Palavrões suecos – Parte II

Há muito tempo atrás (às vezes eu sinto como se tivesse sido há décadas) falei um pouco das palavras enormes em sueco que são verdadeiros palavrões no sentido literal da palavra. Lembram que eu partilhei no post sobre trava língua suecos umas das maiores que eu consigo dizer? Aí vai:

Hidronevrukusticadiafragamkontravibrationer.

(pausa para respirar…)

Essa belezinha aí em cima nada mais é do que soluço (ou melhor, o termo médico para o soluço). Eu chateei muito o Joel quando ele me disse isso a primeira vez… a cada pessoa que eu apresentava ele, eu dizia: “Cara, sueco é uma língua muito louca! Fala soluço para eles em sueco Joel, fala!”.

Quem perdeu esses primeiros posts do blog (quando eu tinha aquela pretensão besta de ajudar os interessados na língua) e não está entendendo nada, aqui vai uma curta explicação: no sueco, você junta uma palavra com outra e forma uma coisa gigantesca para dar nome à algumas outras coisas. Um exemplo simples: cortar é att klippa e grama é gräs. Advinha como é que fica cortador de grama? Gräsklippare. Essas junções criam palavras enormes que às vezes é difícil pacas de pronunciar. Outros exemplos: Drottningtorget e Kungsportsplatsen: no primeiro Drottning é rainha e torget é praça (Praça da rainha); e no segundo, Kung é rei, sport é esporte e platsen é local, lugar (ou Campo de esportes do Rei).

Agora e os palavrões mesmo? Aqueles que são palavras feias? Como é que o sueco xinga?

A fonte já tá aí na figura...

A fonte já tá aí na figura…

Suecos xingam muito no jeito americano. “What a fuck man?”, “fuck you” e “your ass” são alguns dos que mais ouço, sendo que com certeza o primeiro da lista tá na boca da moçada o tempo todo. Com certeza isso é resultado do fato de os suecos não assistirem nada dublado por aqui uma vez que todas as séries e filmes são apenas legendados (também, dublar em sueco deve ser o ó). E isso pega gente! Eu mesmo vivo falando shit! desde que mudei para cá.

Entre os palavrões em sueco mesmo, acho que o mais popular deles é “fy, fan…” uma espécie de “diabos!”, que eles usam tanto no início da frase como no fim. Se você usa somente o fy fica mais ou menos como o nosso “nossaaa!” e não é considerado palavrão.

Talvez seria um erro afirmar que fy fan é um dos mais utilizados, uma vez que tudo depende do tipo de grupo com o qual você está acostumado e da época não é mesmo? Novos palavrões vão e vem com a moda. Assim que mudei para cá com certeza o que eu mais ouvia é o “jävla”, que pode ser traduzido de diferentes formas, entre eles maldito, maldição ou diabo (quando se usa jävel): aquele condutor maldito! seu idiota maldito! uma impressora dos diabos! No mais, se mandamos alguém à algum lugar é ao inferno (dra åt helvet – vá para o inferno), diferente de no Brasil que mandamos à muitos lugares. Além disso há os tradicionais, como “hora” (puta), “neger” (negro), helvet (inferno) e “kärring” (cadela) ou “gubbe” (velhaco), os dois últimos no pejorativo.

Na Suécia é muito feio utilizar palavrões. Jovens e principalmente adolescentes usam muito isso, mas não é legal soltar palavrões no ambiente de trabalho e você pode levar uma cara muito feia de uma mãe se começa a soltar impropérios em frente a crianças pequenas…

No meu ambiente de trabalho muitas pessoas usam palavrões. Acho que isso se explica devido ao fato de que estou em contato com gente que tem uma história de vida difícil e que não vai se importar em usar um vocabulário apropriado, assim, a gente que trabalha com assistência social fala muito palavrão.

Isso me faz lembrar que há também os palavrões socialmente aceitos, que não significam nada de mal mas realmente soam como algo sinistro, e esses são “sjutton” (dezessete) e “tusan” (mil). “Sjutton gubbar” (dezessete velhacos) aparece até mesmo em livros infantis (lembram do Alfons? Está lá).

Döh… Se alguém perguntar, (för sjutton gubbar!) não fui eu que ensinei ok?

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Döh… eu aprendi a pouco tempo e dizem que é uma forma bem gotemburguesa de chamar a atenção de outrem, que pode ser traduzida como o “Ei você” ou aquele “ô você” ou simplesmente “ô”.

Aprenda sueco com Alfons

Como prometido em fins de junho, aqui vai o primeiro post da série. Ao escrever os posts eu percebi que ficava longo demais e esquisito colocar a tradução do episódio, então achei melhor acrescentar três pequenas dicas ao fim de cada um. Além do mais, a tradução desse texto é bem simples de conseguir com a ajuda de um dicionário – serve como treino. Se alguém possui os livros vai perceber que os episódios narrados em vídeo apresentam  um texto um pouco diferente, mas a essência da história permanece. Ha det trevligt!

