mais conhecimento de sueco a nível de ensino médio (o SAS)- caso fosse necessária alguma complementação do meu curso universitário. Com base naquela conversa eu terminei o SFI* primeiro e só depois é que mandei minha papelada para o Högskolverket.

Nada mal, apenas que há um detalhe: para cada curso universitário existe uma exigência, mas a mais comum é que, além de sueco, você possa provar que tem conhecimentos em matemática, inglês e estudos sociais correspondentes ao nível do ensino médio sueco ou seja, suficientes para ser admitido na universidade. É claro que essa não é uma máxima, você pode conseguir o ingresso também por meio de uma prova – mais ou menos como vestibular onde caem exatamente conhecimentos de sueco, inglês, matemática e estudos sociais – mas o caminho mais curto é realmente a validação do diploma e histórico do segundo grau/ensino médio também (ou ficha 19, como a Rafa me ensinou ontem). O certo é que não sei se qualquer um pode fazer essa prova, enfim, esqueçam a história da prova porque eu apenas sei que ela existe.

Daí que eu marquei bobeira e nunca havia caído a ficha de que eu precisaria do meu histórico escolar do ensino médio mas eu preciso sim e acabei de enviar para a tradução (foi no mês passado, na verdade). E agora quando as pessoas me perguntam se devem trazer o histórico escolar do ensino médio e eu digo sim, traga (não antes, antes eu acreditava piamente que o histórico universitário bastava). Traga o histórico escolar do ensino médio, traduzido ou não, mas traga um original ou segunda via e busque a validação tão logo você colocar o pé no SFI. Se você não tem tempo ou não tem um tradutor juramentado a mão aí na sua cidade traga para a Suécia assim mesmo, aqui você escaneia e manda para o tradutor por e-mail, ele te manda um orçamento, se você concorda com o orçamento é só manda uma resposta dizendo pra ele por a mão na massa juntamente com seu endereço e em alguns dias você recebe por correio a papelada traduzida e o boleto bancário da cobrança. Simples assim, e serve tanto para histórico escolar como universitário (no caso de universidade, é bom se você traduz o diploma também). Aqui nesse link você encontra o endereço de e-mail de todos os quatro tradutores juramentados português-sueco da Suécia, pode entrar em contato e fazer uma pesquisa de preço. Eu traduzi meus docs com essa moça chamada Kerstin Walin.

Eu acho importante mandar o histórico do segundo grau para validação já quando você começa o SFI porque após o SFI você inicia na educação de adultos conhecida como Komvux e é lá que você estuda o SAS, matemática, inglês e estudos sociais; assim como outros cursos. Para o curso em que eu me inscrevi é necessário diploma em Serviço Social, SAS 2 (tem gente que me disse que agora a exigência já é o SAS 3 mas quando me inscrevi para o mestrado ainda era o SAS 2), Engelska A, Matte B e Samhälle kunskap A (toda essa nomenclatura já mudou, mas era isso que estava escrito na página de inscrição). Quando eu cursei o SAS (atualmente existem o SAS Grund, 1, 2 e 3) o curso era de 2h por semana (normalmente é isso mas você pode estudar a distância ou optar por outros pacotes em que o negócio é mais curto, tipo integral por 5 semanas) e eu tinha o resto da semana “de varde”. Eu fico super P da vida quando penso nisso pois não tenho a mínima ideia se o meu diploma de ensino médio será validado ou se eu deveria ter estudado matemática, inglês e estudos sociais (Samhälle kuskap) enquanto eu estudava o SAS – porque não? Quando eu tinha tempo de sobra?

Existem duas formas de validar o diploma do ensino médio, assim com eu fiz, que é inscrever-se para uma graduação (no meu caso foi mestrado) e enviar junto com essa inscrição cópia do histórico escolar do ensino médio – tanto original como traduzido – para o Antagning portal por meio do qual você se candidata a vagas na universidade. Esse é um meio arriscado pois se a sua formação não é suficiente você “perde tempo” e tem que correr atrás do prejuízo os próximos 6 meses, 1 ano. A opção mais segura, no entanto, é entrar nessa página aqui (em sueco) e enviar eletronicamente a sua papelada para o Universitets- och högskolerådet por meio desse formulário aqui – em sueco também. Os documentos necessários são os mesmos**: cópias do histórico escolar e diploma de ensino médio (original e traduzidos) mas também um personbevis – que você baixa pela página do Skattverket. O site informa que o tempo de espera é de cerca de 6 meses, mas dizem as más línguas que quando você busca a validação por meio do Antagning você recebe a resposta mais rápido e que por isso, alguns estrangeiros fazem de conta que querem um curso universitário só para terem o diploma do ensino médio avaliado em menos tempo.

No caso de diploma universitário o responsável pela validação deixou de ser a Högskolverket e passou a ser a Universitets- och högskolerådet, mas as regras continuam as mesmas: algumas profissões são regulamentadas na Suécia e para essas não tem choro nem vela, o diploma estrangeiro tem que ser aceito pela associação da categoria; em caso de profissões não regulamentadas basta enviar a papelada para a instituição acima; professores, apesar de não contarem dentro da categoria de profissões regulamentadas tem um tratamento especial e devem buscar a legitimação (também) na Skolverket. Você pode entender aonde mais ou menos você se encontra por meio dessa página do Arbetsförmedlingen (ache a sua profissão nessa salada e veja o que é necessário para que você possa dizer que essa é a sua profissão ou pergunte ao seu handläggare no A).

A lista das profissões regulamentadas você encontra aqui, assim como ao lado é indicada a organização/associação que você deve contactar para iniciar o processo de validação. Para as profissões não regulamentadas e profissionais da área da educação é só acessar esse formulário PDF, baixar, imprimir e preencher (ou vice e versa); juntar mais cópias do original e tradução do diploma e histórico universitário e enviar para o endereço que aparece no canto superior direito desse formulário.

Agora chega que eu quero aproveitar o sol lindo que está lá fora! É primavera hoje gente!

