Uma Caipira em Portugal – Fátima e arredores

Pensei que conseguiria escrever o post já no início da semana mas nem. Todo mundo que tem blog e que não bloga todos os dias gostaria de fazer isso e eu não sou exceção. Escrevi um pouquinho por pouquinho e foi bom porque assim pude organizar um pouco melhor as ideias.

Eu queria conhecer Fátima há muito tempo, acho que desde que a Gisele mudou-se para Algarve eu pensava em visitar a ela e de quebra dar uma esticada para Fátima. Outros carnavais aqueles… sem Joel, sem Suécia, só sonhos de universitárias recém formadas. Sim, a Gi foi minha colega de facul, uma pessoa super especial. Bons tempos aqueles da faculdade – e não… Formadas, cada uma tomou seu rumo e ela casou-se, mudou para Portugal – eu sempre prometendo visitar… ela voltou para o Brasil em novembro e eu fui pisar nas terras lusitanas um mês depois.

Quando os tios do Joel nos convidaram para viajar com eles nos disseram que gostariam de ir a Portugal e perguntaram se nós tínhamos ambição de conhecer algo por lá, e eu falei de Fátima… mas eu não pensei que eles teriam vontade de visitar um Santuário Mariano; afinal, não é esse o modelo de família protestante a que eu estava acostumada – ou que meus preconceitos aceitassem que exista. Eles acharam o maior barato e incluíram Fátima no passeio para minha grandessíssima surpresa.

Não posso me descrever como uma pessoa devota mas eu vivi dentro da igreja toda a minha adolescência e carrego uma herança muito forte dessa fase da minha vida – de aspectos tanto positivos como negativos. A padroeira da cidade em que cresci é Nossa Senhora de Fátima e ainda sou uma pessoa que acredita na força da oração e da fé, como também acredito no poder de intercessão da Virgem Maria. Esse não é um blog de evangelização e o objetivo é falar da viagem, mas fica meio estranho dizer que fui a Fátima e adorei a experiência sem explicar porquê. Foi maravilhoso ir a Fátima porque vivi uma maravilhosa experiência espiritual.

Mas antes disso, comecemos do começo!

Saímos de Lisboa no domingo (de carro) e seguimos em direção a Porto de Mós – “município” em que nos hospedamos – pela rodovia que passa próximo a Santarém. A estrada era muito boa e até que achei que o pedágio não estava tão salgado (foram 3,75€ pagos em cada praça – duas – em que passamos), afinal, quem viaja nas estradas no Paraná está acostumado a deixar um absurdo nas praças de pedágio da 277. Paramos em Santarém para dar uma espiada no túmulo de Pedro Álvares Cabral – sim, para quem percebeu, fomos ver muitos mortinhos durante esse passeio – que está dentro da Igreja da Graça de Santarém.

Túmulo de Cabral

Túmulo de Cabral

Eu estava mais afim de pegar a estrada A8 que passaria por Óbidos do que visitar o túmulo de Cabral até encontrar um post muito interessante na internet: Pedro Álvares Cabral: três túmulos para um homem só, que vocês já podem imaginar do que se trata. Resumindo: Cabral caiu em desgraça perante o Rei Dom Manuel de Portugal e foi banido da corte; o que fez ele mudar-se para Santarém – onde não há nenhum registro sobre a vida dele até sua morte (1520). Foi enterrado e mais tarde transladado para o mesmo túmulo da esposa, no qual havia apenas a menção de seus ossos. Zé fini… até que um historiador brasileiro foi a Portugal e quase criou uma crise internacional ao afirmar que ninguém dava pelota para o túmulo de Cabral. Abriram o túmulo em 1882 e encontraram 3 ossadas (provavelmente Cabral, a mulher e um filho) e mais o esqueleto de uma cabra! Na época não havia uma maneira de confirmar que aqueles eram realmente os restos mortais do navegador mas, em todo o caso, fez-se um túmulo bonitinho em honra ao descobridor do Brasil. Só que mais de uma cidade afirma ter os restos mortais de Cabral e… bom, quem sabe?