*****

Här är Alfons Åberg. Han är snäll och glad ibland. Och dum och busig ibland.
Just nu är han busig och ledsen för det är kväll och han vill inte sova. Nere på gatan är lamporna tända och klockan i köket visar snart nio, men Alfons vill ändå inte sova. 
– Snälla pappa, läs en saga!
Här är pappa. Han är nästan aldrig busig men snäll för jämna. Nästan för snäll. Som i kväll: fast klockan är så mycket tar han en sagabok. Han läser en lång bra saga om en häst.
Sen ger han Alfons en puss och släcker ljuset när han går. I dörren säger han:
– God natt och sov så gott.
Men Alfons vill inte sova gott. Han vill inte sova alls. Nu kommer han ihåg: han har ju glömt att borsta tänderna!
– Pappa! Vi glömde att borsta tänderna!
Pappa kommer snart. Alfons borsta sina tänder så noga, så noga. Varenda tand blir ren.
– Sov nu, säger pappa.
Men Alfons somnar inte. Han är förfärligt törstigt! det känner han nu. Förfärligt vad törstigt han är.
– Pappa!, ropar han. Jag är törstigt!
– Sov nu gott, säger pappa när han går.
– Pappa! Jag spillde! Det blev vått i sängen.
– Nä men, oj oj oj oj oj! säger han när han får se fläckarna.
Han torkar upp på golvet med några trasor och i sängen byter han lakan.
– Sov nu så gott.
– Pappa! Jag måste kissa!
Pappa kommer. Han har hämtat pottan i badrummet.
– Sov nu, ber pappa när han går.
Men Alfons somnar inte i alla fall. Han ligger och tänker på garderoben… Kanske, är det ett stort vilt lejon där inne?
– Pappa! Kom och titta! Det är ett stort lejon i garderoben!
Pappa kommer. Pappa hittar inget lejon.
– Lejon finns inte ofta i garderober. God natt och sov så gott. Och ropar helst inte mer för nu är jag så trött.
Men Alfons somnar ändå inte. Först måste han bara ha Nallen.
– Pappa! Nallen!
Pappa börjar leta. Han ser i hallen. Han letar i badrummet. Till slut finner han den längst in inne under soffan… Men pappa dröjer så mycket. Kommer han inte snart? Med Nallen. Vad konstigt. Varför kommer han inte? Vad håller pappa på med?
Men titta: nu har pappa läst saga, hämtat tandborste, kommit med saft, bytt lakan, torkat upp saft, burit potta, sökt efter lejon, hittat rätt på Nallen och blivit så trött som han somnar pladask mitt på golvet just som hade tagit fram Nallen under soffan. Alfons blir full i skratt pappa ser så skoj ut! Han ligger och snarkar riktigt gott.
– God natt och sov så gott, viskar Alfons.
Så vandrar han tillbaks till sängen.Han tänker att han ska inte ropa mera. En pappa som sover kan ju inte gå några ärende. Och kommer ingen när man ropar så kan det kvitta, tycker han. 
Och nu kan nog Alfons sova, han med. Schhhhhh… viska. Det ser ut som han sover… God natt, Alfons Åberg.
 
 

Resumo da história em português: Alfons é uma criança que esta fazendo de tudo para não dormir. Ele quer que o pai leia uma história (saga=conto, história infantil), depois lembra que esqueceu de escovar os dentes e que ficou com muita sede; e aí ele derruba saft (um tipo de bebida feito a base de flores) na cama, depois ele precisa muito fazer xixi e morre de medo de que haja um leão dentro do armário; por fim, ele quer o urso de pelúcia (todo o bicho de pelúcia é um nalle)… e quem acaba dormindo exausto é o pai que correu e deu assistência ao menino nessa folia toda.

Snäll é adjetivo para querido, bonzinho  enquanto snälla é por favor. Em português costumamos pedir, por exemplo, quando estamos a mesa: pode me passar o pão por favor? Mas em sueco se costuma usar o “kan jag få blablabla” para esses casos. Se você quer pedir um favor a alguém inicia a frase com snälla ou usa no fim da frase är du snäll; assim se você quer incluir no final de uma frase “kan jag få blablabla” um “är du snäll” fica extremamente educado, mas soa como se a pessoa estivesse implorando e portanto, não há problema algum em dispensar o complemento. Exemplos: Snälla, kan du räcka mig en handduk? (Por favor, pode me alcançar a toalha ou) Kan du räcka mig en handduk, är du snäll? 

Vad håller du på med? é o nosso “o que é que você está fazendo?” e serve tanto para uma pergunta simples como para mostrar surpresa ou revolta – quando a gente solta aquele indignado “o que você acha que está fazendo?”. A  combinação inte e alls é para indicar o nosso “de jeito nenhum”: han vill inte sova alls – ele não quer dormir de jeito nenhum! Já busig é um adjetivo que significa tanto manhoso e birrento quanto sapeca, travesso, genioso; depende do contexto. Alfons é manhoso – nessa história.

Por fim, o temido “kissa” que normalmente é confundido com “kyssa” (o primeir0 é xixi e se pronuncia quissa; o segundo é beijar na boca e se pronuncia xissa). Na prática, se você é daquelas pessoas que morrem de vergonha de falar em xixi ou cocô em público pode usar o jag måste gå på toa que serve para os dois. Ao contrário, crianças costumam gritar a todo o pulmão um “jag måste kissa/bajsa” (eu preciso mijar/cagar) ou jag är kissnödig/bajsnödig. O engraçado disso é que nöd serve para indicar uma situação de perigo! E é. A gente também pode usar o verbo pissa para mijar, que é o equivalente ao pipi que a gente fala para as crianças e que por isso pode soar infantil demais. Já o adjetivo para mijado é pissigt – vilken pissig dag!; algo que aqui soa mais ou menos como palavrão. Mas para “molhado até os ossos” pode usar sem medo “pisseblöt“.

Acreditam que tive de olhar no dicionário como é que se escreve cocô?

Sueco como segunda língua

Falei que eu ia chegar lá, e quero explicar uma coisa: pelo tom dos posts que escrevo sobre estudar sueco na Suécia e pela quantidade de reclamações que envolve o assunto parece que não estou contente como a coisa caminha. Para não deixar ninguém na dúvida: NÃO ESTOU CONTENTE com a forma como a coisa caminha.

É ser chata? É, mas parece que tudo na Suécia que é voltado ao imigrante funcionando meio boca tá bom: Arbetsförmedlingen é maravilhoso pra uns e desgastante para outros, SFI e SAS uma enrolação… Eu sempre me lembro da Paula me dizendo que eu não devia espera muito do SFI – mas brasileiro é aquela coisa né? Sempre alimentando uma esperança de que, quando for a minha vez, vai dar certo! E…

…deu, de certo modo. Eu falo sueco, mas não graças ao SFI, tampouco o SAS ajudou alguma coisa. E mesmo sendo tão ruim eu continuo porque eu decidi que com o diploma de Sueco como Segunda Língua a coisa seria mais fácil. Não sei se é mesmo, tem alguém lá na frente (com diploma de SAS) que pode me confirmar isso?? É…?

A última foi que para começar o segundo semestre de estudos esse ano (ainda penso o ano letivo como o brasileiro) fiz a matrícula em maio para continuar na mesma escola que estudei todo meu sueco (ABF), mas as vagas lá acabaram e fui parar naquela escola esquisita que falou só das saídas de incêndio e da página deles na internet durante um encontro obrigatório em junho (mó legal). Na segunda tive a primeira aula e descobri o porquê da tamanha ênfase que eles deram no site deles: o curso é a distância. A professora disse que a presença nas aulas não é obrigatória desde que o aluno faça todos os exercícios de uma ferramenta na internet chamada “Novo” (passei as férias inteiras recebendo um chamado no meu e-mail porque eu não tinha preenchido meu perfil no “Novo”, até entrei em contato com a escola para então receber uma senha que nunca funcionou… pensa se meu curso de sueco dependesse disso? Estaria literalmente lascada).

