Diário Caipira 3

E pensar que demorou uma vida – dez meses , praticamente – pra mim escrever aqui outra vez.

Estamos gripados. Há semanas.

Tipo não gripados os quatro de uma vez, mas gripados e gripando de um jeito bem família. O stresse por conta de resfriados constantes ainda é forte, apesar de estarmos vacinados (ambos adultos, crianças ainda não são vacinadas aqui, apenas adolescentes) por conta do corona. Afinal, os sintomas do corona ainda são semelhantes ao de uma gripe.

Eu estava conversando com uma mãe essa semana que está exausta e frustrada. Frustrada por quê a cria dela está resfriada há várias semanas. Nariz escorrendo não fica na pré escola, que liga pedindo pra buscar a criança, que está razoavelmente bem a parte do nariz de vela. Exausta porque já bateu de frente várias vezes com posto de saúde que não quer investigar o resfriado constante da criança.

O episódio me lembrou 2017, quando eu estava na mesma situação. Batendo de frente com o sistema de saúde. As crianças gripando constantemente, o Mikael com episódios de laringite que faziam a gente passar a noite toda acordados, eu entrando em depressão sem saber como buscar ajuda. Quem nos salvou foi a nossa enfermeira do BVC, na época. Mas ela era uma profissional com P maiúsculo e eu estava entendendo a necessidade de ser mais humilde.

A questão é que a gente se sente desacreditado e ignorado pelo sistema de saúde daqui. Eles trabalham de forma diferente, e a medicina do “deixe seu corpo cuidar sozinho do que ele pode cuidar” não é a medicina do “ouça seu médico, corra para o hospital como você correria para um oráculo e tome todos os medicamentos possíveis, mesmo aqueles que não tem efeito sobre o x da questão”. A cloroquina é um exemplo fresquíssimo disso. Além disso, a gente esquece que no Brasil tem tanta gente na linha da pobreza, tanta gente desnutrida, tanta gente que não tem condições financeiras de “deixar o copo cuidar sozinho do que ele pode cuidar” que não teria como ser diferente.

Eu não tô colocando Brasil e Suécia em lado opostos de uma balança. Porque é impossível. Aqui na Suécia as pessoas tem três refeições por dia. E a desigualdade social está crescendo mas ainda não chegou no nível da desigualdade social no Brasil. Além disso aqui existe seguridade social que é pensada para que as pessoas possam se virar sozinhas.

Sozinhas… não com a ajuda dos pais, irmãos, vizinhos. É normal no Brasil existir alguma mulher na família que “não trabalha” (não ganha pago para trabalhar) mas cuida da criançada de todo mundo. Aqui a história é outra, porque a maioria das mulheres trabalham com algum trabalho assalariado, e quando uma criança precisa de uma “tia”, não tem. As tias trabalham. A avó também. Então o estado paga pra você ficar em casa e cuidar da sua cria. Porque você ainda vai receber 80% do salário pra fazer isso.

Mas é exaustivo né, pois isso não é tudo. Receber 80% do salário por dia “perdido” não significa que está tudo bem. Eu queria ir no médico pra ganhar alguma coisa que fizesse parar essa onda de gripe aqui em casa (E pelamordeDeus, não me escrevam receitas de tônico de gengibre e afins nos comentários meu pai e minha mãe tem esse papel, não tirem a alegria deles) e poder simplesmente trabalhar. Já que eu tô sendo, afinal, paga pra isso.

Mas eu moro na Suécia e a treta aqui é essa. Tem seguridade social pra você aguentar as pontas com as tuas dores na sua família nuclear (os ou o adulto responsável pela ou pelas crianças). E é isso.

Tá bom, mas não tá.

Tagarela

O Benjamin vai completar 15 meses essa semana. E está um tagarela.

Aí eu comecei a pensar em quanto me preocupei com isso antes. Tanto durante a gravidez quanto nos primeiros meses de vida do Ben eu imaginava como seria esse momento e lia e lia muito sobre o assunto. Achei dicas ótimas, e comecei a seguir um site em específico (filhos bilíngues, googla aí) aonde encontrei muita coisa boa. Mas eu tenho que confessar que a melhor coisa que me aconteceu foi conhecer uma guria que mora em Stockholm (e que é fono) que compartilhou muita coisa interessante sobre a exploração da fala por bebês e ajudou a desmitificar algumas coisas.

Por exemplo, há quem afirme que crianças bilíngues demoram mais para começar a falar. Na verdade, esse padrão não foi confirmado cientificamente. Há bebês que desenvolvem a fala cedo e outros nem tanto, e isso é uma questão do desenvolvimento individual da criança. Eu acredito que o meio no qual o bebê cresce influencia muito também, assim como a própria personalidade da criança. Mas essa coisinhas também não são comprovadas cientificamente.

Daí, pra encurtar a história, Benjamin “fala” muito. Ele balbucia o tempo inteiro e ainda que a gente não entenda o que ele diz, esse é um sinal explícito de que ele está desenvolvendo a fala. Segundo, ele tem um vocabulário de aproximadamente 20 palavras (dessas que a gente entende), o que para um bebê da idade dele é bastante (o esperado seria uma média de 8 palavras aos 18 meses). Algumas palavras ele fala tanto em português como em sueco (mãe/mamma, papai/pappa, água/vatten, olha/titta, lá/där [inclusive olha lá/titta där, que soa mais como ulalá], oi/hej, banho/bada e bola/bolen), outras palavras ele fala apenas em sueco (borta, titt ut!, nej, den, oj, tack, hej då, gunga, vad är detta? – sumiu, achou!*, não, isso [em sueco informal] ai e nossa!, obrigado, tchau, balanço/balançar e – a única frase até agora – o que é isso?); e algumas palavras ele inventou como por exemplo “nenenenene”, que significa tanto ele mesmo como não quero e algo está errado. Sem falar  outras coisinhas, tipo dindu (que seria ding dong) e bam. E quase ia me esquecendo, a única palavra que ele fala apenas em português: oba!

Se há algum segredo por trás do nosso “sucesso” na questão da fala do Benjamin? Acho que tanto eu como o pai dele somos tagarelas natos. A gente é muito  verbal e fala o tempo todo um com o outro, em reuniões de família, com os amigos e mesmo quando estamos sozinhos com o Benjamin. Outra coisa que acho que fez muita diferença é que aprendi com a minha mãe desde cedo a conversar com o bebê, acho que essa é uma característica bem marcante em algumas famílias brasileiras e ela (minha mãe) sempre me disse em todas as conversas por skype que tivemos nos primeiros meses de vida do Benjamin pra conversar com ele todos os dias, cantar muito, etc. Não que eu queira me dar os parabéns e sair por aí gritando aos quatro ventos que eu tenho um bebê bilíngue e que “olha só como sou experta, faça como eu fiz e o sucesso é garantido” porque não é assim tão simples. Benjamin parece ser uma criança extrovertida, e isso faz toda a diferença afinal, se ele fosse tímido, provavelmente ele saberia todas essas palavras mas não falaria muito – ou não falaria nada – e eu não estaria aqui me gabando.

De modo geral eu gostaria de incentivar pais brasileiros residentes no exterior a falar português com suas crianças porquê, se por um lado o fato de o Benjamin começar a se expressar tão cedo não é mérito meu, o fato de ele falar português é. Eu falo português com o Benjamin, meu marido também fala português com ele mas quando os dois estão sozinhos é apenas sueco (vale lembrar que eu trabalho 40h por semana e que nos últimos seis meses Benjamin ficou em casa com o pai). Ultimamente percebo inclusive que mesmo quando estamos nós três cada vez que o Joel se direciona ao Benjamin em específico ele fala sueco, assim como eu sempre falo português com o Benjamin quando estamos entre outros adultos mas eu me dirijo exclusivamente a ele. O vocabulário dele em sueco é maior do que o vocabulário dele em português mas seria um tanto estranho se fosse o contrário uma vez que eu falo sueco quando todo mundo fala sueco ao redor da gente, a gente mora na Suécia e convive com suecos quase que 100% do tempo. Mas quando o Benjamin me diz algo em sueco eu repito o que ele disse em português. Inclusive eu tive que me policiar para fazer isso porque parece meio fácil só repetir o sueco.

Acho que é fácil desanimar quando se está fora do Brasil e não se convive muito com brasileiros (foi uma escolha minha para que eu aprendesse sueco mais rápido) ou quando o parceiro não fala português (tem muita gente que fala inglês em casa), mas o esforço vale a pena. Além do mais, se o Benjamin não falasse português seria um tremendo tiro no pé pois além de ele não poder falar com meus pais, o sueco é apenas a 91a língua mais falada no mundo (quando o português ocupa a 6a posição). Suecos aprendem inglês por necessidade extrema mesmo, já pensou se não fossem bilíngues?

Guardei para o final a coisa que acho mais fofa nesse mundo, que é a palavra mais longa do vocabulário do meu anjinho: Menhamin.

*o titt ut é usado naquela brincadeira do “cadê? achou!”, o pekaboo do inglês.

Um ano como mãe

Semana que vem vamos comemorar um ano: um ano do Benjamin, um ano como família, um ano desde que o Joel se tornou pai e eu mãe.

Eu fico tentando me lembrar das minhas expectativas naqueles últimos dias antes do parto, mas eu estava realmente focada no parto em si. A bem da verdade eu não me preparei para o primeiro ano do bebê, eu não me preparei para o puerpério e este último me quebrou as pernas. Eu não sei se adianta muita coisa “se preparar” ou, melhor, que tipo de planejamento eu deveria ter feito, programas, rotinas etc; e até que ponto isso ajuda ou atrapalha. Eu li muito, mas não fiz muita coisa.