Ps.: Arrumei o link que não estava funcionando para a lista das profissões regulamentadas. Vale lembrar que caso você não queira estudar na Suécia você pode tentar a validação e procurar um emprego direto; porém nem todos os cursos são aprovados em 100%, você pode ter um percentual do curso aprovado e ter que complementar estudando matérias específicas na universidade. Mas se você tem intenção de trabalhar na área de vendas, por exemplo, uma dica é encher o saco do pessoal do Arbetsförmedlingen e entrar direto no Yrkes Svenska – tipo, ao mesmo tempo em que você estuda o SFI. Se sua educação superior é aprovada em 100% o negócio é correr atrás de emprego ou uma pratik (estágio)!

Nada impede que você busque a validação do histórico escolar do ensino médio ao mesmo tempo em que você busca a validação do diploma e histórico escolar universitário. Se você pode começar a trabalhar de uma vez e não tem tesão de estudar não precisa ficar quebrando a cuca com o SAS e disciplinas repetidas do segundo grau.

Por fim, a tradução dos seus documentos pode ser em inglês ou em sueco. Para o caso de pessoas que tem documentos em espanhol não é necessária a tradução (assim como no caso de norueguês, inglês, alemão e francês – eu acho que dinamarquês também entra na roda, está escrito em algum lugar lá na página que explica o que é necessário para o bedömning [avaliação]). O que sei é que no Brasil não é muito comum existirem tradutores juramentados em todo o canto; eu lembro de que quando traduzi o meu certidão de nascimento fiz em Foz do Iguaçu (cerca de 170km de onde eu morava) e o cara cobrava R$ 50 a mais se fosse para mandar por Correio. A minha sorte é que eu fui para um curso em Foz então não precisei fazer viagem nenhuma, só pedi que a tradução estivesse pronta até o dia tal (mas mandei a papelada com antecedência), ao contrário seria cerca de R$ 35 para pegar a papelada. E praticamente um dia de viagem.

E mais uma coisa (agora é a última mesmo): tem gente que fica fazendo terrorismo dizendo que tem que cadastrar toda a documentação na embaixada antes de embarcar para a Suécia e para mim isso é lorota, só um boato para fazer dinheiro. Não precisa ficar no stress no Brasil procurando chifre em cabeça de cavalo e indo a loucura porque não vai dar tempo de traduzir documentação, o tradutor mora no caixa prego e a embaixada só em Brasília! Será que nos consulados eles fazem o cadastro da documentação? (uma espécie de selo ou sei lá o que que seriam a única garantia de que seus papéis são verdadeiros). Na Suécia não tem dessas frescuras, você não precisa ir para cartório autenticar papéis ou reconhecer firma, qualquer pessoa*** pode assinar o seu “xerox” declarando que ele é igual ao original e ponto. Por isso que eu disse que quem quiser ou por algum motivo não pode traduzir tudo no Brasil não precisa se descabelar. Traga a documentação e depois aqui tudo vai se ajeitando.

*****

Um apanhado geral rápido e rasteiro:

– Para esse processo de validação é necessário personnummer (ou seja, visto de residência aprovado);

– Histórico escolar (do ensino médio ou universitário) traduzido por um tradutor juramentado para o inglês ou sueco;

– Diploma universitário traduzido por um tradutor juramentado para o inglês ou sueco;

– Cópias autenticas dos originais (em português e em inglês ou sueco);

– Formulários que você baixa nos links que deixei acima****;

– Enviar tudo pelo correio.

______________

* O SFI não é suficiente para entrar na universidade.

** Outros documentos podem ser solicitados e ao final da página existe o endereço para o qual você envia, no caso.

*** As cópias tem que ser autenticadas, mas se fizer o “xerox” na biblioteca – por exemplo – é só apresentar o documento original e pedir a atendente para autenticar (vidimera – kan du vidimera de?).

**** O formulário correspondente ao que você quer. Vai validar o diploma universitário, baixe apenas esse formulário. Vai validar o histórico escolar do ensino médio, baixe apenas o outro formulário. Não envie ambas as coisas para o mesmo local, as validações são tratadas por instituições diferentes.

Pequenas Grandes Coisas da Minha Vida Sueca #25

Não consigo mais colocar na cabeça nem uma só palavra do livro do BBiC que estive lendo. Minha mente está louca e meus pensamentos correm feito ninfas as vésperas de um solstício de verão. Nada do que leio fica gravado na cuca… dilemas do mundo moderno? Excesso de informação? Não acredito…

Deixei de trabalhar com o Zé em tempo integral para me dedicar um pouco a caça do trabalho como assistente social e aos preparativos do casamento. Quem acha que isso é meio estranho é porque não casou ainda: passei uns par de dias formulando o convite (que mesmo assim ficou super simples) e mais uns dois, três dias atrás do endereço de todo mundo. Na segunda mandei uma leva dos convites, a segunda leva vai na semana que vem e ainda separamos dos amigos mais chegados que moram em Göteborg para que sejam entregues em mãos.

Recebi o resultado do meu pedido de visto permanente e aquela carteirinha tão fabulosa acaba de chegar na minha porta. Eita coisa besta viu? Mandei a papelada em dezembro e em janeiro recebemos em casa um formulário com 4 perguntas bem idiotas (de assinalar com x) que deveria ser respondido por ambos. Mas as perguntas, no caso, eram direcionadas apenas ao Joel: você realmente conhece a Maria Helena? Você mora com ela? Quer continuar esse relacionamento? e a outra questão eu nem lembro, mas acho que era a única aberta do tipo quais os planos para o futuro? As três primeiras perguntas vinham com a opção “sim” e “não”, e “se não, por quê?”. No fim os dois assinamos a tal entrevista. Menos mal, nem precisei comparecer ao Migrationsverket para aquele outro tipo de entrevista ridícula a qual minha amiga foi submetida (e perguntaram a ela em qual lado da cama ela dormia…oO). O que interessa é que agora tenho meu permanent upphålstillstånd.