Não que ache que curso a distância não presta, penso que tem muita gente que se esforça muito quando faz um curso a distância e realmente estuda, estuda até mais do que pessoas que estão em um curso presencial. Mas eu não vou discutir a qualidade do ensino a distância e os seus méritos e/ou funcionalidades, uma vez que só posso afirmar mesmo é que ensino a distância não dá certo para mim e que eu não tenho ganas de estudar se tô me sentindo sozinha no barco. Eu sou literalmente uma Maria vai com as outras e preciso de companhia para me sentir motivada: estudar sozinha não rola!

Desisti do curso na Hermods (a tal escola para qual fui agora) e fiz a matrícula de novo, não antes sem preencher um formulário de reclamações junto a Vuxenutbildning explicando que eu estava muito desapontada por ter de esperar até setembro para começar meu curso já que eu tinha feito matrícula em maio, mas que eu preferia deixar de estudar agora do que “frequentar” um curso a distância – o qual eu não tinha escolhido. Por causa dessa reclamação o pessoal da Vux me ligou e afirmou que deixaram de firmar contrato com a Hermods porque eu não sou a unica estudante que reclamou e que disse não ao curso a distância. Segundo a encarregada que entrou em contato comigo a Hermods deveria oferecer o curso presencial (além do curso a distância) para que os alunos que não escolheram a modalidade a distância possam frequentar aulas presenciais.

Agora minhas férias de sueco foram estendidas até 17 de setembro. O negócio é me focar no trabalho e tentar aprender o que posso lendo e estudando por conta própria (durante esse tempo). No fim das contas, dá na mesma, por um período.

Vamos ver quais serão as cenas do próximo capítulo dessa novela!

Pequenas Grandes Coisas da Minha Vida Sueca #11

O SAS começou e a minha indisciplina, somada a decisão de ir para a academia ao menos 3 vezes na semana são as minhas desculpas esfarrapadas para a ausência de posts. Inspiração e assunto não faltam, muito menos tempo, mas  minha capacidade inata de gastar muito tempo filosofando sobre a cabeça de um alfinete torna tudo um pouco mais complexo.

Uma das coisas que tem me deixado bem feliz esses dias é que meu pai e mãe estão usando a internet agora, e isso facilita e muito a comunicação. Agora a gente não precisa falar 5 minutos e desligar. Melhor para mim, pior para eles  porque tem que ficar dentro de casa naquele calorzão absurdo que anda fazendo no sul do Brasil – que continua recebendo poucas visitas da Senhora Chuva!

Falando em tempo, vivi minha primeira experiência – que vou chamar de extrema – de contato com o frio: saí na noite de sábado com o Joel para dar uma voltinha de 10 minutos quando os termômetros marcavam MENOS DEZOITO GRAUS!! Não que eu quisesse, mas depois de o Joel muito insitir – e de aguçar a minha curiosidade com uma história de que o gelo “canta”, vesti todas as roupas térmicas disponíveis na casa da mãe dele e fui. A sensação é de que os dedos vão virar picolé se você não se cuidar…

A respeito do gelo cantante, é realmente impressionante. Os pais do Joel moram perto do lago Mjörn – que tem 55 quilômetros quadrados – e que está coberto por uma nata de gelo. Como o frio chegou mais tarde esse ano, não é seguro caminhar sobre o lago – apesar de ter muita gente fazendo isso – porque o gelo não se forma de modo uniforme e não há como saber se a espessura é maior do que 10 cm – o recomendado para que uma pessoa não seja engolida por uma rachadura. A temperatura caiu tanto no fim de semana que fez com que o gelo trabalhasse, e o ruído do gelo se formando e deformando é alto: como o som que ecoa quando batemos em um cano de ferro, seguido de agudos e “kraks” de possíveis rachaduras… Show, mas eu nem precisei chegar perto do lago para ouvir, e na verdade, não teria coragem de ficar sobre o gelo com toda essa “movimentação”.

O Mjörn no verão...

O Mjörn no inverno... com o Joel em pé mais ou menos no mesmo lugar onde antes estava o atracadouro para os barcos!

No domingo nevou e as temperaturas voltaram a subir. Foi a primeira vez que teve um dia de neve inteiro desde que eu cheguei, e eu posso dizer que é mais do bonita; a neve não cai, ela flutua em direção ao chão, e pode mudar de curso a qualquer momento: vai para os lados, em diagonal e até mesmo para cima. Muito lindo mesmo e acho que a melhor forma de descrever é mysigt, esse adjetivo danado que significa tudo de bom e gostoso…

E o SAS… não sei ainda, tenho esperança de que seja intenso, difícil e bom. Quem não lembra ou não sabe, o SAS é o curso de sueco como segunda língua (svenska som andra språket) para quem quer aprender o sueco de nível avançado. Gostei do SFI, mas toda a gramática do sueco que aprendi até agora fiz sozinha ou com as orientações da Gunnel. Espero aprender isso no SAS e se não for, daí sei lá, faço um curso universitário.

Quem sabe não me matriculo em um curso de etimologia da língua sueca e aproveito para usar ainda mais a minha capacidade de filosofar?

Decifra-me ou te devoro! [afirmações]

Quem conhece a história de Édipo sabe que ele enfrentou a Esfinge nas portas da cidade de Tebas, que devorava a quem não conseguia desvendar-lhe um enigma. A esfinge é uma figura mitológica imponente com corpo de leão, asas de águia e cabeça de mulher, enviada por Hades para trazer sofrimento aos homens com o seu decifra-me ou te devoro. Eu brinquei muitas vezes com essa frase por aqui porque foi assim que eu realmente me senti com relação ao sueco.

Porque? Todo mundo fala sueco comigo desde o início, para me ajudar. Boommmm. Bra. Menos pelo fato de que muitas vezes não dá para entender e não dá tempo de ficar recebendo explicações. Exemplo: quando alguém conta uma piada. Todo mundo está rindo. Menos eu. Quando tem um grupo de pessoas conversando não dá para usar o Joel como tradutor (ele é mais tagarela do que eu). Então eu me sinto na obrigação de decifrar o enigma, ou serei devorada pela língua.