Meu modelo favorito e ao fundo a Igreja da Graça; à esquerda a Casa Brasil.

Meu modelo favorito e ao fundo a Igreja da Graça; à esquerda a Casa Brasil.

Logo ao lado da Igreja da Graça está a Casa Brasil e acredita-se que foi lá que Pedro morou. Dentro da casa não há nada muito interessante, apesar de que é uma surpresa entrar dentro daquela construção e perceber que era realmente grande por dentro. Por fora ta meio esbagaçada e não há dentro da casa nada que lembre o séc XVI. Se é verdade que os portugueses não deram pelota para Cabral não sei mas senti falta de alguma coisa a mais no interior do imóvel (onde havia uma exposição de arte moderna, na verdade). Seria difícil tentar montar uma casa com móveis que pertenceram a um Zé Ninguém (quem brigava com o rei estava condenado a isso) e acho pouco provável que alguém tenha guardado pertences de Cabral mas seria legal entrar na casa e vê-la decorada com móveis que remontassem a época.

Depois de comer um bocadinho, paramos também nas muralhas da cidade de Santarém. A vista do alto da muralha é fantástica, mas eu mesma não tirei fotos do lado de “fora”, apenas do lado de dentro. Esses personagens vocês já conhecem…

O amor... ah! O amor!

O amor… ah! O amor!

Cortamos para oeste em direção a Óbidos mas… havia uma feira ou não sei o que na cidade que estava lo-ta-da. Não havia onde estacionar para dar um passeio a pé e entrar na cidade com carro alugado era pedir para ter problemas; por isso ficamos apenas com a vista de longe…

Óbidos - de longe...

Óbidos – de longe…

De lá continuamos rumo a Porto de Mós por uma via secundária, uma estrada mais estreita (sem pedágios) e com uma vista mais bonita. Demos uma última parada em Alcobaça para dar uma espiada em um mosteiro e depois, direto para nosso hotel/pousada que ficava na localidade de Livramento.

Ali conheci a Dona Maria do Céu – a dona da pousada muito papuda e simpática – e roubei mexericas  ou “clementiner“; como se diz em sueco. Também ali me dei conta de que havia extraviado o adaptador para o carregador da bateria da máquina fotográfica, e a bateria com menos da metade da carga… E no outro dia iríamos a Fátima! Pá, às vezes me irrito comigo mesma.

Visitamos primeiro o mosteiro de Batalha que fica na cidade de Batalha – cerca de 15 km da pousada – mais um monumento histórico, mais túmulos de reis portugueses. Fica estupidamente claro que os tempos de glória portuguesa já se foram. Triste, eu acho. Corrupção faz muito mal para todo mundo e eu imagino o que seria do Reino Portugal se alguma vez na história seus monarcas tivessem pensado em melhores formas de investir tanto dinheiro. Batalha começou a ser construído no séc XIV e nunca foi terminado. O mosteiro foi um marco importante – assim como o quase vizinho Alcobaça – naquele tempo em que os cristãos tiraram as terras portuguesas das mãos dos mouros. Quem iniciou a construção foi Dom João I e mais sete reis viveram até que, em 1517, Dom Manuel decidiu empenhar todos seus esforços e recursos em Lisboa para a construção do Mosteiro dos Jerônimos. Ainda assim, há muito do estilo manuelista em Batalha. Atualmente, Batalha encerra dentro de si uma ala cheia de homenagens aos soldados portugueses que deram suas vidas em diferentes “batalhas” pelo mundo.

Portal da Igreja do Mosteiro de Batalha.

Portal da Igreja do Mosteiro de Batalha.

