38 primaveras

Casa bem com o fato de eu ter nascido em 21 de março que comumente é o primeiro ou segundo dia da primavera. Em termos de hemisfério sul seria mais adequado o uso de 38 outonos.

Seja por isso ou não, estou bem de saco cheio. Do Tegnell e dessa pandemia, sim. Do Bolsonaro e daquilo que a maioria das pessoas no Brasil entendem como política, muito elevado a enésima potência. Não tenho saco nem pra teorias da conspiração que, há tempos atrás, serviam pra me divertir… isso posto, apesar de todas essas coisas me colocarem no limite, acho que nada me estressa mais do que o fato de que meu local de trabalho atual é, no mínimo, desistimulante.

Não sinto que meu potencial seja valorizado. Fazem pouco mais de dois meses que voltei e encontrei uma equipe cansada e parada na mesmice. Qualquer mudança é encarada com desconfiança. Não sou tão segura de mim mesma a ponto de acreditar que sempre tenho ótimas ideias mas sinto que tenho batido cabeça contra parede. As pessoas reclamam que não há mais fika no trabalho… eu convido para um fika e fico sozinha. Querem efetivar os encontros e fazer com que seja mais fácil, dei várias ideias que foram ignoradas. Minhas colegas resistem firmemente as ferramentas digitais que a cidade paga caro para que tenhamos acesso… e reclamam que não sabem usar, mas não querem capacitação na área.

Essa semana me senti a alienígena defendendo o uso de ferramentas digitais. Meu Deus, estamos na Suécia!! Um dos países mais tecnológicos do mundo. Estamos vivendo uma pandemia que exige de nós resolver a vida digitalmente – e Deus sabe, e eu também – o quanto estamos cansados disso mas, essas ferramentas vieram pra ficar (como bem observou uma amiga hoje) e vamos continuar usando mesmo depois da pandemia.

Eu quero mudar de trabalho há tempo mas parece que agora a coisa se tornou deveras evidente. Preciso de novos ares e, definitivamente, de colegas de trabalho mais progressistas.

Porque estou dando tilt.

Diário Caipira – 12

Depois do feriado de Páscoa – que se estende até o segundo dia de Páscoa – reiniciamos a rotina: eu vou trabalhar… agora de volta ao escritório de assistência social pra analisar pedidos de auxílio financeiro.

Após um mês desde que a situação com o corona explodiu eu imaginava que teríamos muitas pessoas solicitando auxílio financeiro do governo. Como comentei na página há tempo atrás qualquer cidadão passando por aperto financeiro pode pedir ajuda de custo ao governo. Não é simples receber o auxílio, há muitos critérios e exigências a serem preenchidas para que a pessoa receba, mas o processo todo não pode tomar mais de 10 dias.

Ainda assim, fui realocada por causa de que a entidade na qual trabalho está temporariamente fechada. Cada região do município tem regras específicas e na minha ainda não é possível trabalhar remotamente… Mas hoje recebemos a notícia que poderemos solicitar ao nosso chefe permissão para trabalhar de casa dia sim, dia não.

O trabalho feito de casa vai ter que atender certas premissas porque trabalhamos com dados sigilosos. Ainda assim, dá uma preguiça danada tentar entender o que é que os chefes estão pensando… Não que eu acredite que trabalhar remotamente seja mais fácil do que trabalhar do escritório. A gente cria uma rotina, e todos os rituais em volta disso ajudam a gente a entrar no clima e focar. O próprio ambiente de trabalho é pra promover isso.

Agora eu fico me perguntando o quanto eficaz será ter a possibilidade de trabalhar um dia de casa, outro no escritório?

Benjamin, b-day, bebê a caminho, barriguda, bandida, burocracia e mais um monte de bês

Benjamin completou dois anos e eu também – de maternidade. Parece uma vida inteira desde que ele nasceu e muitas vezes a sensação de que não havia vida antes do filho é tão forte que me faz esquecer que eu já fui criança. Só não esqueço de todo porque a gente pensa muito na própria infância, o que foi bom e o que não foi, e usa como parâmetros para a própria maternidade. O foda é que eu penso tanto que muitas vezes fico na dúvida se estou realmente lembrando de fatos vividos ou são apenas experiências resignificadas depois de ouvir tanta gente repetindo o “lembra quando isso e aquilo? daí aconteceu pau e corda…”
E é isso mesmo, como o título sugere, estou de barriga e o bebê chega em novembro. Tenho várias conhecidas suecas parindo agora ou em um futuro próximo, o que deveria me garantir um pouco de companhia para “empurrar o carrinho por aí”; o que infelizmente não será verdade. Não é pra me fazer de coitada, é só que o meu jeito de encarar a maternidade não bate com o jeito da galera daqui. Um exemplo simples: Benjamin não desmamou. Porque não precisa – minha gravidez é tranquila, ele quer mamar e vai continuar mamando enquanto quiser. Já ouvi gente sugerir o desmame delicademente e também na cara dura – assim ó: você terá enormes problemas se não desmamar pra ontem – além das pessoas que, apesar de não dizerem nada, estão gritando corporalmente o quanto isso é esquisito. Das gurias com quem eu convivo que tiveram uma criança ao mesmo tempo que eu a maioria está na segunda rodada e falando do desmame do filho número dois.
Já fiz o ultrassom de rotina daqui – que acontece entre a semana 18 e 20 – já sei que o bebê está se desenvolvendo como deveria, que viu ter mais um piá (yes!), e que nos preciso de mais ultrassons. Durante a primeira gestação essa falta de ultrasonografias me deixava desconfortável, agora eu vejo isso com mais naturalidade. Acredito que o fato de morar na Suécia e ter contato com um sistema de acompanhamento a gestante mais simples – veja bem, é humanizado mas nem sempre – em que a gravidez não é tratada como doença me ajudou muito a crescer como mulher. Eu quero muito ajudar outras mulheres a se fortalecer nesse sentido e para isso me formei doula. Não sei se terei possibilidade de utilizar o que aprendi aqui, ser doula na Suécia ainda é um trabalho pouco conhecido e a maioria das mulheres escolhe ter apoio exclusivo do parceiro durante o parto mas, apesar de sentir que esse é um projeto que talvez precise de alguns anos antes que eu possa aplica-lo, espero começar aos poucos a deixar o mundo burocrático da assistência social de escritório em que entrei e ficar mais perto das pessoas.
Uma das coisas que preciso dar jeito é na carteira de motorista. Aham, continuo bandida, mas uma bandida de meia tigela que vai ao mercado próximo de auto quando está com a massa do bolo pronta e percebeu que esqueceu o fermento. Agora que já perdi a autorização para tirar a carteira tenho que pagar por uma nova autorização, um novo exame de vista e esperar ter mais sorte nas minhas provas.
Enquanto isso, vou de bike. Tenho uma vida um tanto quanto intensa em duas rodas, o que tem preservado minha sanidade física e mental: vou e volto do trabalho de bicicleta, aproximadamente 16km por dia que me custam meia hora pedalando (são cerca de 50 minutos de transporte público por causa das conexões escrotas que tenho que fazer para chegar ao bairro vizinho). É ótimo, mas não vai funcionar no inverno de -10°C com duas crianças, sendo uma delas um bebê de poucos meses. Então bora mexer a bunda da cadeira e tirar a carteira – rimou.
Falando em coisas a tirar, vou tirar a cidadania sueca e da próxima vez que ir ao Brasil registrar minha saída definitiva. Estou com uma lista grande de coisas a fazer no Brasil, muito do que tem a ver com essa coisa de registrar que mudei – na qual nunca pensei por acreditar que voltaria logo e por pura ignorância mesmo – mas que teria facilitado a minha vida e me preservado de algumas cobranças desnecessárias. Então fica a dica para quem estiver saindo: conte para  receita federal que você está mudando, mesmo que não seja para sempre.
Eu ando com muita saudade de blogar. Mas tenho dormido em pé. E sinceramente… sinto que há muitas coisas das quais eu gostaria de falar que não cabem aqui. Então por enquanto fica como está.
Beijos pra quem fica!