Eu comecei a me sentir mais confiante depois que estudei o último livro que a Gunnel me emprestou porque ele mostra a ordem das classes de palavras em uma frase. A importância de entender isso é porque o sueco é muitas vezes escrito/falado como que ao contrário do português, a exemplo do inglês e outras línguas não latinas. Para mim isso é uma coisa difícil já que as frases ficam totalmente “erradas” na lógica do português. Eu passei 26 anos falando apenas português, então não tenho o menor problema em admitir isso e estou convencida o suficiente para afirmar que me saio razoavelmente bem, apesar de fazer confusão em alguns casos.

A primeira dica é: verbos sempre ocupam a posição número dois na ordem de palavras em uma frase. Se você começa com o sujeito ou com o tempo (no sentido espaço tempo; ou seja, os dias, meses, semanas, anos) não importa, o verbo vai estar na posição dois.

Ex:

Jag tycker om att titta på filmer. Igår tittade jag på en film hemma.
Han har en motorcykel. Imorgon vill han åka till Norge.

Dica um: sempre use a forma “ontem, blá blá blá eu/nós/eles…” e/ou “amanhã, blá blá blá eu/nós eles…”; sendo que blá blá blá é um verbo, obviamente. É errado dizer “eu/nós/eles blá blá blá ontem” e/ou o mesmo com amanhã? Não. Mas soa muito melhor aos ouvidos de um sueco porque eles usam esse modelo. Não é difícil perceber nos textos em jornais e/ou o quê mais do mesmo. Dica da Gunnel.

Então, voltamos ao exemplo: o verbo (em azul) sempre está na posição dois. Obviamente, essas são frases simples, mas todas as frases são formadas por sentenças com a mesma lógica: sujeito, verbo1, verbo2 (se houver), objeto, lugar. E quando existem dois verbos na frase, o segundo sempre estará no infinitivo, à moda do que acontece no português: eu gosto de assitir filmes/amanhã ele quer ir para a Noruega. No exemplo, o verbo 2 está em vermelho.

A regra é a mesma para quando você utiliza aquilo que os suecos chamam de hjälpverb (mais aqui): posso, quero, vou, devo…: du måste städa ditt rum/jag vill ha te, tack. Hjälpverb em verde! E para o caso de alguém se animar porque a coisa estava ficando fácil, detalhe: se você vai falar de amanhã ou ontem, para soar mais sueco, a frase fica diferente: imorgon måste du städa ditt rum/igår villde jag ha te. Ou seja, as posições devem ser: tempo, verbo 1/hjälpverb, sujeito, verbo 2 [no infinitivo!], objeto, lugar…

Eu demorei muito tempo para começar a entender porque o jornal parecia uma sopa de letrinhas, mas agora eu sei que é tudo culpa dos advérbios. Quando eles entram em cena a salada está completa. Advérbios, para quem fugiu das aulas de gramática, são a classe de palavras que mudam (principalmente) um verbo. O exemplo mais simples é não: eu sei jogar bola/eu não sei jogar bola.

Jag sover alltid efter jobbet. Jab har aldrig sett den här filmen. Jag brukar inte läsa på kvällen.

Os advérbios (em rosa) sempre estarão depois do verbo 1, ou no caso do passado perfeito (oração dois do exemplo acima), entre o conjunto de verbos da expressão do [passado perfeito]: sujeito, verbo1/hjälpverb, advérbio, verbo2, blá, blá… Mas se você quer soar bem sueco, colocando o tempo no início da frase (para o caso de imorgon e igår principalmente, quase que obrigatório!) tudo muda: på kvällen brukar jag inte läsa – tempo, verbo1/hjälpverb, sujeito, adverbio, verbo 2, blá, blá… Lembre-se que apenas também é advérbio, assim como às vezes: jag brukar ibland läsa tidnigen/jag vill bara ha en kop kaffe, tack.

Eu ainda estou aprendendo, e não é difícil confundir. Quem tem mais dicas, à vontade!

SFI – Capítulo III

Eu falei um pouquinho sobre a minha volta às aulas em um dos posts passados sobre verbos. Mas, só para atualizar, a volta às aulas foi dia 10 de agosto e não foi um dia de aula e sim mais um dia do que eles chamam dia de informação e que eu considero dia de enrolação: apareceu o Sr. Professor que falou praticamente apenas em inglês e nos deu os horários.

Então eu comecei mesmo no dia 15 de agosto. E foi muito legal com uma turma nova de alunos de diversas turmas. Alguns caras da minha velha turma também estavam lá. E o professor – graças a Deus – não era o mesmo cara do dia de informação. O nome dele é Pontus e ele é super dinâmico, explicando tudo o que era possível de cada palavra que alguém dizia não entender. Foi tudo o que eu gostaria que fosse o curso de SFI: a gente recebeu um texto que foi lido, interpretado e discutido; e depois, falamos um bocadinho sobre gramática. Nada de novo, mas foi a primeira vez que o professor usou a frase: agora vamos estudar a gramática do sueco… e ainda nos deu um pequeno resumo com as principais classes gramaticais da língua.

Como eu trabalho pedi para mudar meu curso para a noite, que aqui eles chamam de kväll (entre 17h e 22h). Eu não esperava conseguir uma vaga rápido e para minha surpresa a coisa aconteceu num raio pois, quando cheguei em casa na segunda feira depois da aula, o Joel já tinha recebido um telefonema me avisando que a minha primeira aula a noite seria na terça feira 17h30 numa escola nova – a Odinskolan – no centro da cidade.

Legal, fui para lá na terça e tive um repeteco do dia de informação, com a pequena diferença de ter que fazer uma provinha. Foi bem legal porque reecontrei a primeira professora, aquela Maria que ia para África mas agora vai para a Austrália. Dizem que a primeira professora a gente nunca esquece e bem, essa Maria foi realmente especial, ela foi ótima conosco. Depois da provinha a gente até bateu um papinho – uma coisa bem leve porque meu sueco não é aquele nível.

Em todo caso mudei para nova turma – de novo – num nível intermediário D (um tipo do nível D para quem tem algum ponto forte e outros fracos) com aulas na quartas feiras 17h30min. Esse é o meu horário oficial a partir de agora. Eu tenho que confessar que fiquei um pouco triste com essa de mudar de turma logo quando eu tinha encontrado um professor tão bacana… até conhecer a professora nova.