Essa semana tive um encontro inspirador com uma studievägledare (orientadora vocacional) a respeito das minhas ambições com relação ao Serviço Social na Suécia. Fiquei feliz e muito puta da cara ao mesmo tempo porque ela me confirmou o que eu já descobri faz um mês: para entrar na universidade na Suécia você precisa que o seu diploma do ensino médio seja válido por aqui e o fato de ter um diploma universitário (válido ou não) não conta muito a menos que você queira se candidatar a vagas abertas em cursos extras da grade do Serviço Social. Quando visitei a Vuxutbildningen para conversar a respeito da minha educação na Suécia eles me disseram que tendo o diploma reconhecido eu poderia entrar na Universidade. Ponto. Mas não é bem assim… para entrar na universidade é necessário Sueco nível 2, Matemática nível 2, Estudos Sociais nível 1 e Inglês nível 1. Eu posso pegar o meu certificado de Ensino Médio e tentar validar meus conhecimentos em matemática e inglês – é muito difícil que não sejam correspondentes – o que infelizmente é muito difícil de acontecer em relação aos Estudos Sociais, uma vez que no Brasil não estudamos a sociedade sueca.

Eu poderia ter estudado Samhällkunskap ao mesmo tempo em que estudava o SAS, afinal eu tinha aula uma vez por semana, não iria doer nem um pouco ter aula duas vezes por semana… mas eu nem sabia que eu precisaria dessa merda disciplina também. O lado positivo é que como estudei muita sociologia na faculdade eu talvez possa compensar daí. Dedinhos cruzados.

E pra quê todo o papo de universidade se eu tô com o diploma na mão? Porque para todos os efeitos por meio da universidade posso estagiar e daí meus problemas com relação a) não tenho experiência na Suécia e b) não conheço o sistema social sueco estariam resolvidos. Fiquei muito feliz porque ela (a orientadora vocacional) mais uma vez afirmou que meu curso foi aprovado em  100% e que não preciso complementar, que esse complementação seria só uma forma mesmo de tornar meu currículo mais atraente. Sinceramente, foi a melhor orientação que já recebi nesses meus quase dois anos de Suécia, ela foi clara, tranquila, me mostrou os caminhos possíveis, questionou minhas ideias formadas, plantou outras, assinalou as dificuldades e também os impossíveis que posso encontrar. Saí de lá de espírito renovado e com o telefone para contato de mais alguns locais de trabalho, como substituta (timvikarie) o que acho que será perfeito para começar – e mais fácil de conseguir.

Fácil e fácil porque para cada 5 anúncios de vagas com trabalho social, 4 pedem carteira de habilitação. Não deu nega, já fiz a inscrição pelo site do körkortportalen (portal da carteira de habilitação) e vou gastar um tanto das minhas economias com isso. Afinal de contas, eu to meio devarde e me dá um nervoso ficar esperando um e-mail ou telefone pra entrevista que nem sei pra que lado que me pego. Liguei e tentar vender meu peixe por telefone, mas ainda é muito desconfortável conversa em sueco pelo telefone, e já cansei de conversar com secretárias eletrônicas.

Essa é mais uma das razões pela qual a minha leitura do BBiC não vai para frente: eu lembro que tenho que entrar em contato com fulano e ligo, mas o fulano saiu e eu me programo para ligar mais tarde. Volto para o texto e já perdi o fio da meada, retomo a leitura de algumas páginas para me achar e quando o negócio engata percebo que meu telefone mudou de cores e já corro para ver se é e-mail… estou neurótica.

Sorte que tenho um super viking me ajudando ♥… Ainda assim, ficarei off por um tempo.

Guest post: Estudar na Suécia

Guest Post  By Bianca Ayres

Dei uma olhada nos termos de busca que levam ao blog (um assunto sempre interessante) e percebi que tem muita gente que vem parar aqui procurando por informações sobre os tipos de visto para a Suécia. Como eu tô cansada de contar a minha história e já esgotei todos os detalhes dela, pedi para uma das leitoras do blog se ela gostaria de contar a sua experiência por meio de um guets post e ela topou!

Apresento a vocês Bianca, uma guria super inteligente (ela faz doutorado em química!) que está morando em Lund, no sul da Suécia. Porque e como ela veio parar aqui deixo vocês descobrirem por meio do texto dela:

Olha só a Bianca em frente a igreja característica de Lund!

Olá, eu sou Bianca, 27 anos e cheguei em Lund no início de setembro! Sou engenheira bioquímica, estou no terceiro ano de doutorado em Engenharia Química na UNICAMP e vim desenvolver uma parte do projeto (sanduíche) na Universidade de Lund, no Kemicentrum-LTH! Escolhi aqui porque é um centro de pesquisa especializado na mesma área de trabalho (biocatálise).

