Aborto

Já que hoje é dia das bruxas aproveitei para escrever sobre algo que é o próprio demônio para muitas pessoas e provavelmente, no mínimo um bicho papão ou uma besta de sete cabeças para outras. Antes de colocar minha opinião pessoal sobre o tema quero explicar como é que funciona o aborto na Suécia.

Em primeiro lugar,  abort (aborto – en ord) em sueco é um termo usado apenas para quando a mulher decide interromper a gravidez. No caso de aborto espontâneo é usado missfall (ett ord) quando ocorre antes da 22a semana de gravidez; a partir daí a morte da criança já entra em outras estatísticas (morte intra-uterina). Segundo o site 1177.se (um dos maiores portais de saúde da Suecia) cerca de 15% das gestações terminam em abortos espontâneos na Suécia.

Segundo dados do Socialstyrelsen (seria como o Ministério de Desenvolvimento Social sueco), cerca de 110 mil crianças nascem a cada ano na Suécia. Ainda segundo a mesma instituição, a cada ano são realizados entre 35 a 40 mil abortos na Suécia.

O aborto é lei na Suécia desde a década de 30. Em 1938, um mulher que houvesse sido estuprada ou que pudesse provar que corria risco de morte devido a gestação podia abortar. A lei do aborto sofreu pequenas modificações em 1946 e 1964, que incluíam outras causas pelas quais o aborto era permitido. O problema das leis pró aborto na Suécia daquele tempo era que cada caso deveria ser julgado individualmente por uma espécia de comitê; ou seja, em cada um deles a mulher tinha que provar a real necessidade daquele aborto, o que fazia com que a decisão (contra ou a favor) fosse emitida, na maioria dos casos, apenas depois do quinto mês de gestação.

Assim, se uma mulher tinha o direito de abortar mas já estava com a gravidez avançada, ela seria atendida num posto de saúde comum e teria uma espécie de cesariana ou parto induzido, por meio do qual o bebê era forçado a nascer e depois deixado para morrer. Esse tipo de procedimento causou muita contradição principalmente dentro do sistema de saúde sueco. Afinal, a com o avanço tecnológico era possível fazer com que muitas dessas crianças sobrevivessem ao parto prematuro.

Para que essa situação fosse resolvida, em 1974 foi implantada uma nova lei do aborto na Suécia (chamada SFS 1974:595) pela qual todo o processo sofreu uma enorme simplificação: sendo vontade da mulher, e esta expressando a sua decisão antes da 18a semana, todo e qualquer tipo de gestação poderia ser interrompida. A lei de 1974 deixa claro que todas as mulheres suecas tem o direito de realizar um aborto, e em 2008 uma nova redação da lei abriu ainda mais a extensão da lei: todas as mulheres na Suécia, com ou sem cidadania, com ou sem residência fixa ou laços claros com o país tem o direito de abortar.

Após a 18a semana de gestação concluída, se a mulher quiser fazer um aborto deve entrar em contato com autoridades e provar que: foi estuprada; o bebê apresenta uma mal formação; a mulher fez uso de drogas, bebidas e cigarros durante todo o período de gestação e não quer a criança. Ainda assim, o aborto só pode ser concretizado até a 22a semana de gestação porque a partir desse período há evidências de que o feto pode se desenvolver e se transformar em uma criança saudável fora do útero materno. Todo e qualquer caso em que a mulher faça a requisição de aborto após essa data será julgada por um tribunal especial.

Toda mulher que decide pelo aborto na Suécia tem o direito ao anonimato (se é da vontade dela), de atendimento humanizado – ou seja, ninguém trata ela como uma pecadora por decidir abortar – e acompanhamento psicosocial. Nos postos de saúde da mulher há uma espécie de assistente social, chamada de curadora, que vai ser a responsável por acompanhar a mulher durante o processo. A curadora vai conversar com a gestante para que ela possa se sentir segura na sua decisão, tanto antes como depois do ato consumado. O papel da curadora não é incentivar ao aborto e tampouco tentar convencer a mulher a tomar o rumo contrário: a curadora vai apenas escutar, orientar e apoiar a mulher que toma a decisão do aborto. Esse atendimento é opcional.

O tipo mais comum de aborto realizado na Suécia é o aborto medicinal.

Enfim… eu não penso que os suecos sejam tristes ou sei lá o que mais na Suécia porque eles não tem Deus no coração e praticam o aborto. Ainda assim, eu sou contra o aborto. Sou contra o aborto mas não contra uma lei que torne a decisão do aborto pessoal.

Até bem pouco tempo atrás eu era radicalmente contra o aborto. E não, não foi a minha mudança para a Suécia que me fez refletir. Na verdade, foi uma moça lá da cidade em que eu moro: um dia a gente estava praticando argumentação em inglês, lá no curso de conversação (viu só Silvio, fazer inglês com você mudou a minha vida!). Uma das frases era justamente: I think abortion is right/wrong because… Eu olhei para minha parceira e disse que “eu não acho que aborto é errado, porque simplesmente é errado”. Ela olhou para mim e disse que ela achava que havia casos em que o aborto era a coisa certa a fazer. Como a gente estava falando de questões controversas, o negócio pulou do inglês para o português mesmo e a gente começou a debater. Eu não estava sozinha no grupo do “aborto é errado”, ainda assim, eu lembro que nenhum dos argumentos que o povo todo apresentou fez mais sentido do que o quê aquela guria me disse: eu só sei que o mundo não é perfeito, e sei que às vezes há coisas que acontecem que a gente não tem poder de impedir; então eu penso que o aborto não é certo, mas também não é certo julgar quem faz um.

Isso definitivamente me incomodou muito. Foi a primeira vez que eu percebi que na maioria das vezes em que discuti o aborto eu classificava a questão de forma bem simples: as mulheres certas e as mulheres erradas. Só o tipo de mulher “errada” é que faz um aborto, porque é uma pessoa sem coração que está tirando uma vida. Só para constar: eu acredito que a vida começa na concepção, e não estou incentivando ao aborto e sim somente compartilhando a minha experiência. Por muito tempo eu pensei que quem abortasse merecia o inferno. Agora eu já não penso mais assim porque não acredito que nenhuma mulher que tenha sofrido a experiência veja isso com saudade, com nostalgia do tipo: ah, não vejo a hora de fazer de novo! Abortar não é o sonho de ninguém. Já conceber uma criança pode ser.

Seria fantástico que nenhuma mulher precisasse abortar. Num mundo cor de rosa, onde não houvessem estupradores (nem de criancinhas), nem opressão, nem drogas, nem dificuldades financeiras e onde, principalmente, a mulher não fosse vista como porca reprodutora, ninguém precisaria de leis sobre aborto. Ou talvez sim.

Quem sabe né?

Dia Mundial de Combate ao Suicídio

suicidioO dia 10 de setembro foi escolhido como Dia Mundial de Combate ao Suicídio. Foi ontem, mas às vezes, mesmo que eu queira, não dá nega e eu não consigo blogar. Enfim, suicídio pode até soar bonitinho em romances do tipo Romeu e Julieta, mas a verdade é que envolve muito sofrimento para todos os envolvidos e um enorme problema de saúde.