Eu fico imaginando quais as diferenças entre ter filhos aqui e no Brasil. Pelo que tenho lido, parece que ter filhos aqui (agora estou falando no sentido literal do ter filho – parir mesmo) é melhor do que no Brasil por causa da  violência obstétrica. Apesar da confusão nos hospitais e da falta de recursos humanos, a Suécia parte do princípio de que toda a mulher tem direito à um parto humanizado. Há inúmeras falhas no sistema, mas nem de longe se assemelha ao caos das maternidades brasileiras.

Há boas redes de apoio para mães de primeira viagem também. Normalmente, o pessoal encontra ao menos alguém com quem dividir os perrengues da maternidade nos cursos de pais – mas eu e o Joel nunca fizemos. Felizmente, dois dos casais com quem normalmente saíamos tiveram bebês pouco antes de nós, então acabou que eu tenho mães um pouco mais experientes com quem conversar, as quais eu já tinha um pouco de contato antes. A questão da idade da criança aqui é importante não porque o Benjamin vai ter um amiguinho – a essa altura do campeonato é difícil saber se o santo dessas crianças vai bater – mas porque nós como mães podemos conversar sobre mais ou menos as mesmas coisas.

Mais ou menos né, porque já me disseram que eu escolhi maternar no modo hard: fralda de pano, amamentação em livre demanda, criação com apego, sling, cama compartilhada e… a coisa mais terrível de todas: não dei chupeta para o Benjamin. Particularmente, chupeta é um acessório que serve para calar a boca da criança e estragar os dentes. Felizmente, quando Benjamin era recém nascido dormia tanto que eu nunca tive vontade (ou necessidade) de dar chupeta. Então, antes que alguém me acuse de intitular como “menos mãe” quem dá chupeta eu só digo que não estou afirmando isso. Conheço mães muito melhores do que eu que dão chupeta para os filhos. Eu tentei dar chupeta para o Benjamin quando saímos de carro e ele gritava sem parar, às vezes funcionava, às vezes não. Bati o pé veementemente que não queria comprar mas tive que aceitar e tentar, não dá pra deixar a criança se esguelando por causa de um princípio. Em todo o caso, antes que eu me perca em explicações sem sentido, nenhuma das mães com quem costumo sair com mais frequência fazem isso. Recentemente conheci um casal vindo da Inglaterra, e ela e mais uma guria com quem dividia o coletivo nos meus primeiros meses de Suécia fazem parte do time das mães modo “hard on” com quem tenho contato.

A maioria dessas coisas escolhi baseada em leituras aqui e ali, coisas com que simpatizei pela Internet a fora. O sling foi um achado maravilhoso!! Mas para variar, dá trabalho. E, pobre Benjamin que é submetido a uma série de tentativas para amarrar a criança nas costas, do lado e na frente do jeito certo. Nos últimos três meses tenho praticado carregar ele nas costas e estou quase ficando craque. Deveria ter começado mais cedo, quando ele tinha cerca de 6 meses… mas aí eu não tinha o sling certo. Agora eu tenho dois slings de algodão, mas nunca saí para a rua com o Benjamin neles… seria o ideal uma vez que eu acho carrinho de bebê um trombolho e aqui os ônibus só tem dois lugares para carrinho. É, o transporte coletivo sueco é muito melhor do que o brasileiro em termos de acessibilidade, mas aqui todas as mães e pais tem carrinho de bebê, todas as mães e pais saem pra passear usando transporte coletivo com seus carrinhos e por causa disso, dois lugares no ônibus significa que você vai ficar no ponto esperando uns 15 minutos pelo próximo ônibus, porque o motorista não deixa que um número maior de carrinhos do que o permitido seja embarcado. Então, na maioria dos casos, saio com Benjamin no canguru (ergobaby), que têm o mesmo princípio do sling, só que é mais prático.

Ainda amamento, não tenho pretensão de parar tão cedo e por causa disso já recebi olhares de sensura. Me espanta que a Suécia, mesmo sendo um país muito liberal, tenha tanta gente que se incomoda de ver mulher amamentando. E o Benjamin, por ser um bebê cabeludo e cheio de dentes, parece mais velho do que é. Das gurias suecas que conheço, a maioria parou de amamentar quando o bebê tinha cerca de oito meses. Eu não digo que elas estão erradas de fazer isso uma vez que não conheço os motivos que levaram cada uma a tomar essa decisão, mas ontem estava lendoum artigo que dizia que apenas 14% das mães suecas amamentam o bebê exclusivamente com leite materno até os seis meses.

Nesse quesito, acho que a falha está no BVC (a hora que eu puder fazer um texto com mais dados e estatísticas, escrevo explicando o que é o BVC e como funciona, por enquanto digo apenas que é o centro de saúde da criança) pois quando Benjamin tinha quatro meses a enfermeira pediatra já começou a falar de introdução alimentar e de fazer papinhas. Além disso, ela me orientou a dar mamadeira para que o Benjamin dormisse melhor a noite. Disse que ele acordava provavelmente de fome e me orientou a dar välling (um tipo de mucilon, um pouco menos ruim, sueco). De novo, se a mãe quer dar mamadeira, que dê. Mas esse não era meu caso, então fiquei a ver navios pois fora a dica maravilhosa da mamadeira ela não tinha nada a me dizer. Eu não sou muito fã do BVC. E nem de dentistas suecas. Porque elas também sugerem que a mãe deixe de amamentar quando o bebê completa um ano. Mas essa é história para outra hora…

Já escrevi tanto e não escreci nem a metade do que gostaria. Mas vou tentar fazer um balanço simples: a Suécia é um ótimo lugar para parir. Se eu pudesse fazer tudo de novo, teria Benjamin aqui, mudaria parao Brasil (o Brasil que eu conheço) e ficaria lá os primeiros seis meses, depois voltaria para cá. Por quê? Porque senti falta de ter uma mão amiga nos primeiros meses de vida do Benjamin, principalmente no puerpério. Demorou muito tempo para mim me encontrar comigo mesma no meu papel de mãe e quando o Joel voltou para o trabalho eu me vi sozinha em casa com um bebê sem saber muito bem o que fazer. Eu não tive depressão pós parto mas estive perto, muito perto. Tenho certeza que teria sido diferente se tivesse minha família e minhas amigas comigo. Simplesmente porque lá não é tão complicado sair para dar um alô para o vizinho. Só depois de cerca de seis meses como mãe é que eu comecei a me sentir segura. Talvez esse processo tenha sido necessário, mas provavelmente teria sido mais curto.

De uma coisa tenho certeza: aqui é um lugar maravilhoso para ter família, crianças. Não tinha muita ideia do que seria meu primeiro ano como mãe, mas tenho algumas do que será daqui para frente.

Guia rápido e rasteiro para mudar para a Suécia

Obrigada Globo Repórter, por fazer uma reportagem linda mostrando a Suécia maravilhosa do verão.

Sem ironias, esse é um país muito bom para se viver. Se você quer saber mais sobre, tem todos os posts desse blog para você matar sua curiosidade e ficar com raiva de mim por causa dos meus pontos de vista bobos. Mas como quem quer mudar tem pressa, preparei esse guia, principalmente depois de receber uma série de pedidos do tipo: e aê guria! Blz? Quero morar na Suécia, como é que eu faço? Simples, é só seguir os passos desse…

Guia rápido e rasteiro para mudar para a Suécia:

1. Prepare-se para fazer a mudança depois de um ano, ao menos. Isso mesmo. Não dá para vir para cá de mala e cuia sem visto. Visto você só consegue para estudar, trabalhar ou viver com um parceirx suecx. E o processo de solicitação demora, às vezes, até um ano. E por favor, não me mande perguntas sobre visto, fale com a embaixada sobre isso.

2. Planeje-se. Você pode estudar na Suécia por meio do programa Ciências Sem Fronteiras (se você fala inglês), ou trabalhar em uma multinacional (se você fala inglês), ou arrumar um parceirx suecx (nesse caso, falar é um tanto importante, mas ficar quieto pode ser ainda mais). Dê uma olhada nos site da Embaixada da Suécia em Brasília, eles tem informações incríveis relativas a todos os três processos. E de novo, não me mande perguntas sobre o visto.

O Ciência sem Fronteiras tem vagas para a Suécia ao menos uma vez ao ano, fique de olho. Há sites específicos para buscar por oportunidades de trabalho na Europa. Se você já tem uma boa faculdade dê uma olhada se o seu perfil não se encaixa em uma empresa sueca com filial no Brasil, tipo a Volvo, Skanska, Ericsson, etc. Trabalhar no Brasil já te abre portas para experimentar a vida no exterior, quem sabe, não apenas na Suécia. Se nenhuma das opções acima te parece interessante e você tem fetiche por vikings barbudos, faça um perfil em sites de relacionamento tipo match.com . Não é sarcasmo não. Essa semana mostraram uma pesquisa dizendo que o número de suecos que busca por parceiros em sites de relacionamento cresce cada vez mais. Vai que você dá sorte?

Não estou incentivando ninguém a dar golpe do baú. Só quero que fique claro que mudar para o exterior é um processo que é demorado e não se resolve do dia para a noite. E é suado. Tanto para estudar, trabalhar ou arrumar um parceirx aqui exige muita energia e dedicação.