Foi então que chegou a vez de Fátima: chegamos por trás do Santuário, dei de cara com uma placa que informava os horários de missas e dos terços e para minha sorte o terço na Capela das Aparições começaria em 10 minutos. Eu tava um pouco insegura com relação a famiage, informei meio rapidinho que iria rezar o terço das doze e fugi até a Capela, meio que pensando que o povo deve achar que a Maria ficou louca… até que o Joel veio se sentar do meu lado. O sino repicou o hino de Fátima ao meio dia e rezamos o terço juntos, sentindo a paz de Deus. É lindo.

Na frente da Capela das Aparições, depois do terço.

Na frente da Capela das Aparições, depois do terço.

É difícil explicar porque uma coisa que não faria sentido nenhum – visitar uma velha capela onde três crianças dizem ter visto a Virgem Maria – faz tanto sentido. Se é a fé, se é porque a gente se deixa levar pelo ambiente, se é por causa da minha educação… não sei se importa: quando sentei lá e rezei o terço com os demais peregrinos foi uma das experiências mais bonitas da minha vida.

Infelizmente é só sair do Santuário para receber um choque: milhões de lojinhas de terços e imagens para todos os lados! Sério mesmo: parecem as tendinhas de Salto del Guayrá no Paraguai, todo o ambiente espiritual de paz e presença de Deus se quebra em mil pedaços com a balbúrdia dos negócios. Eu sei que tem muita gente que quer comprar lembranças de lugares santos, mas o negócio toma proporções ridículas, a ponto de um terço comum custar 5€! Pode uma coisa dessa? Pior do que isso é saber que essa cena se repete ao redor de cada Santuário – Mariano ou não – pelo mundo afora. Nessas horas dá vergonha de ser católica viu?

No meio dessa balbúrdia de lojas de artigos religiosos há, não muito longe do Santuário (cerca de 10 minutos caminhando), o museu de cera de Fátima que conta tintim por tintim a história das aparições: Lucia, Jacinta e Francisco são pastores que recebem a visita de um anjo em 1916, e no ano seguinte, a visita da Virgem Maria a 13 de maio, junho, julho, setembro e outubro. Foram 6 aparições ao todo, 5 na Cova da Iria e mais uma em Ajustrel, a 19 de agosto. Francisco e Jacinta morrem nos anos seguintes de febre espanhola (1919 e 20, respectivamente) e Lúcia torna-se irmã carmelita, morrendo aos 97 anos em 2005. Recente, não é? Ela assistiu a beatificação dos primos. A maioria dos bonecos são bons, alguns precisam visivelmente de manutenção mas com certeza, o melhor deles é o do Papa João Paulo II.

Eu e o papa! Essa era a imagem de cera mais bonita do museu!

Eu e o papa! Essa era a imagem de cera mais bonita do museu!

Voltamos ao Santuário e eu assisti ao final da missa das 15h; visitamos os túmulos dos pastorinhos – mais uns – no interior da Igreja do Rosário de Fátima. Por  fim visitamos as casas em que viviam os pastorinhos, assim como o lugar em que lhes aparecia o anjo em 1916 – há uma linda Via Sacra no local, que fica apenas 2km do Santuário.

Uma tradicional: vista da Igreja do Rosário de Fátima e do pátio do Santuário.

Uma tradicional: vista da Igreja do Rosário de Fátima e do pátio do Santuário.

Como era véspera de Ano Novo compramos umas coisinhas gostosas e fizemos uma ceia da virada improvisada na pousada mesmo, assistimos aos fogos de ano novo e eu tomei um susto quando todas as sirenes e alarmes da cidade começaram a tocar a meia noite. Gente parece coisa de guerra, dá uma sensação de pânico e como a eu nunca tinha ouvido isso fiquei em dúvida pensando se era para correr e se esconder mesmo ou era para comemorar…

A gruta é iluminada com mais de 3 mil lâmpadas.

A gruta é iluminada com mais de 3 mil lâmpadas.