To tocando no assunto porque desde que eu mudei para cá tem muita gente que fala disso: a Suécia tem uma das maiores taxas de suicídio do mundo/ não adianta tanta tecnologia e dinheiro se tem um monte de gente que se mata lá/ existem tantas pessoas que se suicidam na Suécia porque ninguém acredita em Deus; blá blá blá…

A gente pode especular e especular a respeito do tema. Na minha opinião, a cultura sueca é um dos fatores que contribui sim para esses números mas, não porque aqui há mais ateus do que crentes ou porque o aborto é permitido (já ouvi cada uma que até parece que os ouvidos viraram pinico!), e sim simplesmente porque os suecos tem essa coisa de se virarem sozinhos, dar conta do recado por si próprios. Sueco “guarda” suas dificuldades para si e compartilha apenas com as pessoas que ele considera próximas. E não é que eu veja isso como um defeito não, pelo contrário: conheço muito gente (inclusive eu) que seria mais feliz se aprendesse a ser mais discreto. Mas essa dificuldade de expor os sentimentos pode virar uma bomba relógio.

E daí que eu sublinhei o pode porque essa não é uma regra. É só um chute baseado em alguns poucos textos que eu li sobre a importância de procurar ajuda quando você está mal.

Lendo algumas coisas ontem sobre o tema eu acabei nesse artigo do Humberto Corrêa que traz alguns dados, como, por exemplo, que cerca de nove milhões de pessoas se suicidam no mundo por ano e que o número de suicídios no Brasil cresceu em 30% nos últimos vinte anos, sobretudo entre homens jovens. O principal ponto do texto do Humberto é a afirmação de que o suicídio seria mais facilmente combatido se a gente deixasse o tabu de lado. Eu concordo.

Tem que se botar para fora o que não sai da cabeça

Tem que se botar para fora o que não sai da cabeça

Concordo porque, indiferente de acontecer no Brasil ou na Suécia, o caso é que ninguém se mata porque está feliz. E, indiferente da cultura sueca ou brasileira, todos nós temos imensa dificuldade de lidar com a tristeza. Na cultura sueca, talvez porque eles sejam fechados e det är inte okej (não é aceitável) pedir pinico para os outros. Na cultura brasileira simplesmente porque a gente é muito feliz para ser triste.

É só para pensar: quantos dos seus amigos estão postando semanalmente no facebook que não veem a hora do final de semana chegar só para entortar o caneco? Quantas dessas pessoas escondem um sentimento enorme de frustração e tristeza por detrás do “soltar a franga”? Por que é que beber para esquecer é aceitável?

E quando o tiro sai pela culatra e, de repente, o cara mais legal da roda se enforca, todo mundo fica surpreso porque ele “sempre” estava feliz.

É claro que eu to tocando em apenas um dos fios de uma meada muito embaralhada: o bullyng mata, a homofobia, o machismo, a marginalização,  o racismo e mais um monte de “ismos”. Eu ficar na “carne” daquela guria até essa gorda se tocar que precisa emagrecer NÃO é uma ajuda; tratar a namorada na coleira porque você é um maníaco carente NÃO vai fazer ela te amar, vai destruir ela (e o contrário também é verdadeiro, só menos frequente porque mulheres nem sempre dispõe do poder para manipular); excluir homossexuais, pobres e negros porque o problema é deles por serem assim NÃO te faz uma pessoa tolerante à diversidade, só serve para mascarar o teu preconceito.

Mesmo os mais fortes e grandes sofrem

Mesmo os mais fortes e grandes sofrem

E que mal há em falar algumas verdades, não é mesmo? Nenhum, não fosse por um detalhe: as pessoas que estão azucrinando as demais, por qualquer motivo que seja, sempre estão tentando esconder algum sentimento de inferioridade ou frustração. Há muitos relatos sobre isso (dá uma lida nos guests posts do blog da Lola): eu tenho medo de virar o objeto do bullyng, então em me junto à rodinha do pessoal que azucrina assim eu fico fora da linha de tiro. Ao menos por enquanto. Pimenta nos olhos dos outros é refresco, e parece que as redes sociais estão aí para isso: a gente fala o que quiser na rede e, na maioria dos casos não é punido. Isso legitima as redes de ódio que já estão pulando da internet para a vida real.

E isso tudo não acontece apenas no Brasil (tem muito aqui também, apesar do pessoal dos direitos humanos estarem em cima o tempo inteiro) mas no Brasil é visto por muito poucos como problema. Eu sobrevivi ao bullyng, alguns dirão, mas quando você estudava já existia facebook? A gente não quer ver, não quer aceitar que há pessoas que sofrem ao nosso lado, e que a tristeza é mais comum do que é socialmente aceitável (no Brasil).

Eu volto a combater a imagem que a gente vende do Brasil: somos um povo alegre e descontraído, com super “força na peruca”; o país do carnaval que chora suas mágoas na avenida do samba e lava a alma nas ondas de Copacabana. O povo mais simpático e forte do mundo, que mesmo com tantas dificuldades sempre aparece na TV com aquele sorrizão na cara, povo de jeito de moleque que encanta no futebol, na música, na dança…

…e não tem absolutamente o direito de ficar triste. E que esconderá a tristeza por detrás do ódio (duvidam que gente que fica xingando pobre na internet é porque tem problema?) ou de festa. Afinal, sempre é bom encontrar um canal por onde a gente vai descarregar as mágoas, e desde eu que faça o bem para mim mesmo, tá valendo.

suicidio 3

Eu não tenho a menor dúvida de que há muita gente feliz no Brasil. Feliz de verdade. Temos uma cultura de festa, dança, música e travessuras e isso ajuda realmente a limpar a alma. Mas quando nem isso ajuda é sinal de que a coisa está realmente feia e a gente deve perder o medo de declarar que está triste e que perdeu o tesão de viver.

É importante começar uma verdadeira conscientização a respeito da natureza da tristeza; da diferenciação entre tristeza e depressão e da necessidade de buscar ajuda profissional quando você percebe que o tesão de viver está morrendo. Afinal, um suicida não é bem uma pessoa que acorda numa manhã de segunda feira e resolve que já deu; muitas vezes a alma dele já morreu há tempos, só falta mesmo é deixar o corpo.

Quem quer se matar não decide de uma hora para outra, o sentimento aparece sorrateiro e vai crescendo e crescendo incentivado pelos transtornos psíquicos que a pessoa sofre. E aí que as vezes compartilhar isso com amigos vira piada e a única maneira seria buscar a um profissional, mas a oferta de ajuda profissional no Brasil ainda é muito precária no que se refere ao atendimento de pessoas com transtornos psíquicos.  A OMS recomenda (segundo esse artigo) um mínimo de 4 leitos psiquiátricos para cada 100 mil pessoas enquanto no Brasil há cerca de 0,4. Só mesmo trazendo a tona a realidade desse problema vai fazer com que sejam tomadas providências a respeito desse déficit.

Quando não há profissionais disponíveis e os amigos levam tudo na flauta a situação se vê desesperadora. Os transtornos psíquicos que levam a morte são um tabu e eu posso afirmar isso: quando eu tive depressão teve muita gente que disse que eu fazia manha, afinal, eu era jovem, talentosa, bonita, inteligente, tinha um bom trabalho, uma família que me amava e… o que mais eu poderia querer?

Mas nada é assim tão simples. Não é apenas uma questão de querer, ainda que esse seja o primeiro e mais importante passo em direção a cura. Sim, porque transtornos psíquicos são doenças, não são manha, faz de conta para chamar a atenção ou fazer piada. E se queremos que as pessoas que estão com problemas sintam-se confiantes para falar disso, temos também de vencer mais esse obstáculo: o de julgar quem está triste como fraco ou como só mais um cheio de mi-mi-mi-mi.