A partir dessa intersecção de interesses, minha professora e eu entramos em contato com o professor daqui para fazer uma parceria! Ele prontamente respondeu e solicitou um resumo do projeto. Ele aceitou e iniciamos o envio do projeto a agência de fomento. No meu caso, este estágio no exterior foi solicitado a FAPESP, mas o Brasil também tem o Ciência sem Fronteiras que está facilitando quem tem essa vontade. A Suécia também oferece bolsas a estrangeiros através do Study in Sweden (clique para acessar o link), mas eu perdi o prazo final de submissão pois guardei na memória que era março, e na verdade foi dia primeiro de março! Outra opção de bolsa também por meio do mesmo site sueco é o programa Erasmus Mundus, cujo prazo varia a cada ano, mas geralmente no segundo trimestre.
A FAPESP aceita a submissão em português, mas para facilitar o acompanhamento pelo professor sueco, tudo foi tramitado em inglês!
Há casos de trâmites de pós graduação sanduíche em que o professor demora um pouco para responder e aceitar, mas eu tive sorte do escolhido ser bastante prestativo e organizado! Ele precisou me enviar 3 diferentes “Invitation Letter” a cada momento que a FAPESP solicitou (submissão de projeto e aceite da concessão) e quando a Imigração solicitou. Além disso, uma das vias de duas mãos é que um estudante de Lund tem de ir para o Brasil para fazer um estágio por lá!
Com tudo aprovado, iniciei a solicitação do visto: a submissão pode ser online pelo website Migrationsverket e há opções para quem pretende trabalhar ou estudar, este último foi o meu caso.
Nesta inscrição fui questionada sobre o motivo de escolher a Suécia, qual a agência de fomento, qual a universidade pretendida e o orientador sueco responsável com o respectivo contato. Foram necessários os documentos que comprovem o prazo e o valor da bolsa proveniente da agência financiadora e também a carta de aceite do professor sueco (Invitation Letter) com o valor mensal requerido para se viver na cidade, o tempo previsto de permanência e a confirmação de que a bolsa aprovada será suficiente (mesmo que os números já indiquem isso, posteriormente me pediram para que esta carta fosse complementada).
Consta no site que é necessário ir a Embaixada sueca para coleta de impressão digital e obtenção do cartão de visto, porém no Brasil há exceção para quem mora longe da capital ou tem dificuldade de ir, pode optar pela retirada do “Residence permit to Sweden granted” no consulado mais perto após a aprovação do visto. A embaixada requer até 2 meses para informar a decisão, porém alguns casos podem ser resolvidos mais rápidos dependendo da transparência dos documentos fornecidos. Ao preencher a submissão é gerado um boleto com a taxa consular de 1000SEK (julho/2012) com um prazo de dois dias para ser pago, senão a submissão será descartada.
Após concluir a submissão e o pagamento, chegará em seu email a confirmação com um check number. Passaram alguns dias e eu queria acompanhar o andamento, pois pelo site existe essa opção, porém o check number recebido não servia para nada. Liguei ao consulado em SP, pois foi onde selecionei para ir buscar e a Mariana, que é muito atenciosa falou para eu ter paciência que chegaria outro email com o número do processo. Este nunca chegou!
Um mês depois da submissão, meu professor me avisou que haviam entrado em contato com ele para confirmar as informações e após mais uma semana a Imigração enviou-me um email solicitando uma carta mais detalhada proveniente do orientador constando quanto se precisar para viver em Lund e quanto a agência de fomento me pagaria (que citei acima). Após isso, mais 5 dias e um email informou que a decisão tinha saído e era para eu me informar com a unidade consular que eu havia escolhido.
Na hora liguei para a Mariana e ela me pediu para enviar um email com meus dados para ela verificar. Só faltavam 19 dias para eu viajar… e a tensão crescia.
Esperei uma semana pelo email dela e nada… então fui a SP levar minha mudança e aproveitei para ligar 12h para saber se eu poderia passar lá e ela disse que ainda não sabia. Só 12 dias para embarcar e não sabia? Eu sei que no mesmo dia, ela “recebeu a resposta” e me avisou por email… quando eu já tinha voltado para Campinas!
Mas tudo bem, minha vontade era tanta de ter certeza que não precisaria providenciar mais nada que fui buscar o documento no dia seguinte. Ah é bom lembrar que o horário de funcionamento do consulado é apenas das 9h as 13h em SP! E com este papel (Residence permit to Sweden granted) é possível chegar na Suécia sem problemas!
Para quem vai ficar 12 meses ou mais, não é necessário contratar seguro saúde de viagem, pois vc pode adquirir o registro sueco “Personnummer”, que além de conceder descontos para atendimento médico, também serve para abrir conta bancária. É só procurar a  Skatteverket da cidade sueca. Para casos como o meu, que não fui até Brasília, antes de solicitar o Personnummer eu precisei ir até a Migrationsverket para fazer o cartão de permissão de residência (UT card ou uppehållstillståndskort) com as impressões digitais e foto. De Lund, eu precisei ir para Malmö (em menos de 20 minutos para ser atendido, 5 min de atendimento e pronto). Em menos de uma semana, o cartão chegou em minha caixa de correio!
Com o UT card em mãos, voltei a Skatteverkert de Lund e solicitei o Personnummer, o qual está previsto de chegar dentro de 2 a 3 semanas. Esta quinta-feira (27/09) completará 2 semanas para eu saber os próximos passos para abrir a conta no banco!!
Minha primeira impressão é que a organização de tudo facilita demais a vida e é estimulante viver aqui! Ah, e no primeiro dia, meu professor já disse para não me preocupar em aprender sueco (ok, ele deve ter considerado o tanto que já vou fundir a cabeça no laboratório), pois todos falam inglês, com exceção de alguns idosos. E é verdade, que não tenho tido problema além dos produtos do mercado, a ainda até conversei em inglês com alguns senhores e senhoras atenciosos no mercado.
Boa sorte Bianca! Bem vinda a Suécia!

Tudo de novo e outra vez

Nas cenas do capítulo de hoje a caipira vai para a escola e descobre que foi enganada mais uma vez.

Ok, agora parando com o melodrama – ainda que a minha relação com a escola na Suécia seja uma novela; não sei se recordam que eu desisti de uma vaga na escola chamada Hermods há um tempo atrás – porque o curso de sueco seria a distância; e me rematriculei de novo – em outra escola. Deixei uma reclamação por escrito no escritório da Vuxenutbildning e ganhei uma pessoa de contato que ficou todo esse tempo de espera do começo das aulas – em 17 de setembro – em contato comigo.

Na primeira semana de setembro recebi uma carta da Vux me dizendo que eles haviam aceito o meu pedido de matrícula e que eu tinha um lugar em uma escola chamada Studium. Sempre ouvi falar muito bem da escola e fiquei feliz. Tava só esperando chegar a carta da escola…

Que nunca chegou. Então liguei e liguei e liguei para a escola e ninguém atendia o telefone (coisa super estranha que só aconteceu comigo). Sem respostas, liguei para a D. Angélica, que é o meu contato dentro da Vux, e pedi ajuda. Contei um pouquinho da história toda e nem precisei muito porque ela se lembrou de mim e me orientou a mandar um e-mail para a escola (para ter uma prova de que eu tinha tentado o contato) e que continuasse ligando.

Fiquei no vácuo ainda depois de mandar o e-mail e na quarta passada consegui que alguém da escola atendesse o telefone. Disse meu nome, meu personnummer e “Eu tenho uma vaga aí para estudar SAS 2, mas não recebi nenhuma informação da escola… não quero perder minha vaga e etc etc”.

Daí não seria bem mais fácil só ir até lá e tentar pegar a professora nos corredores? Hipoteticamente seria, não fosse o fato de que NENHUM sueco dá informação para você se não tem 100% de certeza e que às vezes é só com o professor que você pode receber o plano de aula e todos os etc. Sim, porque eu começaria o curso depois de 17 de setembro, o que não significa que meu primeiro dia de aula seria o tal dia mencionado; mesmo porque as turmas já estão em aula desde 13 de agosto. Assim, indo até a escola eu teria apenas a informação do tipo: sua turma tem aulas as segundas a tarde a partir das 13h, a professora chama Ilona e a sala é a número 109.