Ela chama Birgitta – nome típico da Suécia – e tem 60 e alguns anos. E é uma mulher vibrante que nos deu uma aula completa: explicou gramática com história e geografia e cultura e blá blá blá apenas falando da kräftfest. Eu sou a pessoa que fala menos sueco na turma, porque todos os outros alunos estão na Suécia há pelo menos um ano. Muitas das coisas que eles falaram eu boiei. E daí? Adorei. É ótimo estar numa turma onde o pessoal é mais do que você, ao menos a mim me impulsiona a correr atrás.

Fizemos prova de novo e a professora me elogiou dizendo que logo posso fazer a prova nacional de conclusão do SFI. Já? Eu pensei. Pode  parecer falsa modéstia, mas o caso é que apesar de essa não ser a primeira vez que elogiam o meu sueco, eu não penso mesmo que seja bom. Não consigo acompanhar uma conversa sem ficar bastante perdida e usar de adivinhação para ir empurrando com a barriga. Se a pessoa não fala claro e devagar eu não consigo acompanhar, e quando tem um monte de gente falando… eu faço cara de paisagem e fico só escutando, sem tentar entender.

É claro que fiquei feliz, afinal passei três meses lendo sueco. Mas também fiquei um pouco triste porque percebi que SFI é só isso mesmo: um curso para apresentar a língua aos estrangeiros e para prepará-los para dizer e entender só o básico, aquelas coisinhas que todo mundo precisa saber para se virar no dia à dia.

Enfim, eu deixo um recado para quem está vindo ou começando: tente falar. Procure fazer amigos suecos e tente conversar. Converse com seu partner em sueco, ele é a melhor pessoa para ajudar, acreditem ou não. Não fique stressado quando alguém te corrige a pronúncia ou a formação da frase, agradeça. Tem gente que não fala nada e tira sarro da sua cara assim que você virar as costas. Paciência é bom, também, principalmente quando tudo que você quiser for falar outra coisa que não sueco… respire fundo e continue…

Afinal, depois do SFI você pode fazer SAS. Ou universidade…

Verbos pra que te quero! Parte II

No primeiro post falei um pouquinho sobre o infinitivo e presente, e agora vamos falar sobre os verbos no futuro e aquilo que são os “hjälpverb”, que eu não consegui adequar a alguma classe da gramática portuguesa. Se alguém diplomada em letras (Anelise!) está lendo o post, pode deixar um coments para explicar a classe gramatical – =P.

Os verbos suecos no modo presente podem ser utilizados para indicar um futuro (framtid) bem próximo como o que vai acontecer a noite ou no fim de semana, por exemplo: Kommer du hit i kväll? Nej, jag reser till Malmö med tåget imorgon. Jag ringer dig nästa vecka. Apesar de todos os verbos estarem no tempo presente – kommer, reser, ringer [chego, viajo, ligo]; é possível entender que essas são coisas que vão acontecer por causa das palavras à noite (i kväll), amanhã (imorgon) e semana que vem (nästa vecka). Sendo assim, você pode construir frases para o tempo futuro (não mais distante do que a próxima semana) utilizando verbos do presente mais palavras indicativas de um futuro próximo, como as do exemplo acima.

Para indicar um futuro longíquo e/ou aquilo que está sendo planejado/decidido, a forma da frase será o ska+verbo no infinitivo, sem o uso do att. Exemplo: Vad ska vi göra i juli (o que vamos fazer em julho)? Vi ska till stranden (vamos para a praia)! A Helena me disse várias vezes que o SKA só deve ser utilizado quando você tem certeza que aquela coisa é o que você quer e que você decidiu fazer, porque pronunciar um jag ska… (eu vou…) para um sueco é semelhante a uma promessa. Para indicar o futuro das coisas que não se tem certeza usa-se o kommer att+verbo no infinitivo, exemplo: Maria kommer att få jobb om hon pratar bra svenska (A Maria vai conseguir um trabalho se ela fala bom sueco). Nem é bom meu sueco e eu trabalho!

Existem coisas que podem acontecer no futuro que não dependem da nossa decisão e que não podemos mesmo exercer controle, como por exemplo chover. Sabe aquela velha será que chove? E é sempcre bom aprender sobre o tempo porque os suecos adoram falar sobre isso. Para essas coisas você usa blir, que é uma espécie de verbo para o ser ou estar. Então: Det blir regn i kväll (vai chover à noite). Det blir kallt nästa vecka (vai estar frio semana que vem). Ou para uma pergunta do tipo será que vai ter festa fim de semana? Blir det någon fest på helgen?

Por fim, o hjälpverb  ou aqueles verbos que aparecem em uma frase para complementar o sentido da afirmação, negação ou interrogação, como kan, måste, ska, vill, bör, brukar (posso, devo, vou, quero, deveria, costumo); e outros que não costumam ser hjälpverb mas que aparecem vez ou outra em uma frase com esse papel como tänker, får, behöver, börjar, slutar, försoker (penso, posso – me é permitido, preciso, começo, termino, tento). Acredite, você vai utilizar muito! E a fórmula é hjälpverb+infinitivo. Exemplos:

Jag behöver lära mig svenska.
Jag kan tala portugisiska.
Jag måste läsa till provet imorgon.
Vi börjar jobba klockan nio varje dag.
Vi brukar  på bio på helgen.
Hon tänker resa till Italien.
De ska vara hemma i kväll.
 

Procure lembrar sempre de colocar o verbo prinicipal no infinitivo quando usa um hjälpverb na frase, porque do contrário a pronúncia e construção da frase fica totalmente errada, é só comparar em português como seria: Jag kan forstår svenska – eu posso entendo sueco, está errado e soa mal.

Mais importante do que falar muito, é falar bonito. Coisas de Suécia!

Verbos pra que te quero! Parte I

Voltei para o SFI hoje, e a primeira impressão é de: fuja garota! Corraaa!!!!!! Minha professora Maria foi para a Gambia (ou algum país da África) participar de um projeto de pesquisa e o novo professor fala mais inglês do que sueco. Fiquei frustrada, mas ainda não perdi a esperança já que tudo começa para valer apenas na segunda, se Deus quiser!