Enfim, se enfrentarmos os tabus que envolvem o suicídio esses números vão diminuir, tanto aqui como em qualquer lugar.

*****

A Suécia dispõe de uma linha de ajuda para pessoas que não se sentem bem: a nationella hjälplinjen.

Telefone: 020 22 00 60

Internet: 1177.se (chat com psicólogos).

Esse atendimento é gratuito.

Dois anos de Suécia

E eu esqueci de postar aqui ou qualquer coisa no facebook. Mas eu lembrei dos dois anos. Ou melhor, eu ainda lembro muito bem daquela viagem meio louca que eu empreendi justo quando mudei – 15h num ônibus para pegar o passaporte na embaixada e depois, mais 15h voando – sem contar as esperas entre conexões. No total forma praticamente 48h viajando…

Lembro de ter chegado tão exausta e de dormir 16 horas seguidas. Nada mal para uma dorminhoca.

Muitas coisas mudaram como, por exemplo, a minha impressão de que minha família sueca era muito legal mudou para uma certeza de que minha família sueca é muito legal. Não que eu escreveria no blog que eles são pessoas difíceis se eles fossem pessoas difíceis. Eu só não escreveria nada. E sofreria um bocado pois, piegas ou não, família é importante para mim. Desde o começo eles me apoiaram e na verdade eles são as praticamente as únicas pessoas que ainda me ensinam algum sueco. No mais, acho que eles não são uma família muito sueca pois às vezes me pego numa bagunça meio louca que caberia muito bem dentro do comportamento normal da minha família.

Bom, deu para perceber que alguns preconceitos continuam, não é? Ainda acredito que os suecos são mais fechados, mais frios, mais na deles. Não acredito que isso seja algum tipo de defeito, ao menos não no caso das pessoas das quais gosto. Mas sempre é assim não? Amamos as pessoas que nos são próximas e por isso não entendemos as esquisitices delas como algum tipo de defeito. Mas me irrita por demasiado a falta de língua dos suecos em alguns casos comuns, como, por exemplo: você está sentado no bonde/ônibus no banco do corredor e a pessoa que está na janela precisa sair no próximo ponto. Ela vai: a) pedir licença; b) ficar te olhando para ver se você entende que ela quer licença para passar; c) juntar casaco, livro ou a bolsa num atitude bastante ruidosa para indicar que ela está saindo; d) montar em cima de você ou simplesmente te atropelar porque você não saiu do lugar, sem pedir licença ou desculpas. Só para avisar, nesse caso o sueco vai utilizar (em 90% dos casos) de todas as alternativas citadas com exceção da opção A. Se você estiver em uma lojinha apertada ou similar, qualquer local cheio de gente, é isso que a maioria das pessoas vão fazer também. E muito provavelmente você vai receber uma cara feia por estar no lugar e hora errado.

Outra coisa que faz um sueco perder a língua é para falar sobre intimidade. É muito difícil falar sobre coisas pessoais mesmo com pessoas que já conheço há algum tempo. Em contra partida uma coisa que curti muito por aqui é que sueco não gosta de fofoca. Ou pelo menos, algumas pessoas mantêm atitudes bem duras com relação a isso. Principalmente no trabalho: alguém fez um comentário indiscreto e uma terceira pessoa cortou na hora. E não, não fui eu a infeliz que teve essa ideia brilhante, eu já sou estrangeira e tenho que provar um bocado para manter meu trampo, não faria uma coisa idiota como espalhar burburinhos. Sueco é bem daquele tipo que acredita que pessoas inteligentes falam sobre coisas – política, ciência, livros, moda, história, música – enquanto pessoas idiotas falam sobre a vida dos outros. Ponto para eles.

Devagar parece que estou engatando novas amizades. No início eu confundi muito gentileza com amizade e quando descobri que estava me iludindo foi muito duro para mim, passei um tempo muito triste e solitária. Agora comecei a trabalhar a coisa de outro modo. Além disso, não há só suecos na Suécia, e graças a Deus encontrei umas pessoas porretas – porque, pasmem, estrangeiros são mais duros contra outros estrangeiros do que os próprios suecos. Isso me doeu muito e foi um dos pontos que me levou a deixar de frequentar a academia. Havia milhares de estrangeiros como eu lá, mas nenhum deles queria estabelecer contato. Ao contrário dos suecos, não foram nem gentis. Mas o objetivo desse blogue não é fazer com que vocês tenham pena de mim – pobre menina rica! Há. Bom, na mesma semana em que recebi meu personnummer (logo depois de chegar) encontrei com uma nicaraguenha porreta no Arbestförmedlingen. Trabalhamos juntas e já rimos e choramos um bocado juntas. E graças a Deus que apareceu essa menina meio persistente no meu mundo porque se não fosse por ela meus contatos aqui na Suécia estariam perto de zero.

Eu me fechei por muito tempo e fiquei meio deprê, tava desiludida com minhas expectativas furadas e chocada pelo fato de outras estrangeiras serem tão rudes comigo. A Jenixa nunca deixou de manter contato e agora que eu peguei a minha ponta de responsabilidade pela nossa amizade a coisa vai crescendo e indo muito bem. Estou feliz por ela não ter desistido e me ensinado também algumas belas lições pois, depois disso, foi devagarinho que eu e a Vânia também fomos juntando nossas fomes com vontade de comer e agora, poxa, sinto nela uma verdadeira amiga.

Acho que o blogue faz um bem danado para mim. Esse contato que eu tenho com todas as outras blogueiras, essa relação simples que a gente acabou estabelecendo por conta das nossas histórias tão parecidas e únicas, isso tem me deixado bem segura de mim mesma e até me forçado a esquecer esse sentimento de rejeição que senti por parte do pessoal mais fechado do lado de cá. Meninas, vocês são especiais, e quem sabe nossa relação não seja daquelas amizades em que rolam segredinhos e longos papos ao telefone; mas eu sinto que nos comentários e os recadinhos por e-mail/facebook uma prova de que temos uma ligação. Obrigada!

Ao mesmo tempo estou muito feliz por perceber que minhas velhas amizades continuam firmes. Quando estive no Brasil em novembro foi tão bom reencontrar minhas parceiras de todo um sempre: Angela, Lu, Maira. Eu mudei, elas também, mas nossa amizade ainda está ali. Eu tinha medo disso mas agora eu sei que quando eu estou com elas basta sentar e fazer como sempre. Matar a saudade.

Falando em saudade, é a saudade da família que bate mais forte, que marca mais dura. Sei lá, meus sobrinhos ficaram gigantes enquanto eu estive fora. As minhas irmãs continuam as mesmas. Já meu irmão ficou com cara de homenzinho – verdade, não adianta xingar. E o pequeno Jorge falando. Meu pai está mais grisalho mas aquele jeito de contar piada e dar risada ainda é a mesmo. Minha mãe… mãe é mãe, elas podem até mudar mas a gente vê só isso, que elas ainda são mães e a minha é, ainda, muito minha mãe.