Como eu estive trabalhando todos os dias da semana passada e não queria correr o risco de “perder” uma viagem fiquei ligando. Na quarta quando fui atendida a pessoa do outro lado da linha estava super insegura, me pediu mil desculpas, anotou meu personnummer e telefone, disse eu não tenho acesso aos dados agora, te ligo depois… e eu só ok.

E esperei… na sexta eu estava na porta de casa a caminho da tal escola para tentar agarrar alguém pelo braço na tentativa de não perder minha vaga na escola quando o telefone tocou e uma tal de Anne Marie disse que “sua turma tem aulas as segunda-feiras, sala 309, professora Ilona. Quer que eu te mande um e-mail com essas informações?” e eu sim, obrigada.

O e-mail não veio mas eu fui. Cheguei lá 20 minutos antes e fui procurar a professora – afinal eu queria conversar sobre o que a turma está lendo e blá blá blá – na escola em que estive eles vendiam o livro que a gente usava em aula na secretaria. Ela me pediu um segundo para resolver uma coisinhas, e eu esperei até 5 para uma para descobrir que estava na turma errada: ela é a professora do SAS 1. Fiquei p… o sangue subiu nas veias e eu tinha vontade de chorar.

Voltei a secretaria e lá fui deixada com a D. Rafatt, que me disse só e simplesmente “Não podemos te ajudar porque você está na turma errada. Eu não posso te mudar”. Expliquei toda a situação para ela – e a professora do lado olhando – que eu já terminei o SAS 1, que eu tava esperando para começar desde maio (sim, cinco meses sem aula, eu podia estar pronta com essa joça!) e todo o etc e tal que aconteceu a respeito da outra escola. A tal da Rafatt achando problemas, a professora só me olhou e disse: “eu sou a professora do SAS 2 também, sexta feira 9h, mesma sala”.  E se foi.

A Rafatt continuou que eu teria que conversar com não sei quem e não sei quem dentro da escola (sendo que as duas pessoas não estavam) e que ela não podia me ajudar, que eu teria de ir na Vux e… Eu respondi, não preciso ir na Vux, tenho um contato lá dentro, eu ligo para ela agora mesmo. Liguei para a D. Angélica e falei que o pessoal da escola estava achando problemas para eu ficar, que tinha acontecido um erro do sistema e eu estava no SAS 1 ao invés do 2 e eles disseram que não podiam me mudar de turma… a Angélica me pediu para passar o telefone para a tal da Rafatt. E depois disso todos os “eu não posso” passaram para “eu já mudei você, seja bem vinda.”

Descobri que as escolas tem um medo danado do pessoal da Vux. A Angélica me ligou depois e disse que eu havia errado quando fiz a matrícula – não discuti, porque aconteceu o mesmo quando saí do SFI para o SAS: o sistema dizia que eu tinha feito a matrícula para o curso do SAS G quando eu tinha escolhido o A. O A passou a ser 1, e mesmo assim, agora o sistema diz que eu escolhi o 1, sendo que eu já tinha concluído o mesmo em maio…

Mas a Angélica me deu os parabéns também. Disse que precisando eu devo chamá-la se tiver mais algum problema – ao final, as escolas não perdem nada quando ficam enrolando o aluno… mas perdem muito se a Vux fica sabendo. Para algumas escolas sempre somos os imigrantes burros que não conhecem a língua, não sabem se defender e que podem ser enrolados…

Aposto que eles não contavam com a minha astúcia…

Sueco como segunda língua

Falei que eu ia chegar lá, e quero explicar uma coisa: pelo tom dos posts que escrevo sobre estudar sueco na Suécia e pela quantidade de reclamações que envolve o assunto parece que não estou contente como a coisa caminha. Para não deixar ninguém na dúvida: NÃO ESTOU CONTENTE com a forma como a coisa caminha.

É ser chata? É, mas parece que tudo na Suécia que é voltado ao imigrante funcionando meio boca tá bom: Arbetsförmedlingen é maravilhoso pra uns e desgastante para outros, SFI e SAS uma enrolação… Eu sempre me lembro da Paula me dizendo que eu não devia espera muito do SFI – mas brasileiro é aquela coisa né? Sempre alimentando uma esperança de que, quando for a minha vez, vai dar certo! E…

…deu, de certo modo. Eu falo sueco, mas não graças ao SFI, tampouco o SAS ajudou alguma coisa. E mesmo sendo tão ruim eu continuo porque eu decidi que com o diploma de Sueco como Segunda Língua a coisa seria mais fácil. Não sei se é mesmo, tem alguém lá na frente (com diploma de SAS) que pode me confirmar isso?? É…?

A última foi que para começar o segundo semestre de estudos esse ano (ainda penso o ano letivo como o brasileiro) fiz a matrícula em maio para continuar na mesma escola que estudei todo meu sueco (ABF), mas as vagas lá acabaram e fui parar naquela escola esquisita que falou só das saídas de incêndio e da página deles na internet durante um encontro obrigatório em junho (mó legal). Na segunda tive a primeira aula e descobri o porquê da tamanha ênfase que eles deram no site deles: o curso é a distância. A professora disse que a presença nas aulas não é obrigatória desde que o aluno faça todos os exercícios de uma ferramenta na internet chamada “Novo” (passei as férias inteiras recebendo um chamado no meu e-mail porque eu não tinha preenchido meu perfil no “Novo”, até entrei em contato com a escola para então receber uma senha que nunca funcionou… pensa se meu curso de sueco dependesse disso? Estaria literalmente lascada).

Não que ache que curso a distância não presta, penso que tem muita gente que se esforça muito quando faz um curso a distância e realmente estuda, estuda até mais do que pessoas que estão em um curso presencial. Mas eu não vou discutir a qualidade do ensino a distância e os seus méritos e/ou funcionalidades, uma vez que só posso afirmar mesmo é que ensino a distância não dá certo para mim e que eu não tenho ganas de estudar se tô me sentindo sozinha no barco. Eu sou literalmente uma Maria vai com as outras e preciso de companhia para me sentir motivada: estudar sozinha não rola!