Mesmo que a Gunnel acabou por me dar férias forçadas – não sem antes me emprestar um ótimo livro – aprendi algumas coisas sobre verbos. Os verbos são uma coisa maravilhosa na língua sueca, é a parte que eu mais gosto, e a mais descomplicada. Nem por isso é pouca coisa para aprender, por isso vou escrever apenas sobre o infinitivo e o presente.

O infinitivo – verbo sem nenhuma conjugação – ou verbo base é bem tranquilo e parecido com a gramática do português. Exemplo: quando eu digo eu sou, estou conjugando o verbo ser no tempo presente. É a mesma coisa no sueco, sendo que o verbo no infinitivo normalmente terminam em ‘a’ (a grande maioria deles) e pode estar acompanhado de att.  Exemplos:

→ att vara – att prata – att ha – att vilja – att åka (ser/estar, falar, ter, querer, ir – de ônibus ou trem ou carro ou moto).
→ att hoppas, att bli, att finnas, att dö, att gå (esperar – de esperança, ser/estar, existir, morrer, ir – a pé). 

Já o verbo no tempo presente é terminado em r ou s, dai que sabendo o verbo no infinitivo não é muito complicado acertar o verbo no presente. O verbo do presente terminados em r são a maioria, e essa terminação pode significar um ar, er ou simplesmente r. Exemplo:

→ final ar: att titta, att jobba, att prata – tittar, jobbar, pratar (assistir, trabalhar, falar – assisto, trabalho, falo).
→ final er: att komma, att ringa, att läsa – kommer, ringer, läser (chegar, ligar, ler – chego, ligo, leio).
→ final r: att gå, att ha, att förstå – går, har, forstår (ir, ter, entender – vou, tenho, entendo).
 
 

É claro que os verbos no presente ficam mais claros quando conjugados, e penso que conjugar os verbos suecos é muito simples pois eles não mudam de pessoa para pessoa. As “pessoas” da gramática sueca são eu, nós, ela, ele, eles/elas, você, vocês: jag, vi, hon, han, de/dem, du, ni. Uma pequena observação: você escreve de ou dem para eles/elas, mas a pronúncia é dom. Hummm e não tem nenhuma relação de gênero do tipo de é para eles e dem é para elas, ok? De significa eles ou elas, e o mesmo dem. Então lá vão exemplos com att förstå (entender) no tempo presente:

Jag förstår (eu entendo). 
Vi förstår (nós entendemos).
Hon förstår (ela entende).
Han förstår (ele entende).
De förstår (eles/elas entendem).
Du förstår (você entende).
Ni förstår (vocês entendem).
 

O sueco não tem ando, endo, indo;  de trabalhando, comendo, dormindo; por exemplo. Se alguém te pergunta: vad gör du (o que você tá fazendo)? A resposta é  somente eu “isso”: jag jobbar, jag äter, jag sover (eu trabalho, eu como, eu durmo), por exemplo. Em português a gente está acostumado a dizer o “eu estou trabalhando” e você pode fazer a tradução das frases dessa forma,  mas em sueco o verbo ser/estar (att vara) não serve para indicar um presente contínuo e sim para expressar estado de espírito como por exemplo eu sou feliz (jag är glad), ou sensações como frio, calor (jag är kalt, jag är varm); se está doente ( jag är sjuk)… então não use nunca, jamais  use para o “eu estou [ação]”.

E apenas como introdução – porque eu já estou escrevendo um post sobre como se constroem frases em sueco – o sueco é escrito ao contrário do português nas negativas. Então quando você quer indicar que você não faz determinada coisa, o verbo vem antes do não exato como em inglês: jag pratar inte svenska (eu não falo sueco), por exemplo.

A título de curiosidade, gostar em sueco é att gilla, mas não é utilizado para fazer perguntas do tipo você gosta de música? Ao invés disso você usa att tycka: tycker du om musik? Ja, det tycker om jag. E o pulo do gato é que att tycka é na verdade pensar, e por isso você precisa usar o om (que pode ser traduzido como se ou sobre), senão o verbo indica o que você pensa: jag tycker att [eu penso que]ou jag tror att [eu acho que]… Enfim, att tycka é para certezas e opiniões, e att tro é para achismos. Só relembrando, não esqueça do om para saber dos gostos suecos!

Tycker du om lära sig svenska?

* Um abraço especial a Helena Ingelsson que me ajudou a escrever o post! Tack så mycket Helena!

Família! Familj!

O Joel tem uma tia fantástica que me ajuda estudar sueco uma vez por semana ou menos, mas quando eu me encontro com ela aprendo uma série de coisas importantes, principalmente no que se refere a gramática do sueco, comportamento sueco, pronúncia (utal) e macetinhos!

Hoje eu estava lembrando a nossa primeira aula quando a Gunnel – nome tipicamente sueco – me falou sobre família sueca. Para mim família é formada por diversos núcleos: os meus pais e prole, os pais dos meus pais e prole, a prole da prole dos pais dos meus pais, assim como a prole dos meus irmãos e em alguns casos também os tios avós e segundos/terceiros primos; e quem tem sorte, pode contar os bisavós e além. Minha família tem 44 pessoas.

Na Suécia, família é só um núcleo: pai, mãe e filhos; ou pai e filhos; mãe e filhos; só o casal; bla bla bla… percebe? Os avós podem ou não estar inclusos na família, mas os tios, tias, primos e primas não são considerados na “minha família”: são os parentes e/ou “outra família”, e muitas pessoas nem chamam os tios ou tias de, apenas pelo nome. É claro que os laços de sangue contam, mas a questão não tem a importância a que eu estou acostumada. Obviamente, existem exceções – a família do meu namorado por exemplo, todo mundo conta – são 10 ao todo: os pais do Joel, suas irmãs, sua tia, seus tios, os avós.

Mesmo que não esteja muito na moda usar essas denominações, é interessante saber, mesmo porque é bem engraçado como os suecos separam quem é parente por meio da mãe de quem é parente por meio do pai. Além disso, outro dia eu conversei com uma moça que disse: ah, é tão confuso essa coisa de tio e tia em sueco,  você não acha? No começo, precisa pensar um pouco para organizar tudo, mas sabendo algumas palavras é simples.