No último dia na região visitamos a Gruta de Mira de Aire, uma caverna descoberta em 1947. A Serra dos Candeeiros é muito porosa e tem rios subterrâneos. Descemos 683 degraus e ficamos enterrados a 110 metros. Na gruta há um rio conhecido como Rio Negro e até mesmo o Poço da Sogra – um buraco que lembra um poço com 35 metros de profundidade. Ao todo a gruta tem mais de 11km de extensão, e ainda há vias e mais poços que não foram explorados. O passeio percorre cerca de 500m de extensão da gruta e ao fim, subimos com elevador.

Na tarde do dia primeiro voltei a Fátima com os tios do Joel enquanto ele e as irmãs foram conquistar a montanha de Santo Antônio. E não é que descobrimos o caminho de Santiago de Compostela português?

A vista é maravilhosa,  uma inspiração!

A vista é maravilhosa, uma inspiração!

O dia seguinte foi tomar a estrada de volta a Lisboa, voos até Göteborg, capotar na cama exausta. Com a viagem aprendi um monte de histórias interessantes desse país e voltei para casa com uma impressão maravilhosa de Portugal. Estou torcendo para que o país consiga emergir da crise.

Certeza que volto para lá. Já recebi até convite (de novo!) para conhecer Algarve!

Uma Caipira em Portugal – Lisboa

No post passado comentei algumas das minhas impressões gerais sobre a viagem a Portugal e como prometido, voltei para deixar maiores detalhes. Eu não sou muito boa com essa coisa de guia de viagens mas como foi a primeira vez que eu realmente viajei para algum canto e conheci/visitei lugares históricos, museus, igrejas e etc; deixo aos interessados a tentativa de descrever um pouco do que descobri em Lisboa e que me deixou maravilhada.

Fica a dica: quem gosta de fazer esse tipo de turismo pode adquirir (já dentro do aeroporto) o Lisboa Card, um cartão que te dá acesso gratuito a maioria dos locais históricos, além de funcionar como cartão de ônibus/bonde/metrô dentro da cidade. Só não vale para o aerobuss, o busão que vai direto ao aeroporto. Maiores informações aqui. Preço (adultos): para 24h, 18,50€; 48h, 31,50€ ; e 72h 39€.

Em Belém:

Belém é um bairro de Lisboa no qual se localizam o Mosteiro dos Jerônimos, o Padrão dos Descobrimentos e a Torre de Belém. Também em Belém estão as pastelarias mais famosas de Lisboa, assim como foi lá que encontramos o verdadeiro arroz de marisco. Foi em Belém que comemos em um café/pastelaria em que a garçonete é brasileira, super simpática; sem falar que o preço do prato do dia (incluindo bebida) foi o mais barato (4,50€) e um dos mais saborosos que comemos durante a viagem. Pra variar, não lembro o nome do lugar.

blog II

Ao clicar nas imagens é possível descobrir onde estão Filipa de Lancaster e Pedro Álvares Cabral.

Blog 1 Padrão dos Descobrimentos: sabem aquela velha história de que Portugal começou a buscar uma rota alternativa de comércio com as Índias? Pois é, ela tem início muito antes do que nós, brasileiros, costumamos estudar: Henrique o Navegador, filho do Rei João I de Portugal, foi o primeiro português a organizar as viagens marítimas daquele tempo; e pelo que se sabe provavelmente as viagens promovidas por Henrique não tinham nada a ver com o sonho do descobrimento da rota das Índias. Uma das especulações é a de que a mãe do navegador, Filipa de Lancaster (a única mulher a ocupar um lugar no Padrão dos Descobrimentos) teria incitado os filhos a procurarem a um rei pastor legendário que moraria em algum recanto africano, e que segundo a lenda seria a chave para que os cristãos vencessem as cruzadas. O tal do Henrique o Navegador só fez duas viagens marítimas, mas foi o responsável, por exemplo, por fundar uma escola/instituição que ensinava os portugueses a navegarem a partir dos parcos instrumentos de orientação existentes na época. Foi ele também que obrigou Gil Eannes a contornar o Cabo Bojador – conhecido na época como o último ponto antes do precipício do fim do mundo – o que encorajou outros navegadores a irem ao infinito e além. Todos os principais navegadores portugueses da era dos descobrimentos são retratados no padrão (Henrique é o primeiro, olhando para o mar/rio Tejo; e Cabral também está lá!), assim como alguns padres Jesuítas, João I e Filipa de Lancaster.