3. Leia tudo que puder sobre a Suécia. Há blogs sobre a vida na Suécia (além desse, tem uma lista no rol de blogs ao lado que, eu sei, está desatualizado), há grupos sobre a vida na Suécia no facebook. Mas não seja o tipo chato que fica fazendo perguntas tipo: me arruma um emprego aí? Dá para me mudar sem visto? É muito dura a adaptação? Adaptação é como reeducação alimentar: tem gente que tira de letra, enquanto outros ainda acordam no meio da noite para comer chocolate. Isso não significa que no primeiro caso rola menos sofrimento. Tem a galera que chega, ama logo de cara e vive feliz durante um bom tempo e depois, cai na rotina e começa a odiar. O contrário também é verdadeiro: gente que odeia, sofre e chora e queria voltar para casa ontem, mas depois cai na rotina e gosta (ou se conforma). E gente que ama hoje, odeia amanhã, engole depois de amanhã, quer voltar na semana que vem, mas no mês que vem resolveu que esse é o melhor lugar para se viver ever. Você melhor do que ninguém sabe que tipo de pessoa você é. Nesse caso, vale ler muito, de tudo. Tanto os pontos positivos quantos os negativos tem que ser levantandos. Por isso que eu acho que blogs sobre a Suécia são a melhor forma de ter uma ideia, principalmente blog de gente que escreve há anos – e aí não importa se a pessoa já parou de escrever ou continua postando. É aí que você encontra relatos do dia a dia, tantos felizes quanto infelizes. Leia também coisas sérias, sobre a política sueca, economia sueca e etc. Um bom canal para esse fim é o The Local (em inglês).

4. Se você não fala inglês, estude ingês antes de vir para cá. Fazer intercâmbio cultural para aprender inglês na Suécia é muito estranho, no meu ponto de vista, uma vez que o idioma oficial do país é o sueco. Quer aprender sueco e tentar um interncâmbio cultural para isso, fine, mas se você quer aperfeiçoar o seu inglês… well, você está fazendo isso errado.

5. Tenha em mente que sem sueco você praticamente não consegue um trabalho. Há duas exceções: quando você já trabalha para uma multinacional em uma função em que o inglês é predominante, ou foi contratado falando apenas inglês; ou no caso de você vir como professor pesquisador. Ué, mas você não diz para estudar inglês antes de vir para cá? Digo. Aqui praticamente todo mundo fala inglês. Se você vem estudar por um tempo vai se virar bem falando inglês; e se vem se amarrar é bom saber inglês para não ficar tão dependente. Mas chegar aqui falando inglês fluente não te dá maiores chances de encontrar um trabalho (a menos, é claro, que você seja um fodão na área de TI, engenharia, marketing, comunicação, economia, sei lá… mas nesse caso você não terá problema em descolar um trampo em qualquer lugar do mundo não é mesmo?). O inglês abre portas sim, mas aqui todo mundo fala inglês, então você é apenas mais um na multidão, saca? Em média, estrangeiros (com educação superior) levam cerca de 7 anos para entrar no mercado de trabalho de forma definitiva, ou seja, para conseguir um trampo integral com salário legal. Eu levei três anos para descolar um trampo integral, e conheço outras brasileiras que também conseguiram se estabilizar um tanto quanto rápido. Mas isso é uma questão de sorte e, muitas vezes, de QI – de Quem Indica mesmo, não de cérebro. A Suécia é uma roça – já dizia a Cinthia – e aqui é super importante que alguém diga que você é uma pessoa do bem. E essa pessoa tem que ser um sueco.

É isso. Espero que ajude a clarear um pouco as ideias de quem está buscando uma luz.

Ah, eu acho legal receber feedback dos leitores. Também procuro responder quando me escrevem, mas se você quer orientação, LEIA ANTES DE PERGUNTAR.

Boa sorte!

Pré Natal na Suécia #03

É interessante perceber como o interesse pelo blog diminuiu brutalmente depois que anunciei a minha gravidez. Acho que o público do blog vai mudar e, enquanto isso, eu também vou ter que me decidir sobre o que é que vou continuar – ou não – escrevendo.

Há algum tempo atrás compartilhei as minhas primeiras impressões sobre o pré-natal na Suécia (post aqui e aqui). Como mãe de primeira viagem, estrangeira e etc e tal me senti bastante insegura. Além disso, o lance de ser atendida por uma enfermeira obstetra (aprendi o nome correto da profissional) ao invés do médico me deixou bastante confusa. Mas quando eu estive no Brasil fui a uma consulta com o médico e percebi que também saí do consultório apreensiva. O que me levou a concluir que meu causo é apreensão mesmo e não qualquer outra coisa (todo mundo já sabia, menos eu).

Depois da viagem ao Brasil encontrei com a enfermeira obstetra três vezes. A partir da 35a semana de gestação as consultas ficam mais frequentes. Na última delas fiquei sabendo que o bebê já está encaixado. Lindo né? E ela fez um exame manual, sem ultrassom. Essas enfermeiras são treinadas de modo que elas sabem identificar a posição do bebê por meio do toque e massagem na barriga da gestante. Em caso de dúvida aí sim o ultrassom será marcado.

Identificar a posição do bebê na semana 35 ou 36 de gestação é procedimento de rotina aqui. Normalmente a criança “encaixa” mais ou menos nesse período. Às vezes o bebê pode “virar” até no último minuto antes do parto. Mas aqui o procedimento é o seguinte: se durante esse exame a enfermeira obstetra identificar que a criança está sentada a grávida fará um acompanhamento semanal até a semana 37 para ver se o bebê encaixa. Caso isso não ocorra é marcado um procedimento durante a semana 38 em que, com a ajuda de algumas drogas que deixam o útero maleável, um profissional obstetra ajuda a criança a posicionar-se de cabeça para baixo. Umas das suecas que eu conheço passou por esse procedimento. Segundo ela, a mulher fica deitada em uma maca com a cabeça levemente mais baixa que o resto do corpo. A equipe de trabalho aplica a “droga” e você se sente meio anestesiada, com o corpo formigando. Um tanto tonta também. Então a enfermeira obstetra faz uma massagem na sua barriga, e fica massageando até que de repente usa um movimento mais seco para “virar” o bebê. Isso dói e é fácil ficar enjoada (não sei se por causa da droga ou por causa do procedimento). Durante todo o retetê o bem estar da mãe e criança estão sendo controlados por aqueles aparelhinhos e seus bips. Tudo isso dura menos do que 20 minutos mas o procedimento todo leva basicamente um dia pois é feito ultrassom antes e depois da intervenção e, além disso, tanto a droga aplicada quanto o movimento de massagem podem desencadear o parto, então eles ficam com a mulher sobre observação (e é também por causa disso que esse trem não é feito antes da semana 38 de gestação).

Eu não vou ter que fazer nada disso e fiquei com um sentimento de satisfação gigante quando a minha parteira me disse que ele estava de cabeça para baixo e bem encaixado. É claro que o bebê pode virar e resolver sentar no último minuto, mas é de praxe que a mulher seja submetida a um ultrassom quando chegar a maternidade (se houver suspeita de que o bebê está sentado). Nesse caso não sei se eles apenas “viram” a criança ou se rola a cesária. Só sei que parto pélvico não rola por aqui.

Durante essa fase da reta final é comum que os pais sejam convidados a participar de uma série de cursinhos. Como a gente estava no Brasil (e eu acho que minha parteira me esqueceu) não vamos participar do curso de pais – que é tipo um curso sobre parto e sobre os primeiros dias com o bebê. Eu tive uma aula particular sobre amamentação – isso porquê eu suspeito que minha parteira ficou com dor na consciência após perceber que nos esqueceu – do contrário iríamos eu e o Joel também participar de um curso para pais que é sobre amamentação. O que fizemos juntos foi uma aula de apresentação da maternidade, onde uma enfermeira obstetra muito engraçada falou sobre o parto, explicando tintim por tintim todos os procedimentos disponíveis no hospital, como é o quarto, como funciona o atendimento, o que os pais tem direito e  bla bla bla.

Eu perdi metade da aula porque estava no trabalho e justo naquele dia meu trem atrasou. De toda forma, Joel estava lá e disse que a primeira parte foi mais ou menos uma repetição do que já estamos aprendendo no curso de parto natural (que é particular e já já explico). Duas coisas que não são legais sobre o parto aqui na Suécia: 1. eu não sei aonde vou parir – quando o trabalho de parto começar eu tenho que ligar para a central de partos e eles me dirão se há vagas no hospital mais próximo da minha casa e, em caso negativo, nós teremos que optar por outro hospital fora de Göteborg*; 2. a parteira ou melhor, enfermeira obstetra que me acompanhará no parto não é a mesma que fez meu pré natal. Na verdade, os hospitais tem suas próprias equipes e quem atende as parturientes são as equipes de plantão. O lado positivo disso é que as equipes devem contar com profissionais que tem diversas habilidades, entre elas até acupunturistas. Chique né? Ao menos na teoria as enfermeiras obstetras aqui incentivam as parturientes a utilizarem práticas alternativas para diminuir a dor e a tensão na hora do parto. Na prática eu sei que às vezes o carro entra na frente dos bois, em especial em épocas como essa em que todo mundo quer tirar férias. Sim, a temporada de férias na Suécia vai de junho a agosto e isso significa que se eu pegar uma equipe completa no hospital terei ganhado na mega.

Pois bem, além disso há banheiras disponíveis no hospital – para um banho quente, não perguntei se é possível parir na água (claro que é, mas não sei como é que a gente faz esse requerimento); cada quarto tem seu chuveiro – caso a mulher prefira o banho quente; bolas de pilates; gás do riso e acupuntura (além dos demais anestésicos de praxe); e… esqueci. Pá é tanta coisa que a gente fica meio tonto de informação. Só sei que cada quarto de parto é super equipado com tudo que é necessário para que o trem se transforme numa sala cirúrgica em dois três se necessário, sendo que a mulher tem o direito de ter consigo o/a parceiro/a e uma doula durante todo o trabalho de parto. De forma geral, há muita liberdade e se você quiser ficar andando para lá e para cá pode, assim como se você só quiser ficar deitada na cama olhando o teto pode também.

Uma coisa que achei engraçada é que na listinha que eles nos dão para ajudar a fazer a mala da maternidade estão entre os itens indispensáveis telefone celular, máquina fotográfica e uma lista de músicas que você goste (segundo a parteira palestrante, às vezes a equipe sofre muito com listas que são uma verdadeira rave ou um show de hard rock… fazer o quê?). Além disso eles encorajam o/a parceiro/a a levar um livro e comida para si mesmo. E chocolate e chips para a parturiente! Não é proibido comer durante o trabalho de parto mas a parteira comentou que a maioria das mulheres fica tão nervosa que não consegue comer. Aí ela recomendou bater uma marmita de pedreiro assim que sentir que o trabalho de parto começou.