Do princípio: pai em sueco é far e mãe é mor. Tendo isso em conta, você pensa nos avós como o pai da mãe e a mãe da mãe: morfar och mormor; o pai do pai e a mãe do pai: farfar och farmor. Nessa lógica, os tios e tias são os irmãos da mãe e as irmãs da mãe: morbror och moster; os irmãos do pai e as irmãs do pai: farbror och faster. Ou seja: você não trata os parentes não consanguíneos por tio ou tia.

Irmãos se diz syskon, irmão bror e irmã syster. Por exemplo: Jag har tre syskon, två systrar och en bror (eu tenho três irmãos, duas irmãs e um irmão). Eu já falei sobre isso em outro post, mas eu vou lembrar aqui que quando você se refere ao irmão mais velho em sueco usa o adjetivo grande, e ao irmão mais novo o adjetivo pequeno. Seria assim: eu tenho um grande irmão/ uma grande irmã – jag har en store bror/stora syster; eu tenho um pequeno irmão/ pequena irmã – jag har en lille bror/lilla syster.

Os primos são só e simplesmente kusiner (um primo/a=kusin), e todos os sobrinhos são syskonbarn. Mas se é um filho da minha irmã eu posso dizer systerson, ou se for uma filha systerdotter; se for um filho do meu irmão brorson,  ou se for uma filha brordotter. Como neto é o filho do filho é barnbarn.

Cunhado e cunhada só contam se forem casados. Sambo (quando mora junto) é o namorado ou namorada do irmão/irmã. Mesma coisa para nora e genro. Sendo assim eu deixo passar, porque é bem mais simples tratar dessa forma (namorado/a tals) do que guardar um nome que eu não ouvi ninguém mencionar – fora da Gunnel.

Além disso, como meu cunhado sempre diz: “Se cunhado fosse coisa boa, não começava com…” De vez em quando pode ser, mas Bah e Marcelo, saudades d’ocês!!!

Eu fiz uma árvore da família - ficou assim assim mas tem tudo...

Isto é confuso…

 Passei uma semana sem escrever no blog, porque eu tenho problemas com o Word Press. Constantemente ele muda sozinho as configurações e eu perco o maior tempo arrumando tudo: cada vez que vou escrever um post preciso autorizar os comentários, a conexão com Facebook, e até refazer o visual do blog!

Bem, para não parecer que eu sou tão boba assim com coisas de internet, volto para o sueco – no qual eu ainda estou bem boba. Minha palavra preferida é VAD (= o que) que eu uso com um grande ponto de interrogação na esperança de que a segunda tentativa de entender seja mais bem sucedida que a primeira. Normalmente a pessoa ri e repete um pouco mais devagar… mas eu não aconselho a tentar isto com pessoas mais velhas. Porque – de novo – o sueco (idioma) falado da forma correta é uma coisa imensamente importante. Então você deve usar o “Forlåt! Skulle du kunna upprepa det långsammare?” (Desculpe! Será que você pode repetir isto devagar?). É, a vida é dura…

No vácuo de en e  ett, o sueco tem o den e det; eles funcionam quase como este/esta; esse/essa. Você vai utilizar para uma referência ao substantivo, então en ord utiliza den, e ett ord utiliza det. Den e det também aparecem como denna e detta, como no caso de essa semana – denna vecka, por exemplo; mas comunente servem mais para aquilo/aquele/aquela.

Isso parece imensamente confuso porque é imensamente confuso. Os próprios suecos só sabem isso porque repetiram a vida inteira, e se você pergunta, por exemplo, mas por que?; vai receber um sorriso e porque é. Mas, eu tenho uns exemplos de um site sobre sueco (para ver, e não para entender):

Jag vill kopa bilen röda den(Eu quero comprar um carro vermelho.)

Vi bor i det huset röda. (Nós vivemos na casa vermelha).

Den e det não são utilizados quando o substantivo está no plural. Nesse caso, é utilizado de (que se lê dom): De röda bilen (os carros vermelhos). De significa também eles, elas (ele=han, ela=hon, eles/elas=de).

Em muitas frases você vai ver o DET como it, sem nenhuma razão relacionada a um substantivo. Por exemplo, se alguém lhe pergunta (diálogo sueco): Chega você para nós na quinta (kommer du till oss på torsdag)?; você responde: Sim, isto faço eu (ja, det gör jag). Dai não importa en ord ou ett ord, você utiliza o det simplesmente porque ele indica o sujeito da frase. Em sueco ninguém diz está frio, diz isto é/está frio!: det är kalt!

Dai que uma frase boa de saber é vad är det på svenska? (o que é isto em sueco?). Quando o objeto está longe, utilize o detta (e o dedo… afinal, é preciso apontar o que se quer saber =P).

E por fim, meu e seu também estão no vácuo de en e ett: min/mitt e din/ditt. Min bil. Mitt  hem. Din bil. Ditt hem. No plural usa-se apenas mina e dina.

E o plural… bem eu adoro português porque o plural é com s!!

SFI – Capítulo II

A Maíra me fez algumas perguntas e eu pensei em compartilhar as respostas com todo mundo. Já que quem sabe alguém mais tenha as mesmas questões.

Só recapitulando, que eu esperei meu personnumner chegar para depois ir ao SFI fazer uma matrícula. Quando disso, um cara muito legal me atendeu, me explicou que eu teria que esperar (provavelmente até agosto), que se eu tivesse sorte cursaria quem sabe uma semana antes do fim do semestre, que eu faria um teste de nivelamento para saber em qual turma eu entraria, e que acaso eu quisesse, o SFI tem um bônus para bons alunos.

O SFI tem um padrão nacional e conta com 4 níveis: A, B, C e D. O nível A é para pessoas que não conhecem o alfabeto latino ou que nunca estudaram em seu país de origem. O nível B é para quem conhece o alfabeto latino e é alfabetizado ou semi-alfabetizado, tendo frequentado a escola por até 5 anos em seu país. O nível C é para quem estudou por mais de 6 anos em seu país de origem, e o D é uma complementação para quem deseja estudar mais do sueco ou fazer o SAS – Svenska som Andra Språk.

Eu entrei direto para o nível C. Quando eu recebi a cartinha para iniciar a escola, me disseram que o primeiro dia seria só informação. Eu tive um dia de informção com o Arbetsförmedlingen também, e foi um dia de enrolação. Então, eu esperava chegar a escola e ser submetida a tal prova de nivelamento, para depois eles me dizerem é, você vai ter que esperar (de novo)… mas nem. Fui apresentada direto a minha turma e professora.