Mas eu mudei um bocado, eu acho. Sou uma pessoa muito insegura em sueco, e sou eu mesmo em português – ou, ao menos, sou aquilo que acredito ser em português. Eu não sei se todo mundo passa por isso mas eu tenho um complexo de dupla personalidade por causa do idioma. Como o português é a língua materna obviamente é muito mais fácil me expressar e mostrar/pedir o que quero, ser objetiva ou não. Eu escolho. Já em sueco… vivo me irritando por perder as palavras, ainda tenho dificuldade em falar ao telefone, me faltam adjetivos, me faltam verbos, me falta segurança. É muito comum me sentir perdida e com vergonha por estar perdida quando estou no meio de suecos. Eu tento manter uma postura calma, com um sorriso enquanto vou fazendo outra coisa até entender o que eles querem – enquanto por dentro estou gritando em desespero por não saber o que está acontecendo. Eu sou uma pessoinha meio fascinada pelo controle e quando ele some das minhas mãos ou desaparece sob meus pés, tenho graves problemas.

Consegui jogar alguns monstrinhos feios pela janela. Foi aqui que deixei de lado o discurso tipo não sou homofóbica mas… para sempre. Suecos são um povo idealista demais, de um jeito meio bobo até, e isso é contagiante. Eles querem igualdade, liberdade e fraternidade com mais força do que os próprios revolucionários da revoluçao francesa de 1792 queriam. E fazem isso por meio de pequenos gestos sem ficar enchendo o saco. Curti e to copiando. Sabe aquela velha máxima um exemplo vale mais que mil palavras? Penso mais nos direitos dos pobres, negros, homossexuais e minorias em geral de uma forma mais concreta. Penso até em mudar o mundo comendo comida ecológica. E comprando bens de consumo ecológicos. Até a causa dos animais – que eu achava meio sem noção – estou achando um barato. Não significa que virei militante, tampouco acredito que vou virar uma militante para tantas coisas. Mas aqui eu entendi que sou capaz de fazer escolhas que mudam o mundo, ou que mudarão o mundo, tanto faz. Eu nem preciso de muito esforço.

Até minha noção de geografia mudou depois que mudei e agora eu tenho uma consciência política mais apurada, tudo culpa daquele ruivo lindo de olhos azuis que cruzou meu caminho. O amor amadureceu, nossa relação também e eu acredito que esse é o curso natural das coisas. Estou mais feliz do que nunca por ter tido coragem de tomar esse passo em direção a um desconhecido tão grande e nesse caso, não me refiro a Suécia e sim, ao amor. Ninguém que muda para cá por causa de um relacionamento espera que o negócio vá pelo ralo, mas nem as minhas melhores expectativas eu poderia imaginar meu relacionamento assim. O Joel fez toda essa enorme mudança valer muito a pena.

Claro que ainda tem muito pelo que estou esperando. Um emprego de tempo integral por exemplo. Mas tudo muda todo o tempo, quem sabe uma bela oportunidade surge sem nem ao menos eu entender porquê. E eu tenho ganhado tanto! Essa oportunidade de morar em uma casa por exemplo, é fantástica. Eu que já morei num coletivo – a gente tinha só um quarto e os móveis para um quarto; e depois num apartamento pequeninho; agora tenho espaço de sobra…

E o ano promete mais, com o casamento e meus pais chegando… vixxx!! Hahahaha!

Dois anos na Suécia e to feliz. Feliz demais.

Mudanças

Tudo muda todo o tempo.

Sei lá quem foi que me disse isso, se foi a Angela – provável, ela é uma das pessoas mais sensatas que já encontrei nessa vida e muito da minha paciência foi por meio da amizade dela que conquistei… falando nisso, eu sei que você me lê, e eu tenho saudades! – em todo o caso, tudo muda todo o tempo. Mas a gente esquece disso. Ou melhor, eu esqueço.

Essa semana fiquei pensando no quanto já me acostumei com essa vida. Fazem apenas dois anos que eu moro na Suécia mas a cada vez que eu desço as escadas rolantes em direção a plataforma de embarque dos spårvagn eu sinto como se eu jamais houvesse feito diferente na minha vida. Não, eu não esqueci que a minha vida não foi assim, é que a gente se acostuma.

Eu acostumei a ir para o mercado e usar o auto scanner para fazer as compras. Acostumei a usar transporte público, e agora a maioria das vezes eu tenho um livro na bolsa para ler enquanto eu viajo no trem ou ônibus. Falando nisso, “antigamente” eu não podia ler no ônibus porque ficava enjoada de uma vez só; agora ler eu posso, mas é só sentir o cheiro de café que meu estômago quer parar na garganta. Tudo muda, meu estômago também… acho até mesmo que estou com intolerância a lactose porque leite me dá uma dor de estômago… ou é a idade, afinal, tenho uns cabelos brancos brincando de luzes na minha franja. E agora eu entendo sueco! Cara, dá para imaginar isso? Eu tenho uma família sueca e um trabalho sueco. Eu falo sueco na rua e quando chego em casa quase deixo o Joel surdo de tanto gastar meu português… é, nem tudo muda, mas o que não muda a gente se acostuma. Eu me acostumei com minha vida sueca.

E não é que eu encare isso de forma negativa. É terrível o período de adaptação, é uma merda quando a gente não se sente parte do meio. O que não quer dizer que eu já me sinta sueca (nunca vou me sentir sueca), eu não me sinto uma pedacinho da sociedade, eu não tô 100% integrada. Mas já passou aquela fase pesada em que tudo era difícil. Como eu falei, tudo muda, e a gente acostuma.

Há dois anos atrás eu estava contando os dias para mudar, super empolgada com a perspectiva de mudança porque eu estava cansada da minha rotina. Atualmente eu tenho tudo por aqui, menos uma rotina, e tudo o que eu quero é um emprego em tempo normal para poder estabelecer uma rotina. Tudo muda, todo o tempo…

Apesar de quase pirar de vez em quando – quando me estresso com alguma coisa, me estresso com vontade – sinto que a mudança me fez bem. E nesse ponto eu me refiro a mudança de país: apesar da enorme saudades de amigos e família essa mudança está me mudando, acredito, para melhor. Ainda assim mudança me dá angústia e só de pensar que tudo muda o tempo tudo me dá um nó no estômago… de novo o estômago.

Tô com aquela sensação de que a vida é tão efêmera que eu deveria beijar e abraçar todo mundo com quem me importo. Me importo com uma porrada de pessoas e não sei se eu teria coragem de abraçar todo mundo. E depois tem aquele preconceito de que suecos não gostam de proximidade… tudo muda, todo tempo; mas algumas coisas ainda não mudaram – e me refiro tanto ao meu preconceito quanto ao fato de que a maioria dos suecos não gostam mesmo de muita intimidade.

Mas vai mudar. Tudo muda.

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Há dois anos atrás eu não imaginava que meu blog se tornaria alguma coisa importante. E é. Tem sido, e tem ficado ainda mais importante depois que conheci outras pessoas por trás de outros blogs. Blogueiras queridas, vocês estão no meu coração. Quem quiser conferir um pouco da bagunça pode dar uma olhada nesse link aqui, do blog da Joana – a “Boneca de Neve” – e nesse outro aqui, da Priscila – uma “Mineira abaixo de zero” há pouco mais de um mês.

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Eu vou mudar de endereço. Hahaha! Tudo muda…

Feliz aniversário! Pra mim! Pra mim!

Hoje é meu aníver!!!! Vivaaaaa!

E eu nem sou daquele tipo que faz caso e fica escondendo o jogo para ver quantas pessoas lembram: eu conto logo para todo mundo; bem do tipo sabe que eu faço aniversário essa semana? Então, sabiam que eu faço aniversário hoje? Hahaha… pois é.