Ciclos

Eu vivo escrevendo posts pela metade que nunca são publicados. Esse vai ficar meio pela metade, mas vai ser publicado.

Faz algum tempo que eu percebi que sou adulta. Entrei no mundo cinza e chato das responsabilidades e deveres. É um mundo de possibilidades também, mas essa segunda parte é mais complicada. Primeiro o dever, depois o prazer. E dentro da criação católica que recebi quanto menor a dose de prazer melhor, afinal, se você não sofrer o pão que o diabo amassou não vai ser digna do céu.

Hoje foi meu último dia de trabalho no abrigo. Em fevereiro vou virar assistente social de escritório e trabalhar com bolsa família sueco.

Sei lá, a empolgação não está fazendo parte dessa mudança. Não sei se é porque a gente fica mais sério mesmo quando amadurece e se vê adulto, ou se é por causa daquele lance católico (ultimamente eu tenho lido bastante sobre as misérias desse mundo e se existe um inferno que é pior do que a maioria da população mundial passa diariamente cara… eu definitivamente não quero ir parar lá) ou se é porque a minha vida tem mudado tanto ultimamente que nem sinto as mudanças… o negócio está sendo meio… ok. Vou ser assistente social. Vou trabalhar em Gotemburgo. Não vou mais passar três horas indo e voltando do trampo. Vou ter todos os finais de semana livres.

Eu poderia deixar uma frase bem bonitinha tipo “um ciclo se fechou e estou muito satisfeita com a experiência adquirida”… mas pra ser sincera meus ciclos ultimamente estão mais para ciclones, e ao que me parece estou muito ocupada com a bruxa do norte.

Será que existe uma estrada de tijolos dourados?

Um dia na Suécia

Eu recebo comentários em ondas, provavelmente devido ao fato de escrever bem menos. Mas volta e meia aparece gente que manda comentários em posts antigos do blog com perguntas que não tem nada a ver com o conteúdo do referido post (deixando bem na cara que não leu nada do que estava aí) e a maioria dessas pessoas repete a mesma pergunta (seria um eco?): como é a vida na Suécia?

Recebi o mesmo questionamento esses dias na página do face. Eu ia responder o de sempre: pessoa, esse é o link do meu blog, essas abobrinhas aqui descrevem mais ou menos a vida na Suécia. Mas aí tive a ideia genial de desvendar os segredos da vida na Suécia contando como é um dia comum da minha vida – já que eu não ando com tempo de fazer algo mais informativo e concreto.

Algumas singularidades para situar os desavisados e os futuros leitores desse post: estou trabalhando “meio período”; o que significa que passo bastante tempo em casa. Mas vamos lá!

Um dia de trabalho na Suécia…

Acordo as 5h. Tomo um café, normalmente com pausa para amamentar a cria. Pego as minhas bolsas (passo 24h no trampo) e saio para o ponto às 5h55. Pego um bonde para a estação central. Se o café foi para o saco porque eu amamentei a cria compro um café. Pego um trem para Falköping. Caminho para o trabalho cerca de 20 minutos (não é longe, é só a preguiça mesmo). Começo a trabalhar às 9h. Saio as 9h30 do dia seguinte, normalmente ganho uma carona até a estação porque a galera tem dó de me deixar caminhar com as minhas bolsas  (uma delas cheia de leite). Pego o trem para Göteborg. Chego na estação e tomo o primeiro bonde que passar para casa. Chego a tempo do almoço.
Eventualmente passo pegar o Ben na casa dos padrinhos ou de algum amigo – caso o Joel tenha uma reunião de trabalho importante. Depois do almoço a rotina segue como num dia em que eu não fui trabalhar.

Um dia em casa na Suécia

Acordo assim que o Benjamin acordar (entre 6h e 7h30, depende da “sorte”). Tomamos café e aí vamos fazer as tarefas de casa ou um passeio. Pode ser uma caminhada, gosto muito de sair caminhar com o Ben… deixo ele escolher o caminho e parar o quanto quiser para juntar todo tipo se coisa e tentar por na boca, ou ir para um balanço, essas coisas. Nesse caso voltamos e comemos uma fruta. Depois brincamos ou fazemos limpeza e aí almoço. Almoço pede uma siesta e com sorte depois da comida tem a soneca do Benjamin, quando ele acordar o Joel vai estar chegando. A gente empacota um lanche e sai para trabalhar com a reforma da casa. Volta quando anoitece, faz uma janta, bota a cria para dormir e assiste as notícias/uma série/ou um filme dependendo da hora, do cansaço ou do tesão. Normalmente vou dormir às 22h30.

A rotina em um final de semana ou dia de semana para mim não varia muito. Como eu trabalho em forma de plantão então procuro aproveitar “as folgas” já que trabalho finais de semana também. A principal diferença é que se estou em casa em um sábado normalmente passamos o dia na reforma da casa. Domingos é dia de ver a família então normalmente rola um passeio para os sogros, ou alguma das cunhadas.

Como estamos vivendo um tempo especial com a reforma da casa temos encontrado os amigos apenas de vez em quando, numa rapidinha no anoitecer ou quando eu saio sozinha com o Ben e passo o dia fora. Normalmente fazemos isso quando o Joel tem reuniões depois do trabalho. Eventuais escapadinhas para um jantar ou cinema estão descartadas no momento por conta do cansaço mesmo.

Eu não sei como funciona no Brasil depois que você tem filhos, mas aqui ter uma criança te dá automaticamente um upgrade para o time dos pais. Dificilmente você vai se encontrar com os amigos que não tem crianças. Primeiro porque essa galera ainda sai para beber e fazer festa em uma sexta feira – o que sinceramente não está na minha lista de prioridades – ou se promove um jantar deixa claro que o evento é para adultos. Isso me dá muita preguiça. Fiquei antisocial com a maternidade e o Joel, se deixasse, passaria o dia e a noite na reforma.

É isso aí. Essa é a minha vida na Suécia.

Tá sentindo falta do glamour? Pois eu não.

Outono, escuridão e uma série de coisas esdrúxulas

Novembro é o mês mais difícil de se viver por aqui e felizmente não estou sozinha nessa percepção. O fato é que o outono começa lindo com uma explosão de cores na maioria das árvores e arbustos. Mas no final de outubro o horário de inverno entra em vigor, a maioria das árvores já perdeu as folhas e o tempo fica chuvoso, dando a sensação de que de repente as cores foram apagadas do mundo e tudo – ABSOLUTAMENTE TUDO – é cinza e escuro.

Dá um desânimo.

