Diário Caipira – de fim de ano

2021 foi com certeza um ano bom. Festejei 10 anos de Suécia. Eu reencontrei pessoas as quais não tinha visto desde 2020. A pandemia ainda não acabou mas a gente já sente mais segurança em como lidar com ela… ao menos por aqui. Me vacinei no verão, assim que pudemos ter acesso a vacina. Troquei de trampo. Estou mais feliz no trampo novo. Meu neném fez cinco, meu outro neném está lendo (! Inclusive em português minha gente!!) e eu me sinto… estranha. Já não sou mãe de criancinhas.

Tem muito mais que poderia encher essas linhas mas eu ando sem vontade de compartilhar. Ao mesmo tempo, voltei aqui pra escrever que esquiei. Depois de dez anos de Suécia percebi que nunca tinha visto uma montanha de neve até antes de ontem. Foi chocante e lindo.

Sempre tive medo de esquiar e sempre que me perguntaram dizia que não queria. Não queria esquiar quando chegamos aqui. Mas é bem gostoso deslizar morro abaixo sobre a neve. O que não é gostoso: vestir a bota de esqui, vestir o esqui, perceber que esqueceu o capacete e descalçar o esqui, caminhar na neve com a bota de esqui, subir qualquer aclive com esquis (mesmo que seja um aclive suave), socorrer as crianças usando esquis, enroscar um esqui no outro, deslizar para trás quando você apenas queria subir, cair no meio da pista e não conseguir levantar, olhar para trás no meio do “lift” (aquele trem que te puxa montanha acima) e ter um semi ataque cardíaco porque é alto pra cacete, descer a montanha com seu filho e ele sumir de vista (porque ele é mais confiante sobre esquis do que você), escutar essa mesma criança reclamar para o pai que a “mãe é tão lerda que eu cansei de esperar ela chegar”, desistir de frear no meio da pista e apenas descer rezando pra não atropelar uma criança. Ah! E a dor nos braços né porque você tem certeza que vai morrer de dor nas coxas mas como você na verdade passou metade do dia pondo e tirando esquis e levantando um piá que pesa o mesmo que uma saca de soja a dor não é aonde você imaginou.

Mas não quebrei nada. Tô no lucro. Preciso testar de novo.

Diário Caipira – 11

Nove anos de Suécia. Que coisa…

Quando eu era mais “xôvem” ficava imaginando como seria a minha vida no futuro. O que é que eu faria com 25 anos, 30 anos e se eu tivesse filhos, se eu teria uma casa, um trabalho; essas coisas. Eu nunca tinha pensado em mudar de país e até achava besta demais gente que ficava se “maravilhando” com a vida fora do Brasil.

Nove anos… mas eu ainda tenho a sensacão de entrar numa bolha a cada vez que eu “entro” na Suécia. Não sei se tem a ver com a questão de que a gente realmente entra num mar de nuvens sempre que está sobrevoando Gotemburgo… mas eu chuto que tem mais a ver com o fato de que eu não consigo absorver, não consigo entender o que é que é diferente aqui. Eu sinto que é diferente.

Eu não sei como me portar, como responder as pessoas, como não responder, quando cumprimentar, quando não; quando é ok brincar, sobre o quê é ok brincar; o que é considerado privado, o que é formal… quando é que alguém está dividindo algo intimo com você e quando é que as pessoas querem ficar sozinhas.

Nove anos e eu ainda tô nesse limbo. Me digam aí, quando é que passa?

Villa, Volvo, Vuvve

Há um ditado sueco que diz que você se torna oficialmente adulto (vuxen) quando consegue ter os três v’s: morar numa villa, ter um Volvo e um cachorro (vuvve). Coincidentemente ou não, vuxen também começa com v.

Uma villa sueca não é o mesmo que uma vila no Brasil e sim uma casa. A bem da verdade eu não tenho certeza se a villa deve ser um tipo específico de casa, sei apenas que um bairro onde há casas e não prédios de apartamentos é conhecido como villa området; uma casa é en villa (não confundir com o verbo descansaratt vila); ou muitas casas, flera villor. Em todo o caso, eu moro numa villa området em uma pequena villa.

Morar em uma casa nos abriu uma série de oportunidades que eu não havia imaginado. Desde quarta-feira, por exemplo, estamos com o cachorro dos pais do Joel, a Zemta – essa cadela muito simpática que está comigo um tempão na foto do meu profile do blog . Eles foram viajar e não teriam ninguém que pudesse cuidar da vuvve, e nós aproveitamos o fato para dar uma treinada (ando azucrinando o Joel com a ideia de adotar um animal de estimação). É uma coisa maravilhosa! Um cachorro muda todo o astral de uma casa. Já fui dar belas caminhadas com a Zemta, apesar da chuva da quarta e quinta-feira o fato de termos que sair com ela já nos rendeu a descoberta de mais um lago próximo de casa, apenas quinze minutos de distância. Além do quê é imensamente efetivo ter um vuvve para combater o sedentarismo, e essa pessoa que vos escreve aqui tem chumbo na bunda e um imã em sofás, cadeiras e, acima de tudo, na cama.

Então essa semana algumas coisas engraçadas aconteceram… Nosso carro foi riscado (há algum tempo) e o Joel resolveu aproveitar a cobertura do seguro e reparar a obra de arte do sem noção que passou uma chave ou qualquer coisa em quase toda a lateral esquerda. Como o risco cobria as duas portas o reparo demoraria uma semana para ficar pronto mas, nada de pânico, pois a cobertura do  seguro nos dava a possibilidade de alugar um carro por um preço simbólico por dia. O Joel reservou a opção mais barata um veículo do mesmo porte mas quando foi retirar, surpresa! Nenhuma outra opção estava disponível a não ser um Volvo. Como o pessoal da locadora de veículos não tinha a disposição o carro que o Joel havia solicitado ficamos com o Volvo (claro que pagando pelo valor estipulado na reserva) – e eu fiquei muito feliz. Sei lá porque brasileiro é bobo assim com carro, mas o Volvo que nos “emprestaram” ainda cheira a novo…

Pegaram o lance? Somos um casal oficialmente adulto – na definição sueca. Ao menos por uns dias…

A villa e o Volvo!

A villa e o Volvo!

Zemta. Ela é tímida e não gosta de tirar fotografias... é só ter a máquina fotográfica na mão que ela se esconde...

Zemta. Ela é tímida e não gosta de tirar fotografias… é só ter a máquina fotográfica na mão que ela se esconde…

A "dona da villa" e o vuvve.

A “dona da villa” e o vuvve.

Numa pose melhor em outros carnavais...

Numa pose melhor em outros carnavais…