E de repente 30. Vivi três décadas e fico pensando em como eu imaginava o mundo e me imaginava há 10 anos atrás. Tudo mudou. E foi rápido… eu to começando a entender aquelas pessoas que dizem que a vida passa como um trem diante dos olhos… ou, acho que não é bem essa a expressão, mas é assim. O tempo não para, cantava Cazuza.

Rosas e velas para um jantar em comemoração aos meus 30 anos...

Rosas e velas para um jantar em comemoração aos meus 30 anos…

Me perguntaram como é completar trinta, e se eu não estou um pouco chocada/com med0 disso. De verdade dá um pouco de medo sim, afinal quando a gente tá na casa dos vinte se sente jovem, mas a partir dos trinta é adulto – definitivamente. E agora parece que meus 20 anos foram há tanto tempo atrás e ao mesmo tempo ontem. Tanta coisa aconteceu e tão rápido, tudo mudou. Com meus 20 anos eu definitivamente não me imaginava aqui. Eu me imaginava… será que eu lembro? Acho que quando a gente está na faculdade não pensa muito sobre “como eu serei daqui a 10 anos”… acho que eu pensava mesmo era em quão difícil será arrumar o meu primeiro emprego? Será que vou casar logo? Será que vou ser mãe logo?

Engraçado mas são exatamente essas as coisas que eu penso agora, ou quase exatamente já que eu sei o dia em que vou casar – e é logo. Essa semana liguei para alguns locais em que procurei emprego e não fui selecionada – segundo o Arbetsförmedlingen a gente deve ligar para os locais que não nos escolheram – e perguntei porque eu não havia sido chamada para entrevista. Eu estava morrendo de vergonha mas depois achei o negócio uma boa: as três pessoas com quem conversei disseram que havia mais de 110 candidatos para cada vaga (acho que duas delas até combinaram, disseram 117 e a outra 140); uma disse que eles deram preferência para quem cursou “familjeterapi“, e outra que deu preferência para quem tinha mais de 2 anos de experiência com crianças e a outra só que deu preferência para quem tinha experiência na Suécia – tipo, perdeu imigrante. Se eu pensar que não tenho toda essa experiência e pesar a concorrência desanimo, mas por outro lado esse feedback me deu algumas ideias… uma delas é que vai demorar para mim arrumar emprego como assistente social se eu não fizer um curso em alguma coisa específica (terapia familiar, abordagem de dependentes químicos, trabalho com crianças, sei lá!). Já me matriculei para um mestrado.

E toda essa bagunça de arrumar emprego, estudar – quem sabe eu terei de enfrentar aulas de inglês também – casar… tudo isso me faz sentir meio adolescente ainda… sabe aquela coisa do desafio? Como é que se faz? Como é que a gente se comporta dentro de uma sociedade que eu passei a conhecer fazem apenas dois anos? Que mundo é esse? Já diz o ditado que jovem é aquele que se mantém com a mente aberta e a minha, bem, a minha está escancarada – ao menos nos últimos dois anos tem sido assim.

Ganhei um monte de presentes hoje – o pessoal aqui na Suécia acha uma coisa grande completar 30 anos: café na cama, aquele tablet que eu queria, um jantar num restaurante famoso da cidade, vinho, um buquê formado de trinta rosas (vemelhas, amarelas e laranjas! A combinação foi fatal!). E tantos telefonemas e recadinhos!! Alguns eu vim ganhando durante a semana… um monte de gente especial me ligou, pessoas muito especiais me mandaram olá, algumas com que não conversava há tempos… e os novos amigos me fazendo rir! A Vânia me ligou e cantou Ira! “Envelheço na cidade” ao telefone!!! Hahahaha… eu disse para ela que essa foi a segunda vez que envelheci na cidade porque antes eu envelhecia no campo… piada de caipira.

Sabem de uma coisa? Me sinto uma rainha hoje… foi um dia especial e eu fui amada e bajulada ao extremo. Fazer trinta anos é bom demais! Eu quero repetir todos os dias!! Se um bom começo significa uma bela continuação eu vou viver os meus trinta bem demais O que me leva a pensar… o que será que vai ser de mim quando completar 40?

Vou ter 3 crianças, morar no Brasil e continuar a ser feliz…

Pequenas Grandes Coisas da Minha Vida Sueca #20

Férias! Oh, eu esperei tanto por elas… e apesar de dizer que o blog não está de férias ele acabou ficando em último plano nas últimas duas semanas. Mas aconteceu tanta coisa e eu trabalhei todos os dias até a última sexta… não vou prometer que vou deixar aqui fotos e que vou contar as histórias dos dias que já passaram porque… não vou.

Hoje só quero dividir com vocês uma coisa que achei muito inteligente que li na introdução do livro de Anika Österbeg, uma autobiografia sobre a vida da sueca que após ser presa nos EUA passou 28 anos em uma penitenciária sem conseguir ser transferida para a Suécia. Não sei todos os detalhes da história, sei apenas que ela foi presa porque, sendo usuária de drogas, estava junto com o namorado quando ele cometeu um assassinato. Enfim, ela diz que cada uma de nossas ações são como água a derramar-se no oceano de nossas vidas, nunca saberemos a intensidade de suas ondas mas é certo que teremos de lidar com elas para muito tempo…

Essa frase me tocou bastante porque eu acredito na força de uma escolha: se eu não houvesse levantado a minha bunda dos degraus do ginásio para falar com o Joel há tipo dois anos e meio atrás eu não teria este blog, por exemplo. Da mesma forma são apenas alguns segundos para decidir deixar a raiva explodir antes de vomitar nossas verdades em cima de outra pessoa, porque afinal, ela precisa ouvir ou precisa aprender. Puts, às vezes eu mordo a minha língua e isso me faz tão feliz que é quase inacreditável. Só porque eu quero ser humilde e não impor a minha vontade para os outros não significa que isso seja fácil, às vezes fico imensamente frustrada porque as coisas não vão do meio jeito. Mas daí também cabe uma simples escolha: ficar estupidamente irritada porque não tenho o controle da situação todo o tempo ou apenas relaxar um pouquinho e viver!

Hoje eu tenho a consciência de que muito tempo antes da minha vida tomar essa virada tão grande eu decidi ser feliz. Decidi caminhar mesmo que com passos lentos para construir algo grande na minha vida. E eu consegui. E agora eu não tô falando de morar na Suécia, isso eu já disse muitas vezes que é a mesma coisa que morar em qualquer lugar. Eu to falando do amor e dos laços, da rede de amigos que conquistei: eu me sinto muito mais perto da minha família, sinto que consegui pessoas especiais para uma vida inteira (Luuuuu, Angela, Maira) e um amor para toda vida.

Não porque eu decidi ser grande e importante, mas só porque decidi ser feliz.

E sou!

Concurso de textos do Borboleta

Faz mais  ou menos um mês escrevi um texto para o concurso “Uma Música, Mil Lembranças” do blog Borboleta Pequenina Somniando na Suécia. O concurso terminou em 31 de maio e agora rola a votação, o texto preferido da galera vai ganhar uma tela muito linda!

Quando escrevi o texto não pensei em ganhar a tela mas sim em tentar colocar em palavras uma época especial da minha vida. Foi muito legal escrever um texto para o blog de outra pessoa e receber críticas boas a respeito dele. Por causa disso decidi deixar aqui um pedacinho dos textos que participaram do concurso, e quem quiser pode entrar no blog da Somnia e votar no seu preferido. O objetivo do concurso era o de contar lembranças referentes a uma música que fez parte de uma época especial da vida do autor.