Eu ando duplamente aborrecida porque ando com problemas. Nada comparado aos problemas reais de mais da metade da população do mundo, estou enrolada na minha procrastinação e bastante chateada porque cheguei a conclusão de que após 4 anos e tralalá na Suécia eu ainda não entendo a língua. Hoje mesmo enquanto falava com a minha mãe – que aos 61 anos resolveu aprender inglês – afirmei que encontrar dificuldade para aprender um idioma é normal e que ela  não deveria comparar o próprio rendimento ao rendimento dos outros…

Pois bem, sabem aquela história do faça o que eu digo mas não faça o que eu faço? Por aí. Levei um ovo da minha chefe por telefone de graça porque não tenho a pontuação certa no sueco. E não estou me referindo a língua escrita mas sim a língua falada. No português usamos frases enormes em que as sentenças são separadas por vírgulas, as vírgulas significam pausas e as pausas não significam que terminamos a idéia da sentença. Ou seja, falamos muito para expressar algo em português, e quando pausamos não estamos terminando nossa frase, apenas tomando ar para continuar a explicação.  O que em sueco é meio inadmissível: você fala de forma curta e grossa. Pausas significam que você terminou o que estava dizendo, e se você quer indicar uma vírgula (ou seja, um peraí que tem mais) deve fazer uma inflexão bem acentuada da palavra – o que vai sinalizar ao seu interlocutor para que ele espere a conclusão da sentença.

Fácil, só que não. Levei um ovo de graça, enviei um email tentando consertar a situação e fui colacada no limbo do vácuo eterno. Aff… pra piorar, ainda não tirei a carteira de habilitação – já reprovei três vezes tentando – gastei tempo e dinheiro mas meus colegas de trabalho andam meio putos comigo. Eles acham que não estou me esforçando o suficiente e pode ser que eles tenhan razão. Não ando nem um pouco animada para investir ainda mais tempo e dinheiro quando não consigo a merda da carteira.

O  teste escrito é uma prova de 50 minutos com 70 questões das quais 52 devem ser respondidas corretamente para que você seja aprovado. A prova prática engloba seis quesitos – conhecimento sobre o funcionamento do veículo, conhecimento das leis de trânsito, direção defensiva, direção ecológica, ré e sua segurança enquanto condutor. Da primeira vez que fiz a prova teórica acertei 49, depois 43 e depois 51 – há. Da primeira vez que fiz a prova prática fui aprovada apenas no quesito segurança enquanto condutor – que é tipo se você consegue trocar as marchas sem olhar, não deixar o pé na embreagem, fazer curvas suaves e usar o freio de forma correta. A examinadora me fez perguntas a respeito dos pneus do carro e eu respondi de forma curta – aí fui reprovada em dois quesitos (conhecimento do veículo e das leis de trânsito) – depois eu dirigi muito lentamente aí ela disse que eu estava atrapalhando o tráfego, o que deixa outros condutores estressados e é perigoso (pois é…). Bom e eu nem sabia o que cargas d’agua eles queriam com direção ecológica. Mas ok, fui fazer o teste outra vez aí me fizeram as mesmas perguntas a respeito dos pneus do carro e eu soltei o verbo, falei falei falei e falei até ela me mandar calar a boca. Mas fui reprovada porque dirigi muito rápido, aí isso mostrava que eu não estava dirigindo defensivamente ou ecologicamente.

Fui fazer aulas para entender a merda da direção defensiva e ecológica e… continuo no zero. Porque os caras dizem  assim: dirigir defensivamente significa dirigir “lagom”. E aí fudeu né mano? Lagom? Faz todo sentido pra um sueco mas a mim não me diz nadica de nada. E a direção ecológica me explicaram da seguinte forma: faz de conta que tu tá num jogo onde você perde pontos a cada vez que você frear, então você vai usar freio motor. Ah, e também tem que pular as marchas – da segunda você finca o pé no acelerador até o motor ficar  250mil rpm e troca direto para a quarta. E tem que usar a 4a marcha quando estiver em 50, e a 5a se estiver em 70. E se entra na rodovia daí você pula a 2a, mete a terceira e finca o pé até o motor quase explodir e troca direto para a quinta. Meio confuso??? Capaz… isso é  moleza.

Eu dirigi 8 anos no Brasil antes de mudar para a Suécia. Não acho que era uma condutora perfeita porque a gente melhora com o tempo, vai adquirindo mais experiência e tals. Mas… essas exigências da prova prática aqui não fazem o menor sentido. Ainda mais porque quando você entra em Gotemburgo você vê a galera andando acima do limite de velocidade e fazendo cagada o tempo todo – tipo dirigir no sentido errado em uma rotatória (mas hein??? Já vi várias vezes com esses olhos que a terra um dia há de comer) ou parando em cima da linha do bonde elétrico ou não dando a preferência ao pedestre (é lei). A Suécia tem índices de acidentes de trânsito muito baixos então quem faz as cagadas todas naturalmente são apenas os imigrantes – ironia mode on. Tô bem frustrada com essa situação e penso seriamente em sair do trabalho para deixar de lado essa coisa com a carteira de habilitação. Ao menos até eu aprender o que significa lagom.

Mas nem tudo é escuridão e há tons mais claros de cinza.

Só preciso de umas doses cavalares de vitamina D.

Dona Maria

Uma das coisas que mais quebrou as minhas pernas com a mudança de país foi a questão da minha identidade profissional. Eu não sou o tipo Dona Maria que é zelosa com a casa – afinal de contas, Amélia que era mulher de verdade – e o fato de ver meu diploma não valer de nada me angustiava.

Até eu arrumar um emprego…

É aquela velha história: você se mata estudando pra passar no vestibular, mas a universidade não é mole não; você se desdobra escrevendo e reescrevendo currículo e carta de apresentação, mas se dar bem no trampo é que são elas. Ano passado, trabalhei apenas um mês e meio antes de sair em licença maternidade e agora que estou há três meses de volta a ativa é que entendo o quanto foi suave aquele período (vassoura nova varre que é uma beleza). Eu estava mais tranquila, havia outras preocupações dentro e fora do campo profissional. Agora há muito mais pressão de todos os lados.

Isso está relacionado ao fato de ser mãe, em primeiro lugar, e ao fato de ser a mais jovem do meu grupo de trabalho, em segundo. Eu mencionei no post passado que apesar da Suécia ser um país liberal me espanta alguns comportamentos conservadores em relação a amamentação, da mesma forma que me espantou que algumas pessoas ficaram surpresas quando eu disse que voltaria ao trabalho antes do Benjamin completar um ano. Eu posso estar enganada, mas senti reprovação também. A pergunta que mais ouvi foi “por quê? Ele ainda não fez um ano, e a licença é longa”. É verdade, a licença é longa, mas eu quero dividir ela de modo igual com o Joel. Porquê eu sou mãe, é super importante minha presença ao lado do meu filho e etc (principalmente até o primeiro ano) mas ele tem um pai que também anseia por um vínculo forte com seu filho. É muito difícil, como mãe e tendo a carga cultural que eu tenho, dar abertura para que o meu parceiro seja pai. Primeiro, porque eu sou o tipo de pessoa chata que acredita que as coisas são muito melhores quando são feitas do “meu jeito”. Segundo, a gente cresce ouvindo que mãe é que sabe o que é bom para o filho. Mas pai também sabe. Eu sabia ser mãe o mesmo tanto que o Joel sabia ser pai quando Benjamin nasceu. Por conta da amamentação, meu vínculo com o Benjamin se estabeleceu mais rápido, mas tudo que eu aprendi aprendi com o Benjamin. Se o Joel não tivesse oportunidade de ficar sozinho com o bebê também não aprenderia.