Desisti do curso na Hermods (a tal escola para qual fui agora) e fiz a matrícula de novo, não antes sem preencher um formulário de reclamações junto a Vuxenutbildning explicando que eu estava muito desapontada por ter de esperar até setembro para começar meu curso já que eu tinha feito matrícula em maio, mas que eu preferia deixar de estudar agora do que “frequentar” um curso a distância – o qual eu não tinha escolhido. Por causa dessa reclamação o pessoal da Vux me ligou e afirmou que deixaram de firmar contrato com a Hermods porque eu não sou a unica estudante que reclamou e que disse não ao curso a distância. Segundo a encarregada que entrou em contato comigo a Hermods deveria oferecer o curso presencial (além do curso a distância) para que os alunos que não escolheram a modalidade a distância possam frequentar aulas presenciais.

Agora minhas férias de sueco foram estendidas até 17 de setembro. O negócio é me focar no trabalho e tentar aprender o que posso lendo e estudando por conta própria (durante esse tempo). No fim das contas, dá na mesma, por um período.

Vamos ver quais serão as cenas do próximo capítulo dessa novela!

Formatura Sueca

Uma das primeiras coisas que você percebe em toda casa sueca é uma foto (como essa aqui ao lado) do próprio dono da casa ou dos filhos no dia da formatura de ensino médio, ou Studenten Dag em sueco.

O ensino médio sueco é chamado de Gymnasiet e também tem três anos de duração. A diferença é que os suecos tem no mínimo 18 anos quando tem o seu Studenten Dag: um dia marcado por muita festa – a começar por um café da manhã com champagne.

Completar 18 anos é um marco muito grande na vida de todo sueco: com 18 anos espera-se que você termine a escola (tenha seu Studenten Dag) e se mude da casa dos seus pais para dar início a vida adulta. Nem todo mundo muda de casa imediatamente após os 18 e os pais não costumam “expulsar” os filhos depois disso, mas então toda e qualquer regalia paga pelo pais é cortada, para que o jovem trabalhe e pague o que precisa por si mesmo. A partir dos 18 anos os suecos não são mais barrados em alguns bares (alguns não permitem a entrada de menores de 20 anos, e não permitir a entrada significa que há um guarda pedindo documento de identidade para qualquer pessoa que aparente ser de “menor”) além de obterem permissão de comprar cigarros e bebidas no Systembolaget.

Fonte: Amanda Astrid (blog)

Uma das características marcantes da formatura sueca é esse quepe que me lembra um uniforme da marinha. Na verdade, os meninos parecem mesmo oficiais, porque todo mundo usa terno no dia da formatura. As meninas também usam o quepe e um vestido branco – a maioria delas. Como estamos vivendo a época das formaturas, é muito comum encontrar garotas e garotos no trem com seu traje de formando. Quem contou uma experiência bem interessante com relação a um Studenten Dag foi a Nara do blog Moda Escandinava. Quem quiser conferir mais detalhes e fotos pode clicar aqui.

Fonte: Samntha Ericsson (blog)

A formatura propriamente dita acontece pela manhã (quase meio dia) e depois dela os formandos são recepcionados pelos pais, que esperam pelo filhotes com uma foto do formando quando bebê. Além disso o pessoal entrega ao formando flores e um monte de badulaques que serão pendurados no pescoço. Depois os formandos costumam desfilar num carro aberto, caminhão ou qualquer coisa pela cidade, cantando, gritando, apitando e fazendo todo o barulho possível.

Algumas famílias de formandos organizam e oferecem uma recepção para alguns convidados. Esse ano eu participei de uma delas e o que as pessoas fazem é sentar, conversar e comer. O formando pode receber os amigos na recepção ou pode fazer parte do grupo de amigos que fica pulando de recepção em recepção. Normalmente o pessoal encerra a noite com muita bebida e festa longe da família em alguma boate da cidade.

Parece meio absurdo o tamanho da importância dessa festa, mas por aqui tem muita gente que não cursa a universidade depois do ensino médio. Segundo o Instituto de Pesquisas Sueco, um em cada três estudantes não completam o ensino médio em 3 anos e por esse motivo quase 50% dos alunos (em algumas kommunas) desistem do curso. O que não significa que esses jovens nunca terminarão o ensino médio, mas tem muita gente que por não poder participar da festa decide por fazer um tipo de supletivo – o Komvux.

Como eu já comentei por aqui o ensino médio sueco pode ser profissionalizante. Em Göteborg é muito comum que os jovens façam um ensino médio técnico em mecânica de automóveis – afinal de contas, a Volvo Caminhões e a Volvo Carros tem indústria por aqui; e mesmo quem não opta por esse tipo de curso durante o ensino médio pode frequentar diversos cursos profissionalizante pós ensino médio, os chamados yrkesutbildning.

Mas e daí como é que tem tanta gente “rica” morando na Suécia? Como é que o pessoal aqui nem estuda e tem tanto dinheiro? Porque a distribuição de renda no país é mais uniforme. Só por curiosidade: quem trabalha na Volvo (carros) na linha de montagem (precisa apenas ensino médio completo) tempo integral tem o mesmo salário de uma enfermeira ou assistente social (universitário completo).

Aí faz muito sentido uma formatura com pompa e circunstância!

Pequenas Grandes Coisas da Minha Vida Sueca #17

Esses dias me peguei pensando que não tenho ideia se os “episódios” de “Pequenas grandes coisas da minha vida sueca” estão numerados corretamente… Ainda não conferi, e se de repente o próxima capítulo for o número 33 não se assustem!

Ainda com relação ao blog, gostaria de pedir de novo para os leitores deixarem um coments sobre o novo tema/aparência/layout. Nem percebeu que o tema mudou? Legal, isso significa que meus textos são tão fascinantes que nem deixam que o leitor percebam qual a moldura… hahahaha! Eu to insistindo nisso porque é muito difícil eu receber críticas negativas aqui no blog – é sempre: seu blog é muito engraçado, você escreve muito bem, que linda sua história, que linda você é… ahh! Eu sou super né? Não que eu deseje que apareça alguém para furar os meus olhos e esmagar a minha auto estima, é que também é muito legal quando alguém deixa feedbacks construtivos. Pode ser, por exemplo, assim: Oi, adoro o seu blog mas…

Estou com saudades pacas do Brasil. Não do Brasil-Brasil, mas parafraseando a Maíra Albuquerque (menina, adorei o que tu escreveu sobre isso no Facebook!) TO COM SAUDADE DO MEU BRASIL! Sim, leitores de Maripá-Paraná, morro de saudades dessa “vila”, do leitE quentE esquenta a gentE, churrasco e bla bla bla etc e tal. Já escrevi isso aqui tantas vezes que até parece ladainha de missa, mas acredito nunca ser demais repetir que, apesar de ser uma princesa morando em um reino, minha vida não tem nada de conto de fadas. Esses dias me bateu uma saudade enorme de salão de beleza!