Não estou pedindo votos (acho que ganhei uns 3 votos até agora) mas quem quiser conhecer um pouco da minha história com o Joel, pode dar um pulinho no link que vou deixar abaixo. Aqui vai um cadinho de cada texto – após o nome do autor e a da música que inspira as lembranças:

Texto 1  Que sorte a nossa hein? (autor Ricardo Perez, música “Ai,ai,ai,ai” Vanessa da Mata)

O relacionamento deles havia acabado há pouco mais de um mês. Programada para ser a comemoração de 4 anos juntos, a viagem não foi cancelada e ambos acharam que tudo bem. Tinham sido felizes juntos mas o que fazer se não dava mais certo, se as brigas tinham se tornado mais frequentes que os bons momentos, se havia tantas outras possibilidades, tantas outras paixões perdidas por aí, tantos outros corpos a serem descobertos? Então, pegaram o avião com a certeza de que tinham o que festejar. Seria um final feliz.(para ler o texto na íntegra clique aqui)

Texto 2 Escorrendo pelos dedos (autora Ingrid K Lima, música “Slipping trough  my fingers” ABBA)

Parece que o tempo passa cada vez rápido, o tempo escorrega pelos meus dedos. Sinto mesmo que foi ontem que eu vim ao mundo, mas se páro para pensar que já fazem 12 anos que estou vivendo simplesmente não acredito. Se pensar que apenas poucos anos atrás que eu queria estudar no colégio que estou hoje e isso já correram dois anos. Quando me lembro que queria viajar para vários lugares para os quais já viajei. As emoções que eu vivi, as pessoas que eu conheci, tudo isso é fantástico! (para ler o texto na íntegra clique aqui)

Texto 3 The Story (meu texto povo! Música “The Story” Brandi Carlile)

Foram sete meses até nos reencontrarmos, sete meses marcados por ansiedade, impaciência, insegurança, “The Story” e uma santa loucura. Uma loucura movida por lembranças fantásticas – de um amor de verão; pela certeza de que ele me conhecia como ninguém apesar do curto tempo em que estivemos juntos e pela necessidade que eu tinha de dizer para ele: “aquelas semanas maravilhosas não eram uma fantasia, elas são uma verdade porque eu fui feita para você”. (para ler o texto na íntegra clique aqui)

Texto 4 A história da amor entre Pingo e Laura (autora Nina Sena, música “Com minha mãe estarei”)

Eu adoro lembrar da minha avó. Porque foi com ela que senti amor pela primeira vez na vida. Foi ela, com seu jeito simples de mulher interiorana e lutadora e mãe de uma penca de filhos e avó de uma porrada de moleque, quem me ensinou sobre cuidar do outro, sobre solidariedade e amar a todos sem fazer desdén de ninguém. Eu nunca havia pensado nisso, mas foi vovó quem me ensinou o dom de ser generosa. Ela repartia o amor tão bem entre os netos quanto a sopa que sempre fazia em quantidade bem maior que precisava porque sabia que sempre iria aparecer alguém na sua porta com fome. Esse amor era tão bem distribuído que se você perguntasse pra cada um dos netos quem era o mais querido da vovó, cada um iria dizer: eu mesmo, claro! (para ler o texto na íntegra clique aqui)

Espaço para comentar: eu chorei quando li esse texto da Nina, na minha opinião foi lindo demais e o melhor de todos. Quem não lembra das músicas de Maria na infância?

Texto 5 Já sei namorar ( autora Beth Lilás, música “Já sei namorar Tribalistas”)

Quando eu era menina, formava com minha irmã e mais duas amiguinhas um quarteto a que denominamos  “Quarteto fora de si” parodiando um famoso daquela época chamado “Quarteto em Si”, e eu sempre ficava com a voz aguda e estridente da boa soprano que era, ou melhor, achava que era. Cantava muito, parecia uma cigarra durante o dia e também inventava palavras em inglês que eram bem parecidas no som com as originais, já que eu não manjava nada daquela língua.  Era tão divertido cantar com as amigas ou mesmo sozinha em casa, no quarto, no banheiro, em banhos demorados em tardes quentes de domingo. Coisa boa, tempo bom! Babaluuuuuuuuu! (para ler o texto na íntegra clique aqui)

Texto 6 Os verdes campos da minha infância (autora Irene Cechetti, música “Os verdes campos da minha infância” Agnaldo Timóteo)

Nos sábados e domingos a escola se transformava em um salão de baile. As carteiras eram encostadas e a música tocada por instrumentos musicais como a sanfona, violão e pandeiro que animavam os pares dançantes. Foi num desses bailes que conheci meu primeiro namorado. Uma paixão, um amor puro e verdadeiro que meu pai, um italiano ciumento e brigão, de uma maneira violenta, dando um soco na cara do “meu príncipe encantado” colocou um ponto final no romance. (para ler o texto na íntegra clique aqui)

Texto 7 Até mais ver (autora Daniela Barbagli, música “Até mais ver” Trio Virgulino)

Era algo transcendente que ditava o ritmo dos passos numa sintonia sem igual. A felicidade estava no ar. Num desses momentos mágicos, quando o sol estava quase a raiar, a música parou. O silêncio da caixa de som não interferiu no ritmo do salão. Com o céu clareando, continuamos dançando ao som de nossos próprios passos: dois pra lá, dois pra cá; dois pra lá, dois pra cá… a areia trazida das dunas fazia um chiado difícil de resistir. (para ler o texto na íntegra clique aqui)

Gostou de algum dos textos? Clique aqui e deixe seu voto na enquete que aparece ao lado direito da página!

Vi ses!!

Um ano na Suécia!

Dia 13 de abril completei um ano de Suécia.

E… é difícil definir. Não poderia escrever que tive o ano mais maravilhoso da minha vida na Suécia; nem tampouco afirmar que foi um ano de merda. Foi um ano de adaptação e acho que esses são períodos da vida especiais – como o primeiro ano de facul, o primeiro ano de casados, o primeiro ano em uma cidade nova, o primeiro ano em um emprego, o primeiro ano como mãe ou pai, o primeiro ano sem uma pessoa querida que morreu… Períodos de adaptação sempre trazem surpresas boas e más.

É claro que não me acostumei a ficar sem “o meu povo” mas acho que internet ajuda bastante, e como eu comentei aqui depois que a minha mãe e pai tem skype me sinto muito mais amparada. A gente conversa no mínimo uma vez na semana com vídeo então eu posso ver eles e eles me veem, sem falar que por não ter custos podemos conversar mais tempo.

Dizem que o primeiro ano junto com o parceiro é o mais difícil. Descontando os meses no coletivo – mudamos para o “nosso apê” em dezembro – eu e Joel temos 5 meses de estrada, e vai bem. Claro que eu tenho os meus pits de mulherzinha e que sendo o Joel o Sr. Organização acabamos criando situações hilárias. Hilárias sim: todos hão de convir que a maioria das briguinhas entre homens e mulheres são por coisas tão pequenas que chegam a ser hilárias; basta olhar um stand up pra perceber que a maioria das piadinhas são sobre relacionamentos. Mas graças ao fato de que o Joel tem um ótimo senso de humor e que eu não posso resistir a uma piada muitas vezes quando eriçamos o pelo ao menos um de nós tem o espírito de fazer graça a respeito, quebrando a tensão e estabelecendo a paz e a prosperidade para muitos minutos mais nesse lar. Que frase linda né? Eu sempre digo que se em quase 7 meses no coletivo dividindo um quarto (para nós dois e nossos egos) e a cozinha, sala e banheiros com mais 3 pessoas vivemos bem e não separamos então não será agora que temos praticamente 20 metros quadrados para cada que vai acontecer.