Então eu quero deixar uma crítica para nós mulheres: temos que ter mais coragem de largar nossos filhos na mão de nossos companheiros. Você casou, ajuntou com essa pessoa porque ela é especial (se você está em um relacionamento saudável), então deixe seu bebê provar disso também. Instinto paterno existe, e o seu filho não vai gostar menos de você porque você é corajosa o suficiente para compartilhar responsabilidades.

Como eu falei, não é fácil… mesmo que racionalmente eu tenha tomado essa decisão, na prática a história é outra. Muitas vezes quando estou no trabalho penso que deveria ter esperado mais para voltar. Que seria mais fácil se eu não tivesse peitos cheios de leite que me fazem perguntar o que é que o meu pequeno está comendo, se ele está dormindo bem (mesmo porquê eu passo 24h seguidas longe de casa). Quando temos alguma reunião em que assuntos delicados estão sendo discutidos pela milésima vez desde que eu voltei, ou quando um dos adolescentes do abrigo começar a ser muito adolescente (e eu com eles né?); eu sempre me pergunto: o que é que eu tô fazendo aqui?

O fato de ser a mais nova do grupo me faz sentir meio burra às vezes porque nosso trabalho compreende tanto questões práticas como burocráticas. Há coisas que a galera já está cansada de fazer e eu não tenho a menor idéia de como funcionam; eu não tenho conhecimento da rede de apoio e frequentemente me pego boiando. É um desafio, e eu me sinto bem com isso, mas sempre rola aquela pressão também. Principalmente no quesito linguístico… meus colegas costumam elogiar meu sueco, mas na hora do pega pra capar ainda sou muito lenta tanto para escrever quanto para argumentar. Normalmente, entro muda e saio calada de reuniões porque não desenvolvi o sueco suficiente para entrar no timing de uma discussão acolorada e conseguir expressar meu ponto de vista. Vai melhorar com o tempo, mas nessas horas minha auto estima fica super abalada e eu me pergunto se eu quero mesmo isso.

Mas eu sei que eu quero. Estou acumulando experiência e apesar da pressão constante (eu sinto que “posso” trabalhar fora mas tenho que mostrar que ainda serei uma boa mãe – bem anos 80, mas é isso mesmo) eu começo a dominar e compreendercada vez melhor o sistema social sueco.

Dona Maria sim. Mas não daquele jeito.

Pequenas Grandes Coisas #31

Preciso responder aos coments dos posts anteriores mas… organização não é o meu forte e como tenho algumas coisas para contar decidi deixar umas novas antes de desistir por completo.

Estou avaliando seriamente se vou ou não a missa da Paixão. Como no caso não iria a uma igreja católica, não tenho ideia de como seria o ritual. Isso me dá um pingo de curiosidade mas também muita preguiça. Além disso tenho outras ideias na cabeça e não estou pensando em Jesus. Não é que eu tenha abandonado a fé ou etc, apenas não estou praticando e acho um pouco hipócrita sair de casa na sexta feira santa esquentar o banco de uma igreja quando eu sei que vou ficar pensando nas coisas que eu gostaria de fazer em casa…

Tenho me envolvido bastante com a reforma da sala de estar – e tudo o que isso significa. Reforma significa, além de tudo, que sua casa estará uma constante baderna e sujeira. Eu vou juntando um pouco ali, varrendo um pouco lá, mas depois de lixar as paredes… pá, não teve jeito. Tudo está meio branco e esquisito, meio grudando. Hoje quero fazer os últimos detalhes da pintura na parede (se as roupas do Benjamin já secaram) e costurar algumas coisinhas…

Eu me dei uma máquina de costura no Natal. Uma coisa bem simples. Eu não sou boa costureira não – não tenho paciência para os detalhes, vou cortando, emendando e metendo a costura reta (coff, coff) como dá. Se um lado ficou mais curto que outro… eu posso desmanchar uma vez. Mas não estou confeccionando roupas, porque eu tenho simancol. Mas fiz um boneco para o Ben quando estive no Brasil! Eu fiquei impressionada de que tenha ficado bom. Modéstia a parte. Tem gente que acha feio demais porque é preto, que é racista porque tem aqueles traços exagerados negros que um saci tem, e que vai assustar o menino – porque é um saci e porque tem uma perna só. E porque o Saci é mau (veja que mãe desnaturada: não vai a missa da paixão e ainda por cima confecciona um Saci para o menino!). Mas eu não estou querendo provocar ou ofender pessoas negras, só quero que meu filho tenha contato com o folclore brasileiro. E o Saci no folclore brasileiro é assim: um menino preto de uma perna só. Acho que o boneco vai servir também para ensinar o Benjamin sobre diferenças e sobre respeitar elas – tanto porque o saci é preto, tanto porque ele tem uma perna só. Há criança deficientes, pessoas deficientes no mundo; e já que é muito bom ensinar o menino a brincar de boneca e já que é muito fácil comprar bonecas “lindas” branquinhas e de olhos azuis (ironia viu gente)… meu trabalho tinha que valer a pena uai! E como eu disse, acho que meu saci ficou muito lindo. Não vai assustar o moleque não.

Saci

A foto – para variar – não é boa, mas sacaram que eu fiz dedos no pé?

Falando nisso, acho que é a primeira vez que escrevo o nome do guri no blog. Eu ainda não decidi o que vou escrever a respeito dele. Acho um barato mães que compartilham as aventuras dos filhos – esses blogs tem me salvo quando acordo de madrugada e não posso retornar ao meu sono de beleza e reparação. Mas eu tenho a impressão de que este blog não se transformará num blog materno. Eu escrevo só o que me vai na telha, sem um foco muito certo ainda… Em todo o caso, Benjamin foi uma escolha antiga. Sempre achei o nome lindo, o som, o significado. Convencer o Joel não foi um trabalho difícil, uma vez que ele tinha várias sugestões para nomes de menino mas sabia o nome que queria no caso de uma menina. Já meu caso era o contrário: tinha várias sugestões para nome de menina, mas sabia o que eu queria se fosse um menino… Decidimos que, fosse uma menina o pai escolheria o nome, fosse menino era minha vez. Há, ganhei!

Minha barriga está uma bolotinha, todo mundo diz que eu não engordei (eles não veem meu músculo do tchau, como ficou gordinho) e que estou só a  pança mesmo. Não vou postar fotos aqui, não enquanto minha irmã não me mandar algumas fotos que tiramos quando estive no Brasil. Ela tem muito talento e fez um trabalho muito bonito. Então eu não vou tirar uma foto meia boca com meu celular, o que eu costumo fazer sempre, só para ter qualquer imagem aqui. No mais, eu me sinto bem grávida. Me sinto bonita e ainda um tanto especial. É só não sair na rua… porque daí me bate aquela deprê da invisibilidade. No mais, o guri gosta de brincar com a minha bexiga: eu imagino desde o sapateado, até treino de MMA a um batuque cadenciado num surdo. Dias mais, dias menos. Agora começou aquela fase chata em que eu tenho que procurar uma posição confortável para dormir e eita! Que tarefa viu? De um jeito dorme a perna, de outro me dá cãimbras, de outro não pode porque tranca a circulação… Aí o menino já enfia o pé embaixo da costela e as ancas decidem começar a doer a uma hora da madruga. Mas por incrível que pareça… o que mais me incomoda são pesadelos – sempre acordo por causa de sonhos ruins – e uma ardência na pele, seguida de fortes dores no meu umbigo (dizem que é normal, só a pele se esticando mas eu tenho que confessar: morro de medo de ver a barriga se abrindo bem no meu umbigo e de perder a criança no chão! Em meio a tripas e muito sangue… lol). Não tenho estrias ainda – elas podem aparecer a qualquer momento. Dizem que é hereditário – minha mãe não tem muitas, nem minha irmã mais velha – e eu acredito que a alimentação é que faça uma incrível diferença nesse sentido. Bom, eu como frutas e verduras todos os dias – ainda que elas tenham gosto de nada. E passo óleo e creme em tudo, vivo bezuntada. Mas se vier, vieram e não há o que fazer…