Enfim… estava falando do curso de parto natural: iniciamos o curso em a abril, logo após chegarmos do Brasil. Seriam quatro encontros para trabalhar respiração, tirar dúvidas sobre o processo do parto, para aprender a relaxar, para que o Joel aprendesse macetes de massagem, enfim, técnicas para ter um parto mais feliz. E tudo isso na faixa, já que é uma amiga da mãe do Joel que nos estava fazendo esse favor. No dia do segundo encontro, a mulher quebra o braço e com fratura praticamente exposta (só não rasgou a carne mas o braço virou um U). Moral da história: ficamos sem o curso de pais lá do posto de saúde e provavelmente ficaremos sem o curso de parto natural, uma vez que a senhora lá teve que fazer uma cirurgia, coitada.

Apesar disso, me sinto bem relax com relação ao parto. Eu infeliz ou felizmente não sou daquelas que pira o cabeção. Na verdade, sou relaxada demais: enquanto tem grávida que fica escutando música clássica desde o quinto mês de gestação para incentivar o desenvolvimento da cria (ao contrário, dia desses eu e Joel estávamos ouvindo hip hop!) eu nem estou lendo para o Benjamin. Ok, eu fiz isso algumas vezes. Mas não fiz yoga para grávidas, tirei uma foto da barriga a cada mês, fiz um diário de gestação ou coisas do tipo. Estou vivendo normal… acho que estou tentando aproveitar porque sei que logo logo minha vida vira de pernas para o ar.

Num domingo de sol

Num domingo de sol

*Sobre os hospitais: Göteborg tem dois, o Salhgrenska Universitetet e o Östra Sjukhuset, mas há um terceiro que fica na cidade vizinha (que é colada em Göteborg) chamado Mönldal Sjukhuset que faz parte desse grupo. A maternidade do Salhgrenska foi fechada há alguns anos então, no caso só há dois hospitais com maternidade em Gotis. No caso deles estarem lotados, temos a opção de nos locomovermos para Trollhätan ou Varberg, ambas a cerca de 1h de carro daqui.

Dedinhos cruzados…

Três anos de Suécia e mais do mesmo

Eu completei três anos de Suécia em abril mas… olha só como é que as coisas vão mudando de prioridade na nossa vida não é? Logo que mudamos vamos contando os dias, as semanas, os meses, as novidades, sempre e com bastante detalhes. Depois a gente vai deixando isso de lado. Não porque não passemos por situações inusitadas, mas simplesmente porque – no meu caso – eu me acostumei a ter um choque cultural com tudo.

Essa coisa de choque cultural… pá, eu lembro de que quando li sobre isso imaginei que seria mais ou uma menos como um tombo, uma ducha de água fria ou um tapa na cara; que viria assim e pau! Eu sentiria tudo de uma vez e com bastante intensidade. É assim às vezes, mas o fato é que não chega tudo de uma paulada só. Vem a prestações, daquelas em que os juros são flutuantes. Às vezes é só um desconforto, às vezes é angustiante. Nesses momentos dá vontade de jogar tudo para o alto e dizer: cansei dessa brincadeira, eu quero voltar para casa!

E foi isso que eu fiz. Grávida, desempregada e me sentindo o koo do mundo cheguei chorando para o Joel e disse que estava cansada dessa merda de país e que queria voltar para casa. Sorte minha que ele é louco para morar no Brasil. Azar o meu que tudo não é tão simples como fazer as malas, comprar um bilhete e zarpar – ou melhor, voar – para o lado de lá. Mas a bem da verdade é: três anos de Suécia não me fazem amar esse país, não me fazem idolatrar essa riqueza, essa segurança, as facilidades e essa perfeição absurda que me cerca. Três anos de Suécia apenas me levaram a simples constatação de que eu sou, definitivamente, o estranho no ninho.

Nota: acho fabuloso gente que mudou para cá e vive bem e feliz. Quem conseguiu entrar no ritmo e está saboreando intensamente cada pedacinho dessa terra cheia de novidades é que está certo porque dispensa dramas desnecessários, dores de cabeça e desapontamento. Vocês tem meu respeito.

Ainda ontem comentei que minha vida na Suécia ainda parece estar dentro de uma bolha. Quando voltei para cá em abril lembro dessa sensação ser muito forte nos primeiros dias: essa paisagem ao meu redor é familiar, mas parece muito a cena de algum filme que eu vi. Eu poderia ser o personagem de algum suspense tenso, daqueles que você espera durante o filme inteiro que algo aconteça e no fim…  não havia nada para acontecer. Talvez essa sensação de estranhamento venha porque de forma inconsciente eu sou a espectadora a espera dessa alguma coisa e não percebi que essa alguma coisa acontece todo dia, mesmo sem ser extraordinária.

Ainda é uma dificuldade muito grande me conectar com suecos. Já desisti. Às vezes me chateio imensamente com isso – ontem foi o caso – mas na maioria dos momentos somente aceito que não rolou e ponto. Eu tenho outros latinos a minha volta, outros estrangeiros e brasucas com os quais é muito simples conversar, marcar um encontro, falar ao telefone ou simplesmente mandar um recado no facebook. No final das contas pode ser que os suecos com quem eu convivo acreditam que estejam super conectados comigo – mas eu não sinto isso. Eu sou quem liga, quem convida para sair e quem tenta manter a conversa animada – sempre. Se eu não fizer, fico no vácuo eterno.

A sensação de solidão é constante.

Quem sabe isso mude agora que eu tenho um emprego e que eu vou estabelecer uma certa rotina na minha vida afinal, quando se tem muito tempo para coçar se acha até chifre em cabeça de cavalo. Quando converso com outros brasileiros a respeito da minha insatisfação em morar aqui eles só sorriem e dizem que assim que eu tiver meu filho minha cabeça vai mudar, eu vou priorizar outras coisas que eu não posso ter no Brasil. Eu me pergunto quais são as minhas prioridades e, sinceramente, ainda não entendi porque elas vão mudar assim que meu filho nascer. Ao contrário, antes de engravidar eu pensava que a Suécia seria um ótimo lugar para educar uma criança. Já desde que engravidei tenho enormes dúvidas. Quem sabe seja isso que acontece com tantos pais pelo mundo afora – e pelo Brasil também – principalmente aqueles que me escrevem querendo saber como mudar para cá porque querem dar um futuro melhor aos filhos – afinal o Brasil anda assim, assado, frito e cozido – e parece que ninguém gosta desse combinação.

Não sei o que responder. Provavelmente minha insatisfação venha porque não me acostumei com o estilo de vida sueco. Talvez seja birra ou minha eterna teimosia que me faz reclamar sempre… o fato é que quando alguém me escreve no seco com “eu quero pelo amor de Deus ir embora daqui!” (do Brasil) minha única vontade é dizer “eu também pessoa… vamos trocar de lugar?”

Qualquer dia desses enfio o Joel numa mala e o nome do blog muda para “de volta para minha terra”. Pena que o programa do Gugu acabou.

 

Licença parental

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Essa barriga não é minha. Tirei ela daqui

Essa barriga não é minha. Tirei ela daqui

Chega de mimimi nesse blog e vamos partir para algo mais sério: a licença parental sueca, o chamado föräldraledighet (föraldrar= pais, ledighet=folga e aqui no caso, licença) por meio do qual os pais do bebê (recém nascidos ou quando de uma adoção) recebem o salário parental (=föräldrapenning).

A licença parental sueca tem uma série de fatores bem únicos e é a mais longa (do mundo) atualmente. Eu estou meio avoada e está difícil organizar o pensamento, então decidi colocar a informação por meio de pontos:

* Na Europa, a licença maternidade deve ter no mínimo 14 semanas. Na Suécia, os pais da criança tem o direito de curtir 480 dias de licença. Não, você não está vendo coisas: os pais residentes em solo sueco tem direito a tirar 480 dias de licença parental.

* O direito aos 480 dias de licença não significam que os pais devem tirar a mesma desde o nascimento da criança até que ela complete seu 480° dia de vida. De modo geral os pais suecos costumam ficar em casa com o filhote até que este completa um ano – idade na qual eles podem ingressar no dagis ou förskola (são a mesma coisa, com a diferença de que dagis é o termo antigo utilizado para Centro de Educação Infantil, ou seja, as förskolor; como é o caso de creche em português).

* Os dias de licença que não forem gastos de uma cara com a criança podem ser “guardados” até que a mesma complete 8 anos de idade ou a primeira série do ensino fundamental. Se a criança chegou aos 8 anos e os pais não retiraram toda a licença, azar o deles.

* O salário parental sueco é um direito mesmo que você esteja desempregado ou seja um estudante. De forma geral, o salário parental pago é de, no mínimo, 6750 sek por mês (menos impostos) e máximo de 28320 sek (menos impostos).

* Os seis primeiros meses da licença são calculados tendo como base o salário da pessoa da mesma forma como se calcula um auxílio doença. Ou seja, a pessoa receberá durante os primeiros meses um valor correspondente a 80% do seu salário.

* Nos últimos 90 dias da licença os pais tem um salário parental menor, baseado no pagamento de 180 sek por dia (de licença).

* No caso de pessoas que não tem emprego fixo (eu, por exemplo) o cálculo se dá com base na média dos últimos 6 salários que a pessoa recebeu.

* Se você estava trabalhando (mesmo que com bicos) e ficou desempregado corra para o Arbetsförmedlingen (no mesmo dia se possível!) e faça um registro de desempregado. Esse ato fará com que você tenha direito (no caso de uma gravidez e da chegada de uma criança) a um salário parental baseado na sua contribuição pré desemprego.