Um dos portais do mosteiro.

Um dos portais do mosteiro.

Mosteiro dos Jerônimos: uma grande, linda e maravilhosa obra arquitetônica do séc XVI, quando o rei de Portugal era Dom Manuel I. O mosteiro tem um estilo tão marcante que foi batizado como “estilo manuelista”. A igreja do mosteiro é gigante, muito rica em detalhes e cheia de imagens. Dentro da Igreja do mosteiro encontram-se os túmulos de Vasco da Gama e do rei Manuel, assim como no pátio do mosteiro encontra-se o túmulo de Fernando Pessoa. O lugar é tão cheio de detalhes que passamos horas a apreciar – e vale a pena. Curiosidade: na calçada em frente ao mosteiro há uma cópia do Contrato de Lisboa de 2007, no qual há todas as assinaturas de todos os representantes dos países europeus (ou da União Européia – inclusive do primeiro ministro sueco, Reinfeldt). Quando voltamos para casa, viajamos no mesmo bonde elétrico que todos os participantes daquele encontro de 2007 utilizaram – quem quiser conferir, é o trem número 510.

Detalhe da Torre de Belém

Detalhe da Torre de Belém

Torre de Belém – daqui saíam todas as caravelas para mundo, e aqui desembocavam trazendo especiarias, pau brasil, marfim, ouro… O mais legal foi subir até o alto da torre (a escada em caracol é super estreita, prepare-se para encontrar turistas mal humorados, gente com criança no colo, mochilão…) e ver que a vista alcança realmente o infinito – ou ao menos, o Atlântico.

Palácio da Ajuda: não fica exatamente em Belém mas fica muito próximo e dá para ir a pé do mosteiro ao Palácio sem problemas. Bom, o Palácio da Ajuda foi uma empreitada portuguesa que nunca foi acabada. Com o terremoto de 1755 o palácio real virou uma bagaça e o rei português da época, Dom Jose I, viveu o

resto da vida em uma tenda (uma tenda real, muito chique) devido ao pavor de morar novamente em recintos fechados. Mas o rei morreu e todo mundo queria um palácio, que foi proposto ser construído na área próxima a Belém –

Costas do Palácio: aqui a construção havia alcançado apenas a metade do projeto.

Costas do Palácio: aqui a construção havia alcançado apenas a metade do projeto.

região em que o terremoto não deixou muitos estragos. Projeto pronto, chega Napoleão para estragar tudo e João VI foge com a família para o Brasil, deixando o palácio para depois. Apenas o rei D. Luís I com a esposa francesa Maria Pia viveram no Palácio (1861-1911) que ainda estava inacabado, e assim ficou pois a coroa portuguesa já não era tão rica e a república seria logo proclamada. Curiosidade: dentro do palácio há uma sala decorada com móveis que pertenceram a João VI e que viajaram com a família real portuguesa para o  Brasil.

Nós estivemos hospedados em um hotel perto da Restauradores, ou seja, bem no centro histórico de Lisboa. A impressão que tive é que isso facilitou muito o acesso a todos os pontos turísticos a que visitamos. Estar hospedado na Baixa ou Chiado, não sei ao certo o nome, nos garantiu assistir de camarote até mesmo a São Silvestre de Lisboa, no sábado 29 de dezembro. Primeiro me matei de rir com o pessoal correndo em todas as direções imagináveis (e estava sim pensando que era coisa de português), mas depois é que fui me tocar que a besta da história era eu que não tinha entendido a parada; aquele era o aquecimento dos atletas. Enfim, aí também há várias lojas e livrarias, assim como muitos bares e restaurantes. Me faltou assistir a um fado ao vivo, mas na verdade estava exausta depois de caminhar e caminhar os dias inteiros e só queria mesmo era deitar e esticar as pernas.