Tem bastante gente curiosa a respeito do meu emprego. Como é que se resolveu? Porque vocês lembram que eu não havia dito nada no dia da entrevista não é? Pois… eu mandei um e-mail (pedi ajuda ao marido para redigir de forma que ficasse super objetiva, bem humilde) contando da gravidez e da data prevista para o parto. A primeira resposta veio rápida e rasteira, nem cinco minutos depois e extremamente enxuta: temos que conversar a respeito assim que você voltar para a Suécia. É, eu estava no Brasil. Respondi normalmente que claro que sim, que estava a disposição blá blá blá, mas já me deu aquele medinho de sofrer um bullying no trampo por causa da minha travessura. Trocamos mais alguns e-mails, todos assim bastante secos e objetivos: quanto tempo eu desejava de licença maternidade (essa história explico melhor depois), quando eu queria sair, se eu queria começar mesmo – uma vez que vou trabalhar entre um mês e um mês e meio… poderia tentar um espécie de auxílio gravidez e etc e tal. Mas no final das contas, assim que cheguei na Suécia recebo um telefonema da minha chefe desejando-me os parabéns pela minha gravidez. Isso me deu uma confiança e um alívio enorme!! Minha chefe parece ser uma pessoa bastante prática, e já organizamos tudo o que vai acontecer desde o dia em que começo (oficialmente 5 de maio) até o dia em que vou sair (mistério…).

Definitivamente, esse emprego afastou muitas nuvens negras do meu horizonte. Sempre tenho a impressão de que a minha falta de amor pelo solo sueco é devido a falta de segurança financeira e ao excesso de horas livres que eu tenho. Todo mundo tem uma vida e eu preciso imensamente de contato com outras pessoas – já confessei no post passado o quão carente sou – e não dá para ficar encontrando gente no meio da semana para um almoço, um fika, uma escapadinha; afinal, os outros tem o que fazer, sou eu que estou aqui de varde. No fim das contas, cai tudo nas costas do Joel e como eu quero preservar o meu relacionamento, eu tento maneirar e não grudar nele assim que ele passa pelo umbral da porta. Ainda estou naquela vibe de saudades intensas do Brasil, simplesmente porque lá nunca estou sozinha.

Aqui, morando no campo e numa casa, posso curtir a paz e o sossego até enjoar. E eu enjoo rápido. Tenho ouvido muita música enquanto estava lixando paredes e pintando. E não é perigoso para o bebê? Não, eu uso máscara e não estou me matando de trabalhar. Fiz uma porrada de pausas enquanto lixava – meu músculo do tchau gordinho é pesado, eu não posso trabalhar um tempão com ele dependurado no meu antebraço – para comer, tomar água, ligar para outras pessoas, tirar uma soneca ou só ficar de bobeira na internet – tem muito blog materno para ler e, graças a Deus, uma comunidade grande de mães para trocar figurinhas.

Fui trabalhar duas vezes. Uma vez como assistente pessoal, outra num trampo que arrumei em fevereiro para fazer uns bicos, que é uma mistura de assistente pessoal e behandlingsassistent. Como assistente pessoal trabalhei algumas vezes com uma moça, e foi uma experiência muito boa. Já no outro trampo… a equipe de trabalho não é unida e bom, é difícil trabalhar quando um fala mal do outro o tempo inteiro. Mas,  como diria minha amiga Angela, eu não estou dando bicudas em notas de cem e quando eles me ligam, eu vou. Só que é realmente um alívio olhar para o relógio e perceber que só falta uma hora para sair. Sério… nunca me senti assim nem quando trabalhava como faxineira na Suécia! Esse é, de longe, o pior trampo que já tive na vida.

Por essas e outras é bom e mau ficar em casa. Bom porque eu acabo descobrindo algumas coisas bestas – tipo Bezerra da Silva! – que são maravilhosas e mau porque eu não tô fazendo nenhum dinheirim. Já não fiz dinheirim nenhum mês passado, só curtindo a vida boa no Brasil…

Ainda assim, tô animada. Vou aproveitar esse mês para deixar as coisas do piá engatilhadas – quarto pronto, se Deus quiser – que mês que vem eu já tenho uma agenda de trabalho… e em junho tem o chá de bebê sueco!

Então é Páscoa e eu não comprei nada de chocolates. Eles me dão uma sensação super estranha e no dia seguinte eu tenho tipo… ressaca. E eu tô fazendo um curso de parto natural. E descobri umas manchas brancas na minha bochecha. E sardas na testa! Também decidi que vou fazer um quadro usando uma janela velha como moldura… só não decidi que fotos vou colocar ainda. E quero costurar os lençóis para a cama do guri… e uma cobra de tecido… e comprar uma máquina fotográfica…

Eu já disse que estamos reformando o banheiro?

Quero trabalhar na Suécia

H_20120921_214919“Oi Maria achei seu blog que é muito legal e queria saber se você pode me ajudar com umas dicas porque quero trabalhar na Suécia…”

Quando o número de acessos ao blog aumenta, aumenta também o número de pessoas que entram em contato pedindo os mais diferentes tipos de informações. As perguntas vão desde o que eu acho do frio, até como é a rotina na Suécia, como fisgar um sueco e a campeã, como arrumar emprego aqui.

É claro que eu escrevo uma página na internet porque eu gosto de escrever. Eu também gosto muito desse contato com os leitores, alguns deles eu já encontrei na vida real e foi muito bacana. Tem gente que realmente não escreve porque tem uma dúvida e sim porque precisa desabafar, trocar umas ideias com alguém. Isso é maravilhoso porque o processo de adaptação não acontece de um dia para o outro e quando eu tenho a oportunidade de conversar com pessoas que querem trocar ideias e que já leram de tudo um pouco na internet sobre o tema, mas ainda tem dúvidas; isso me ajuda a crescer também. Mas há outras pessoas que simplesmente decidiram ontem que vão sair do Brasil e antes de buscar qualquer informação começam a atirar para todos os lados.

Nesse caso eu recebo e-mails e ou mensagens na página do facebook como (mais ou menos) aquilo que escrevi aí em cima. Se eu responder com um “legal, pessoa, qual a sua história? no que você  gostaria de trabalhar?” em 80% dos casos recebo de volta um “em qualquer coisa. Quero sair do Brasil porque aqui é uma merda e eu aceito qualquer coisa”.

Ok. Cada um tem o direito de achar do Brasil o que quiser. Se quiser me escrever e dizer que acha o Brasil uma merda, eu entendo. Meu irmão também acha o Brasil uma merda e eu amo ele de montão. A gente cresceu na mesma família e temos visões completamente diferentes do Brasil. Eu acho que tivemos uma vida boa, de muitos privilégios, e que eu não tenho porque reclamar. Não foi fácil. Mas não foi difícil como é para muita gente. E depois, eu acho que a vida pode ser bem difícil independente do país em que você vive. É só uma questão da situação na qual você vive.