* Caso não faça isso ou nunca tenha trabalhado, a pessoa recebe o valor mínimo de salário parental.

* E atenção: se você trabalha mas vai estudar, tem que trabalhar até o dia anterior ao ingresso ao seu curso para ter direito a um salário parental baseado no salário (enquanto empregado). Caso perdeu o emprego (como citei acima) vá imediatamente ao A fazer o registro de desempregado. Esperar (mesmo que seja um dia) pode significar a perda ao direito de receber um salário parental baseado em seu salário (e contribuições) anteriores.

* Mesmo quem gere seu próprio negócio tem direito a licença parental.

*Outro fator decisivamente sueco dessa licença é que o pai tem tanto direito de tirá-la quanto a mãe. Na cartilha, os dois tem direito a um número igual de dias de licença (240 cada) mas na prática são os pais que decidem quem vai ficar com o filho e por quanto tempo. Por exemplo: se a mãe quer tirar 6 meses de licença, e após esse período o pai quer tirar 6 meses de licença, basta informar o acordo ao Försäkringskassan (INSS sueco). Se a mãe decidir que não quer amamentar e que vai continuar trabalhando, tem direito a dois meses de salário parental (como um auxílio doença mesmo, considerando o pós parto). Depois o pai pode assumir por quanto tempo quiser. Do mesmo modo, se a mãe quer assumir toda a licença sozinha, o pai tem direito (obrigação) de tirar no mínimo dois meses.

* Os pais podem optar por tirar a licença juntos por um período de até três meses. Nesse caso, a mãe fica com o bebê metade do tempo (50%) e o pai a outra metade (50%). O único período em que os pais podem ficar 100% ao lado bebê ao mesmo tempo é durante o pós parto, ou no caso de férias (contribuição da leitora Ilka).

* De modo a incentivar que um maior número de pais opte pela licença existe até mesmo um bônus que a família recebe quando o pai assume seus 240 dias de direito.

* Ainda assim, o pai tem direito a permanecer 10 dias em companhia da família após o parto da criança independente da licença parental (ou seja, o pai, na verdade, tem direito a 250 dias de licença).

* Tanto o pai ou a mãe assalariado deve informar (com no mínimo 2 meses de antecedência) aos empregadores por quanto tempo deseja estar de licença parental.

* É proibido por lei que os empregadores neguem ou dificultem o direito de saída de qualquer pai ou mãe.

A licença parental é compartilhada na Suécia desde 1974. Antes disso, apenas a mãe tinha direito a seis meses de licença maternidade. Segundo o SCB, quando da implantação da nova lei a participação dos pais era de simplesmente 0%, passando para 5% em 1980, 10% em 1990 e 12% em 2000. No ano de 2011, 24% dos pais assumiram a parte que lhes cabe da licença parental.

Aqui em casa já decidimos que vamos dividir a licença. Mas conversando com outras mulheres, percebi que não é tão simples assim. Em primeiro lugar, de modo geral, os homens tem um salário maior do que as mulheres. Sendo assim, quando a família decide que o pai vai tirar a licença, as entradas da família diminuem muito mais do que no caso em que uma mulher tira a licença. De acordo com as estatísticas de emprego, mesmo no país feminista Suécia as mulheres ganham menos e trabalham em empregos sem estabilidade com mais frequência do que os homens.

Em segundo lugar, há o nosso caso. Sim, estou falando das estrangeiras. Nós demoramos a entrar no mercado de trabalho e às vezes, nem entramos. E não me refiro apenas as mulheres que vieram a reboque de um amor, me refiro também as famílias que mudaram para cá já com um trampo em vista. A maioria esmagadora muda porque o homi da casa arrumou um trampo aqui, e não vice versa. Sendo assim, no caso da chegada de um pimpolho, mesmo que a mulher não tenho tido salário nenhum o fato de ela assumir sozinha a licença parental representa um ganho (material) muito maior para a família.

Terceiro, passadas essas questões, existem homens das cavernas na Suécia também. Eu sei que às vezes parece que não, afinal, todos são ricos, lindos, loiros de olhos azuis que salvaram suas princesas da pobreza (latino americana ou tailandesa ou filipina ou onde você quer que possa imaginar). E esse é um perigo, porque quando o cara é realmente assim ele não passa de um príncipe machista mesmo com ideais de brucutu que quer uma dona de casa e não uma companheira. O fato de que apenas 24% dos homens na Suécia retiram sua parte da licença parental está sim vinculada ao pensamento conservador de que educar as crianças é coisa de mulher. E antes que alguém observe nos comentários que no Brasil é pior, eu quero deixar claro que não estou estabelecendo uma comparação. Primeiro, porque no Brasil nem há a possibilidade de que o pai tire a licença. Segundo, no Brasil até as mães tem suas licenças postas a risco devido a insegurança financeira.

Por fim, deixo para vocês os links utilizados para escrever os dados (os pontinhos e as estatísticas) desse post: forsäkringskassan e SCB. Deixo também um aviso aos navegantes: eu não vou responder a questões relacionadas a “como é que eu faço para dar entrada na minha licença Maria? Porque eu sou nova na Suécia, estou grávida e blá blá blá…”. Desculpe meninas, mas isso é bem importante e eu não posso ajudar agora. Primeiro, porque estou vivendo meu próprio período de cuidar da minha gravidez. Segundo, vocês não fizeram essas crianças sozinhas e acredito que o pai saiba sueco (ou no mínimo inglês, se está aqui a trabalho) e para ele vai ser bem mais fácil ler e entender tudo sobre a licença parental (basta escrever “föraldrapenning försäkringskassan” no google e clicar em pesquisar). Terceiro, esse processo é complicado e exige uma série de ligações, contato constante com o Försäkringskassan, envio de documentos e tudo o mais. Qualquer falta de informação ou mesmo desentendidos vão fazer uma grande diferença. Eu não posso assumir a responsabilidade de mastigar tudo e depois ainda escutar que passei a info errada. Infelizmente, é assim mesmo que tem sido ultimamente e por isso mesmo já deixo claro aqui que não vou dar orientações a respeito do tema.

Se ao contrário, você estiver a fim de conversar e desabafar porque assim como eu também não entende bulhufas desse sistema: seja bem vindx! Tanto aqui como na página da internet podemos trocar figurinhas.

Se ainda não curtiu a página no face, clique aqui.

Pequenas Grandes Coisas #31

Preciso responder aos coments dos posts anteriores mas… organização não é o meu forte e como tenho algumas coisas para contar decidi deixar umas novas antes de desistir por completo.

Estou avaliando seriamente se vou ou não a missa da Paixão. Como no caso não iria a uma igreja católica, não tenho ideia de como seria o ritual. Isso me dá um pingo de curiosidade mas também muita preguiça. Além disso tenho outras ideias na cabeça e não estou pensando em Jesus. Não é que eu tenha abandonado a fé ou etc, apenas não estou praticando e acho um pouco hipócrita sair de casa na sexta feira santa esquentar o banco de uma igreja quando eu sei que vou ficar pensando nas coisas que eu gostaria de fazer em casa…

Tenho me envolvido bastante com a reforma da sala de estar – e tudo o que isso significa. Reforma significa, além de tudo, que sua casa estará uma constante baderna e sujeira. Eu vou juntando um pouco ali, varrendo um pouco lá, mas depois de lixar as paredes… pá, não teve jeito. Tudo está meio branco e esquisito, meio grudando. Hoje quero fazer os últimos detalhes da pintura na parede (se as roupas do Benjamin já secaram) e costurar algumas coisinhas…

Eu me dei uma máquina de costura no Natal. Uma coisa bem simples. Eu não sou boa costureira não – não tenho paciência para os detalhes, vou cortando, emendando e metendo a costura reta (coff, coff) como dá. Se um lado ficou mais curto que outro… eu posso desmanchar uma vez. Mas não estou confeccionando roupas, porque eu tenho simancol. Mas fiz um boneco para o Ben quando estive no Brasil! Eu fiquei impressionada de que tenha ficado bom. Modéstia a parte. Tem gente que acha feio demais porque é preto, que é racista porque tem aqueles traços exagerados negros que um saci tem, e que vai assustar o menino – porque é um saci e porque tem uma perna só. E porque o Saci é mau (veja que mãe desnaturada: não vai a missa da paixão e ainda por cima confecciona um Saci para o menino!). Mas eu não estou querendo provocar ou ofender pessoas negras, só quero que meu filho tenha contato com o folclore brasileiro. E o Saci no folclore brasileiro é assim: um menino preto de uma perna só. Acho que o boneco vai servir também para ensinar o Benjamin sobre diferenças e sobre respeitar elas – tanto porque o saci é preto, tanto porque ele tem uma perna só. Há criança deficientes, pessoas deficientes no mundo; e já que é muito bom ensinar o menino a brincar de boneca e já que é muito fácil comprar bonecas “lindas” branquinhas e de olhos azuis (ironia viu gente)… meu trabalho tinha que valer a pena uai! E como eu disse, acho que meu saci ficou muito lindo. Não vai assustar o moleque não.

Saci

A foto – para variar – não é boa, mas sacaram que eu fiz dedos no pé?

Falando nisso, acho que é a primeira vez que escrevo o nome do guri no blog. Eu ainda não decidi o que vou escrever a respeito dele. Acho um barato mães que compartilham as aventuras dos filhos – esses blogs tem me salvo quando acordo de madrugada e não posso retornar ao meu sono de beleza e reparação. Mas eu tenho a impressão de que este blog não se transformará num blog materno. Eu escrevo só o que me vai na telha, sem um foco muito certo ainda… Em todo o caso, Benjamin foi uma escolha antiga. Sempre achei o nome lindo, o som, o significado. Convencer o Joel não foi um trabalho difícil, uma vez que ele tinha várias sugestões para nomes de menino mas sabia o nome que queria no caso de uma menina. Já meu caso era o contrário: tinha várias sugestões para nome de menina, mas sabia o que eu queria se fosse um menino… Decidimos que, fosse uma menina o pai escolheria o nome, fosse menino era minha vez. Há, ganhei!