Terreiro do Paço/Praça do Comércio

Lisboa foi destruída por um terremoto no ano de 1755 e como citei, o Rei José I ficou meio que em pânico depois disso. Quem tomou as rédeas da situação foi o Sebastião José de Carvalho e Melo, ou Marquês de Pombal, que pôs em prática uma política de reestruturação social e de reconstrução do coração de Lisboa – ele liderou todas as ações pós terremoto na cidade, desde o enterro dos mortos e recaptura de presos até distribuição de comida aos sobreviventes e o novo projeto arquitetônico da cidade. O Marquês decidiu que os prédios do centro de Lisboa não teriam mais de três andares, que as ruas seriam largas e pavimentadas e que no local em que antes existia o Palácio Real existiria uma grande praça aberta, esta que ficou conhecida como Terreiro do Paço ou Praça do Comércio. Nessa praça há um centro histórico no qual é possível ouvir mais a respeito da história de Lisboa – pelo menos até o início do séc XX. Curiosidade: nessa praça foram assassinados o Rei Carlos e o filho Dom Luís Felipe, em 1908.

Portal principal do Terreiro do Paço.

Portal principal do Terreiro do Paço.

Igrejas

Visitei várias Igrejas em Lisboa, ao todo foram 7: a igreja do Mosteiro dos Jerônimos, de Santa Luzia, de Santo Antônio, a Sé, a Igreja dos Padres Jesuítas e as ruínas de Nossa Sra do Carmo. Tenho um interesse particular por igrejas seculares, nada histórico ou devocional, é apenas curiosidade. Todas as igrejas era lindas por dentro, a mais rica de todas elas (ao menos aparentemente) é a Igreja dos Padres Jesuítas e a Sé. Na Igreja dos Jesuítas também é possível ver a um par infindável de relíquias de santos (em sua maioria, ossos do braço), mas é difícil entender a que Santo a tal relíquia pertenceu. A Igreja que mais me comoveu visitar foi a Igreja de Santo Antônio pois meu avô materno era muito devoto do santo. Ao lado da Igreja é possível visitar o local em que Santo Antônio nasceu, assim como ver um pequeno museu. Curiosidade: as ruínas da Igreja do Carmo só podem ser apreciadas pelo lado de fora pois ainda é perigoso entrar no edifício. A Igreja ruiu devido ao terremoto e muitas pessoas morreram lá uma vez que se celebrava a missa de todos os santos.

Interior da Igreja do Mosteiro dos Jerônimos

Interior da Igreja do Mosteiro dos Jerônimos

Apesar de Santo Antônio ter nascido em Lisboa ele é mais conhecido como Santo Antônio de Pádua e, o padroeiro de Lisboa é, na verdade, São Vicente. Também visitamos o Cristo Rei que fica em Almada, mas de lá não tenho nenhuma foto decente. Achei meio caro (5€ pra subir até os pés do monumento), mas a vista é maravilhosa: dá para ver toda a cidade de Lisboa, até mesmo as atrações de Belém. O Cristo Rei de Almada foi inspirado pelo Cristo Redentor do Rio.

Também visitamos alguns museus, mas acho que museu fica muito mais interessante quando tem alguém que entende de arte junto com a gente. Com os tios do Joel aprendi que, por exemplo, pinturas renascentistas que retratam a Anunciação tem sempre o anjo a esquerda de Maria, que está rezando e tem lírios próximos a si. No Museu de Arte de Lisboa estava a mostra um enorme ostensório feito de prata, ouro e pedras preciosas brasileiras trazidas para Portugal no tempo do Brasil colonial. A peça continha mais de 2600 pedras!