Mas então, a pessoa me responde que quer trabalhar em qualquer coisa aqui na Suécia porque a vida é uma merda no Brasil. Aí eu pergunto: “você fala inglês?” – porque não vou perguntar para um brasileiro se ele fala sueco né? – e a pessoa geralmente responde com um “não, não falo” ou “muito pouco, meu inglês é fraco e acho que seria uma oportunidade boa mudar para a Suécia para melhorar o inglês”.

Daí eu vou ter que dizer: você que quer mudar para a Suécia para melhora o seu inglês, você está fazendo isso errado. Eu não sei se você leu por aí, só por acaso, que o idioma oficial na Suécia é o sueco (e não o alemão). Provavelmente você leu por aí que todo sueco tem inglês como segunda língua, e é verdade, mas essa é a SEGUNDA LÍNGUA deles e não a primeira. Se você vier para cá trabalhar com altos negócios (se você é tipo o Jordan Bellfort do Wolf of All Street) parabéns; o mundo dos negócios respira em dólares e transpira em inglês. Se você lida com TI e sua segunda língua é programação, mas você tem inglês fluente parabéns – a Suécia adora poliglotas em tecnologia e informação. Se você é um engenheiro fodão em busca de experiência no exterior, parabéns; há oportunidades para você aqui também. Agora, se você não sabe o que quer fazer, se você só quer zarpar do Brasil a qualquer custo e nem tem inglês suficiente, desculpe: você mirou no país errado. Nos hotéis eles querem pessoas que falem inglês sim, mas você tem que falar sueco fluente porque seu trabalho não será apenas com os hóspedes (e mesmo os hóspedes de hotéis suecos em sua maioria são o quê? Adivinhe? Suecos). Nos restaurantes eles querem pessoas que falem inglês sim, mas você tem que falar sueco fluente porque seu trabalho não será apenas anotar pedidos. Suecos também vão a restaurantes e eles não tem nenhum problema em usar o inglês deles, só é bom que fique claro que você tem que saber sueco para lidar com seus colegas de trabalho, estejam eles na cozinha ou no caixa.

“Mas eu falei com fulano que mudou para aí e trabalha num restaurante/num hotel/na faxina sem problema”. Verdade. Eu mesmo já fui faxineira. A maioria dos brasileiros (de qualquer imigrante) que venha parar aqui já trabalhou em cozinha/hotel/limpeza. A diferença sutil dessa treta é que eu não vim para aqui com um visto de trabalho para ser faxineira. Eu já falei isso aqui no blog antes mas pelo jeito tenho que repetir: não existe visto de trabalho para a Suécia se você quer ser faxineirx, garçonete/garçom, serviço de quarto. Tem gente de sobra pra fazer esse tipo de trabalho por aqui porque esse é um tipo de coisa que todo mundo procura quando o calo aperta. E acredite: o calo sueco anda apertando.

Se você tem formação acadêmica no Brasil e quer mesmo assim saber como anda o mercado de trabalho para sua profissão aqui na Suécia, leia este post aqui. E saiba que se você não está no ramo de administração/negócios, TI ou engenharias; você precisa dominar o sueco. E só para deixar extremamente claro: você consegue visto de trabalho para a Suécia se estiver mirando em coisas grandes. Negócios. Projetos específicos. Parcerias entre instituições suecas e brasileiras. A gente que veio para cá com visto por vínculo familiar – e não por vínculo de trabalho – pode brigar por um trampo  num hotel/restaurante/na faxina. Esse trampo nem precisa ser integral, pode ser de final de semana, ou em parceria com o Arbetsförmdelingen. Mas se você quer um visto de trabalho na Suécia esse tipo de emprego não vai te dar a estabilidade necessária para que a imigração te carimbe o passaporte.

Em outras palavras: se você não sabe o que quer da vida ainda, não tem inglês mas tá de saco cheio da merda do Brasil, não vai conseguir visto de trabalho para a Suécia. Vá estudar inglês primeiro. Faça uma graduação. Invista na sua carreira profissional que oportunidades aparecerão – talvez nem seja aqui, seja em outro lugar do mundo ou pasme, aí no Brasil mesmo.

Não tô dizendo com isso que seja fácil. Eu bem sei que não é apenas decidir estudar no Brasil e puff! estudei, estou formado e agora eu posso conquistar o mundo. Só que vir para a Suécia sem formação, preparo ou apoio é ainda mais difícil. Nesse caso é bem mais fácil abrir uma conta num bate papo na internet e tentar a sorte por amor.

E não adianta ficar de cara comigo. O fato de eu não dizer: venha! não quer dizer que eu não quero brasileiros na Suécia. Por mim as fronteiras do mundo inteiro deveriam ser abertas. As regras comerciais e trabalhistas deveriam ser iguais em todo o mundo. E as políticas sociais também. Mas enquanto isso não acontece – se é que um dia irá acontecer – a verdade é essa: não tem choro e nem vela, não há espaço para quem quer fugir aqui. E você pode repetir a mesma pergunta para qualquer blogueira que for. Eu recomendo mesmo que vocês questionem a Vânia, do Diário de uma Teimosa, perguntem para ela como é que foi que o marido dela arrumou emprego aqui (se ele decidiu ser faxineiro na Suécia e conseguiu). Ou a Fernanda, do Aprendendo a Viver na Suécia. E a Cíntia, do Minha Aquarela 2 que acabou de mudar para a Noruega (e que apesar do marido trabalhar aqui há cinco anos, nunca conseguiu emprego fixo).

E eu, infelizmente – ou melhor, nós não podemos dar emprego para ninguém. Se eu pudesse, já tinha trazido para cá meu irmão, minhas irmãs e respectivos. Minhas melhores amigas. Até meus primos eu traria. Se fosse tão fácil eu teria trazido desde o primeiro ano os meus próprios pais. Nenhum deles está morando aqui. Por que será?

Porque para eles vale o mesmo que vale para todo mundo, indiferente de eu ter um lugar para morar aqui e um visto. Não me faz especial. Ao contrário: eu sou uma imigrante na Suécia. Eu faço parte da classe mais ou menos aceita porque tem marido sueco. No mais, não tenho nenhum poder especial a não ser o de compartilhar informações. E isso eu já tô fazendo.

Se não era bem o que você queria ter ouvido, paciência. Ainda assim, é a verdade.

Preconceito? Imagina…

O país mais acolhedor do mundo é o Brasil.

Só que não.

Na verdade, o Brasil é um país excelente no que se refere a acolher turistas. Tá certo que existem casos e mais casos de turistas que foram roubados e juram nunca mais voltar para o Brasil. Mas isso passa. Morre em questão de dias. Afinal, o Brasil é o país mais simpático do mundo.

Só que não.

Se você não é um turista europeu ou estadunidense, ou melhor, se você não for um turista branco cheio de grana, você será tratado como um turista qualquer. Afinal, pra quem serve um turista se ele não for o cara cheio de grana que vai deixar muito dinheiro no Brasil?

Eu to generalizando, eu sei.

Mas é foda. Sim é foda, não é triste, é foda. É foda abrir o navegador e ver mais gente compartilhando o quanto é que os médicos brasileiros estão sendo mesquinhos e infantis na forma de tratar os médicos cubanos.

Provavelmente, eu não devia meter a colher porque eu nunca trabalhei na área de saúde. E tá certo. Eu nunca trabalhei na área de saúde, mas eu já usei o sistema de saúde brasileiro, tanto o particular como o privado e sabem, não há lá tantas diferenças.