O que eu mais gosto em Göteborg: cinema, o spårvagn, pubs, a academia (que é muito chique e tudo cheira como novo – brasileiro adora coisas com cheiro de novas!), o mar tão perto e a arquitetura da cidade.

O que eu não gosto em Göteborg: chove demais, chove demais e chove demais. E quando chove faz frio!

A maior furada: a distância para o Brasil. Ô que me dá um treco não poder pegar um busão e dar um oi para todo mundo!

A maior tacada: o apê de 41 metros quadrados. É super fácil de limpar e ficou absolutamente lindo mobilhado com poucos móveis. Quem precisa mais?

Coisas que eu queria ter de volta: meus vestidos – to sempre de duas calças e blusa+blusa de manga+blusa quentinha+casaco; ou seja, empacotada – e bailão sertanejo.

Coisas que eu não quero de volta: meu trabalho na prefeitura. Sim, foi ótimo, estável, me deu muita experiência e um excelente salário a cada fim de mês; mas apenas quem é assistente social sabe o quando se paga por trabalhar em uma área que todo mundo quer usar como alavanca política.

Comida que mais sinto falta: churrascooooooo! Mas na verdade quando vejo minha irmã publicar no Face “hoje é dia de lasanha” ou “hoje é dia de nhoque” – como hoje – meus vermes se agitam. Sinto a maior falta de comida de mãe!

Comida que aprendi a gostar: indiana. Nunca tinha provado e acho o maior barato, além do que é a única comida “quente” que consigo botar goela abaixo sem sufocar.

O que eu quero a partir de agora: um emprego de segunda a sexta!

Maior desafio e sonho para o próximo ano: organizar meu casório!

Se eu pesar o que ganhei e o que perdi nesse período acho que a coisa fica empatada, mas o principal objetivo com essa mudança louca foi estar ao lado do homem mais lindo, generoso e super do mundo: Joel Abrahamssom, eu amo você. To imensamente satisfeita com esse aspecto da minha vida assim posso considerar que tenho obtido sucesso nessa empreitada.

Afinal de contas, logo me tornarei a Sra. Abrahamsson…

Pequenas Grandes Coisas da Minha Vida Sueca #13

To escrevendo esse post desde a semana passada porque graças a Deus eu arranjei mais algumas horas trabalhando como assistente pessoal. Um experiência nova, empolgante e exigente, uma vez que vou trabalhar com uma pessoa autista. Bom, bom,bom; já li alguma coisa sobre isso mas nunca havia tido contado direto com algum autista.

E não foi só isso: na sexta feira fiz uma entrevista de emprego e paguei o maior mico. Tenho uma amiga sueca que é enfermeira, e um dia conversando e tals falávamos de trabalho quando eu disse que queria um extra para guardar dindim para o casório e ela comentou que estavam precisando substitutos para o trabalho dela. Ela me passou o telefone da encarregada e disse que era muito legal passar o dia com os moradores da casa e etc, e que era meio parecido com assistência pessoal. Eu entendi que era um lar de idosos, porque existem muitos lares de idosos aqui na Suécia que contam com assistentes fins de semana ou mesmo diariamente. No fim da entrevista descobri que o lar é para pessoas com deficiência mental… sorte minha que o pessoal do lar gostou bastante de mim. Eu me desculpei claro, mas devo ter podido estrelar “Morango do Nordeste” por alguns bons minutos.

Esse último não tem nada a ver com o trabalho com a pessoa autista. Falando nisso, estive hoje com um grupo de autistas por uma hora e pude vislumbrar por alguns instantes como esse universo é enorme: um autista pulava entusiasticamente no meio da sala enquanto outro estava totalmente concentrado com as formas de um objeto. Obviamente, muitos autistas conseguem ter uma vida sem assistência, mas eu tive a oportunidade de visualizar os casos mais complexos em que a pessoa precisa constantemente de uma âncora para ter um pé nessa vida que nós chamamos de normal.

Como diz o ditado, vivendo e aprendendo. Como esse blog não vive só de dizeres populares, um pouco da novela aprenda sueco na Suécia:

Eu falo e repito que odeio fazer trabalho em grupo. Primeiro, porque eu não fiz nenhum amigo na turma do SFI, e também não fiz nenhum amigo na turma do SAS. Na turma do SFI eu fiquei na minha depois que uma tailandesa disse bem na minha cara: “Eu tenho raiva toda vez que ouço você falar, porque eu moro aqui há quatro anos e não consegui terminar o SFI.”. Eu tentei dar uma resposta, mas ela só virou as costas e saiu. É a vida…

Na turma do SAS tem a Margareta, uma peruana que sempre conversa comigo. Mas ela tem uma criança e muitas vezes não vem para a aula porque a criança está doente. Às vezes ela chega atrasada e como não há lugares marcados na classe a gente não senta juntas. Foi o que aconteceu na última quarta-feira: quando ela chegou estávamos justamente separando grupos de trabalho para um debate, e uma chinesa já havia me chamado para fazer parte do grupo dela. Eu acho muito legal essa coisa de sentar com pessoas novas e conversar, mas trabalhar em grupo para mim é bastante difícil. Não sou flexível, não tenho paciência e… não tenho paciência.

Vamos simular um debate na próxima quarta e meu grupo escolheu o tema: “Coma comida orgânica/ecológica”. Sou parte do time a  favor da comida orgânica/ecológica, e o objetivo é apresentar argumentos suficientes para a causa. Entrei na internet depois da aula de quarta, pesquisei sobre o tema, escrevi algumas coisas e mandei para o pessoal do grupo. To no vácuo até agora. Isso me desgasta. Eu fico pensando que todo mundo tem seus compromissos e tals, mas não ajuda. Quarta feira vamos ter de falar na frente de todo mundo, estar seguros e preparados para isto; não rola olhar 5 minutos antes da aula o que é que dá para fazer… talvez seja só eu que precise me preparar para. Odeio fazer trabalho em grupo.

Esse relato escrevi no sábado. Fim de semana continuei no vácuo e quem quebrou o ‘silêncio’ da minha caixa de e-mails foi a professora avisando que não teria aula hoje; que booooommmmm. Em seguida uma das pessoas do meu grupo escreveu algumas linhas dizendo que ela não tinha encontrado nada “ainda” para contribuir com a construção dos argumentos. Ao menos alguém respondeu e agora temos uma semana de novo pela frente, quem sabe o que vou encontrar na minha caixa de e-mail na terça feira a noite?

Fico incomodada quando uso a expressão vida normal, por isso… não uma ou duas vezes me pego filosofando sobre o que seria uma vida normal. Trabalhar de segunda a sexta, começando as 8h e saindo as 17h; ter férias uma vez ao ano; viajar; completar a graduação, pós e mestrado; passar Páscoa e Natal em família; bla bla bla… Se for assim nada na minha vida se parece com uma vida normal; por aqui tudo muda todo o tempo.