Por exemplo, é uma questão de senso comum que todo mundo que muda para a Europa começa a viajar mais; e isso está certo. Faz parte do mesmo senso comum que o viajar mais está relacionado a ficou rico; e isso está errado. Não posso dizer que meu salário é igual ao que eu ganhava no Brasil, porque não é. É maior o salário e o custo de vida também: aluguel custa no mínimo o dobro (triplo ou quadruplo se calcular pelo tamanho do apê que você ta alugando), a gasolina a R$4 pilas o litro e fazer uma obturação no dentista sai por no mínimo R$250 (por cárie, não por dente). Uma das primeiras coisas que a gente nota por aqui é a enorme quantidade de gente com dentes amarelos e tortos: amarelos por conta do “snus” e tortos porque eles preferem viajar a ter um “sorriso colgate”. Não tenho cárie e meus dentes são perfeitos, já meu cabelo…

Já reclamei em alto e bom tom – inclusive dediquei um post inteiro a esse “problema cabeludo” –   que os produtos para cabelo aqui – além de caros – simplesmente não combinam com meu humor: eu compro, uso duas ou três vezes – e meu cabelo fica bonito, a partir da quarta vez volta a paiosidade de sempre… Minha longas madeixas estão tão secas que não posso usar meu cabelo solto! E qualquer hidratação que você escolha num salão meia boca aqui custa no mínimo 300 pilas (por causa do tamanho do meu cabelo). A equação aqui se torna a seguinte: gastar 300 pilas para arrumar o cabelo ou comprar uma viagem de 3 dias para a Espanha pelo mesmo valor?

Fomos convidados para dois casamentos – os dois em agosto – e desde abril to procurando algum vestido bonito para a ocasião. Difícil, porque a moda sueca não caiu no meu gosto principalmente devido a questão das cores serem muito pastel. Agora no verão as vitrines deram uma colorida legal num movimento que eu nomeei de “restart sueco”: azul royal, rosa choque, verde limão, amarelo e laranja de trabalhador de rodovia… mas tudo o que é formal e festa tem as cores de sempre. Suecos tem um medo danado de estampas também, então o que você mais vê por aqui é o xadrez e listrado, qualquer coisa fora disso é muito simples, tipo verão, ou muito louca, tipo uma coisa para usar numa balada ou o quê, quando sua intenção é aparecer.

O tamanho europeu também é cruel com meu corpito: o 34 fica bom no busto, o 36 no corpo e o 38 na bunda. Com o 34 o busto fica perfeito, a questão é apenas quanto tempo eu aguentaria sem respirar ou respirando moderadamente – sem contar que eu pareço ter uma bunda de tanajura… O 36 fica um pouquinho grande nos seios, mas acho que daria para disfarçar legal usando dois sutiãs; ok no corpo mas a bunda ainda fica marcada demais. Se eu comprar o 38 fica mais ou menos legal na cintura e não marca tanto a bunda, mas então tenho de comprar enchimento para os seios. A maioria dos vestidos que não acompanham o corpo são bem esvoaçantes e cheios de “rabos” (como diria a minha mãe): um lado é mais comprido, ou atrás é mais comprido que na frente, ou o modelo tem várias pontas… Que saudade dos meus vestidos sob medida, lindos e floridos feitos pela minha mãe!!!

A vida é dura não?

To cansada pacas, trabalhei todos os dias no mínimo 5 horas desde a terça feira passada, e hoje ainda tenho que ir para a escola porque vai rolar a apresentação do curso de sueco do próximo semestre. Sorte que é o último curso que eu tenho que frequentar, porque mudaram minha escola lá para o caixa prego – 30 minutos de trem – e não me deram chance de trocar para uma escola mais perto daqui – apesar de ligar direto para o Vuxutbildning e chorar as pitangas.

Ta rolando a Euro Copa e com isso matei minha vontade de assistir futebol. Sério, adorei perder 90 minutos olhando um monte de homens correndo atrás de uma bola. Assisti Portugal e Alemanha (0x1), Itália e Espanha (1×1) e Suécia e Ucrânia (1×2). A Suécia perdeu depois de uma virada espetacular da Ucrânia, e eu percebi que mesmo num país que não tem no futebol um time forte e nunca ganhou uma Copa do Mundo que o pessoal pára tudo para assistir, compra camiseta, vai para os bares, torce, vibra e fica triste porque o único cara bom de bola do país (Zlatan) não consegue levar o time nas costas afinal. Apesar disso tudo, ninguém fala de outra coisa e realmente acredita que o time furreba da Suécia pode bater a Inglaterra na próxima sexta.

O otimismo sueco é mesmo inacreditável…

Coma comida ecológica!

Lancei um “ridículos” no meu bicho papão da solidão e transformei ele no Chacrinha. Rachei de rir, ele morreu de vergonha e fugiu. E como “quem não se comunica se estrumbica” tratei de dar um olá para todos os meus conhecidos suecos. Vou trabalhar mais a relação com esse povo, afinal, eu já sei que eles são “difíceis”, se eu ficar só reclamando nada vai mudar.

Falando nisso encontrei a Karolina ontem no mercado e fique morrendo de remorso. Na bem da verdade, foi ela que me encontrou, me deu um super abraço e me fez dar umas boas risadas. Eu realmente posso considerar ela minha amiga, e ela é SUECA. Pra você ver que tristeza é um sentimento traiçoeiro por demais… eu me fazendo de dodói, agora preciso morder a minha língua: eu tenho uma amiga sueca gente, e fui EU que esqueci dela.