Não me lembro de uma só vez que eu tenha pago uma consulta no Brasil e que eu não tenha esperado para ser atendida. Sempre uma desculpa: é que o “doutor” teve uma chamada de emergência, então, nos desculpe, você não pode ser atendida no horário em que marcou. Ou seja, todo mundo pode esperar pelo médico, todo mundo DEVE esperar pelo médico, no sistema público de saúde ou não, porque ele é o senhor doutor.

Esse é um argumento emocional que não vale de quase nada. É só um choramingo igual a de praticamente duzentos milhões de pessoas que vivem no Brasil. Então passa.

O que eu quero dizer mesmo é que eu sei o quanto é chato você ter que provar para todo mundo que você é qualificado. Sim, porque a situação pela qual os médicos cubanos estão passando no Brasil não é diferente da situação da maioria dos expatriados que estão trabalhando ou tentando trabalhar fora do Brasil, não é diferente da minha situação atual. Mas o quê? Tá chorando de barriga cheia, menina, afinal, tu tá na boa, nos estrangeiro… acabou de voltar da Grécia.

Eu não entendo essa mania, essa merda que incutiram na cabeça do povo, que viver na Europa é bom pra caralhoooo (sim, esse é um post com muitos palavrões, eu sinto falta também de falar palavrão em português), então você tem que ficar apenas feliz e contente de viver na Europa. Se estiverem fudendo com você, se estiverem te tratando com preconceito porque você não tem um diploma europeu, que se dane minha filha, “tu tá nas Europa”.

Isso cansa.

Mas dizer que eu sofro algum tipo de discriminação aqui que eu já não sentisse no Brasil – ou que eu mesmo reproduzisse – é mentira. A exceção do campo de negócios e de tecnologia (que eu acredito sejam mais abertos porque eles querem simplesmente pessoas inteligentes e audaciosas, corajosas); os demais campos de trabalho são extremamente fechados. A gente fica olhando uns e outros com desconfiança, brigando para sermos reconhecidos e para construirmos um status semelhantes aos dos médicos. Exatamente isso, no fundo no fundo, todo mundo gostaria que a sua profissão tivesse o mesmo status quo que a dos senhores de branco.

E por que não? Por que algumas profissões são tão absolutamente invejadas e veneradas enquanto outras, sei lá, ficam como em segundo plano?

Porque somos humanos, e gostamos de nos gavar. A gente sempre quer ter alguém olhando lá de baixo. Se não for a empregada doméstica, tem que ser o mecânico, ou o professor (sim, infelizmente, professor já foi uma categoria profissional com status quo, mas isso foi no tempo das fadas), o gari.

Eu, como assistente social, fico puta da cara se me compararem a um conselheiro tutelar, e fico puta da cara porque minhas palavras e meus relatórios tem menos peso do que os mandatos de um senhor promotor. É um ciclo parecido com o da cadeia alimentar, onde os menores, no mínimo, tem que mostrar respeito aos maiores se quiserem continuar respirando.

Sim, deixemos as nossas máscaras caírem: somos preconceituosos. Brasileiro tem horror a gente negra, porque o símbolo do Brasil é um corpo moreno, não negro; brasileiro tem horror a gente pobre, porque estamos cansados de ser um país de terceiro mundo, então eu quero fugir daqui, sair dessa zona. Brasileiro tem muito mais orgulho do seu sangue branco do que muito alemão nazista. Eu quero viver no glamour europeu porque lá todo mundo tem uma vida boa, porque lá a diferença de classes é menor e não importa se você é formado nisso ou naquilo, a diferença salarial é pequena. Imagina que até mesmo uma faxineira tem uma vida boa lá! Eu ficaria contente de limpar banheiros por um salário assim mas, meu Deus do céu! Eu não vou pagar um absurdo desses para uma “tatinha” cuidar das minhas crianças, ou para uma Dona Maria esfregar o chão em que eu piso. É um absurdo que o governo queira dar privilégios a classe serviçal.

É um absurdo que o sistema de saúde seja poluído de médicos negros que a gente nem sabe se tem qualificação.

Mas essa é outra história não é mesmo?

Não, isso é hipocrisia. E nem é velada, é escancarada: a gente não quer morar no Brasil porque é fora do Brasil que está a vida boa. Só que a sociedade brasileira é um reflexo dos nossos desejos: a gente quer ter acesso a tecnologia como nos países de primeiro mundo, a gente quer ter salários de primeiro mundo, mas a gente quer perpetuar o modelo colonial, em que os senhores de branco, os engravatados, o pessoal que trabalha em escritórios continua tendo a possibilidade de ter seus escravos. E onde todo mundo que não está tão mal na fita assim, e que tem uma profissão intermediária, sonha chegar lá no status quo dos grandões, só para ter seus próprios escravos.

Enquanto isso não acontece, a gente, dessas profissões intermediárias (ou ao menos alguns de nós) não estão nem aí se precisarmos nos comportar como os cachorrinhos dos grandões, seja no Brasil ou aqui na Europa. Afinal, se a gente ficar nas proximidades da mesa, quem sabe nos sobrem algumas migalhas.

É foda ter que ficar provando que você é qualificado. Mas a gente só pensa nisso quando tá queimando na própria pele. E é por isso que me irrita ver o comportamento dos médicos brasileiros.

Eu não sou cachorra não. Nem gostaria de ser, ainda que eu fosse um cachorro de madame. Não quero ser tratada como alguém que veio de um país em desenvolvimento, quero ser tratada como uma pessoa. Acho estupidez, mesquinharia, rabugice e burrice tratar os médicos cubanos como cachorros que vieram pra pegar os restos da mesa dos senhores médicos brasileiros, só porque eles são negros e cubanos.

Sabe o que é mais chato de tudo isso? A Suécia é um país fechado. Suecos tem fama de ser um povo, no máximo, gentil. Gentil, mas frio, fechado, organizado. E são tão organizados que não importa de que lugar do mundo que você veio, se a sua formação não tá dentro dos parâmetros suecos, você pode vir do Reino Unido, não tem choro e nem vela, o jeito é voltar para os bancos universitários e estudar até que esteja no nível que é exigido. Ao menos eu sei que o tratamento que me é dispensado até esse momento não é diferente do tratamento que é dispensado a qualquer outro estrangeiro, vindo ele do primeiro velho mundo ou não. Mas no Brasil…

Bom, pelo menos Brasil é o país mais simpático do mundo. Está de braços abertos como o Cristo Redentor, não é mesmo?

Só que não.

Ai, seu eu tivesse o gênio da lâmpada…

Voltei a procurar trabalho.

Já me frustrei, tendo trabalhado com isso apenas poucos dias, o suficiente para querer deixar de lado.

Há vagas. De certa forma, há muitas vagas: só na minha região, 55 vagas estão abertas segundo o A. Os critérios de admissão não são muito difíceis de se alcançar, ao menos, pelo que parece não deveriam ser. Como eu já comentei em outros carnavais, algumas vagas exigem formação em terapia familiar ou algum tipo de psicoterapia. Ok, eu tiro essas vagas de lado. Vagas que exigem dois anos ou mais de experiência também vão parar numa pasta chamada “não adianta bater nessa porta”. Conversando com alguns colegas de trabalho fui orientada a procurar emprego dentro da área de “ekonomiskt bistånd” (ajuda ecônimica, pra simplificar), que seria a área aonde mais ou menos todo mundo começa e que é mais fácil de entrar. Há nove vagas na minha região, sendo que cinco estão em Göteborg ou cidades próximas. Das vagas em aberto, cerca de 10% são aquelas em que eu posso aplicar…

Não tem como não me sentir pessimista. Eu já vi esse filme antes. Junto comigo devem ter pelo menos mais 80 assistentes sociais fresquinhas saídas da Universidade de Gotemburgo querendo estas cinco vagas. Qual será o currículo da estrangeira que será deixado de lado primeiro?

