Semana que vem vamos comemorar um ano: um ano do Benjamin, um ano como família, um ano desde que o Joel se tornou pai e eu mãe.
Eu fico tentando me lembrar das minhas expectativas naqueles últimos dias antes do parto, mas eu estava realmente focada no parto em si. A bem da verdade eu não me preparei para o primeiro ano do bebê, eu não me preparei para o puerpério e este último me quebrou as pernas. Eu não sei se adianta muita coisa “se preparar” ou, melhor, que tipo de planejamento eu deveria ter feito, programas, rotinas etc; e até que ponto isso ajuda ou atrapalha. Eu li muito, mas não fiz muita coisa.
Eu fico imaginando quais as diferenças entre ter filhos aqui e no Brasil. Pelo que tenho lido, parece que ter filhos aqui (agora estou falando no sentido literal do ter filho – parir mesmo) é melhor do que no Brasil por causa da violência obstétrica. Apesar da confusão nos hospitais e da falta de recursos humanos, a Suécia parte do princípio de que toda a mulher tem direito à um parto humanizado. Há inúmeras falhas no sistema, mas nem de longe se assemelha ao caos das maternidades brasileiras.
Há boas redes de apoio para mães de primeira viagem também. Normalmente, o pessoal encontra ao menos alguém com quem dividir os perrengues da maternidade nos cursos de pais – mas eu e o Joel nunca fizemos. Felizmente, dois dos casais com quem normalmente saíamos tiveram bebês pouco antes de nós, então acabou que eu tenho mães um pouco mais experientes com quem conversar, as quais eu já tinha um pouco de contato antes. A questão da idade da criança aqui é importante não porque o Benjamin vai ter um amiguinho – a essa altura do campeonato é difícil saber se o santo dessas crianças vai bater – mas porque nós como mães podemos conversar sobre mais ou menos as mesmas coisas.
Mais ou menos né, porque já me disseram que eu escolhi maternar no modo hard: fralda de pano, amamentação em livre demanda, criação com apego, sling, cama compartilhada e… a coisa mais terrível de todas: não dei chupeta para o Benjamin. Particularmente, chupeta é um acessório que serve para calar a boca da criança e estragar os dentes. Felizmente, quando Benjamin era recém nascido dormia tanto que eu nunca tive vontade (ou necessidade) de dar chupeta. Então, antes que alguém me acuse de intitular como “menos mãe” quem dá chupeta eu só digo que não estou afirmando isso. Conheço mães muito melhores do que eu que dão chupeta para os filhos. Eu tentei dar chupeta para o Benjamin quando saímos de carro e ele gritava sem parar, às vezes funcionava, às vezes não. Bati o pé veementemente que não queria comprar mas tive que aceitar e tentar, não dá pra deixar a criança se esguelando por causa de um princípio. Em todo o caso, antes que eu me perca em explicações sem sentido, nenhuma das mães com quem costumo sair com mais frequência fazem isso. Recentemente conheci um casal vindo da Inglaterra, e ela e mais uma guria com quem dividia o coletivo nos meus primeiros meses de Suécia fazem parte do time das mães modo “hard on” com quem tenho contato.
A maioria dessas coisas escolhi baseada em leituras aqui e ali, coisas com que simpatizei pela Internet a fora. O sling foi um achado maravilhoso!! Mas para variar, dá trabalho. E, pobre Benjamin que é submetido a uma série de tentativas para amarrar a criança nas costas, do lado e na frente do jeito certo. Nos últimos três meses tenho praticado carregar ele nas costas e estou quase ficando craque. Deveria ter começado mais cedo, quando ele tinha cerca de 6 meses… mas aí eu não tinha o sling certo. Agora eu tenho dois slings de algodão, mas nunca saí para a rua com o Benjamin neles… seria o ideal uma vez que eu acho carrinho de bebê um trombolho e aqui os ônibus só tem dois lugares para carrinho. É, o transporte coletivo sueco é muito melhor do que o brasileiro em termos de acessibilidade, mas aqui todas as mães e pais tem carrinho de bebê, todas as mães e pais saem pra passear usando transporte coletivo com seus carrinhos e por causa disso, dois lugares no ônibus significa que você vai ficar no ponto esperando uns 15 minutos pelo próximo ônibus, porque o motorista não deixa que um número maior de carrinhos do que o permitido seja embarcado. Então, na maioria dos casos, saio com Benjamin no canguru (ergobaby), que têm o mesmo princípio do sling, só que é mais prático.
Ainda amamento, não tenho pretensão de parar tão cedo e por causa disso já recebi olhares de sensura. Me espanta que a Suécia, mesmo sendo um país muito liberal, tenha tanta gente que se incomoda de ver mulher amamentando. E o Benjamin, por ser um bebê cabeludo e cheio de dentes, parece mais velho do que é. Das gurias suecas que conheço, a maioria parou de amamentar quando o bebê tinha cerca de oito meses. Eu não digo que elas estão erradas de fazer isso uma vez que não conheço os motivos que levaram cada uma a tomar essa decisão, mas ontem estava lendoum artigo que dizia que apenas 14% das mães suecas amamentam o bebê exclusivamente com leite materno até os seis meses.
Nesse quesito, acho que a falha está no BVC (a hora que eu puder fazer um texto com mais dados e estatísticas, escrevo explicando o que é o BVC e como funciona, por enquanto digo apenas que é o centro de saúde da criança) pois quando Benjamin tinha quatro meses a enfermeira pediatra já começou a falar de introdução alimentar e de fazer papinhas. Além disso, ela me orientou a dar mamadeira para que o Benjamin dormisse melhor a noite. Disse que ele acordava provavelmente de fome e me orientou a dar välling (um tipo de mucilon, um pouco menos ruim, sueco). De novo, se a mãe quer dar mamadeira, que dê. Mas esse não era meu caso, então fiquei a ver navios pois fora a dica maravilhosa da mamadeira ela não tinha nada a me dizer. Eu não sou muito fã do BVC. E nem de dentistas suecas. Porque elas também sugerem que a mãe deixe de amamentar quando o bebê completa um ano. Mas essa é história para outra hora…
Já escrevi tanto e não escreci nem a metade do que gostaria. Mas vou tentar fazer um balanço simples: a Suécia é um ótimo lugar para parir. Se eu pudesse fazer tudo de novo, teria Benjamin aqui, mudaria parao Brasil (o Brasil que eu conheço) e ficaria lá os primeiros seis meses, depois voltaria para cá. Por quê? Porque senti falta de ter uma mão amiga nos primeiros meses de vida do Benjamin, principalmente no puerpério. Demorou muito tempo para mim me encontrar comigo mesma no meu papel de mãe e quando o Joel voltou para o trabalho eu me vi sozinha em casa com um bebê sem saber muito bem o que fazer. Eu não tive depressão pós parto mas estive perto, muito perto. Tenho certeza que teria sido diferente se tivesse minha família e minhas amigas comigo. Simplesmente porque lá não é tão complicado sair para dar um alô para o vizinho. Só depois de cerca de seis meses como mãe é que eu comecei a me sentir segura. Talvez esse processo tenha sido necessário, mas provavelmente teria sido mais curto.
De uma coisa tenho certeza: aqui é um lugar maravilhoso para ter família, crianças. Não tinha muita ideia do que seria meu primeiro ano como mãe, mas tenho algumas do que será daqui para frente.