Por fim, os dias ficaram curtos e não vimos o Castelo de São Jorge e nem a fortaleza, tampouco o “mercado de pulgas” (que acredito não ter esse nome, mas eu não lembro qual é), esse último porque choveu. Como a nossa última atração lisboeta tomamos o elevador de Santa Justa para apreciar a cidade a noite (esse é uma facada: 5€ para subir e mais cinco para descer se não tiver o Lisboa Card). A foto não é das melhores mas, vamos lá:

Praça dos Restauradores - vista do alto do Elevador de Santa Justa.

Praça dos Restauradores – vista do alto do Elevador de Santa Justa.

Caraca, acho que foi o post mais comprido que já escrevi! No próximo conto o resto da viagem…

Uma Caipira em Portugal – I

É bom dar os ares da graça aqui no blog outra vez. Mas fim de ano é aquela coisa e depois de comemorar um Natal meia boca (aqui a ceia é no dia 24 – eu trabalhei; e além disso estava morrendo de saudades do meus – ainda estou), felizmente gastei a semana entre o Natal e o Ano Novo em Portugal. E foi lindo, muito emocionante, muito mais do que esperava.

Primeiro, porque também passamos por Fátima. Louco não? Uma católica vai a Fátima com a família luterana. Mas uma família luterana para lá de especial, que me deu esse presente e ainda por cima me acompanhou até o Santuário. Obrigada tia Gunnel e tio Jens!

Mas essa aventura tem uma série de detalhes, tantos que não cabe tudo de uma vez só. Primeiro, viajar com eles (Jens e Gunnel) significa aprender um pouco da história do lugar para entender o que há de especial aqui, ali e acolá. Sorte minha que estudamos ao menos alguns passos da história portuguesa, afinal, temos uma história em comum desde o descobrimento, e assim não precisei me atropelar na leitura dos pequenos guias (somando cento e poucas páginas) da história lusitana (em sueco) que recebemos antes da viagem.

Nada obrigatório, ao contrário, foi o máximo. Acho que seria bem sem graça visitar todos os monumentos, mosteiros, igrejas e etc se não lhes tivesse desvendado a história. Ademais, penso que o fato de ter conhecido de forma mais aprofundada os tempos da glória portuguesa me deixou ainda mais sensível aos traços da crise, traços estes que infelizmente saltam aos olhos assim que saímos do aeroporto na cidade de Lisboa.

Vou começar contando algumas impressões gerais sobre a viagem, adicionando pequenos detalhes que possam vir a ser interessantes. Passamos 4 dias em Lisboa e depois saímos um pouco mais ao norte, às bordas da Serra dos Candeeiros, onde passamos mais 3 dias pernoitando em Livramento, uma vila pertencente a Porto de Mós, numa região de montes ondulados lindos. Em Lisboa também pernoitamos no morro, em um hotel muito próximo a Restauradores, ao ladinho de um bonde elétrico que serve apenas para subir aquele morrinho da Rua da Glória, um aclive capaz de tirar a força das pernas de qualquer um!

Depois de deixar a bagagem no hotel, já na primeira noite demos uma esticada até um mercadinho próximo, Pingo Doce (eu tinha escrito Pão Doce, mas a Dani me corrigiu! Obrigada!!). E sabe o que foi o mais legal? Eu fui uma espécie de guia, afinal, eu falo português! Foi um pouco louco e espantoso sair de viagem e falar português, essa foi a primeira vez que saí e não fiquei (muito) perdida com relação a língua. No começo estava um pouco tímida para falar com os portugueses, afinal, algumas pessoas haviam me prevenido de que a maioria dos portugueses não gostam de brasileiros e que não falam português com turistas tupiniquins. Mito! O difícil mesmo era largar o povo! Nem precisa dar corda e eles contam a história da família, começando porque o nome do fulano é fulano e… Jesus, acho que Portugal é hospitaleiro por demais, as pessoas falam e falam e falam com você, querem te pegar na mão e te levar até o destino (principalmente no interior). Em Lisboa senti que algumas pessoas ficarem um pouco receosas quando as abordava na rua – mas é porque há muita gente pedindo esmolas (principalmente nos pontos turísticos) ou vendendo quinquilharias; então é altamente compreensível.