A minha turma tem pessoas que residem a 2 quase 3 anos aqui na Suécia. Eles não estavam no nível B, eles só não haviam feito o SFI. E daí que claro que essas pessoas sabem dizer o nome, de onde vieram, que horas são e muitíssimas mais coisas em sueco… mas todo mundo começou igual… aprendendo as coisas básicas em sueco e treinando pronúncia.

Eu posso pedir a tal prova de nivelamento, fazer ela e mudar de turma. Mas eu não estou certa quanto a isso… terei apenas algum tempo de aula mesmo. Depois será mais um mês e meio sem sueco,  ralando sozinha! Eu penso que posso esperar até o início do próximo semestre e se estiver mais porreta no sueco faço a tal prova.

Depois, eu tenho ajuda da Gunnel uma vez na semana, e ela tem me esclarecido muitas coisas… e também, percebo que aprendi bastante com a minha turma porque algumas pessoas já vem com vícios de linguagem e a professora tem corrigido desde o primeiro dia. É feio ficar reparando os outros? Não quando você quer aprender…

Quando fiz meu cadastro na biblioteca – na terceira semana aqui em Göteborg – o primeiro livro que eu emprestei chama Mål 1 – era o livro, um cd e um livro do professor. Estudei ele por três semanas, acho que umas 100 páginas, gostei muito porque ele era muito claro… e para minha surpresa esse é o livro que temos usado nas aulas. Não recebemos um livro, apenas as folhas xerocadas (me sinto na facul). Eu gosto. Ainda tenho os audios do Mål 1 no meu computador. O livro que eu vi do SFI mesmo (que eu também emprestei na biblioteca) não é legal para você estudar sozinho. Ele tem um monte de exercícios, mas nada de explicação.

Ficar no repeteco não parece muito interessante. Eu pelo menos não acho. Mas a maioria dos suecos que eu conheci me dizem e repetem para que eu aprenda a falar correto. Se você souber falar uma frase em sueco mas ela for uma frase perfeita, vale mais do que se você tentar dizer três frases e meia pela metade… os suecos amam a sua língua, e te amam se você mostra que quer e está se esforçando até os ossos para dizer as palavras com boa pronúncia e a frase com a gramática correta.

Por fim, o bônus. Eu ainda não entendi como funciona exatamente, porque pedi informação na escola mas eles estão mais por fora do que eu, mas você pode encontrar informações gerais no site do SFI. Como minha profissão agora é estudante, eu to interessada. São até 12.000kr (quase 3mil reais) se você concluir o nível D em até 15 meses depois de matriculado no SFI com determinada nota. Não sei qual é a nota, e não sei exato como você avisa: ei! Eu quero tentar isso! mas quando eu souber… posto aqui.

Ah, mais uma coisa… os horários das aulas. Eu tenho aula de segunda a quinta: segunda de manhã (9h-11h30), terça o dia todo (9h-11h30 pausa para almoço 12h30-15h); quarta de tarde e quinta de manhã. Daí como faz se você trabalha?

Não trabalha. Foi assim que descobri porque tem gente há três anos aqui, sem SFI.

A Suécia não fica na Suíça e lá não se fala alemão

Parece brincadeira isso, mas até hoje tem gente que olha para mim e fala: ” Ah Maria, quando você voltar, traz um daqueles queijos famosos lá da Suiça? Sabe aqueles furadinhos? Ou um daqueles que parecem verdes… E chocolate também, se não for pedir demais…” Eu experimentei diferentes tipos de queijo quando estive na Suécia, acho mesmo que esse país pode ser tão famoso pelos seus queijos quanto a Suiça, mas, além de serem países europeus, com seus nomes começados em S, são países bem diferentes.

É verdade que eu não estive na Suiça, e que provavelmente a idéia que eu faço da Suiça é apenas a imagem que rola na mídia (os Alpes, neve, grandes bancos, mafiosos italianos e políticos brasileiros com muito dinheiro nos grandes bancos… ah! e o queijo furado) e eu não vi nada parecido na Suécia. Além dos muitos queijos que experimentei; a língua, o relevo, a moeda e as dimensões da Suécia são bem diferentes.

Hummm... não fica muito perto...

 Na Suiça, também se fala alemão. O também é porque além do alemão se fala francês, italiano e romanche. Talvez por isso muitas pessoas aqui pensam que suecos falam alemão, e quando a gente diz: não, na Suécia se fala sueco; respondem, ah! então é um tipo de alemão. Essa afirmação não deixa de ter um fundinho de razão, porque o sueco é uma língua germânica setentrional, e sofreu influência da língua alemã. Mas é só ouvir um pouco de sueco para você perceber como é diferente do alemão. Eu ouço alemão quase todo dia, já que na minha cidade tem muitos descendentes que gostam de falar alemão, e não tem nada haver. O sueco parece cantado.

Dizem que se apaixonar por tudo que existe de novo e diferente em outro país faz parte do choque cultural, e eu acho a língua sueca linda. As mulheres falando principalmente. Infelizmente isso não torna ela mais fácil. A gramática, particularmente, não faz sentido… e eu sou latina, e o sueco não é uma língua latina. Mas é legal, afinal é um desafio e eu não tenho inglês fluente. Na verdade, sempre achei inglês estranho e feio, é maravilhoso ter a oportunidade de aprender uma língua estrangeira bonita.

No mais, é importante aprender sueco para ter um emprego lá. Se você tá no mesmo barco, aí vão algumas dicas: a Elisa (que vai para Malmo) e a Paula (que mora em Estocolmo) fizeram um curso de sueco pela Folkuniversitetet. Mas tem curso grátis pela internet no Livemocha, e a Maíra também me contou do Rosetta Stone. Eu to fazendo de tudo um pouco e ouvindo rádio sueca. Enfim, é sempre difícil aprender uma língua nova quando não se pode praticar, mas aprender um número grande de palavras vai ajudar a se virar os primeiros dias (ou semanas).

Vi hörs!

P.S.: A Paula me lembrou uma coisa importante: quem vai para a Suécia pode se inscrever no SFI – Svenska för Invandrare (sueco para imigrantes) e no SAS – Svenska som Andra Språk (sueco como segunda língua), que são cursos grautitos de sueco, presentes em todos os municípios (segundo informações do site). As dicas anteriores são para os apressadinhos…