A Karolina é enfermeira e vai casar em agosto com um dos melhores amigos do Joel. A gente tava fazendo um daqueles papos furados quando ela disse que tava morrendo de vontade de chips, e eu disse que nunca tenho vontade de comer essas coisas industrializadas, só comida ecológica e o que faz bem ao coração. Claro que ela riu (comedidamente, mas riu) e entrou na brincadeira, porque precisava de umas dicas para ser mais saudável.

O inverso seria mais sensato, uma vez que ela é vegetariana. Não que eu esteja a fim de me torna vego, mas eu tenho que admitir que os vegetarianos comem melhor, ou que, no mínimo, são mais criativos na hora de fazer compras e preparar um prato. Aprendi muito depois que mudei para a Suécia (e tive de me abdicar de comer a mesma quantidade de carne que comia antes) sobre alimentação, principalmente porque todo mundo busca um cardápio mais balanceado.

Hoje vamos ter o tal debate na aula. Há, eu realmente recebi um e-mail ontem as 10 e tantas da noite com o seguinte recado: “amanhã antes da aula nos encontramos e decidimos o que vamos falar.”… vá???!!!!!! Antes da aula quando? Tipo 5 minutos antes da aula? Odeio fazer trabalho em grupo, que palhaçada isso!

Fiz uns apontamentos, pesquisei uma série de sites sobre comida orgânica/ecológica e descobri uma série de coisas interessantes. Há uma tendência de que consumidores que optam pela comida ecológica (segundo o Bláblánomequenãolembroblá Institute da Suécia – um órgão que publica estudos sobre o que os suecos compram e etc) optam por um leque muito mais variado de produtos do que os que não compram comida ecológica. Concordo com isso: antes de entrar nessa a minha dieta sempre foi feijão com arroz e carne e salada. Gosto muito de macarrão, mas sempre que fiz macarrão foram duas modalidades: macarrão alho e óleo – para os dias de preguiça – e macarrão a carbonara (molho de tomate e carne moída); muitas vezes com feijão, mas sem salada. E salada sempre foi uma salada, de preferência alface ou tomate que é rapidinho por demais.

Sim, meu lema na cozinha sempre foi “por que complicar se não precisa”? Sou preguiçosa e feliz na hora de cozinhar também, e no meu caso isso pode ter mudado não porque comecei a comer comida ecológica mas porquê conheci o Joel; ele adora preparar um prato caprichado. Depois que eu introduzi o molho de tomate para o macarrão aqui em casa ele até decidiu fazer molho de tomate caseiro – sim, ele passou horas cozinhando tomates e testando esse e aquele tempero. Parece coisa de filme porque ele vai para a cozinha e solta um jazz; parece um chef cortando coisas e misturando e… eu olhando claro, pra aprender. =P

Mas sobre a comida ecológica: não há nenhum estudo científico que comprove que a comida orgânica/ecológica é melhor para a saúde do que a comida convencional. Entretanto uma pesquisa feita nos EUA em 2002 aponta que os primeiros apresentaram em média 13% de resíduos de substâncias químicas nas amostras enquanto os alimentos convencionais apresentaram em média 71%. Não precisa ser gênio para saber – e eu não concordo que seja senso comum acreditar – que resíduos de pesticidas e herbicidas prejudicam a saúde. Além disso, eu sou caipira bem, vi com esses olhos que um dia a terra há de comer… hahahaha. Brincadeira. Como eu morei no interior eu sei de muitas pessoas que se intoxicavam com “veneno de lavoura”. Se o alimento convencional não faz mal para quem come ainda faz muito mal para quem o produz.

A Universidade de Uppsala fez um estudo apontando que o problema dos orgânicos/ecológicos é que a produção desse tipo de produto não pode atingir uma grande escala. As perdas nas lavouras de orgânicos sempre são mais acentuadas do que nas convencionais que por utilizarem todo o leque disponível de “idas” (pesticidas, herbicidas, inseticidas…) e sementes transgênicas produzem mais. Segundo esse apontamento, se a humanidade escolher a produção orgânica condenará a fome milhões… Eita discursinho capitalista viu? Segunda a FAO jogamos fora cerca de 1/3 de tudo o que produzimos, seja por causa de transporte e armazenamento inadequado ou porque os alimentos que perdem a aparência viçosa perdem também seu valor comercial.

É fato que os alimentos orgânicos/ecológicos tem uma vida mais longa do que os alimentos convencionais – principalmente no caso dos hortifruti – uma vez que os convencionais tem mais água e por isso parecem murchar e adquirem a aparência de “velhos” muito mais rapidamente do que os orgânicos/ecológicos.  Consumidores habituados a comprar orgânicos compram alimentos mais maduros porque sabem que eles não vão estar podres no dia seguinte. Ainda segundo a FAO, na Europa até 115kg de comida são jogados fora por ano (per capita) contra 11kg na África. Na América Latina as perdas no processo de transporte/armazenamento chegam a 40% da safra anual. Acho que podemos muito bem passar sem transgênicos e os “idas” se aprendermos a utilizar, transportar e armazenar melhor os alimentos.

Foi por isso que o programa Fome Zero ficou tão famoso no mundo. Tem muita gente que acredita que Fome Zero era só um nome bonito para o Bolsa Família, e que fora disso muito pouco se fez. Ledo engano e falta de informação, para variar. O Fome Zero tem uma série de parceiros – entre eles o “Alimente-se bem com um Real” do Sebrae (não to certa que era do Sebrae mesmo, mas é um dos Ss) e os programas de apoio a Agricultura Familiar. É muito mais fácil para um pequeno produtor rural ser um produtor orgânico do que convencional: ele não precisa botar a cabeça a prêmio no banco anualmente para financiar a compra dos grãos e “idas”, além do que o objetivo da cultura orgânica é a qualidade e não apenas quantidade. Por isso mesmo em 2009 82% dos agricultores paranaenses que cultivavam orgânicos/ecológicos eram agricultores familiares.

Essas e outras coisas encontrei garimpando sites (em português ainda, claro) na internet sobre o mercado de produtos orgânicos no mundo – que cresce cerca de 8% ao ano. Escrevi um monte de tópicozinhos em sueco e daqui a pouco vamos ver se eu consigo falar na frente de todo o mundo sem gaguejar.

Pelo menos aqui no blog consegui convencer alguém?

Haha…