To tentando ligar para esse pessoal e ver se consigo pelo menos uma brecha para um estágio. Quem sabe assim, eu consigo entrar. Já falei com várias secretárias eletrônicas. Isso é desanimador…

No mais, fico aqui quebrando a cuca pra tentar escrever uma carta de apresentação que faça o pessoal se sentir interessado em mim. Eu já tentei várias versões: falar da minha experiência no Brasil, da minha experiência aqui, falar das duas coisas, só falar que eu sou supimpa; mas acho que não funcionou. Nem fui convocada para uma entrevista. Se eu tivesse um gênio da lâmpada perguntaria a ele o que o pessoal tá afim de ler numa dessas cartas de apresentação, porque eu tenho carisma e se fosse chamada para uma entrevista teria grandes chances.

Alguém aí do outro lado tem um gênio disponível? Prometo devolver em 24h.

Leia antes de perguntar #03

Pra tentar retomar a rotina, vou responder a pergunta da Paola a respeito do mercado de trabalho na Suécia (e outras coisiquinhas que vou responder no e-mail) porque assim como ela, outras pessoas me escrevem perguntando como é que anda o mercado de trabalho na Suécia em geral ou em específico (dentro de uma categoria profissional).

Há algum tempo atrás eu publiquei o post “eles sonhavam com um trabalho na Suécia…” e acredito que é importante que todo mundo que está de olho em um visto de trabalho na terra dos vikings leia o post e esteja ciente de que a coisa aqui não anda tão colorida. A crise européia continua e a movimentação de pessoas dentro das fronteiras do velho mundo também. Além disso, assim como muitos brasileiros, muitos europeus veem a Suécia e os outros países escandinavos como sociedades mais organizadas e iguais e querem mudar para cá ainda que o país deles não esteja em “crise”; e eles tem, como eu já repeti muitas vezes, algumas vantagens em relação ao pessoal que não tem cidadania européia.

Falando nisso, peço licença para abrir um parênteses: algumas pessoas escrevem perguntando se o fato de eles terem cidadania italiana, alemã ou qualquer outra cidadania européia ajuda na hora de conseguir um emprego. Sinceramente, eu não sei, e chuto que isso depende do que você está procurando e qual a visão do empregador/empresa a respeito disso. Talvez você tenha cidadania européia e esse seja o empurrãozinho que faltava para eles se decidirem por você ao invés de um nativo. Ou não. Talvez o fato de você ter cidadania européia não significa nada por que você não se encaixa no perfil que eles querem e pronto.

O Arbetsfömedllingen – sim, o famoso A, aquele com quem eu vivo me frustrando – tem uma ferramenta no site chamada yrkeskompassen (bússola profissional, numa tradução livre) pela qual você pode realizar uma pesquisa para descobrir o quanto é que a sua área está saturada ou não de profissionais, baseada num gráfico que mostra o quanto difícil é encontrar emprego dentro de uma determinada região. Bom, desde janeiro eu to procurando emprego como assistente social e nem fui convocada para uma entrevista. Contando que nos meses de junho e julho eu não procurei nenhuma vaga, digamos que após 4 meses de busca ativa de emprego eu só recebi nãos. Agora eu vou mostrar para vocês o que é que diz o yrkeskompassen a respeito da profissão assistente social:

No gráfico, as áreas mais claras representam a menor concorrência, e as áreas escuras, maior. Göteborg se localiza dentro da área laranja no segundo gráfico.

No gráfico, as áreas mais claras representam a menor concorrência, e as áreas escuras, maior. Göteborg se localiza dentro da área laranja no segundo gráfico.

Meu termo de pesquisa foi “socionom” (pessoa que tem graduação em Serviço Social na Suécia tem esse título) e eu escolhi a categoria socialsekreterare (assistente social) uma vez que a pesquisa também mostra resultados para o cargo de kurator (profissional do serviço social que trabalha nas escolas, hospitais e outras instituições).

Segundo a bússola do A, o nível de concorrência dentro da minha profissão na minha região é médio (e eu estou procurando trabalho há meses). Claro que essa não é uma ferramenta com 100% de garantia, mas serve para se ter uma ideia. Além disso, a ferramenta nos dá algumas informações complementares como: o número de assistentes sociais/curadoras desempregadas nas regiões de Västra Götaland (Göteborg) e Halland (Halmstad) é baixo; a concorrência dentro da profissão tem crescido; o número de vagas de trabalho em aberto não tem sofrido uma mudança significativa nos últimos anos.

Além disso, na mesma página da ferramenta de busca é possível dar uma espiada no yrkesprognos (prognose profissional) que serve para dar uma ideia de como o mercado pode estar daqui a um ano ou mais, segundo as expectativas atuais. Para o meu caso (assistente social) a coisa não muda muito, e eles explicam que o fato se dá devido à profissão estar intimamente ligada aos aparatos do Estado.

Infelizmente, o yrkeskompassen não mostra qual são os grupos onde o desemprego (segundo a profissão) é maior, mas o SCB sim. Segundo o SCB (statistiska centralbyrån), estrangeiros podem levar até 7 anos para conseguir um emprego dentro da área em que eles são formados/graduados. Há sempre exceções, como por exemplo, a Fernanda que mora em Helsinborg e que após 2 anos e tra-lá-lá na Suécia conseguiu um emprego dentro da área dela (leia mais aqui). Acho importante frisar também que eu moro na Suécia, tenho visto e falo (porcamente) a língua. Quem está de fora tem de providenciar o visto e aprender a língua, então eu repito: acho mais fácil tentar vagas dentro de empresas, onde você precisa inglês, como vagas de liderança/gerência ou, ainda, dentro das áreas de tecnologia e informação.

E o que tudo isso tem a ver com a pergunta da Paola? Ora bolas, eu não tenho todas as informações pertinentes a Suécia só porque moro aqui mas eu sei onde encontrar e estou contando para vocês. Obviamente, o site se apresenta todo em sueco mas, com a ajuda do Google translator dá para ter uma boa ideia daquilo que você quer.

Só vou dar um exemplo: joguei no GT a palavra enfermeira.

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Depois vou no yrkeskompassen (acessando o link que deixei acima ou a página do A – http://www.arbestsförmdlingen.se – no rodapé da página [bem abaixo] existe a opção arbetssökande e nessa lista você clica em Jobbet och framtiden) e digito a palavra que consegui.

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Ele me deu vários resultados, afinal, enfermeira podem ter diversas especializações. Nesse caso, é só procurar algo que tenha “grund” no meio, pois grund significa base ou indica o geral. E… voilá!

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Pronto. Clicando sobre o mapa ele mostra os resultados para cada região. Agora é só usar o GT de novo. O mercado de trabalho para enfermeiras na Suécia parece muito bom; mas eu sempre ouço elas reclamarem no rádio dos baixos salários e da falta de reconhecimento da profissão. O mundo não é perfeito.

Divirtam-se!