Falando nisso, adjö blog en gång till… acabei de receber visitas!

Nunca se é velho demais!

Eu fui limpar a casa de uma senhora sueca bem idosa que sempre cria certa polêmica com a agenda de trabalho, devido ao fato de que ela cursa a universidade. Ela estudou economia o ano letivo anterior, e agora está estudando a história da língua inglesa – ou a história da arte inglesa, não entendi  muito bem.

Detalhe: ela tem 93 anos. E parece ter 60.

Aposto que muitas pessoas nem se impressionariam: ahhh puxa… ela tem 90 e parece com 60? Grraaaande coisa… Grande coisa mesmo! Quantas pessoas de 60 anos você conhece que frequentam a universidade? Ou de 50 anos então? Ok, pense em alguém que ainda estuda alguma coisa com 50, 60, ou…?

Eu fico imensamente impressionada. Eu gostaria de sentar com ela e ouvir histórias, afinal quem vai para a universidade aos 93 não deve ter tido uma vida do tipo pacata. Eu fiquei procurando por fotos ou sei lá, esperava ver muitos livros ou filmes ou alguma coisa que indicasse viagens ou o quê, mas eu não posso ficar fuçando nas coisas dos clientes! Ah, nessas horas eu fico tão frustrada com o meu sueco, eu queria falar mais, entender mais, perguntar um milhão de coisas!

Sei lá se ela responderia. Sei lá se eu teria tempo, ou coragem. Mas o quê é que é tão absolutamente fantástico encontrar pessoas com energia para lutar contra… não sei explicar ao certo, mas é nadar contra maré e nem ficar cansado! E daí se a vida inteira dela ela não fez nada de extraordinário [como eu imagino agora]: o fato de que ela estuda aos 93 é extraordinário.

Acho que muita gente entra em uma espécie de crise existencial porque não realizou o esperado pelo sistema: nasça, cresça, estude, apareça, tenha um bom emprego, conquiste a garota ou o cara, faça pós, compre uma casa, crie estabilidade financeira, tenha filhos, trabalhe mais, compre coisas importantes, se aposente e… aproveite a vida. Hã? Não há nada de errado em aproveitar a vida depois de aposentar, mas porque não aproveitar antes?

Quem foi mesmo que falou que devia ser assim? Dias atrás eu li um post da Fernanda do blog Aprendendo a Viver na Suécia em que ela conta que voltou para a escola e se sentiu esquisita porque sempre quis fazer tudo “certo” e de repente quando ela muda de país tudo está as avessas! Ela teve que recomeçar, mas e daí? Nunca se é velho demais!

Ter filhos antes de conquistar a estabilidade financeira não é o desejo de ninguém, descobrir que a faculdade dos sonhos não vai te conduzir ao emprego dos sonhos tampouco, assim como perceber que não foi dessa vez que você encontrou o “cara” é depressivo. Tomar revezes da vida não é fácil. Mas parar… porque não se chegou lá (onde mesmo?) é pior.

E depois, dá aquela sensação de que toda a vida tem que ser vivida antes dos 30. Tudo: escola, trabalho, marido, crianças! antes dos trinta. Definitivamente não se é uma pessoa de sucesso se não se chegou  até a data limite. Porque depois… Depois é cuidar do tudo até aposentar, aos 60. Trinta anos sem fazer nada de novo, só cultivando – e muitas vezes mal e porcamente – aquilo que se conquistou até os 30. Céus! Pensando assim, só tenho mais 1 ano e meio para ter formação, trabalho, casa e filhos. Hahahaha louco não?

Não quero isso para mim. Tem muito tempo até os 93.

Pra não dizer que não falei de flores

Julho é um tempo lindo onde as rosas estão maravilhosas nos jardins de toda a Gotemburgo e ainda em agosto algumas plantas apresentam cachos lindos. Mas o post não é sobre rosas, apesar do título e introdução, é sobre morte e vida.

A farmor do Joel morreu há 15 dias, mas o funeral foi só hoje. Eu estava em dúvida se escreveria alguma coisa a respeito principalmente porque não é lagom expor certas questões familiares. Apesar de eu não ser sueca me preocupa a questão de ser lagom  ou não pelo fato de que eu amo e respeito muito a família do Joel. Pra não correr o risco de magoar ninguém, eu vou falar de algumas impressões sem entrar em detalhes.

A farmor tinha quase 82 anos, e teve um AVC. Foi um dia triste, longo e tenso pois a família foi avisada que ela teria somente algumas horas de vida. E eu estava esperando o velório, que ocorre quase de imediato em todo o Brasil (assim que o corpo é liberado do IML). Então teria velório e choradeira e tudo o mais. Mas não. E não sei o porque.

Foi bonito, muito bonito hoje na igreja. Uma coisa simples, discreta, com apenas alguns amigos e parentes próximos. Eu deixei uma rosa no caixão, e essa foi a minha participação. Depois da cerimonia não teve sepultamento e sim uma recepção para celebrar a vida dela.

Foi bem estranho para mim essa coisa de não ver o corpo – uma vez que o caixão está fechado. Mas eu achei bem interessante essa coisa pequena na Igreja, onde apenas amigos e familiares estão ali realmente porque gostavam aquela pessoa muito. É feio demais no Brasil aquelas pessoas que vão no velório de alguém para comentar se o indivíduo tava quebrado demais ou de menos em vista do acidente, ou se ele parecia “tranquilo”.

Pra mim a morte não é uma coisa tranquila. Talvez seja coisa de “gente jovem”, que acha que a morte não está para “nós”, ou algo de todo ser humano que não consegue aceitar o mistério de ser finito… Apesar disso, não tenho medo de morrer, seja lá o que isso signifique.

Medo mesmo me dá de ser como muita gente, morta em vida: sem sonhos, sem esperança, e às vezes sem ninguém para lembrar da sua existência…

Ô Cride, fala para mãe!…

Hoje a monotonia tomou conta de mim… simplesmente não sei o que fazer, estou total e completamente entediada! Comecei a estudar sueco e em poucos minutos já tinha me distraído, comecei a ler e quando percebi há páginas não sabia mais o que estava escrito, coloquei uma música e isso me irritou. Eu queria dar uma volta – estou em Sjövik, e o lago fica a 5 minutos – mas tá com uma cara de chuva! E quem tomou banho de chuva sueca sabe que não o é muito revigorante.

O que fazer em dias como esse? Nem a ideia de dormir me apetece.

A sensação é a mesma de quando em um domingo de chuva é impossível sair – ou você não tem para onde ir ou está com preguiça de se molhar – e você simplesmente se queda em frente a tv para assistir o nada. Você sabe que isso é uma merda porque é domingo e você deveria aproveitar o seu tempo, mas só pode estar ali, frustrado e cansado demais para enfrentar o objeto da sua frustração.

Eu não sou muito paciente e quando alguma coisa não está dando certo eu deixo. Só e simplesmente mudo a brincadeira quando ela para de me entreter. Isso não é muito positivo em muitos aspectos, e eventualmente me sinto bastante cansada pelo esforço de continuar alguma coisa que me parece tão imensamente aborrecida.

Enfim, talvez ainda não passou de todo a estranheza da semana passada. E no final das contas cansei de escrever também! Mesmo que o sol seja meio fraquinho e as nuvens estejam escuras demais para o meu gosto, vou arriscar o banho de chuva.

Quem sabe olhando o lago encontro alguma inspiração!