Minha barriga está uma bolotinha, todo mundo diz que eu não engordei (eles não veem meu músculo do tchau, como ficou gordinho) e que estou só a  pança mesmo. Não vou postar fotos aqui, não enquanto minha irmã não me mandar algumas fotos que tiramos quando estive no Brasil. Ela tem muito talento e fez um trabalho muito bonito. Então eu não vou tirar uma foto meia boca com meu celular, o que eu costumo fazer sempre, só para ter qualquer imagem aqui. No mais, eu me sinto bem grávida. Me sinto bonita e ainda um tanto especial. É só não sair na rua… porque daí me bate aquela deprê da invisibilidade. No mais, o guri gosta de brincar com a minha bexiga: eu imagino desde o sapateado, até treino de MMA a um batuque cadenciado num surdo. Dias mais, dias menos. Agora começou aquela fase chata em que eu tenho que procurar uma posição confortável para dormir e eita! Que tarefa viu? De um jeito dorme a perna, de outro me dá cãimbras, de outro não pode porque tranca a circulação… Aí o menino já enfia o pé embaixo da costela e as ancas decidem começar a doer a uma hora da madruga. Mas por incrível que pareça… o que mais me incomoda são pesadelos – sempre acordo por causa de sonhos ruins – e uma ardência na pele, seguida de fortes dores no meu umbigo (dizem que é normal, só a pele se esticando mas eu tenho que confessar: morro de medo de ver a barriga se abrindo bem no meu umbigo e de perder a criança no chão! Em meio a tripas e muito sangue… lol). Não tenho estrias ainda – elas podem aparecer a qualquer momento. Dizem que é hereditário – minha mãe não tem muitas, nem minha irmã mais velha – e eu acredito que a alimentação é que faça uma incrível diferença nesse sentido. Bom, eu como frutas e verduras todos os dias – ainda que elas tenham gosto de nada. E passo óleo e creme em tudo, vivo bezuntada. Mas se vier, vieram e não há o que fazer…

Tem bastante gente curiosa a respeito do meu emprego. Como é que se resolveu? Porque vocês lembram que eu não havia dito nada no dia da entrevista não é? Pois… eu mandei um e-mail (pedi ajuda ao marido para redigir de forma que ficasse super objetiva, bem humilde) contando da gravidez e da data prevista para o parto. A primeira resposta veio rápida e rasteira, nem cinco minutos depois e extremamente enxuta: temos que conversar a respeito assim que você voltar para a Suécia. É, eu estava no Brasil. Respondi normalmente que claro que sim, que estava a disposição blá blá blá, mas já me deu aquele medinho de sofrer um bullying no trampo por causa da minha travessura. Trocamos mais alguns e-mails, todos assim bastante secos e objetivos: quanto tempo eu desejava de licença maternidade (essa história explico melhor depois), quando eu queria sair, se eu queria começar mesmo – uma vez que vou trabalhar entre um mês e um mês e meio… poderia tentar um espécie de auxílio gravidez e etc e tal. Mas no final das contas, assim que cheguei na Suécia recebo um telefonema da minha chefe desejando-me os parabéns pela minha gravidez. Isso me deu uma confiança e um alívio enorme!! Minha chefe parece ser uma pessoa bastante prática, e já organizamos tudo o que vai acontecer desde o dia em que começo (oficialmente 5 de maio) até o dia em que vou sair (mistério…).

Definitivamente, esse emprego afastou muitas nuvens negras do meu horizonte. Sempre tenho a impressão de que a minha falta de amor pelo solo sueco é devido a falta de segurança financeira e ao excesso de horas livres que eu tenho. Todo mundo tem uma vida e eu preciso imensamente de contato com outras pessoas – já confessei no post passado o quão carente sou – e não dá para ficar encontrando gente no meio da semana para um almoço, um fika, uma escapadinha; afinal, os outros tem o que fazer, sou eu que estou aqui de varde. No fim das contas, cai tudo nas costas do Joel e como eu quero preservar o meu relacionamento, eu tento maneirar e não grudar nele assim que ele passa pelo umbral da porta. Ainda estou naquela vibe de saudades intensas do Brasil, simplesmente porque lá nunca estou sozinha.

Aqui, morando no campo e numa casa, posso curtir a paz e o sossego até enjoar. E eu enjoo rápido. Tenho ouvido muita música enquanto estava lixando paredes e pintando. E não é perigoso para o bebê? Não, eu uso máscara e não estou me matando de trabalhar. Fiz uma porrada de pausas enquanto lixava – meu músculo do tchau gordinho é pesado, eu não posso trabalhar um tempão com ele dependurado no meu antebraço – para comer, tomar água, ligar para outras pessoas, tirar uma soneca ou só ficar de bobeira na internet – tem muito blog materno para ler e, graças a Deus, uma comunidade grande de mães para trocar figurinhas.

Fui trabalhar duas vezes. Uma vez como assistente pessoal, outra num trampo que arrumei em fevereiro para fazer uns bicos, que é uma mistura de assistente pessoal e behandlingsassistent. Como assistente pessoal trabalhei algumas vezes com uma moça, e foi uma experiência muito boa. Já no outro trampo… a equipe de trabalho não é unida e bom, é difícil trabalhar quando um fala mal do outro o tempo inteiro. Mas,  como diria minha amiga Angela, eu não estou dando bicudas em notas de cem e quando eles me ligam, eu vou. Só que é realmente um alívio olhar para o relógio e perceber que só falta uma hora para sair. Sério… nunca me senti assim nem quando trabalhava como faxineira na Suécia! Esse é, de longe, o pior trampo que já tive na vida.

Por essas e outras é bom e mau ficar em casa. Bom porque eu acabo descobrindo algumas coisas bestas – tipo Bezerra da Silva! – que são maravilhosas e mau porque eu não tô fazendo nenhum dinheirim. Já não fiz dinheirim nenhum mês passado, só curtindo a vida boa no Brasil…

Ainda assim, tô animada. Vou aproveitar esse mês para deixar as coisas do piá engatilhadas – quarto pronto, se Deus quiser – que mês que vem eu já tenho uma agenda de trabalho… e em junho tem o chá de bebê sueco!

Então é Páscoa e eu não comprei nada de chocolates. Eles me dão uma sensação super estranha e no dia seguinte eu tenho tipo… ressaca. E eu tô fazendo um curso de parto natural. E descobri umas manchas brancas na minha bochecha. E sardas na testa! Também decidi que vou fazer um quadro usando uma janela velha como moldura… só não decidi que fotos vou colocar ainda. E quero costurar os lençóis para a cama do guri… e uma cobra de tecido… e comprar uma máquina fotográfica…

Eu já disse que estamos reformando o banheiro?

Será tabu?

Dias atrás eu comentei que as grávidas suecas costumam esperar no mínimo até o término do terceiro mês para compartilhar a notícia de que estão esperando, às vezes até mesmo nem os membros mais próximos da família sabem. Eu fico imaginando como é que é que ela escondem os enjoos, o cansaço e outros trelelês que são comuns nos primeiros meses de gravidez entre as mulheres em “estado interessante”.

Eu liguei para a família (tanto a brasileira como a sueca) no mesmo dia em que descobri. Mandei sms para as amigas no Brasil (quase matei algumas do coração!) ou recadinho no facebook, além de mandar um sms para o pessoal próximo aqui também. Recebi um monte de recadinhos de volta, sms e também mensagens pelo facebook, com congratulações. Estava me sentindo a própria rainha da cocada preta.

Eu acho que essa parte de contar para todo mundo é tão legal: não tem uma pessoa que fique triste. Eu lembro que uma das minha colegas de trabalho ficou tão emocionada que chorou. Me deu um abraço forte e disse que desejava paz e bem para mim e a criança. Me deixou emocionada também. E encucada… por que as suecas não compartilham do seu “estado interessante” logo que o descobrem?

Uma das coisas que ouvi por aqui é que o pessoal quer ter certeza que a criança vai “vingar”: segundo uma pesquisa de 2010, cerca de 12 mil suecas perdem seus bebês a cada ano, o que significa que entre 10 e 35% das gestações (a estatística varia de acordo com a idade da mulher) terminam antes do terceiro mês. Isso não é muito comparado com os números de abortos provocados na Suécia. Em todo o caso, não estou aqui para retomar aquela discussão e nem para estabelecer um juízo de valor, mas a impressão que tenho é que há um tabu gigantesco em torno do aborto espontâneo.

Uma das primeiras vezes que encontrei uma grávida aqui ela estava no quarto mês e com uma barriga aparente. A gente foi a uma festinha de uns amigos e a guria estava lá, para cima e para baixo com super cara de grávida mas o resto do povo tava assim… sei lá, como que ignorando o “estado interessante” dela… É difícil explicar. Eu perguntei ao Joel se ele sabia se aquele casal estava esperando, e ele só riu e disse que não sabia, que provavelmente ela estava gorda. Daí foi a minha vez de rir: gorda? Com aquela barriga de grávida? Sem essa. Lá pelo meio do jantar o casal levantou e informou aos presentes a gravidez da guria. Achei aquilo super surreal – um monte de gente fazendo cara de surpresa, um monte de vivas e tals e o clima do ambiente mudou, com toda a mulherada passando para abraçar e cumprimentar a futura mamãe… super cara de pau ou sei lá, respeito?

Ou vai ver que o pessoal na Suécia é como o Adão aqui...