Falando nos pedintes, falar português era como usar de palavras mágicas para que eles nos deixassem (sou cristã, mas contra a política de dar esmolas). Claro que um grupo falando uma língua desconhecida é facilmente percebido como “turistas!” (sem falar em todos os acessórios, como mochila e máquina fotográfica); mas bastava responder gentilmente com um não sonoro para eles irem embora. Um deles até falou “Ah, são portugueses…” – como se significasse um “estamos todos falidos e desse poço não sai água”. Triste, mas real.

Ainda com relação a língua, me embolei legal falando sueco com os portugueses e português com os suecos; o que nos garantiu muitas risadas. Em uma padaria perguntei para Gunnel e irmãs do Joel: querem café com leite? e na seguinte disparei ao atendente do balcão: Sex koppar kaffe med mjölk, tack! Foi um stress prazeroso chegar aos restaurantes ou cafés onde todo mundo me perguntando: o que significa isso? O que significa aquilo? Pede para mim? Hahaha… Seis pessoas, cinco suecos e uma brasileira, o Joel que pode falar português mas muitas vezes fica tímido… sobrava pra mim.  Muitas coisas eu também não sabia o que eram, por exemplo febrinhas (uma espécie de filés de porco ao molho de panela), pois esqueci de pedir para a Joana um dicionário porrtuguêis- português… Brincadeira! Falando nisso, muito obrigada pelas dicas Joana, elas nos serviram muito bem! Tentei desenterrar o tu e o vós das aulas de gramática e devo ter soado um tanto estranha, mas sem duvidar, quase me passo por portuguesa!

Bom, claro que comi pastel de bacalhau e experimentei o saborosíssimo arroz de marisco – que não sei porquê no centro de Lisboa tem o nome de Paella – o prato espanhol que é deveras parecido, mas não igual. Dica: procure pelo gostosura na região próxima a Belém. Uma coisa que me chamou muito a atenção é que os cardápios portugueses do interior tem muitas opções de pratos a base de porco e isso me espantou um pouco pois vi centenas de rebanhos de ovelhas, mas não reconheci nenhum chiqueiro. Não deveria ser óbvio então que os pratos principais fossem a base de ovelha? Outra coisa que me chamou a atenção é a oferta de omeletes em todos os restaurantes em que comemos. Além disso, durante o voo (com a TAP) a sobremesa servida durante a refeição foi nada menos do que gemada – coisa que não via desde…

E morcília. Ou morcilha, não sei ao certo qual é a palavra correta… compramos uma no super mercado que não pareceu nem um pouco apetitosa, mas eu comi uma feijoada a transmontana (com pedaços de morcilha ao invés de linguiça) que estava por demais. Não foi difícil encontrar comida boa, gostosa e barata.

Fique encantada com Portugal. Se não fosse a crise já teria começado a minha campanha em prol da mudança: morar no campo e ter rebanhos de ovelhas e plantações de oliveiras e parreirais… Ok. Mas o inverno deles é muito semelhante ao nosso (do sul brasileiro) e apesar do vento frio tivemos dias maravilhosos de sol, tanto em Lisboa como no interior. Nada de tempo mau humorado!

Aliás, achei o povo português deveras simpático e penso mesmo que já descobri de onde é que os brasileiros herdaram simpatia e bom humor. Mau humor só mesmo quando a questão é economia e a crise. Há palavras de ordem conclamando a greve geral pichadas por todos os cantos da cidade de Lisboa e mesmo em algumas placas de trânsito no interior. Também não faltam manisfestações de ódio contra Salazar e Sócrates (ex-primeiro ministro português). Mesmo nos jornais televisos portugueses as notícias não são animadoras e o pronunciamento da chanceler alemã Angela Merkel por ocasião do Ano Novo quando ela afirma que  2013 ainda não será o ano do fim da crise apareceu repetidas vezes nos noticiários.

Ai, ai… se fosse, eu não exitaria em dizer: tchau Suécia!