Ou vai ver que o pessoal na Suécia é como o Adão aqui…

Recentemente um casal de amigos próximos “engravidou” e eu fiquei super surpresa quando a guria me contou mas pediu que eu não comentasse com outras pessoas, pois eles estavam dividindo a notícia apenas com os mais próximos. Me surpreendeu eu ser uma entre “os mais próximos”, mas também o fato de que eles não queriam que muita gente soubesse porque “a primeira gravidez a gente nunca sabe… há um risco grande de aborto espontâneo”.

Obviamente, a questão é choque cultural… mas eu ainda fico imaginando se não há um grande tabu por detrás dessa história toda. A impressão que levo é que perder uma criança aqui é tão ou mais chocante do que no Brasil, onde ser mãe é ainda uma questão imposta pela sociedade, não uma escolha. Aqui, apesar do debate em relação a questão ter versus não ter filhos parecer estar mais avançado, ainda é chocante que mulheres não possam levar adiante uma gravidez – tanto que elas guardam o fato somente para si e os mais próximos. É claro que cada um tem o direito de dividir o que bem quiser a respeito da sua vida, mas se a gravidez é um motivo de alegria para o casal, por que esconder? Suecos são mais reservados, em todos os casos. Só não entendo gente que tem uma super barriga e ainda disfarça que não está grávida.

Uma das minhas cunhadas me perguntou se eu queria que a minha gravidez fosse um segredo até o terceiro/quarto mês da gestação e eu respondi que elas poderiam comentar que seriam tias para todo mundo  porque eu não entendia essa coisa de “esconder a gravidez” – se eu perder a criança, quero que as pessoas que estão ao meu redor e gostam de mim possam me apoiar; não quero virar uma mártir solitária. Aí ela comentou que também não entendia isso, que parecia que era feio uma mulher perder o bebê… eu fique surpresa por ela dizer isso e começamos a discutir um pouco a questão. Todo mundo que eu conto a respeito da gravidez fica surpreso por eu dividir isso assim (puxa, tão cedo… você ainda nem completou o terceiro mês!), mas eu ficou enjoada toda vez que abro uma geladeira (agora tá melhorando!), recebi uma lista enorme de coisas que não devo comer durante a gestação e aí? Como é que explico que a louca por carne aqui de repente parou de comer presunto? Seria lindo dizer que estou apoiando a causa de ativistas contra os maus tratos animais mas, a bem da verdade é que, apesar de eu respeitar o trabalho deles, quero mais o meu pedaço de bife suculento no prato. Ao invés de ficar de mimimi é muito mais simples dizer simplesmente: estou grávida. Só que na cultura sueca o buraco é mais embaixo…

Tô viajando na maionese? Será tabu? Ou só mais uma questão de choque cultural?

As loucas aventuras de uma Caipira que só queria ir ao médico

Pra terminar, as boas e velhas histórias de como é fantásticamente maravilhoso viver num país de primeiro mundo.

Ontem liguei para o posto de saúde querendo marcar uma consulta. Já falei por aqui, ou não (não lembro) que posto de saúde na Suécia é como emergência: se você vai parar lá sem febre, muita dor ou desmaiando, você será enviado para casa pela enfermeira. Nas emergências de hospital então, tem que chegar desmaiada, em coma alcoólico, vítima de ataque cardíaco, sangrando ou com fratura exposta. Dadas que as minhas circunstâncias não preenchem nenhum dos quesitos acima (graças a Deus) decidi marcar uma consulta para fazer um check up, afinal, não estou numa situação de sofrimento extremo mas depois que deixei os meus anticoncepcionais o meu mundo está sendo regido pelos meus hormônios.

Eu não me reconheço: não tenho mais dores de cabeça (ótimo, provavelmente não vou morrer por causa de um aneurisma cerebral) mas estou cansada a ponto de dormir o dia inteiro e só levantar porque tenho dores no corpo de tanto ficar deitada. E enjoada. E não, não estou grávida, o que me deixaria feliz por saber exatamente o porquê desses sintomas.

Poderia ser anorexia, não fosse o fato de que comer para mim é quase um esporte. Adoro comer. E muito. Não tenho quilos a menos, nem a mais, provavelmente estou gastando todas as minhas calorias com minha rotina louca. E sim, provavelmente eu estou estressada – e é claro que todo mundo já notou a hipocondria.

Enfim, ligo para o posto de saúde e digo a enfermeira que quero marcar uma consulta. Abaixo segue o diálogo:

Ela: Por que?

Eu: Eu quero fazer um check up.

Ela: De que tipo?

Eu: Sabe, exames de sangue e essas coisas.

Ela: Por que?

Eu: Por que o quê?

Ela: Por que quer fazer exames de sangue?

Eu: Porque penso que posso ter… eu não lembro o nome dessa coisa em sueco… a… anemia?!

Ela: Sim, sim, eu entendo. Anemia. Mas então você pode comprar ferro na farmácia como complemento alimentar.

Eu: Sim, mas eu acho que pode ser anemia. Não sei se é anemia.

Ela: Você tem algum sintoma?

Eu: Sintoma de quê? Febre, dor de cabeça? Não. Não sabia que anemia tem sintomas! Só cansaço.

Ela: Então pode ser apenas que você precise descansar.

Eu: Tenho cansaço e dores no corpo.

Ela: Sim mas as dores no corpo são por causa da sua doença X.

Eu: Doença X???!!! Que doença X? Eu não sabia que vocês já tinham meu diagnóstico!

Ela: Está aqui no seu jornal. Você visitou o dermatologista o ano passado, não visitou?

Eu: Sim.

Ela: E qual o tratamento que você recebeu para a doença X?

Eu: Não tenho nenhuma doença X; tenho melasma e rosácea. Fui ao dermatologista por questões estéticas.

Ela: Mas está aqui no seu histórico de saúde (na Suécia, tudo o que os médicos dizem sobre você fica num histórico o qual as enfermeiras dos postos de saúde tem acesso), que você tem a doença X. Quem tem X sofre muito com cansaço e dores no corpo.

Eu:??? Sei lá do que você está falando. Nunca ouvi falar de X, não sabia que tinha essa doença e nunca fui tratada por causa de X. Eu fui ao dermatologista sim, mas foi por causa de uma mancha no rosto e inflamações na pele, como eu disse, melasma e rosácea. Eu definitivamente não sei do que você está falando!

Ela: Você não a Maria Helena blá blá blá?

Eu: Sim.

Ela: Você não tem uma mancha sobre o nariz?

Eu: Não!!…??

Ela: Você tem certeza de que não foi tratada de X?

Eu: Absoluta.

Ela: Em que partes do corpo você sente as dores?

Eu: (morrendo de vontade de dizer aqui óÓÓó… a consulta agora é pelo telefone???). Nos braços.

Ela: Nos dois?

Eu: Sim. Nos dois braços, no ombro direito, atrás da cabeça. (decidi exagerar, já que o negócio era estar meio morrendo…). E também nas pernas e nas costas. 

Ela: Tem certeza que você não sabe o que é a doença X?

Eu: Eu nunca havia ouvido alguém falar disso antes de conversar com você hoje.

Ela: Então seria melhor você ver um médico.

Eu: Foi exatamente por isso que eu liguei, se você lembra (uá tá faqui mem???).

Ela: Ok. O primeiro horário vago é…

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Isso tudo e eu vou pagar pela consulta. Mas agora estou fazendo uma lista de tudo o que quero falar para o médico. Talvez seja a última vez que consiga marcar uma consulta. Vai que eu peguei a enfermeira mais boazinha do pedaço??

Pensa que é fácil?

Pequenas Grandes Coisas da Minha Vida Sueca #27

Algumas atualizações rápidas e rasteiras.

Devido aos milhares de nove pedidos para que eu não feche o blog agora, vou continuar postando meus blá blá blás e desabafos da madrugada, ao menos, for a while. Eu realmente não gosto dessa coisa de blogar pela metade e é assim que me sinto ultimamente: não consigo terminar alguns rascunhos de há muito tempo, teve gente que me pediu mais dicas para estudar sueco, não respondo os coments. Ultimamente me sinto fazendo muita coisa pela metade e isso prova que estou abraçando mais do que posso dar conta. E meu tempo voa! Preciso no mínimo de duas horas para cada post. Och det är mitt fel – a culpa é minha. Eu gostaria de ser uma pessoa  que não cobra tanto de si mesma e que simplesmente posta uma foto do cachorro e voilá! bloguei. Antes que alguém fique brabo, não tenho nada contra gente que posta três linhas e acho mesmo é que essas pessoas é que são felizes. É que eu não consigo, primeiro porque não sei tirar fotos decentes e segundo, não me dou essa liberdade. Comecei o post dizendo que seriam atualizações rápidas e rasteiras mas dá uma olhada para esse parágrafo?

Falando em gente que está a caça de dicas de sueco, deem uma passada no blog da Rúbia – Carioca da Clara Suecando. Quem quiser uns áudios de sueco deixe um comentário com o nome do usuário da conta do Drop Box que eu compartilho; é o melhor que posso fazer por enquanto.

E falando em estudar, recebi a resposta sobre a minha candidatura para o mestrado e começo a estudar em agosto. Inglês. Como eu já suspeitava, meu inglês foi considerado insuficiente – não há o que chorar, é verdade; e antes que eu alcance o nível Engelska 6 posso esquecer a universidade. Sinceramente, me deu quase um alívio: eu realmente não tô afim de cursar universidade agora, ainda me sinto muito insegura com meu sueco e sendo assim, com sueco mais ou menos e inglês mais ou menos eu só sofreria. A gente já recebe muita merda nessa vida de graça, eu não preciso adicionar umas pitadas a mais, obrigada. E aproveitando o ensejo e para evitar futuras surpresas vou estudar o SAS 3 também. Espero que… nem vou esperar nada.

Depois de muita enrolação faço o segundo curso obrigatório para a carteira de habilitação semana que vem. Pra quem queria fazer a carteira em um mês e começou em março… tá longe ainda. Mas estou estudando o livro teórico – körkorts… alguma coisa. E nessas horas é que dá para perceber o quanto meu vocabulário em sueco é pequeno; pá… são muitas palavras que eu não tenho a menor ideia do que significam. Tenho que ler mais e ouvir mais rádio.

Agora tenho um carro no meu nome porque o seguro é mais barato. Estatisticamente, mulheres são muito mais cuidadosas no trânsito do que os homens, apesar de que comprovadamente eles são melhores na hora de estacionar.

Continuamos trabalhando a todo o vapor com a casa e quase todo dia vem gente ajudar. Uma das coisas que me deu medo quando o Joel disse que queria mudar para o “campo” foi que a gente ficaria isolado. É verdade que alguns amigos que víamos antes agora a gente não vê com tanta frequência, mas de outro lado a casa está sempre cheia. Cheia de gente e cheia de coisas a fazer. E esse é um dos pontos em que tenho que aprender a relaxar…

Cuidar de uma casa de quase 100 metros quadrados não é mesmo que cuidar de um apê de quarenta. Parece que eu nunca consigo terminar de limpar a casa – e sim, agora estou falando igualzinho a minha mãe. Ainda mais com reforma e com tanta gente que vai e vem, que entra e sai, tem dias que eu simplesmente me pergunto de onde vem tanto pó se nesse país chove quase todo dia?

Ok, eu não vou reclamar do clima não porque apesar de frio – as temperaturas estão na média dos 15 graus C – os dias estão ensolarados e se não venta dá para se esbaldar no sol de camiseta. E os dias estão super claros, com luz do sol até quase meia noite e o dia começando a despontar as 2h30m, 3h da matina. Isso dá um pique de deixar tudo bonito: tirar as teias de aranha, plantar flores, trocar as cortinas…

Me empolguei tanto que até fiz aqueles cartões de clientes tanto no Ikea como na Class Olsson. E uma lista! Que será providenciada aos poucos afinal, não há salário que aguente quando se é substituto.

Falando em emprego… conversei com minha handläggare sobre a nossa relação por cartas. Ela me disse apenas que está seguindo o protocolo e… cara, eu tenho muita dó de todo mundo que está inscrito no A. Se o protocolo deles é desse nível, não é de se estranhar que muito poucos estrangeiros tenham emprego. E aquele relatório que ela disse que eu teria que enviar, eu entendi tudo errado e recebi outra bronca sutil – mas até fiquei feliz, porque dessa vez a bronca veio por e-mail. Em todo o caso, dá para perceber porque eu e o A fazemos uma dupla de sucesso: eles com um protocolo super moderno e eu que não entendo nada. Tenho até amanhã para enviar um novo relatório… adivinha? Nem comecei.

Parei de tomar anticoncepcional porquê mais uma vez descobri que o anticoncepcional que estou tomando é uma bomba: troquei um anticoncepcional que me fez ficar com o rosto manchado por outro que pode me dar trombose. Quem quiser ler mais sobre isso é só usar o Google e as palavras chave Yaz e trombose. 27 mulheres canadenses morreram e há indícios de que o anticoncepcional que elas usavam (Yaz) pode ser  a causa da morte – por tabela. Entre os efeitos colaterais dos anticoncepcionais da marca Bayer (Yaz e Yasmim) há o alerta sobre trombose, sendo que a vigilância sanitária – tanto nos EUA como na Europa – já vinha alertando sobre esse “detalhe” desde 2011. O que me assusta é que mesmo que as agências de controle emitam os alertas os medicamentos continuem sejam receitados.

Mas eu to bem e a vida continua, semana que vem tem Midsommar e logo logo meus pais estão aqui! Com minha irmã mais nova a tiracolo. Eu me caso mês que vem e quase nem posso acreditar que o tempo passou tão rápido. Ainda nem decidimos por completo o menu do dia porque o chef do local da festa é tão enrolado quanto eu. Nem escolhemos o bolo…

E tipo, já falei que estou com torciolo de novo? A segunda vez no último mês…

 

Indiana Joel e Maria Jones em busca do poço perdido

Tantanratammmm! Tantarammm! Tantanrantamm! Tantanrantantam!

Tantanratammmm! Tantarammm! Tantanrantammm-tarantammm-tarantammm- tarantam!

Ok, isso era para ser aquele clássico de John Williams que ficou extremamente famoso como tema do sucesso do cinema Indiana Jones. Quem não lembra da trilha sonora precisa por o vídeo do You Tube abaixo para rodar antes de ler o post. Quem lembra pode cantar usando a letra (super fiel) que eu deixei acima. =)

Lembram que semana passada eu falei sobre os problemas de fungos/mofo que acometem as casa suecas? Muito obrigada a todos os que me mandaram um alô desejando sorte no combate aos fungos, mas graças a Deus esse não é o caso – ou melhor, ainda não. O fato é que como citei naquele post, algumas medidas de prevenção tem que ser tomadas caso alguma fonte de umidade seja detectada, e foi assim que começou a nossa aventura.

Nossa casinha foi construída na década de 70 e na época o plano era construir uma casa de dois pisos. O projeto inicial não foi aprovado e por isso o pessoal encontrou um jeitinho para o problema: construir uma casa com um porão (källare). No terreno há uma grande rocha meio arredondada que foi explodida e trabalhada de modo a formar uma espécie de “caixa” para a casa. Olhando de frente a casa parece ter um piso só, olhando de trás e de lado dá para ver que são dois. A “terra” que circunda a casa é na verdade uma grande rocha.

casinha

Naquela época ainda não era possível acoplar o sistema de abastecimento de água da casa ao sistema de abastecimento de água da kommuna (município). Assim sendo, foi feito um poço (artesiano) e foi instalada uma bomba d’água dentro da casa, no porão.

O tempo passou, o porão foi aos poucos se transformando em um pedaço da moradia e a bomba foi ficando velha. Em março descobriram um vazamento na bomba e isso significa problemas: água=muita umidade e muita umidade pode ser igual a fungos. Teríamos que trocar a bomba d’água, e isso era para ontem.

Contactamos o encanador (cano em sueco é rör [ett rör], e encanador rörmokare) que disse que precisávamos achar o poço (brunn – en brunn) para verificar o sistema de encanamento da casa e instalar uma espécie de bomba d’água mais moderna que fica dentro do poço. Sinceramente, eu sei lá se isso é impressão minha mas acho que no Brasil já se sabia (há 40 anos atrás) que as bombas d’água funcionam melhor dentro do poço. E isso que nem temos problemas com mofo por lá (depois o Brasil que é subdesenvolvido).

Em todo o caso, nada disso seria algum problema se alguém soubesse onde o poço estava… pois o poço em questão estava enterrado, sem nenhum tipo de marcação. Não encontramos nenhuma nota fiscal da empresa que fez o poço e nem um mapa que pudesse indicar onde o poço estava. O ex dono da casa disse que achava que o poço estava em uma das esquinas da casa, próximo a janela da cozinha. Sabíamos – com certeza – apenas que a bomba está (dentro da casa) a uma profundidade de 180 cm abaixo da terra (se pensarmos no lado de fora) e que poderíamos cavar para seguir os canos para descobrir onde o poço estava. Conversamos com alguns vizinhos, nenhum deles sabia dizer onde o poço estava, apenas que normalmente o poço ficava a uns quatro metros de distância da casa. Fazer buracos de 1,8m de profundidade até os canos e depois continuar seguindo por possivelmente quatros metros… nada mal.

Fomos eu e Joel fazer uns buracos no quintal para tentar achar os canos e encontramos… pedras. Muitas pedras. Muitas pedras grandes. Provavelmente foram resultado da explosão da rocha que o pessoal não soube o que fazer e que alguém teve a ideia de jerico de colocar ao redor da casa – assim como quem perfurou o poço e instalou o encanamento teve a ideia de jerico de esconder o poço. Tudo bem, a ideia de seguir os canos não parece viável, afinal.

Alugamos um detector de metal, acreditando que o poço provavelmente teria uma tampa de metal e… nada. O treco “bipou” como louco o quintal inteiro, menos no local em que o ex dono da casa disse que provavelmente encontraríamos o poço. Enquanto isso, a bomba continuava vazando água dentro da casa e era só uma questão de tempo para o problema se tornar um problemão.

Well, grandes problemas exigem grandes intervenções. Alugamos um brinquedinho para acabar com a palhaçada.

Alguém aí acha que o Joel se divertiu?

Alguém aí acha que o Joel se divertiu?

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Só para dar um close no tamanhinho das pedras.

E, voilá! Eis que encontramos o poço!

Que tampa de metal que nada... a mais ou menos um metro embaixo da terra

Que tampa de metal que nada… a mais ou menos um metro embaixo da terra

O rörmokare vem na quarta instalar a bomba nova. Encontramos o poço perdido e estamos livres da ameaça terrível dos fungos! Eeeeee! É certo que também destruímos o quintal, mas tudo porque além de usarmos a máquina para encontrar o poço começamos o trabalho de drenagem. Mas essa já é outra história.

Uma coisa eu tenho certeza: colocarei uma placa bem grande (brunnen ligger här) para que ninguém, no futuro, xingue as pessoas que trabalharam com esse poço como eu xinguei nesse mês de abril e maio. Se o que dizem é verdade – que quando alguém fala mal de nós ficamos de orelhas quentes – algum idoso por aí ficou com as orelhas queimando!

Para finalizar, deixo vocês com um poema:

No meio do caminho

No meio do jardim tinha um poço
tinha um poço no meio do jardim 
tinha um poço
no meio do jardim tinha um poço. 

Nunca me esquecerei desse acontecimento 
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do jardim 
tinha um poço 
tinha um poço no meio do caminho 
no meio do caminho tinha um poço

(Paródia do poema “No meio do Caminho” de Carlos Drummond de Andrade).